Legado Puritano

Quando a Piedade Tinha o Poder

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Mente Natural e Mente Espiritual – Parte 2
Data: 01/03/2025
Créditos:
Texto: Silvio Dutra
Voz: Soçvop Dutra

Mente Natural e Mente Espiritual – Parte 2

10 O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.

11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome;

13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. João 1.10-13.

O nascimento natural está na esfera da vontade natural dos pais, mas o espiritual está na esfera exclusiva da vontade de Deus, através da eleição, justificação, regeneração e santificação dos que são por ele chamados eficazmente para se tornarem filhos de Deus.

Nosso Senhor Jesus Cristo introduziu a pregação do evangelho com a necessidade de se arrepender e crer para se entrar e permanecer no reino do céu que Ele veio trazer em sua vinda a este mundo. A palavra para  arrependimento, no original grego é metanoia = transformação, mudança de mente. Ou seja, a mudança de um viver simplesmente pela mente natural,  para um viver principalmente segundo a mente renovada espiritual que é recebida na conversão e que deve continuar sendo renovada de dia em dia, ao que Paulo chama de renovação do homem interior em II Cor 4.16. Isto é ao que Paulo  nos exorta em Rom 12.2, a saber, a nossa transformação pela renovação da nossa mente, através da nossa consagração como sacrifício vivo a Deus. A palavra para transformação no original grego é metamorféu, a mesma palavra transliterada para metamorfose, que indica uma mudança radical de natureza, ou seja, de se passar, como no caso da borboleta, de um estágio rastejante e terreno de uma lagarta, para o glorioso de um ser que ascende ao céu. Então, o caráter da transformação a que somos exortados a alcançar é o de uma mudança radical, de um estado simplesmente natural e terreno, para um outro inteiramente diferente que é celestial e divino. Esta transformação é reforçada, como já vimos antes, pela palavra renovação, que indica o trabalho do Espírito Santo de gerar em nós uma nova natureza divina, em nosso novo nascimento, e que não é somente nova no sentido de ser diferente, mas de ser algo que nos torna novas criaturas diante de Deus, com a capacidade de chegar a conhecer e fazer a Sua vontade, inclusive em sermos pacientes em suportar os nossos sofrimentos neste mundo, pela obtenção da mesma mente de mansidão e humilhação que havia em Jesus em seu ministério terreno, para conquistar a salvação para nós. Hoje, Jesus está exaltado à destra do Pai, e não mais em estado de humilhação, ao qual a propósito jamais retornará, pois não há mais tal necessidade de sofrer em nosso lugar. Mas, nós, enquanto neste mundo, devemos ter a mesma mente, ou seja, nos armarmos com a mente que havia em Jesus, de tudo suportar e vencer com paciência cristã, segundo a capacitação que recebemos do Espírito Santo.

5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,

8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome,

10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,

11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Fp 2.5-11.

Há muita confusão e dificuldade, não apenas na apreciação correta deste assunto, quanto na forma de sua aplicação no viver diário prático dos crentes. Não são poucos os que fazem uma separação drástica entre o que consideram natural e espiritual, repelindo totalmente o primeiro para a aceitação exclusiva do segundo. E isto explica muito a origem do fanatismo que os domina inteiramente, considerando que tudo o que é material e natural é reprovado por Deus e uma abominação para ele; sem sequer refletirem que a mente natural é necessária principalmente para a realização de tudo o que é natural e lícito no mundo, principalmente para o homem natural, que tendo sido formado do pó da terra, tem uma relação estreita com ela através do seu corpo físico. Há a necessidade de alimento, de vestimentas, abrigo etc. Há deveres que são impostos por autoridades seculares, como pagamento de taxas, impostos etc; de obediência civil; de provimento e proteção de filhos, dentre tantos outros que não haveria aqui espaço suficiente para enumerá-los. A própria vida espiritual com seus deveres devidos a Deus, perpassa tais deveres seculares, de maneira que aquele que não é fiel no cumprimento destes, não pode ter a aprovação de Deus, quanto ao modo que deve viver neste mundo, com um bom testemunho de estar em verdadeira submissão às autoridades constituídas, pois toda autoridade verdadeira é instituída pelo próprio Deus. E não são raros os exemplos em que o Senhor se valeu de autoridades seculares para fazer avançar os interesses do Seu reino celestial no mundo, como no caso do rei Ciro na libertação dos judeus de Babilônia; dos príncipes da Alemanha para fazer valer o progresso da Reforma Protestante iniciada por Lutero etc. Na verdade, a principal função dos governantes e juízes do mundo é a de proteger os interesses do evangelho de Cristo, e não a de serem indiferentes a ele e seus professantes, e muito menos o de persegui-los, pois todos deverão prestar contas a Deus no dia do Juízo.

8 Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente. I Timóteo 5.8.

No outro extremo há aqueles que mesmo sendo crentes insistem em manter a opinião em suas mentes naturais, que não se deve espiritualizar e teologizar todas as coisas, mesmo aquelas que são reveladas e ordenadas como princípios absolutos espirituais nas Escrituras, e tudo isto para justificarem um viver carnal e mundano. Estes se esquecem que o reino de Deus deve ter prioridade absoluta sobre tudo o mais, pois importa antes obedecer a Deus do que aos homens.

Para os que abrigam tal pensamento, lugar de se falar de Deus é somente no templo, na Igreja, e nem mesmo nos seus lares. Assim, tanto o evangelho quanto o próprio Deus deveriam ficar confinados às áreas reservadas para o culto público. Tal posicionamento contraria totalmente a ordem de Jesus de que se pregue o evangelho abertamente e até de cima dos telhados.

 

 

Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/02/2025



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