Focalizando o Ponto Correto, Principal e Vital
O apóstolo João destacou em seu evangelho nem tanto os milagres de cura de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme estes se acham registrados nos chamados evangelhos sinópticos, mas concentrou sua narrativa especialmente naquelas coisas essenciais e indispensáveis à nossa salvação, porque foi nisto também que nosso Senhor concentrou em Seu ministério terreno todos os Seus esforços, porque afinal viera a este mundo com a missão de salvar pecadores.
Daí lermos estas suas seguintes palavras em Jo 3.17 e 12.47:
“Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3.17)
“E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” (Jo 12.47)
É importante se frisar que as passagens de Jo 3.1-21 e Jo 12.20-36 estão intimamente relacionadas, porque na primeira, João destaca o ensino de Jesus sobre a salvação no discurso que fizera a Nicodemos, e em Jo 12.20-36 temos, a reafirmação do ensino de Jo 3.1-21, quando ele estava em Jerusalém às portas da Sua crucificação, que seria o ponto de partida para a salvação de pessoas em todas as partes do mundo.
Nestas duas passagens citadas nosso Senhor destacou o modo pelo qual ocorreria tal salvação e o que seria necessário fazer para alcançá-la, e além disso Ele citou qual é o propósito de Deus na referida salvação, e no que ela consiste realmente.
Ora, se nosso Senhor definiu o que é e qual é o propósito e o modo da salvação, conforme isto se encontra relacionado à Sua missão em relação a nós pecadores, faríamos bem, então, em prol do destino eterno de nossas almas, concentrarmos a nossa atenção e esforços, justamente em compreender tais palavras.
Veja que na passagem de João 3.1-21, Nicodemos falou de Deus, dos milagres realizados por Jesus, e que entendia que por isso Ele era Mestre vindo da parte de Deus, e que Deus era com Ele, Jesus, mas recebeu da parte de nosso Senhor a afirmação de que ele, Nicodemos, não conhecia nem a Ele, nem ao Pai, nem ao reino de Deus, apesar de tudo quanto havia afirmado, que poderia dar a impressão de que ele havia se convertido de fato.
Então nosso Senhor passou a instruir Nicodemos lhe dizendo que toda a possibilidade de se conhecer de fato a Deus e entrar no Seu reino, decorre de uma experiência transformadora de vida com o Espírito Santo.
E que o motivo de tal operação transformadora é o de revivificar nossos espíritos, para que possamos responder ao amor de comunhão com Deus.
Assim, quando nosso Senhor disse que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16) tencionava nos ensinar que não é possível ter qualquer comunhão com Deus sem que se tenha fé em Seu Filho Jesus Cristo.
E que o objetivo principal desta fé é nos gerar novas criaturas, com um espírito vivificado pelo Espírito Santo, o qual possa responder ao amor de Deus, que se traduz principalmente em comunhão, porque a comunhão é uma das partes principais da expressão do espírito divino.
Somente no Espírito de Deus, que é um espírito vivo, residem em plenitude e perfeição todas as faculdades essenciais do espírito, como as da comunhão, da intuição e da consciência, e estas faculdades somente podem ser experimentadas por aqueles que tiverem seus espíritos revivificados pelo Espírito Santo, e daí ter nosso Senhor proferido a Nicodemos que nos importa a nós pecadores, nascermos do Espírito Santo, para que possamos entrar no reino de Deus.
Na passagem de Jo 12.24-26, nosso Senhor definiu o resultado da salvação com as seguintes palavras:
“24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.” (Jo 12.24-26)
Ele deixou claro que esta vida divina, que procede do céu, decorre de um processo de morte e ressurreição, e que demanda portanto a morte do nosso ego pecaminoso, para vivermos pela vida do próprio Cristo.
E ainda, que tal renascimento espiritual tem por alvo nos conduzir a viver não mais solitariamente, quanto a não termos comunhão real no espírito com Deus e com os que são nascidos do Espírito, mas a vivermos num corpo do qual o próprio Cristo é a cabeça, a saber, a Sua Igreja.
Sem esta morte referida do ego, que Jesus chamou de “odiar a vida”, nada mais é do que o ato de se aborrecer a própria vontade para que se possa fazer a de Deus, porque a palavra “vida” no citado texto vem do original grego “psique”, que significa alma. Está em vista então não vivermos pela alma mas pelo espírito revivificado pelo Espírito Santo.
Em suma, nosso Senhor quer nos ensinar que não é possível ter comunhão, intuição e consciência espirituais plenas, divinas e verdadeiras, sem esta vida do Espírito Santo no nosso espírito, e que não poderemos ter isto sem esta disposição de morrermos para a nossa própria vontade pecaminosa, para praticarmos a vontade de Deus revelada na Sua Palavra.