“Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno. Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.” [Mt 5: 27-32]
Para revelar que a Lei e todos os estatutos e instruções que havia dado a Israel por intermédio de Moisés, conforme estão registrados no Pentateuco não representavam a sua revelação final para Seu povo, ao próprio Moisés foi dito pelo Senhor, que depois dele ainda seria levantado um grande Profeta que falaria de uma forma final à humanidade, especialmente ao Seu povo, que pela citada condição deveria ser ouvido e obedecido em tudo, uma vez que aquele que viesse a rejeitá-lo seria impedido de fazer parte do povo de Deus e teria que prestar contas em juízo por sua rejeição.
Assim, lemos em Deuteronômio 18: 18,19;
“18 Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
19 De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas.”
Disso o apóstolo Pedro deu testemunho no seu sermão no dia de Pentecoste, com as seguintes palavras:
“22 Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.
23 Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo.” [Atos 3: 22,23]
E não se pense, que o fato de ser exterminado do meio do povo por Deus signifique alguma forma vingativa de retaliação, pelo fato de terem rejeitado ouvir a Jesus. Não, pois isto tem a ver com que não é possível ser salvo sem que se dê a devida consideração ao ensino de Jesus, e o que é necessário fazer segundo sua instrução para que sejamos salvos.
Se a aliança da lei foi promulgada com relâmpagos, fogo, fumaça e grande sonido no Sinai, de modo que o povo ficou aterrorizado e o próprio Moisés, pois era este o propósito mesmo de se causar temor em pecadores rebeldes, todavia a da graça foi instituída com o sangue de Jesus, segundo a voz de Deus Pai; que Pedro, Tiago e João ouviram no monte da transfiguração.
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.” [Mt 17: 5b]
Quando ficaram aterrados, com grande medo, Jesus lhes disse que não temessem, porque aquela voz não tinha o propósito de amedrontá-los, mas confirmar que Aquele que lhes instruía e dirigia havia sido designado para ser o Salvador deles, pois era o portador da Palavra de salvação, segundo seu ofício de Profeta.
Cristo não é apenas o profeta que nos fala as palavras de Deus Pai, mas o sumo sacerdote e rei de Seu povo, fazendo expiação por eles e lhes governando com amor e justiça.
Cristo, como Rei subjuga nossos inimigos e preserva nossa alma da ruína - nossos adversários são aqueles que lutam contra nossa condição espiritual e segurança, principalmente nossas luxúrias, nossos pecados e nossas tentações, junto com o que os acompanha.
Nosso Senhor Jesus Cristo os subjuga por Seu poder real, vivificando e fortalecendo em todos nós os princípios da santa obediência, por meio de Sua ajuda e suprimento de graça.
Em resumo, a obra de Cristo como Rei pode ser reduzida a estes títulos:
1. Para tornar Seus súditos livres;
2. Para preservá-los em segurança, livrando sua alma do engano e violência;
3. Em dar-lhes prosperidade e aumentar sua riqueza espiritual;
4. No estabelecimento de paz garantida para eles;
5. Em dar-lhes amor entre si;
6. Ao colocar o interesse e bem-estar de Seu reino em todos os seus afetos;
7. Em recompensar eternamente sua obediência.
Ele faz tudo isso, principalmente trabalhando graça e santidade em Seus súditos, como pode ser facilmente demonstrado.
Presumo que ninguém questione que a obra diretora de Cristo para conosco, como nosso cabeça e rei, é fazer e nos preservar piedosos.
Se esperamos ser salvos por Cristo, deve ser pelo que Ele faz e tem feito por nós, como sacerdote, profeta e rei, porém um dos principais objetivos do que Ele faz em tudo isso, é nos fazer santos - se esses fins não forem efetuados em nós, não podemos ter nenhum benefício eterno por tudo o que Cristo fez, ou continua a fazer como mediador da igreja.
Daí a condição miserável da maioria daqueles que são chamados de cristãos; que vivem em pecado, e ainda esperam ser salvos pelo evangelho - o que é para ser grandemente lamentado.
Para os homens viverem cobiça, sensualidade, orgulho, ambição, prazeres, ódio ao poder da piedade, e ainda ter esperança de salvação pelo evangelho, é a maneira mais infalível para apressar e assegurar sua própria ruína eterna. Eles lançam a maior desonra sobre Cristo e o evangelho, que qualquer pessoa é capaz de lançar.
Aqueles que rejeitam o Senhor Jesus Cristo como um sedutor, e o evangelho como uma fábula, não desonram mais um e outro, do que aqueles que professando a ambos, continuam a viver e a andar em uma condição profana, porque os inimigos declarados de Cristo já foram julgados e condenados; e ninguém tem ocasião para pensar pior de Cristo, ou do evangelho por sua oposição a eles.