“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Ninguém pode servir a dois Senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” [Mt 6: 19-24]
“Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.” [2 Tm 2: 19]
Enganam-se todos aqueles que pensam que poderão ir para o céu depois da morte, e ver a Deus sem terem se santificado enquanto se encontravam neste mundo. Tal é necessário, nem que seja por um grau mínimo desta santificação, que é recebido na conversão, que pode ocorrer antes do nosso último suspiro na Terra como foi, por exemplo, o caso do ladrão que morreu na cruz ao lado de Jesus.
Ninguém entrará no céu pelo mero desejo de ir para lá; se não chegou a amar uma vida santificada na Terra, jamais a terá no céu.
Deus não ordenou ninguém para a salvação, a quem Ele não ordenou anteriormente para ser santo; nem a menor criança que sai deste mundo chegará ao descanso eterno, a menos que seja santificada, e assim feita habitualmente e radicalmente santa.
Ele não escolhe ninguém para a salvação, exceto por meio da santificação do Espírito. E a razão para ser desse modo é muito racional, verdadeira e simples, pois é pela busca continuada de uma semelhança com Cristo, por meio da obediência a Ele, que se comprova que temos de fato, o Seu amor operando em nós através do Espírito Santo, para que aquela unidade perfeita que será alcançada no céu possa ser realizada no porvir pelo Seu poder.
É por esta razão que muitas falhas em nossa obediência, que não é absolutamente perfeita neste mundo são suportadas e relevadas por Deus, pois tendo nos dado a cobertura do sangue de Jesus para nossa santificação e pureza de coração, assim nos considera como tendo o agradado por causa da nossa fé no Senhor, porque contempla nosso esforço sincero em nos livrar de tais fraquezas e imperfeições, pelo motivo de não querer entristecer o Espírito Santo ou decepcioná-Lo.
Não temos, portanto sob a dispensação da graça, por causa dos termos perdoadores e longânimos da nova aliança, conforme Deus tem prometido na mesma, uma aproximação em termos friamente legais em que não sejam considerados o amor, a misericórdia, a bondade, o perdão, e a justa avaliação de Deus do nosso real interesse nEle e desejo de agradá-Lo, pelo que sempre nos purificará e santificará para que sejamos renovados pelo poder do Espírito Santo, para uma plena comunhão com Ele, apesar de ainda permanecermos imperfeitos neste mundo.
Enquanto lutarmos continuamente contra os nossos pecados, por amor a Jesus, sempre haverá esperança para nós de termos vida espiritual e não morte.
Se confiamos inteiramente que temos somente nEle, pela fé, a justiça perfeita, quer atribuída, quer implantada em nós, que pode agradar a Deus, sempre seremos habilitados pelo p0der do Espírito a sermos santificados, para podermos nos aproximar do Santo dos Santos celestial, com reverência, santo temor e ousadia, confiados na purificação do sangue de Jesus, pois a única forma de ser feito é que sejamos efetivamente santos.
Aquele que resolve não ser santo é melhor procurar outro deus para adorar e servir; pois ele nunca será aceito por nosso Deus.
Aquele que pensa em agradar a Deus, e vir para desfrutá-lo sem santidade, o torna um Deus profano, pois coloca a maior indignidade e desonra imaginável sobre ele. Deus livre os pobres pecadores desse engano!
Não há remédio; tens de sair dos teus pecados ou do teu Deus.
O apóstolo, tendo dado a certeza da salvação de todos os verdadeiros crentes, segundo o propósito imutável de Deus, rapidamente acrescenta:
"Que todo aquele que carrega o nome de Cristo afaste-se da iniquidade", [2 Tm 2: 19] - isso sugere claramente, que sem santidade, sem um afastamento total da iniquidade, não podemos ter a mínima evidência de que estamos interessados nessa condição garantida.
Você leva o nome de Cristo, professa interesse por Ele, e espera a salvação por Ele.
Por esse caminho você vai se aplicar a Ele?
De qual de Seus ofícios você espera uma vantagem?
É de seu ofício sacerdotal?
O sangue dEle purgou sua consciência das obras mortas, para que você sirva ao Deus vivo?
Você está purificado, santificado, e feito santo por isso?
Você é redimido do mundo por Ele, e de sua vã conduta, de acordo com os costumes e tradições dos homens?
Você é dedicado a Deus por isso?
Se você não encontrar esses efeitos do derramamento de sangue de Cristo, em e sobre sua alma e consciência, então em vão você deve esperar aqueles outros efeitos que procura; de expiação, paz, reconciliação com Deus, misericórdia, perdão, justificação e salvação.
O ofício sacerdotal de Cristo tem todo o seu efeito, para com todos aqueles a quem tem algum efeito. Aqueles que desprezam seus frutos em santidade, nunca obterão o menor interesse em seus frutos de justiça.
É de sua atuação como o grande Profeta da igreja, que você espera ajuda e alívio?
Você efetivamente aprendeu com Ele, "a negar toda impiedade e luxúrias mundanas, e viver sobriamente, retamente e piedosamente, neste mundo presente”? [Tt 2: 12]
Ele lhe ensinou a ser humilde, a ser manso, a ser paciente, e a "odiar a vestimenta contaminada pela carne”? [Jd 1: 23]
Ele o instruiu a ser sincero em toda a sua conduta, relações e todo modo de vida entre os homens?
Acima de tudo, Ele o ensinou e você aprendeu com Ele a purificar e limpar seu coração por fé, para subjugar seus desejos espirituais e carnais internos, e se esforçar por uma conformidade universal à Sua imagem e semelhança?
Você acha a doutrina dEle eficaz para esses fins?
Seu coração e mente são moldados nesse molde?
Você vai assumir o cargo de rei, de Cristo?
Você tem expectativas nEle em virtude disso?
Você se sujeita ao Seu governo?
Ele subjugou seus desejos, aqueles inimigos de seu reino que lutam contra sua alma?
Ele fortaleceu, apoiou e ajudou você por Sua graça, a toda santa obediência?
Você já se submeteu a ser governado por Sua palavra e Espírito, para obedecê-Lo em todas as coisas, e confiar todas as suas preocupações eternas ao Seu cuidado, fidelidade e poder?
Se sim, então você tem causa para se regozijar, como aqueles que têm uma preocupação segura nas coisas abençoadas de Seu reino, porém se seus desejos orgulhosos e rebeldes ainda prevalecem, se o pecado tem domínio sobre você, e continua a "satisfazer as concupiscências da carne e da mente"; se você andar segundo as modas deste mundo, e não como súdito obediente daquele Seu reino que não é deste mundo, então não engane a si mesmo; Cristo não será vantajoso para você.
Como nós vimos nas partes imediatamente anteriores, que se Jesus não for ouvido como o grande Profeta que Deus enviaria depois de Moisés, e que todo aquele que não ouvisse e praticasse suas palavras seria cortado de entrar no povo de Deus, tem dentre suas muitas razões para isso, a de que Ele não é somente o grande proclamador da verdade da salvação, mas também quem nos dá força e graça para podermos cumprir Seus mandamentos e sermos santos.
Não há justificativa ou desculpa então, para que pecadores vivam em seus pecados, sob o argumento de que os mandamentos de Crito são pesados para serem cumpridos.
Para os homens "carregarem o nome de Cristo", professarem ser cristãos, ou Seus discípulos, para obterem qualquer expectativa de misericórdia, perdão, vida e salvação por Ele; e ainda ser mundano, orgulhoso, ambicioso, invejoso, vingativo, odiadores de homens bons, gananciosos, vivendo em vários desejos e prazeres - este é um escândalo e uma vergonha para a religião cristã, e é inevitavelmente destrutivo para suas próprias almas.