“22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. ” [Rm 7: 22-25]
"Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz." [Rm 8: 6]
"Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis." [Rm 8: 13]
Pelos contrastes apresentados no texto de abertura quanto à lei da mente (graça) e a lei do pecado, pode-se entender que a citação do verso 25, “com a mente, sou escravo da lei de Deus”; entenda-se que esta lei de Deus a que a mente foi escravizada, é a graça oferecida no evangelho, conforme promessa de Deus de inscrever sua lei na mente e no coração dos crentes. [Jr 31: 31-34]
Quando o apóstolo diz que a lei do pecado encontra-se guerreando contra a lei da sua mente, a referência aqui não é a uma lei que a própria mente possui, mas a lei da graça que foi ali implantada por Deus.
Só pode ser este o significado, porque na mesma epístola aos Romanos o apóstolo afirma no capítulo sexto, que o crente não está sob a lei, mas sob a graça, e no sétimo, que ele morreu para a lei com Cristo, e foi libertado da lei, de modo que a nova criatura não está escravizada à lei dos mandamentos, como o que dirige e governa a vida do crente, senão à lei da graça, à lei do Espírito e da vida, como afirmado no início do capítulo oitavo.
A lei não pode salvar, de modo que se o crente estivesse escravizado à mesma, permaneceria sob a sua maldição, e seria condenado para sempre.
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado",
"a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. [Rm 8: 3, 4]
Paulo diz em Rm 7: 25, ser escravo da lei de Deus com sua mente, porque a mente convertida a Cristo é mudada e movida a amar a Deus e aos seus mandamentos, para efetivamente cumpri-los para o atendimento do Seu propósito, de que o crente seja perfeito perante Ele.
A mente de um crente genuíno sempre há de se inclinar para nos levar a praticar o que Deus requer de nós, a menos que seja enganada pelo pecado e o diabo, agindo debaixo de uma convicção falsa de estar fazendo o que é correto e agradável a Ele.
Acrescente-se a isto, que a mente não escolhe nada, não consente em nada, senão sob uma boa razão; como tem uma aparência boa, alguns bons atributos, não pode consentir em nada sob a noção ou apreensão de ser maligno em qualquer tipo.
O bem é o seu objeto natural e necessário, portanto tudo o que se propõe a ela para seu consentimento deve ser proposto sob a aparência de ser bom em si mesmo, ou bom presentemente para a alma, ou bom tão circunstancialmente quanto é, porque Deus colocou este instinto no ser humano de evitar tudo o que possa ser nocivo ao seu corpo ou destruir sua alma, e é isto que nos leva a fugir de perigos, a evitar coisas venenosas, etc.
Mas, o poder do pecado de enganar pode iludir a mente na avaliação ou percepção destas coisas ruins, e daí decorre a necessidade de diligência e vigilância constante da mente, e de todas as demais faculdades humanas, juntamente com a assistência da graça divina, sem a qual não é possível se obter a vitória.
O engano do pecado afeta adequadamente a mente, e a mente é enganada. Quando o pecado tenta qualquer outro modo de entrada na alma, como pelas afeições; a mente mantendo o direito e a soberania, é capaz de conferir controle, porém onde a mente está contaminada, a prevalência deve ser bem sucedida, pois a mente ou o entendimento é a faculdade principal da alma, e com o concurso da vontade e das afeições, não é capaz de considerar, senão o que isso lhe apresenta.
Daí é que, embora o emaranhamento das afeições ao pecado seja muitas vezes incômodo, o engano da mente é sempre o mais perigoso, e por causa do lugar que possui na alma e em todas as suas operações.
O seu ofício é orientar, dirigir, escolher e liderar; e "se a luz que está em nós for trevas, quão grande é essa escuridão!"
É na mente que este efeito do engano do pecado é feito. A mente ou entendimento, como mostramos, é o guia, o condutor nas faculdades da alma antes de discernir, julgar e determinar, tornar o caminho das ações morais justo para a vontade e afeições.
É para a alma que Moisés disse a seu sogro, que ele poderia ser para o povo no deserto como "olhos para guiá-los", e evitar que eles ficassem vagando por aquele lugar desolado.
A mente é o olho da alma, sem cuja orientação a vontade e os afetos perambulam perpetuamente no deserto deste mundo, de acordo com qualquer objeto aparente, oferecido a eles, logo a primeira coisa que o pecado procura em seu trabalho enganador é retirar e desviar a mente do cumprimento de seu dever.
É a lei do pecado que opera na carne, no velho homem do crente, em sua antiga natureza, que o leva a servir ao pecado. Daí sermos ordenados a nos despojarmos do velho homem, pois foi crucificado com Cristo, em Sua morte na cruz, e a nos revestirmos do novo homem, da nova criatura, pois esta não está sujeita à lei do pecado, senão à lei do Espírito e da vida em Cristo Jesus, ou seja, à Sua graça - de modo que se andarmos no Espírito, as obras da carne serão vencidas e o pecado não terá qualquer domínio sobre nós.
Daí a importância de o crente ser espiritual e não carnal, pois ele foi transportado das trevas para a luz de Jesus, e do domínio de Satanás para o de Deus, pois o ser carnal dá para a morte, e espiritual para vida e paz. [Rm 8: 6-13]
Se for espiritual será movido por pensamentos espirituais, celestiais e divinos nele implantados pelo Espírito Santo, através de diligente esforço e diligência em suas constantes meditações e prática da Palavra.
Se for carnal, é possível que aqui e ali se levante em posicionamentos espirituais, mas estes se desfarão logo em seguida, porque não é movido pelo Espírito em constância de fé, mas apenas por força de convicção pessoal em atender a determinados atos religiosos, sem levar em conta a necessidade de uma renovação real e permanente de sua mente, em transformação de todo o seu procedimento, conduta e atitudes.
Assim, por todo o contexto, tanto imediatamente anterior, quanto posterior, do que Paulo fala no sétimo capítulo da epístola aos Romanos, pode-se depreender que seu propósito não foi o de discorrer no citado capítulo quanto à sujeição, mesmo do crente, ao poder da lei do pecado, pois todo o seu assunto no contexto citado é o de vitória completa da graça, e não de derrota ao pecado.
A vitória foi obtida por Cristo e é estendida aos que nEle creem, então é de se supor que o intento do apóstolo é o de nos mostrar como é que esta vitória é obtida e como é que o combate com este inimigo chamado pecado residente se desenvolve, no qual todos os crentes devem estar envolvidos, para que glorifiquem a Deus ganhando muitas batalhas nesta guerra espiritual em que estarão empenhados até o final de sua jornada terrena.
Assim, o principal de tudo é obter uma mente espiritual, uma inclinação para o Espírito Santo, que somente isto pode dar para vida e paz.
Pode-se perguntar o que é necessário para isso; e podemos citar algumas daquelas coisas sem as quais tal estrutura sagrada não será alcançada.
1. Uma vigilância contínua deve ser mantida na alma contra as incursões de pensamentos e imaginações vãs, especialmente naquelas ocasiões em que eles são capazes de obter vantagem.
Se lhes for permitido fazer uma incursão na mente, se nos acostumarmos a entretê-los, se eles habitualmente se alojarem em nosso interior, então em vão podemos esperar ou desejar ter uma mente espiritual.
O espírito (a mente, no sentido em que foi usado por Jesus ao se dirigir aos apóstolos no Getsêmani) está pronto, disposto, mas há a fraqueza da carne pela lei do pecado que opera na carne, a saber, na natureza decaída. Impõe-se então, a necessidade de vigilância e oração constantes para que não caiamos em tentação, pois a mente pode ser desviada de seu dever de manter o controle da alma em santidade, pelo engano da lei do pecado que guerreia contra nossa alma.
2. Evitar cuidadosamente todas as sociedades e negócios desta vida que possam, sob vários pretextos, atrair e seduzir a mente para uma estrutura terrena ou sensual.
Se os homens se aventurarem naquelas coisas que encontraram por experiência, ou podem descobrir por sua observação, que seduzem e desviam suas mentes de uma estrutura celestial para aquilo que é contrário a ela, e não vigiam para evitá-las, eles serão preenchidos com o fruto de seus próprios caminhos. De fato, a conduta comum dos professantes entre si e com os outros, andando, falando e se comportando como outros homens, sendo tão cheios do mundo quanto o mundo é de si mesmo – perdeu a graça de ser espiritual e manchou a glória da profissão externa.
3. Devemos ser incansáveis em nosso conflito com Satanás, que, por vários artifícios e pela injeção de dardos inflamados, trabalha continuamente para nos desviar de nossos deveres de meditação espiritual.
Ele, raramente ou nunca falta em tais ocasiões. Aquele que é provido em qualquer medida de sabedoria e entendimento espiritual, pode encontrar Satanás mais sensatamente, trabalhando em seu ofício e oposição com respeito a este dever, do que qualquer outro meio.
Quando estamos assim diante do Senhor, Satanás está sempre à nossa direita para nos resistir; e muitas vezes sua força é grande. Assim, os homens muitas vezes planejam realmente exercitar-se em pensamentos santos, mas acabam em vãs imaginações; eles se ocupam com ninharias em vez de continuar neste dever.
A firmeza na resistência a Satanás nessas ocasiões é uma grande parte de nossa guerra espiritual - e podemos saber que ele está trabalhando por seus mecanismos e métodos, pois eles consistem em suas sugestões de imaginações vãs, tolas ou corruptas. Devemos saber com certeza de onde elas vêm.
4. Devemos ter cuidado vigilante contínuo, para que nenhuma raiz de amargura brote para nos contaminar, para que nenhuma luxúria ou corrupção seja predominante em nós.
Quando isso acontecer, se as pessoas, de acordo com suas convicções se esforçarem, às vezes, para exercerem esses deveres, trabalharão no próprio fogo onde todos os seus esforços serão imediatamente consumidos.
A mortificação para o mundo em nossas afeições e desejos, com moderação em nossos esforços para as coisas que dele necessitamos, também são necessárias - de fato, a tal ponto que sem elas, ninguém pode, em nenhum sentido ser considerado espiritualmente inclinado, pois de outra forma, nossas afeições não podem ser tão preservadas sob o poder da graça, que as coisas espirituais possam ser sempre saborosas para aqueles que esperam alcançá-lo a um custo menor, e não renunciar a todas as outras vantagens e sabores da vida, que uma estrita observação dessas coisas exigiria - se a maior parte do nosso tempo não é gasto com essas coisas, então o que quer que possamos supor, de fato não temos nem vida nem paz, porque não somos espirituais.