“14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.
21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim.” [Rm 7: 14-21]
Deus, conforme sua promessa em Jer 31: 31-34 escreveu Sua lei na mente e no coração do crente, não como a lei foi escrita nas tábuas de pedra na antiga aliança, pois na nova, a lei no crente é implantada pelo Espírito Santo segundo os termos da nova aliança, ou seja, do evangelho.
Paulo chama a isto, de lei do Espírito da vida em Cristo Jesus, em Romanos 8: 2, que é o único poder que pode nos livrar da lei do pecado e da morte que opera em nossa velha natureza, ou velho homem, apesar de esta última ter recebido a sentença de morte em nossa união com Cristo.
Há então, a necessidade de trabalho do despojamento deste corpo de morte, ou seja, do velho homem, enquanto aqui estivermos, pois está determinado por Deus, em Seu conselho eterno, que haja esta guerra entre a carne e o Espírito, e vice-versa.
Há a maneira particular de a lei do pecado lutar; ela luta ou guerreia, isto é, age com força e violência, como os homens fazem na guerra - em primeiro lugar, desejando e movendo produtos desordenados na mente, desejos no apetite e nas afeições, propondo-os para a vontade.
Essa luta ou guerra do pecado consiste em duas coisas:
1. Na sua rebelião contra a graça, ou lei da mente.
2. Ao atacar a alma, atuando contra a soberania da graça sobre ela.
1. O primeiro é expresso pelo apóstolo, em Romanos 7: 23:
"mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros".
Eu acho", diz ele, "outra lei", "rebelando-se contra a lei da minha mente".
Ao que parece há duas leis em nós; a "lei da carne" ou do pecado, e a "lei da mente" ou da graça, conforme explicamos na parte anterior, mas duas leis contrárias não podem obter o poder soberano sobre a mesma pessoa, ao mesmo tempo.
O poder soberano nos crentes está na mão da lei da graça; assim o apóstolo declara no verso 22:
"Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus"; [Rm 7: 22]
A obediência a esta lei é realizada com prazer e complacência no interior, porque sua autoridade é lícita e boa, e a mente se inclina apenas para aprovar aquilo que é bom para a alma. Então, mais expressamente, em Rm 6: 14,
"Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais sob a lei, mas sob a graça."
A lei da graça escrita por Deus na mente do crente prevalece sobre a vontade, para o crente fazer o que é bom:
A vontade está presente comigo
"...pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. [Rm 7: 18]
Quando eu quero fazer o bem"
"Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. [Rm 7: 21]
E, novamente, mas "eu faço o mal que não quero"
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. [Rm 7: 19]
Porque o crente também está sujeito à lei do pecado, e prevalece sobre a mente (entendimento) para que ela aprove ou desaprove, de acordo com os ditames da lei da graça: no versículo 16, "consinto com a lei que é boa", e versículo 15.
O julgamento da mente sempre está no lado da graça.
Prevalece também sobre as afeições, versículo 22, "eu me deleito na lei de Deus no homem interior".
Agora, se assim for, essa graça tem o poder soberano no entendimento, na vontade e nas afeições e; por que então, nem sempre prevalece, nem sempre fazemos o que queremos, e fazemos o que não queremos?
Não é estranho que um homem não faça o que ele escolhe, a saber, por gostar e deleitar-se?
Existe alguma coisa mais necessária para nos permitir fazer aquilo que é bom?
A lei da graça faz tudo, tanto quanto se pode esperar dela, o que em si é abundantemente suficiente para o aperfeiçoamento de toda santidade no temor do Senhor.
Quando a graça está atuando em nós ela sempre é invencível, mas por vezes Deus permite que sejamos vencidos pela lei do pecado, para que aprendamos que é somente pela atuação da Sua graça que podemos vencer o pecado, de modo a Lhe darmos glória e graças.
Mas, aqui reside a dificuldade - na oposição emaranhada que é feita pela rebelião desta "lei do pecado", pois a mente também está sujeita a uma intromissão da lei do pecado, e se o crente não estiver confirmado na graça, ou devidamente vigilante contra o mover enganoso do pecado, de Satanás e toda a sorte de tentações que podem ser despertadas, tanto interiormente quanto exteriormente, está sujeito à condição citada pelo apóstolo de fazer aquilo que não aprova.
Às vezes, a lei do pecado propõe diversões, às vezes causa cansaço, às vezes levanta dificuldades, às vezes agita afetos contrários, às vezes engendra preconceitos, e de uma forma ou outra enreda a alma; de modo que a graça nem sempre tenha um sucesso absoluto e completo em qualquer dever, a partir dessa oposição e resistência que é feita pela lei do pecado.
"Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo." v. 18
Evidentemente, a vitória da graça será obtida por esforço, diligência, exercício constante em crescimento no conhecimento de Cristo, e confirmação do crente na fé e na Palavra, não sendo tão sujeito a fracassos, conforme se viu no exemplo dos apóstolos, inclusive de Paulo, onde afirma na carta aos Romanos a vitória da graça sobre a lei do pecado e da morte, pela lei do Espírito e da vida em Cristo.
No entanto, vemos com que falhas, sim falhas, sua busca deste curso é atendida. O quadro do coração é alterado, o coração é roubado, as afeições enredadas, as erupções de incredulidade e as paixões destemperadas descobertas, a sabedoria carnal, com todas as suas atuações está no trabalho; tudo contrário ao princípio geral e ao propósito da alma.
Tudo isso é da rebelião desta lei do pecado, agitando e provocando o coração para a desobediência. Então diz o apóstolo:
"Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer".
[Gálatas 5: 17]
Não podemos realizar o desígnio de caminhar de perto, de acordo com a lei da graça, por causa da contrariedade e rebelião desta lei do pecado.
A lei do pecado luta contra a lei da mente e da graça, a qual é a segunda parte de sua guerra:
[1 Pedro 2:11] "Elas (as cobiças) lutam, ou guerreiam", "contra a alma;"
[Tiago 4: 1] "Elas lutam, ou guerreiam", "em seus membros".
Pedro mostra ao que elas se opõem e lutam contra, ou seja, a "alma" e a lei da graça nela;
Tiago, com o que elas lutam - com os "membros" ou a corrupção que está em nossos corpos mortais.
Assim, estaríamos perdidos se não fosse pela obra que Jesus realizou em nosso favor, com vistas à nossa salvação e reconciliação com Deus, apesar de nosso presente estado de ainda estarmos sujeitos à ação do pecado, contra o qual devemos lutar até o dia da nossa morte.