“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça".
"Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte",
"lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós".
"Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar";
"resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo".
"Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar".
"A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!” [I Pedro 5: 5-11]
Não é correto afirmar que a nova criatura em nós é o nosso espírito, e que o espírito não possui qualquer pecado. Um único texto bíblico derruba tal pensamento:
"Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus."
[2 Co 7: 1]
Veja que o apóstolo aponta a necessidade de nos purificar de toda impureza, não apenas da carne, como também do espírito, para o aperfeiçoamento da nossa santidade. De igual modo, o velho homem não é também o espírito, pois como o espírito não pode ser aniquilado, não se poderia pensar em extinção do nosso espírito para a crucificação do velho homem, porque implicaria em nossa não existência.
Então, temos como velho homem, o princípio do pecado que opera na carne, inclinando-nos para o afastamento de Deus e tudo o que é santo, trabalhando em todas as nossas faculdades, quer mentais, emocionais, sentimentais, espirituais, etc. De igual modo, temos como novo homem, ou nova criatura, o princípio da graça que opera em nós, inclinando-nos para a conversão a Deus e tudo o que é santo, trabalhando também em todas as nossas faculdades.
O primeiro é chamado de pendor da carne, e o segundo de pendor do Espírito - daí se dizer que os não regenerados estão na carne, e os regenerados no Espírito.
Geralmente, se os homens que não são espiritualmente renovados fossem capazes de pesquisar a si mesmos, descobririam que algumas de suas afeições estão tão longe de ter qualquer mudança forjada neles, que são um habitat tranquilo para o pecado, onde exerce seu domínio.
Há uma universalidade objetiva nas coisas espirituais, no que diz respeito à renovação de nossos afetos, isto é, as afeições espiritualmente renovadas se fixam e se apegam a todas as coisas espirituais, em seus devidos lugares e para seus próprios fins, pois o fundamento e a razão de nossa adesão a qualquer uma delas é o mesmo em relação a todas elas – que é sua relação com Deus em Cristo.
Por isso, quando nossos afetos são renovados, não escolhemos entre as coisas espirituais, apegando-nos a algumas e recusando outras; pelo contrário, nossa adesão é a mesma para todas elas em seus devidos lugares e graus. Um respeito igual é necessário para todos os mandamentos de Deus - no entanto, existem várias distinções nas coisas espirituais, e assim um homem pode e deve valorizar uma acima da outra, quanto aos graus de seu amor e estima, mesmo que seja sincero em relação a todas elas:
O próprio Deus, isto é, conforme revelado em e por Cristo – está em primeiro e principal lugar.
Ele é o objeto próprio e adequado de nossas afeições, à medida que são renovadas. Ele é estimado por nós apenas pelo que é em Si mesmo. Esta é a fonte, o centro e o principal objeto de tudo.
Quem não ama a Deus pelo que Ele é em si mesmo, e pelo que Ele é, e será para nós em Cristo (que são considerações inseparáveis) – não tem verdadeira afeição por qualquer coisa espiritual. E, não são poucos os que se enganam aqui, ou são enganados - isso deve nos tornar mais diligentes em examinar a nós mesmos.
Alguns supõem que amam o céu, as coisas celestiais, e os deveres do culto divino, mas essa persuasão pode ser baseada em muitos motivos e ocasiões que não resistirão ao julgamento, e demonstrarão o oposto, mas quanto ao próprio Deus, eles não podem dar evidência de que tenham algum amor por Ele - seja por causa das gloriosas excelências de Sua natureza, com sua relação natural com Ele e dependência dEle, ou por causa da manifestação de Si mesmo em Cristo, e o exercício de Sua graça nisso.
Mas, seja o que for que se pretenda, não há amor a Deus do qual essas duas coisas não sejam a razão formal, e que não procede dessas fontes. E, porque todos os homens fingem que amam a Deus, e desafiam aqueles que os consideram tão vis a ponto de não amar; mesmo que eles vivam em inimizade aberta contra Ele e ódio por Ele – devemos examinar rigorosamente a nós mesmos por que motivos fingimos amá-Lo.
A criação proclama a glória de Deus, mas não é para que ela seja adorada, senão para nos revelar a grandeza, o poder, a fidelidade, a estabilidade, a paciência, o cuidado e tudo o mais que ela pode nos revelar acerca do caráter e santidade do próprio Deus, pois Ele não fica alterando a ordem das coisas criadas a todo tempo, por inconstância ou instabilidade em Seus desejos, ou então agindo fora dos limites que Ele determinou a Si mesmo para que não fôssemos confundidos, ou julgados, fora de medida - nisto há muitas outras considerações a serem feitas, sobre as quais não temos tempo e espaço suficiente para discorrer acerca das mesmas.
É realmente porque vemos tal excelência, beleza e desejo nas propriedades gloriosas do Senhor, que nossa alma é refrigerada e satisfeita com pensamentos sobre isso pela fé; em cuja alegria consiste nossa bem-aventurança, para que sempre nos regozijemos com a lembrança de Sua santidade?
É nossa grande alegria e satisfação que Deus seja o que é?
É da manifestação gloriosa que Ele fez de si mesmo, e de todas as suas santas excelências em Cristo, com a comunicação de si mesmo a nós, em e por Cristo?
Se é assim, então nosso amor é generoso e gracioso, pela renovação de nossos afetos.
O assento e a residência da graça estão em toda a alma. Está no homem interior; na mente, na vontade e nas afeições, porque toda alma é renovada pela graça na imagem de Deus, [Ef 4: 23, 24], e todo o homem é uma "nova criatura", [2 Co 5: 17].
Em tudo isso, a graça exerce seu poder e eficácia; seu governo ou domínio é a busca de seu efetivo trabalho em todas as faculdades da alma, pois são um princípio unido de operações morais e espirituais, portanto a interrupção de seu exercício, de seu governo e poder, pela lei do pecado deve consistir em um agir contrário nas faculdades e afeições da alma, sobre a qual e pela qual a graça deve exercer seu poder e eficácia.
A lei do pecado produz o efeito de escurecer a mente; em parte através de inúmeros preconceitos vãos e falsos raciocínios, como veremos quando considerarmos seu engano, e em parte através da cauterização das afeições, aquecidas com as luxúrias ruins que se apoderaram delas.
Daí, que a pouca luz que está na mente fica obscurecida e sufocada, que não pode colocar seu poder transformador para mudar a alma em semelhança de Cristo, de modo a nos sentirmos crucificados para o mundo, e o mundo para nós, por experiência real em nosso interior, e não meramente por sabermos que aquele que ama o mundo se faz inimigo de Deus, e Seu amor não pode se manifestar nele e através dele, enquanto viver na carne.
O apóstolo adverte os crentes a prestarem atenção aqui:
"Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões". [Rm 6: 12]
Vigie para que o pecado não obtenha o domínio, que não use o governo nem por um momento. Ele trabalhará para entrar no trono no lugar da graça; vigie contra isso, ou um estado e condição triste está à porta. Então, isto acompanha essa raiva e loucura da lei do pecado: ela lança fora durante sua prevalência, o domínio da lei da graça inteiramente; a graça fala à alma, mas não é ouvida; comanda o contrário, mas não é obedecida; ela clama:
"Não é esta coisa abominável o que o Senhor odeia?"
Daí nos ser ordenado vigiar e orar em todo o tempo, para que possamos vencer as tentações e continuar recebendo provisões renovadas de graça da parte de Jesus, para podermos resistir ao mal.