DEUS ESTEVE COM ABRAÃO AQUI NA TERRA - P 2
Algumas pequenas dificuldades que possam ser levantadas quanto à identificação das três pessoas que apareceram a Abraão, podem ser resolvidas facilmente pelo próprio texto e contexto, pois em Gênesis 18.2 lemos que eram três homens; e que os três homens se levantaram de onde estavam com Abraão e olharam para Sodoma, tendo Abraão ido com eles para os encaminhar (18.16).
Sempre é o Senhor que está falando com Abraão e com Sara no contexto destes três homens que lhe apareceram nos carvalhais de Manre.
Em 18.22 se diz que aqueles homens partiram dali e partiram para Sodoma, tendo Abraão permanecido na presença do Senhor.
Em 18.33 lemos que tendo cessado de falar a Abraão, o Senhor se retirou e Abraão voltou para o seu lugar.
Logo no início do capítulo seguinte, se diz que ao anoitecer vieram os dois anjos a Sodoma.
Ora, o que podemos inferir disto senão que numa teofania o Senhor apareceu a Abraão acompanhado de dois anjos, todos eles em forma humana, e por isso se diz no texto: “três homens”.
Entretanto, fica claro que um deles lidera o diálogo com Abraão, e certamente é o Senhor numa teofania, pois permanecera com Abraão, enquanto se diz em 18.22 que aqueles homens partiram para Sodoma, e vemos claramente em 19.1 a citação de que eram dois anjos que haviam se dirigido para lá, e não todos os três que haviam aparecido a Abraão.
Então um deles permaneceu com ele, e este era sem dúvida o Senhor.
Assim, este capítulo de Gênesis é um capítulo maravilhoso, pois nele nós vemos a aliança sendo ratificada na terra com a presença do próprio Deus, acompanhado de dois anjos.
Isto marcou o caráter solene daquela grande aliança que já era como que realizada aos olhos de Deus, e aguardava somente o seu desenrolar, e isto começaria com o nascimento de Isaque dali a um ano.
Aquele pacto foi celebrado com um banquete que Abraão mandou preparar.
Depois de terem comido o Senhor perguntou por Sara, e Abraão lhe disse que ela estava no interior da tenda.
A promessa de que daria à luz a um filho dali a um ano foi reafirmada e tendo Sara ouvido a mesma, riu por pensar como poderia gerar um filho, tendo já cessado o costume das mulheres, referindo-se certamente à menstruação.
A isto o Senhor respondeu formulando uma pergunta:
“Acaso para Deus há cousa demasiadamente difícil?” (18.14).
E afirmou:
“Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a ti, e Sara terá um filho.”
Não há nenhuma dúvida que era o Senhor falando porque ninguém poderia falar sobre capacitar alguém a gerar um filho como Ele, e Sara estava dentro da barraca, quando pela sua Onisciência pôde perceber estando do lado de fora que ela ria, e dizia que estava velha demais para que pudesse gerar uma criança.
A pergunta onde está Sara, não significa que Deus não soubesse onde ela estava, mas queria levar Abraão a entender que a participação dela naquela aliança seria importante, pois seria a mãe daquele através de cuja descendência o Messias seria trazido ao mundo.
A pergunta aqui tem o mesmo sentido da que foi feita a Adão: “Onde estás” quando se escondeu entre as árvores do jardim do Éden, depois de ter pecado. Deus sabia onde ele estava, mas queria que ele mesmo reconhecesse e dissesse o estado em que se encontrava.
Aqui, a referência a Sara tinha também o propósito de ajudá-la a ficar firme na fé na promessa, porque lhe foi revelado coisas que estavam ocultas à vista natural de quem lhe dirigiu a palavra, e ela saberia que estava tratando com alguém sobrenatural que não estava em nada, limitado em Seu poder.
Temos vinculado neste mesmo capítulo a promessa da Nova Aliança solenemente ratificada, e os juízos de Deus sobre o pecado, com a sentença de destruição das cidades de Sodoma e Gomorra.
Cristo é aroma de vida para a vida nos que se salvam, e cheiro de morte para a morte nos que se perdem.
A Nova Aliança não é apenas promessa de salvação para os pecadores, como também promessa de condenação para aqueles que não se arrependerem de seus pecados e se converterem a Deus.
O evangelho é boa nova para os homens de boa vontade, mas aos que têm uma má vontade empedernida que se recusa a obedecer a Deus não é nenhuma boa nova, pois é exatamente pela rejeição da graça que está sendo oferecida no evangelho que serão condenados à perdição eterna.
Depois de ter renovado a aliança feita com Abraão, nós vemos na porção de Gên 18.16-21, um registro muito importante relativo ao modo como Deus revelou a Abraão a destruição que faria das cidades de Sodoma e Gomorra.
Nós vemos que o motivo da aliança com Abraão tinha principalmente em vista livrar do juízo a que está sujeito o pecador, em razão de andar desordenadamente em relação à vontade de Deus.
Em Abraão (18.17), isto é, no seu descendente que é Cristo (Gál 3.16) seriam benditas todas as nações da terra, e Deus havia escolhido Abraão para que ordenasse a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardassem o caminho do Senhor, e praticassem a justiça e o juízo (18.18,19).
Seria exatamente por este motivo que a descendência espiritual de Abraão jamais seria sujeita ao julgamento de condenação motivado pela ira de Deus contra o pecado, assim como Ele o demonstraria nas cidades de Sodoma e Gomorra.
A destruição daquelas cidades seria um reforço, um bom motivo, para que Abraão se empenhasse em andar em santidade na presença de Deus, e que também o ensinasse a todos os seus descendentes.
Abraão fixou muito rápido a lição, pois entendeu que o justo é preservado enquanto o ímpio é destruído, e daí foi que perguntou ao Senhor o que encontramos em Gên 18.22-33, pensando certamente em livrar a seu sobrinho Ló da destruição iminente.
“Destruirás o justo com o ímpio?” Foi a primeira pergunta feita por Abraão. E, a complementou indagando se porventura houvesse cinquenta justos na cidade, se Deus a destruiria ainda assim e não pouparia o lugar por amor dos cinquenta justos.
Ele se animou a fazer uma afirmação sobre a justiça de Deus afirmando o que se lê no verso 25:
“Longe de ti o fazeres tal cousa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?”
O Senhor respondeu que, caso houvesse os cinquenta justos dentro da cidade, ele pouparia toda a cidade por amor deles.
Abraão foi descendo o número de justos até dez, e Deus afirmou que a pouparia por amor dos dez.
A cidade não seria poupada porque o único justo que lá havia era Ló, e este seria resgatado por Deus, antes que ocorresse a destruição.
Evidencia-se neste diálogo o grande amor de Abraão não somente por Ló, mas pela justiça de Deus.
Ele sabia que um viver abençoado estava vinculado a um viver em justiça, não segundo meramente os princípios dos homens, mas, sobretudo segundo os princípios estabelecidos por Deus.
A intercessão dele em favor de Ló revela que era alguém que se interessava em que a justiça prevalecesse com a preservação do justo.
Ao mesmo tempo Abraão revela um sentimento de compaixão e longanimidade pelos pecadores, pois de certo modo intercedeu em favor deles, para que fossem poupados por Deus, em razão do testemunho de vida e intercessão dos justos em favor deles, não para que continuassem na prática do pecado, mas para que encontrassem oportunidade para o arrependimento.
Abraão foi humilde em sua oração intercessória, pois não se declarou merecedor de ser ouvido, antes disse que era pó e cinza (18.27).
Foi também importuno, pois ele insistiu no assunto com Deus e lhe apresentou argumentos consistentes.
Já destacamos o amor e a misericórdia que moveram Abraão àquela oração, pois ele pensou nas várias pessoas que poderiam ser destruídas na cidade juntamente com os ímpios.
Entretanto, não se sentiu estimulado a prosseguir quando o Senhor lhe revelou que nem sequer dez justos havia naquela cidade.
Quando o Senhor acabou de falar e o deixou, Abraão foi para o seu lugar com a certeza de que o justo Ló não seria condenado juntamente com os ímpios, porque ainda que toda a cidade fosse destruída, Ele entendeu pelo diálogo que tivera com o Senhor que Ele de fato não destrói em seus juízos o justo juntamente com o ímpio, pois como afirma Pedro, ilustrando a afirmação com a própria história de Ló,
“o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo,” (II Pe 2.9).
Ainda que algum justo venha a morrer juntamente com algum ímpio em razão de algum juízo vindo da parte de Deus sobre a impiedade dos homens, o justo não terá o mesmo fim do ímpio, porque ele viverá para sempre por causa da sua fé.
Assim, ainda que ele venha a sofrer juntamente com o ímpio, o seu fim não será de modo algum igual ao do ímpio, porque Deus é perfeitamente justo e é perfeito em Seus juízos.