Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
É Possível Decair da Graça?


 
 
“1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.
4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.
5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?
8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.” (Gál 5.1-9).
 
Tendo argumentado no capítulo anterior quanto à liberdade que os cristãos têm em Cristo, por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial; por terem sido libertados em Cristo da condenação e da maldição da Lei, é seu dever viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.
O cristão é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem a obediência à verdade do Evangelho, deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na mesma sedução, que lhes havia vencido e removido da liberdade em que se encontravam, para serem sujeitados ao jugo de servidão que lhes foi imposto pelos judaizantes.
Há poderes terríveis operando no mundo espiritual, que disputam pelo governo total de nossa vontade e espírito.
A carne sempre tentará trazer o cristão de novo à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do cristão nos tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a isto, quer agindo diretamente, quer usando seus ministros que se transfiguram em ministros de justiça, para enganar os cristãos. 
A liberdade com que Cristo nos libertou é muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui, nesta seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos judaizantes sobre os cristãos gálatas.     
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então, a mensagem de salvação e libertação do evangelho é a pregação  da fé e não das obras da Lei.
Assim, os muitos “evangelhos” que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é olhando sempre para Ele com os olhos espirituais da fé, que progredimos espiritualmente, sempre produzirão o efeito de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em Seu nome que nos submetemos às práticas que são estranhas ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e desconsideração para com Ele, e com tudo o que fez por nós, e que nos tem ordenado no evangelho;  a consequência imediata é a de se decair da graça, isto é, não a perda da salvação, mas ficar privado do crescimento na graça, e das consolações da graça pelo Espírito.  
A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na verdade; o maior poder operante neste mundo, porque é por ela que se destrói o pecado, e que se transforma progressivamente pecadores em santos, pela regeneração (novo nascimento espiritual), e o processo da santificação, pelo Espírito Santo. 
Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes lembrou que isto era muito pouco ou quase nada, porque segundo a justiça da lei, para a justificação, é necessário cumprir perfeitamente todos os demais mandamentos; e isto continuamente, por toda a vida. E, temos demonstrado anteriormente, que isto é uma tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora, de um assunto sem importância. É uma questão que envolve liberdade ou escravidão perpétua.
Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício amoroso de Cristo não é um benefício transitório, mas uma bênção permanente; assim como o jugo da Lei, para os que permanecem debaixo da maldição da Lei, por não terem sido libertados por Jesus, não é temporário, mas uma aflição perpétua.
Contudo os gálatas haviam sido encantados e estavam cegos quanto a esta verdade que lhes havia sido ensinada, mas na qual eles não haviam ficado firmes.
Eles não permaneceram firmes na graça, e decaíram dela. Porque não há outro modo de permanecer na graça a não ser o de ficar firme na palavra do evangelho, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito a doutrinas que afirmam o oposto da nossa segurança em Jesus.
Este descaimento como afirmamos anteriormente é consequente da desonra que se dá ao poder do Senhor, à Sua graça e Palavra, quando se pensa que há outro modo de se agradar a Deus a não ser pela fé.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, e isto é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo, é falta de fé e desonra ao Senhor. É por isso que Paulo afirma, que é pelo Espírito da fé que aguardamos a esperança da justiça, isto é, esta fé é operada pelo Espírito, de modo que temos plena esperança da justiça (v. 5) que temos recebido em Cristo Jesus.
Assim, Paulo afirma que não é ser judeu ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (v. 6).
O amor é, sobretudo a união do cristão com Cristo, que é a fonte do amor.
Isto significa então, que não é possível ter fé à parte da comunhão com Cristo.
Se os gálatas estavam se desligando de Cristo para se ligarem aos judaizantes e ao seu ensino pervertido, que fé eles poderiam ter?
Como uma fé que não atuava pelo amor poderia aumentar? 
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado seu primeiro amor. E, como a igreja de Laodicéia tinham deixado Cristo do lado de fora dos seus corações, batendo à porta para que se arrependessem.
O Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos Gálatas. Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco.
O lobo lhes tinha atacado e não poucas estavam muito feridas.   
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles vinham correndo bem a carreira cristã, estavam progredindo na fé, e de repente, por terem permitido serem removidos da sua própria firmeza por darem ouvidos aos judaizantes, ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham efetuando.
Lembremos que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra Satanás que semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto é, quando descuidamos na nossa vigilância e diligência.
As realidades espirituais do cristianismo, que se manifestam em nossa experiência real de vida, operam somente pela verdade, de maneira que Jesus pediu ao Pai que os cristãos fossem santificados, e Ele indicou o meio pelo qual o Espírito realizaria esta santificação: a Palavra da verdade (Jo 17.17).
Então, nada além da verdade revelada na Bíblia pode produzir o novo nascimento do Espírito Santo e Suas operações poderosas em nossa experiência real desta vida divina, até a sua plenitude, conforme é da vontade de Deus.
Devemos, portanto zelar pela manutenção da verdade, tal como está revelada na Palavra, para que possamos garantir a manifestação e manutenção da vida abundante que recebemos da parte de nosso Senhor Jesus Cristo, à medida que permanecemos nEle e na Sua Palavra, que é a verdade.  
Paulo esclareceu aos gálatas, que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que haviam cometido, não fora o Senhor que os chamou, mas o diabo, através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da comunhão com Cristo.
O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um cristão desviado com o seu Senhor.
Por isso, Satanás tudo fará para trazer dores aos cristãos, por saber que não os terá mais consigo no inferno depois que saírem deste mundo
Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o fermento do erro, porque não é necessário muito fermento para levedar toda a massa de cristãos, desviando-os da verdade. 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 02/11/2012
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