A Maldição da Serpente
“14 Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.
15 Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3.14,15)
Satanás conseguiu se prover de filhos espirituais através do êxito do seu propósito em tentar a mulher a pecar, e ao conseguir com que esta também convencesse o seu marido a comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
O descendente da mulher que ferirá a cabeça do diabo é sem qualquer sombra de dúvida o Senhor Jesus, que sendo Deus, foi concebido no ventre de Maria para vir a este mundo destruir as obras do diabo, esmagando a sua cabeça.
Este ato de esmagar a cabeça da serpente, seria feito através de um ferimento “do calcanhar” do Senhor pelo diabo, a saber a humilhação, perseguição que foi permitido que o diabo lhe fizesse, e que culminou com a Sua morte na cruz; e não somente isto, esta ferida que é produzida no calcanhar pelo diabo, na descendência bendita da mulher, é também feita naqueles que são de Cristo.
Satanás se proveu de uma descendência em toda a humanidade, por meio do pecado, mas Deus prometeu levantar desta descendência muitos que seriam inimigos do diabo, e não seriam mais seus descendentes, porque viria Aquele que lhe esmagaria a cabeça, e lhe despojaria do seu poder sobre todos os homens, de maneira que aqueles que se unissem ao Redentor, seriam livrados do seu senhorio maligno.
Por isso, há uma maldição sobre os animais, e especialmente sobre a serpente, como conseqüência do pecado do homem, e há também uma maldição específica sobre Satanás, por ter a sua cabeça esmagada pelo descendente da mulher, que é Cristo.
Nós temos a partir destes versículos de Gênesis, o começo da maldição divina. Nós temos a maldição que Ele proferiu sobre a serpente; que é sobretudo a maldição de Satanás.
É importante verificar que Satanás foi lançado juntamente com muitos demônios à terra, depois que eles se rebelaram no céu, e muitos demônios foram colocados em cadeias num lugar que a Bíblia chama de abismo.
E eles ainda permanecem lá.
No tempo do fim, no período da Grande Tribulação, um grande número deles será libertado para afligir os homens que estiverem vivendo sobre a terra. É possível que Satanás e os demônios que atuam na terra também estivessem no abismo, antes de o Senhor criar os céus e a terra, e foi permitido a estes saírem do abismo para cumprirem pelo menos dois grandes propósitos de Deus: O primeiro de trazer um julgamento sobre eles, através do agravamento do pecado deles, por ter Satanás tentado o primeiro casal a pecar contra Deus, fazendo com que a criação ficasse sujeita à vaidade, e também por toda a sorte de males que eles praticam sobre a terra, especialmente em relação aos homens, e por terem também atuado para levar Jesus à cruz.
Isto tudo agravou sobremaneira o juízo deles, pois Deus propiciou com que ficasse exposta à vista de todos os seres celestiais e dos homens, a excessiva malignidade de Satanás e de todos os anjos caídos.
E foi portanto, pela morte de Jesus na cruz, que eles não somente ficaram despojados do domínio completo sobre aqueles pelos quais o Senhor morreu, e que nEle crêem, como também ficaram sujeitos ao desprezo pela vitória de Jesus na cruz (Col 2.14,15).
O segundo propósito é o de que Satanás e os demônios que estão na terra, operam como agentes de provação da obediência dos homens, e são também os executores de juízos sobre os desobedientes que lhes são entregues para destruição da carne.
Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém também pode tentar, porque é absolutamente puro e santo, e desta forma, Satanás e os demônios atendem bem ao propósito de provar a fidelidade do coração dos homens, por tentar seduzi-los à prática do mal.
Evidentemente, isto não esgota tudo o que Deus intentou em Sua sabedoria e soberania, quando fez com que os homens sobre a terra tivessem que ter a companhia de Satanás e de demônios, que mesmo sendo indesejável para aqueles que amam e temem ao Senhor, acabam cooperando indiretamente para o aperfeiçoamento do seu caráter, nas lutas que têm que empreender contra os poderes das trevas.
Satanás, certamente, tanto quanto o próprio homem a quem tentou, não sabia, não conhecia tudo o que estaria implicado naquele ato de tentação do primeiro casal. Ele jamais imaginaria tudo o que seria colocado em curso por Deus para cumprir os Seus eternos propósitos tanto no que se refere à redenção do homem, quanto à manifestação da glória da Sua graça, quanto aos juízos que Ele traria sobre o próprio diabo.
Satanás pensou que poderia estragar completamente a criação de Deus, levando o primeiro casal a cair no pecado. Mas Ele não sabia que tudo já estava previsto nos conselhos eternos de Deus, e que Ele tinha um plano maravilhoso para ser colocado em prática.
E é interessante observar que na palavra mesma de maldição que Deus proferiu sobre a serpente estava embutida a promessa do Salvador.
A maldição distintiva da serpente teve também o propósito de que ela se tornasse um símbolo, uma lembrança constante para o homem, da queda e da condição amaldiçoada do próprio Satanás, que se identificou com a serpente, e que é por isso chamado na Bíblia por este nome, como em Apo 12.9; 20.2; II Cor 11.3, por exemplo.
Satanás disse em seu coração: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is 14.13,14). Entretanto, Deus que tudo sabe, conhecendo-lhe estes pensamentos íntimos proferiu a seguinte sentença sobre ele: “Contudo serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo,” (Is 14.15).
Satanás será de fato lançado no abismo por ocasião da volta de Jesus (Apo 20.1-3), e será lançado no lago do fogo e enxofre, no final do milênio (Apo 20.10).
Satanás jamais considerou, quando pensou que teria estragado para sempre, o plano de Deus de ter muitos filhos como Jesus Cristo, com a sua tentação de Eva, porque sabia que havia uma sentença de morte para o caso de desobediência ao mandamento de Deus, caso comesse do fruto proibido, que daquela sentença de morte, Deus traria ainda vida, e vida em abundância ao homem morto espiritualmente em seus delitos e pecados.
Jamais o diabo cogitaria que o próprio Deus pagaria na pessoa de Seu Filho, o preço exigido para a redenção do pecado e a remoção da morte do mundo.
A morte seria vencida pelo autor da vida, com a Sua própria morte, e como Satanás poderia cogitar um tal plano de redenção em que o próprio Deus se disporia a morrer por amor ao homem, e ainda por cima, de um homem agora corrompido pelo pecado, e transgressor dos mandamentos de Deus?
O diabo não podia pensar que um Deus tão elevado, poderoso, glorioso e majestoso, se humilhasse e se dispusesse a tal ponto de assumir a forma de homem e de servo, para morrer em tal condição, em favor de míseros pecadores.
Satanás estava cheio de ódio contra Deus por ter sido expulso para sempre do céu, e por ter recebido uma sentença de morte espiritual eterna. E jamais poderia imaginar que Deus pudesse perdoar transgressores da Sua vontade tal como ele, a saber, o diabo.
Então, ao atacar a criação perfeita na pessoa de Eva, ele tencionava atacar o próprio Deus.
Ele já havia enganado e arrastado a muitos anjos juntamente com ele, enquanto ainda se encontrava no céu. E agora procuraria produzir estragos na criação de Deus na terra.
E na verdade, ele continua operando incansavelmente neste seu trabalho, procurando produzir tudo o que está ao seu alcance para trazer miséria, destruição e corrupção ao mundo e a tudo o que ele contém.
Com isto ele está agravando e em muito a sentença de condenação contra ele, e ele sabe muito bem disto.
Até o momento do proferimento da maldição não havia nenhuma luta entre o homem e o diabo. Adão e Eva tinham seguido a Satanás. Não havia nenhuma hostilidade entre eles. Não havia nenhuma inimizade lá. E não é dito que eles fugiram da serpente depois da queda procurando se esconder do diabo. Ao contrário é dito que fugiram da presença de Deus tentando se esconder entre as árvores do jardim. E o diabo deve ter se regozijado antecipadamente num triunfo pleno que ele de fato não chegaria a ter, pois não imaginava que Deus se proveria de muitos filhos, incontáveis como as estrelas do céu, dentre os pecadores caídos.
Na maldição proferida por Deus contra Satanás, há uma possível profecia indicando a futura conversão de Eva. O diabo pensou que teria Eva do seu lado para sempre, mas quando Deus lhe disse que Ele colocaria uma profunda inimizade entre a mulher e o diabo, pode estar também incluída aqui a conversão de Eva.
Ela, por um momento, havia se tornado inimiga de Deus por causa do pecado, mas ela poderia, pela misericórdia e graça de Deus vir a se converter e assim voltar a ter comunhão com Deus, e consequentemente ser inimiga do diabo.
Temos nas palavras de Eva proferidas em Gên 4.1, em que tributou glória a Deus no nascimento do seu filho primogênito, Caim, uma indicação desta sua possível conversão: “adquiri um varão com o auxílio do Senhor.”.
E depois de Caim ter assassinado Abel, a mesma Eva viria a declarar em relação a nascimento de sete: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.” (Gên 4.25).
Há nestas palavras algum indício de inimizade contra Deus?
Ao contrário, parecem ser palavras de quem tinha o temor do Senhor.
E estas foram palavras proferidas por Eva depois da maldição da serpente.
Que duro golpe não seria para Satanás a conversão de Eva, e quão duro golpe é para ele a conversão de todos aqueles que ele consegue enganar por algum tempo mantendo debaixo da sua influência na condição de inimigos de Deus.
É possível que até o próprio Adão tenha se convertido a Deus, porque vemos Abel sendo temente a Deus e agindo de acordo com as ordens de Deus, e provavelmente todos os primeiros descendentes de Adão e Eva aprenderam acerca da bondade e do amor de Deus através do relato de seus pais.