O Fim do Dilúvio - Parte 2 - Gênesis 9
“1 Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra.
2 Terão medo e pavor de vós todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar; nas vossas mãos são entregues.
3 Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento, bem como a erva verde; tudo vos tenho dado.
4 A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.
5 Certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; de todo animal o requererei; como também do homem, sim, da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem.
6 Quem derramar sangue de homem, pelo homem terá o seu sangue derramado; porque Deus fez o homem à sua imagem.
7 Mas vós frutificai, e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela.
8 Disse também Deus a Noé, e a seus filhos com ele:
9 Eis que eu estabeleço o meu pacto convosco e com a vossa descendência depois de vós,
10 e com todo ser vivente que convosco está: com as aves, com o gado e com todo animal da terra; com todos os que saíram da arca, sim, com todo animal da terra.
11 Sim, estabeleço o meu pacto convosco; não será mais destruída toda a carne pelas águas do dilúvio; e não haverá mais dilúvio, para destruir a terra.
12 E disse Deus: Este é o sinal do pacto que firmo entre mim e vós e todo ser vivente que está convosco, por gerações perpétuas:
13 O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será por sinal de haver um pacto entre mim e a terra.
14 E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e aparecer o arco nas nuvens,
15 então me lembrarei do meu pacto, que está entre mim e vós e todo ser vivente de toda a carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio para destruir toda a carne.
16 O arco estará nas nuvens, e olharei para ele a fim de me lembrar do pacto perpétuo entre Deus e todo ser vivente de toda a carne que está sobre a terra.
17 Disse Deus a Noé ainda: Esse é o sinal do pacto que tenho estabelecido entre mim e toda a carne que está sobre a terra.
18 Ora, os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã.
19 Estes três foram os filhos de Noé; e destes foi povoada toda a terra.
20 E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha.
21 Bebeu do vinho, e embriagou-se; e achava-se nu dentro da sua tenda.
22 E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai, e o contou a seus dois irmãos que estavam fora.
23 Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre os seus ombros, e andando virados para trás, cobriram a nudez de seu pai, tendo os rostos virados, de maneira que não viram a nudez de seu pai.
24 Despertado que foi Noé do seu vinho, soube o que seu filho mais moço lhe fizera;
25 e disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.
26 Disse mais: Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
27 Alargue Deus a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
28 Viveu Noé, depois do dilúvio, trezentos e cinqüenta anos.
29 E foram todos os dias de Noé novecentos e cinqüenta anos; e morreu.”
Deus abençoou a Noé e a seus filhos (v 1), isto é, Ele lhes assegurou de fazer o bem a eles, de protegê-los, de guardá-los em segurança. É exatamente isto que o Senhor faz em relação a todos os crentes que estão em Cristo Jesus.
Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males (I Pe 3.12).
Vemos este cuidado de Deus para com os justos, isto é, para aqueles que foram justificados pela fé em Seu Filho, e que praticam obras de justiça, dignas de arrependimento, declarado nas palavras de Jesus em Jo 17.11,12:
“Pai santo, guarda-os em teu nome... Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.”
É do mesmo modo que abençoa a todos os que creem em Cristo, que Deus abençoou a Noé e a seus filhos.
Abençoar significa: fazer e trazer o bem a; e a bênção de Deus para os seus filhos é especial, porque inclui o cuidado e proteção a que nos referimos anteriormente.
Assim, tendo Deus feito as prescrições deste capítulo em favor da manutenção da vida, naquele novo mundo que seria reconstruído a partir de Noé e seus filhos, Ele fez uma aliança com eles e com todos os que descenderiam deles, isto é, uma aliança com a humanidade em geral, em todas as gerações, de não mais destruir toda a carne pelas águas do dilúvio; e de que não haveria mais dilúvio, para destruir a terra.
Esta promessa significa em síntese, que haveria um grande aumento da população mundial, pelo desígnio de Deus; e que embora o mundo não seja um paraíso, no entanto, é ainda melhor do que nós merecemos.
Abençoado seja Deus, pois não é o inferno.
A aliança feita pelo Senhor para com os que habitam na terra, garante que por mais que se multiplique a iniquidade, a terra não seja como é o inferno.
Embora a morte não devesse reinar, o Senhor ainda seria conhecido pelos Seus julgamentos, contudo a terra nunca deveria ser novamente despovoada como foi no dilúvio, mas seria cheia tanto de homens quanto de animais (At 17.24-26).
Provavelmente depois de ter construído uma casa para si e sua família, Noé plantou uma vinha, e talvez fosse este o seu ofício, antes de ter que paralisá-lo para se dedicar à construção da arca, como um carpinteiro.
Assim, depois do dilúvio, ele retornou às suas atividades normais e rotineiras, e não viveria de modo nenhum uma vida inativa, pois estava bem inteirado por Deus que a Sua bênção está associada ao trabalho para o qual se está vocacionado por Ele segundo os dons e talentos dele recebidos (I Cor 7.24).
Noé expôs o descuidado e não vigilante Cão, seu filho, a pecar, pois quando o viu nu e embriagado no interior da tenda, zombou do seu pai junto aos seus irmãos Sem e Jafé, que na ocasião agiram corretamente, guardando-se de não praticarem o mesmo pecado, e tomaram a iniciativa de cobrir a nudez do pai, para que não ficasse exposto à vergonha, e o fizeram com tal reverência, que tomaram uma capa e a colocaram sobre seus próprios ombros e andaram de costas, desviando o rosto, de modo a não verem a nudez do pai.
O que fez Deus através de Noé, depois que este despertou e se recuperou do seu vinho, e soube o que havia feito o seu filho mais moço?
Proferiu uma maldição sobre Canaã, um dos filhos de Cão, sujeitando-o à servidão de Sem e Jafé.
Os filhos de Cão foram Cuxe, Misraim, Pute e Canaã (10.6).
De Misraim descenderiam os egípcios, e todos sabemos o que sucedeu aos cananeus, descendentes de Canaã, que foram habitar exatamente na terra que Deus prometeu aos descendentes de Abraão, descendente de Sem, dando-se assim cumprimento à maldição proferida por Noé, quando foram de lá expulsos ou sujeitados a trabalhos forçados pelos israelitas, quando a terra foi conquistada nos dias de Josué.
Agora, o pecado do próprio Noé nos ensina que quando a Bíblia diz que ele era justo e íntegro entre os seus contemporâneos (Gên 6.9) isto se refere à sua sinceridade diante de Deus e não a uma perfeição sem pecado.
No maior dos santos sempre se achará alguma falta.
Ninguém pode ser perfeitamente sem pecado neste mundo, porque o pecado é algo ligado à natureza terrena, e deve ser continuamente mortificado, pois de outro modo sempre prevalecerá.
Todos aqueles que têm tido a resolução de vigiar, e que pela graça de Deus têm mantido a sua integridade em meio às tentações, às vezes, por descuido e negligência da graça de Deus, são surpreendidos em pecado, mesmo depois de ter cessado o tempo da sua provação, e de tudo terem vencido com o auxílio da graça de Cristo.
Por isso se ordena aos cristãos que estejam sempre vigilantes e vestidos da armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau, e, depois de terem vencido tudo, permanecerem inabaláveis (Ef 6.13). E para isto, “orando em todo tempo no Espírito”, vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos (Ef 6.18).
Um aspecto importante a destacar na maldição de Canaã por causa do pecado de Cão, seu pai, é que ela se cumpriu somente cerca de oitocentos anos depois de ter sido proferida, quando os israelitas conquistaram a terra de Canaã.
O povo de Canaã foi amaldiçoado porque era tão ímpio quanto foram os seus ancestrais.
Deus jamais proferiria aquela maldição sobre um povo piedoso.
Cabe destacar que há uma precisão maravilhosa na profecia de Noé em relação a seus filhos, como não poderia deixar de ser, pois foram proferidas pelo próprio Deus. Em Gên 9.27 lemos:
“Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.”
Esta profecia se aplica especialmente aos gregos e romanos que eram descendentes de Jafé.
As nações orientais são particularmente descendentes de Sem, e daí serem chamadas de semitas.
As nações ocidentais, particularmente da Europa, e Ásia, de Jafé.
Esta profecia aponta maravilhosamente para a conversão dos gentios (jafetistas) através da salvação que viria a partir dos judeus (semitas), e daí se dizer que eles habitariam nas tendas de Sem.
As tendas de Sem foram depositárias da revelação de Deus desde os dias de Abraão até os dias de Jesus e dos apóstolos, e foi nestas tendas que os gentios acharam a salvação.
Jafé seria engrandecido, e isto indica domínio e prosperidade material, como de fato foi o caso dos gregos e dos romanos que habitaram nas tendas de Sem, também sendo os dominadores dos judeus, que foram tributários deles.
Mas não é esta a verdadeira e duradoura bênção, e por isso a bênção de Jafé não é tanto a de ser engrandecido por Deus para exercer domínio, mas a de estar unido como gentio aos judeus, pelo evangelho de Cristo, no qual é derrubada a barreira de separação que havia entre ambos (Ef 2.14,15).
E, mais maravilhoso ainda é o fato de que aqueles que viriam a se abrigar nas tendas de Sem seriam verdadeiramente grandes no sentido de que seriam mais numerosos como povo de Deus do que os próprios judeus, porque não padece dúvida que ao longo de toda a história da igreja, ela tem sido composta em muito maior parte por gentios do que por judeus.
Jafé seria aumentado por Deus, mas o sacerdócio seria dado a Sem, porque Deus decidiu e escolheu habitar nas tendas de Sem. Seria pela descendência de Sem que traria ao mundo Aquele que esmaga a cabeça da serpente.
Será no Monte Sião, em Jerusalém, que Jesus estabelecerá a sede do Seu governo sobre a terra no milênio, e será também na mesma posição ocupada atualmente por Jerusalém, que a Nova Jerusalém descerá sobre a nova terra que Deus criará depois do milênio.
Assim, é na tenda de Sem que Jafé habitará. Isto não é maravilhoso?
É interessante observar que a profecia deixa Canaã, um dos filhos de Cão, totalmente descartado desta habitação nas tendas de Sem, que foi concedida a Jafé.
Dele se diz apenas que seria servo tanto de Sem quanto de Jafé.
De fato, os cananeus foram praticamente exterminados da face da terra porque eles não tinham parte no Senhor. Por isso se diz que bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor.
Por isso estaremos mais contentes se nós tivermos Deus habitando em nossas tendas, do que possuir todo o ouro e toda a prata do mundo. É melhor morar em tendas com Deus do que em palácios sem Ele.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 07/11/2012