Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Prisão de Jesus 

 
“1 Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos.
2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.
3 Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas.
4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?
5 Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.
6 Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.
7 Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;
9 Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.
10 Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.
11 Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
12 Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” (João 18.1-12)
 
Nós vimos que João registrou as palavras e atos de Jesus durante Sua última ceia de Páscoa, que havia celebrado com Seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu evangelho.
E João relatou os eventos relativos à prisão, sofrimentos e morte de Jesus, nos capítulos 18 e 19; e os relativos à sua ressurreição nos capítulos 20 e 21.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12) são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar voluntariamente como oferta de sacrifício cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de Israel e se entregado a eles, porque, afinal, estavam procurando prendê-lo pela falsa acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras que lhes fosse entregue por um ato de traição, e que  o prendessem por uma ação insidiosa e injusta, de maneira que ficasse configurada a corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das autoridades religiosas de Israel, e passadas para aqueles que têm fé em Cristo, e também pela instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.     
O ato de entrega das chaves do reino dos céus por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos sacerdotes, escribas e fariseus, e foram entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo  a eles na parábola dos lavradores na vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no reino, assim como eles não entravam, com as suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se retirado há muito tempo do culto corrompido que Lhe prestavam.
Para demonstrar que estava realmente se entregando voluntariamente, Jesus fez com que os soldados que vieram prendê-lo recuassem e caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o desejasse, mas importava que fosse preso, para que fosse conduzido à morte de cruz.         
Aquela demonstração de poder sobrenatural tinha também por alvo gerar temor nos soldados de maneira que atendessem ao pedido de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se encontravam com Ele.
Até o Seu momento final o Senhor demonstrou o Seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.      
Pedro tentou ainda reagir para impedir que Jesus fosse preso tendo arremetido contra o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver completamente para vencer a morte, o pecado e o diabo, quando morresse por nós na cruz.    
 
A Negação de Pedro 
 
“13 E conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
14 Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.
15 E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote.
16 E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro.
17 Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.
18 Ora, estavam ali os servos e os servidores, que tinham feito brasas, e se aquentavam, porque fazia frio; e com eles estava Pedro, aquentando-se também.
19 E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.
21 Para que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito.
22 E, tendo dito isto, um dos servidores que ali estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo: Assim respondes ao sumo sacerdote?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se bem, por que me feres?
24 E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo sacerdote Caifás.
25 E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se. Disseram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 E um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?
27 E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.” (João 18.13-27)
 
Jesus foi preso como se fosse um malfeitor, porque teve Suas mãos amarradas.
Ele que não havia oferecido qualquer resistência ao ser preso, e que não havia feito nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora violência por parte daqueles que deviam debelar a violência e promover a justiça.
Eles queriam passar uma impressão de uma suposta periculosidade de Jesus ao terem-no tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que lhes haviam enviado, porque bem conheciam o ódio que elas sentiam por Jesus.
Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo deles, levando-o à residência de Anás, porque era sogro de Caifás, o sumo sacerdote indicado para aquele ano.
Eles estavam em conselho há muito tempo para verem como prenderiam Jesus e agora estavam se deleitando com o triunfo deles.
No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir ao poder homens maus como Anás, Caifás e Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.
Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus providenciou que isto fosse feito pelas mãos de injustos, previamente preparados para aquela hora.
O triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber, a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de inveja e ódio, e se baseando em acusações falsas e injustas. 
O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o nome, e nem com isto ele se desviou da maldade que praticaria contra o Senhor.
Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até mesmo na casa dos Seus piores inimigos.
Ele sempre terá testemunhas em todas as partes para que todos os que Lhe resistem sejam indesculpáveis perante Ele no dia do juízo quanto à sua incredulidade e maldade; assim como lhes dá também a oportunidade de se arrependerem pelo que virem no bom testemunho dos Seus servos.       
Este discípulo de Jesus que era conhecido do sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta, do lado de fora, levou Pedro para dentro.
Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por três vezes.
Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.
Nós temos nesta passagem a oportunidade de ver que para o serviço de Deus, e para os laços de comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum proveito, porque não persistirá e não resistirá às provas a que for submetido, assim como ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus, quando foi confrontado na casa do sumo sacerdote.    
Ele começou negando que conhecia Jesus logo à entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos seus discípulos (v. 17).
Quando o sumo sacerdote perguntou ao Senhor acerca dos seus discípulos e da sua doutrina, Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia ensinado poderiam responder por Ele.
Pedro certamente seria um destes, mas ele estava atemorizado demais para fazê-lo, e preferiu ficar se aquentando juntamente com os servidores que haviam acendido um braseiro, porque fazia muito frio naquela noite. 
Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira.
Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.
 Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar qualquer resposta a Anás, porque ele não era o sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de sua autoridade ao interrogar Jesus, porque deveria fazê-lo com um tribunal regularmente instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda manietado, para demonstrar que Jesus não havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.    
Enquanto isto Pedro negaria ao Senhor mais uma vez quando aqueles com os quais se aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus (v. 25).
E, logo o negaria pela terceira vez quando foi indagado por um dos parentes de Malco, também servo do sumo sacerdote, se não o tinha visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.
Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira vez, o galo cantou.
 
 
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/11/2012
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