Jesus Animando e Encorajando os Discípulos – Parte 1
“1 Tenho vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis.
2 Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.
3 E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim.
4 Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco.
5 E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
6 Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza.
7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei.
8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.
9 Do pecado, porque não crêem em mim;
10 Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
11 E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.
12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13 Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 16.1-15)
Antes de fazer a oração intercessória do capítulo seguinte (cap 17), depois da qual se dirigiu para o jardim do Getsemâni, Jesus fez estas advertências finais aos discípulos, para que entendessem que as perseguições contra o evangelho não cessariam, ao contrário, elas se intensificariam muito, e eles deveriam ser pacientes e perseverantes debaixo das aflições que sofreriam.
A história dos mártires, especialmente da Igreja Primitiva, nos primeiros trezentos anos da história da Igreja bem comprova a exatidão desta profecia de Jesus.
Muitos cristãos foram mortos pelos judeus, especialmente nos primeiros anos de existência da Igreja, e eles pensavam que estavam de fato fazendo um serviço para Deus, uma vez que consideravam o cristianismo como sendo uma perigosa heresia que visava destruir o judaísmo.
O Senhor alertou os discípulos; e o alerta que lhes foi dirigido se aplica aos cristãos de todas as épocas, para que não fiquem escandalizados com o fato de receberem por vezes o mal, como paga de todo o bem que fizerem às pessoas.
Apesar de o evangelho ter sido pregado no princípio nas sinagogas espalhadas por todo o mundo conhecido de então, assim que era detectado pelos judeus que era o nome de Jesus que estava sendo pregado; eles se levantavam em dura oposição e perseguição aos cristãos, a ponto de o apóstolo Paulo ter decidido pregar somente aos gentios, em face das duras perseguições que estava sofrendo da parte dos judeus.
Assim, todos os judeus que se convertiam ao cristianismo eram expulsos das sinagogas, e isto foi mais agravado na região da Judéia, especialmente em Jerusalém, por causa da influência dos sacerdotes, fariseus e escribas que se concentravam naquela região.
Jesus havia alertado os discípulos quanto a tudo isto, para que, quando acontecesse, eles não desistissem de pregar o evangelho em razão das perseguições que eles sofreriam (v. 4).
Os discípulos de Jesus não devem ficar ofendidos com a cruz.
A ofensa da cruz é uma tentação perigosa até mesmo para cristãos espirituais, porque poderão ser tentados a recuar na fé ou na obra de evangelização quando perceberem as fortes oposições que recebem da parte do mundo espiritual, capitaneadas pelo diabo.
Tempos de sofrimento são tempos de tentação.
O sofrimento é uma constante na vida daqueles que estão empenhados numa obra que seja verdadeiramente de Deus.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Apo 2.10).
O Senhor percebeu que em vez de ficarem estimulados, os discípulos se encheram de tristeza ao ouvirem as suas palavras, especialmente o fato de lhes ter dito que se retiraria deles para ir para junto do Pai.
Em vez de tristeza, isto deveria ser um motivo de grande alegria, porque se Ele não fosse para o Pai, o Espírito Santo não poderia ser derramado.
Se o Espírito não fosse derramado eles não teriam o poder espiritual necessário para cumprirem o ministério que havia sido designado a eles por Deus.
Eles deveriam ver o céu azul do outro lado da nuvem escura que sempre os acompanharia.
Jesus disse que iria voltar para o seio do Pai, e eles não manifestaram interesse em perguntar-lhe o motivo desta ida, e as coisas maravilhosas que diziam respeito a eles e que lhes seriam concedidas com a Sua partida para ser glorificado no céu, sendo a principal delas, o envio do Espírito Santo para ser um Consolador, amoroso, paciente e persistente em ajudá-los em suas fraquezas, bem como no aperfeiçoamento espiritual para estarem também habilitados para habitarem no mesmo céu para o qual Jesus estaria indo, depois de morrer na cruz e ressuscitar.
Seria o Espírito Santo, e não propriamente eles quem convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
O convencimento do pecado não consiste tanto na convicção das pessoas quanto às coisas erradas que elas pensam, falam e praticam, mas que o pecado prevalece onde não há a fé justificadora de Jesus.
A condição de incredulidade, de não se crer no Senhor para a salvação, é o problema básico do pecado, porque Deus está se revelando na dispensação do Espírito Santo, que é a da graça, longânimo para com todos os pecadores, estando disposto a perdoar-lhes todas as suas iniquidades e transgressões (Jer 31.31-35), tão somente por se unirem a Cristo pela fé.
A vida do próprio Cristo os purificará e santificará completamente, de maneira que sejam achados na glória, santos, perfeitos e inculpáveis.
O Espírito não somente convence o mundo revelando aos homens que eles são pecadores, como também convence o mundo de que Cristo é justo, e que somente Ele pode ser a nossa justiça diante de Deus, o que se comprova no fato dEle ter voltado para o seio do Pai em glória.
É o Espírito que nos dá este testemunho da justiça que há em Cristo; justiça esta que Ele tornou disponível para nós justificando-nos dos nossos pecados, quando nos arrependemos e cremos nEle.
A presença do Espírito no mundo tem desfeito as obras do diabo, por causa da sentença de despojamento que Ele recebeu da parte de Deus quando Cristo morreu na cruz.
As muitas coisas que Jesus tinha a dizer aos discípulos, especialmente aquelas relativas às particularidades deste trabalho do Espírito de convencimento do pecado, da justiça e do juízo, foram deixadas por Ele para serem ensinadas pelo próprio Espírito aos discípulos; porque, afinal o Espírito não falaria de si mesmo, e nem traria uma nova doutrina, senão para dar seguimento à missão de Cristo através dos cristãos.
Jesus Animando e Encorajando os Discípulos – Parte 2
“16 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai.
17 Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
18 Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz.
19 Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
20 Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.
22 Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
23 E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.
24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra.
25 Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
26 Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
27 Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus.
28 Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
29 Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma.
30 Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
31 Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
32 Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
33 Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.16-33)
O que Jesus estava sentindo naquela última ceia com Seus discípulos era como as dores de parto de uma mulher que está prestes a trazer um filho ao mundo; que é uma hora de aflições, tristezas e dores, mas que logo se transforma em grande alegria, uma vez tendo dado à luz um novo ser.
De igual modo a grande aflição que Jesus estava sentindo e que se intensificaria ainda mais até morrer na cruz, daria à luz uma nova dispensação, na qual seriam gerados muitos filhos para Deus.
Assim tudo o que Ele lhes estava dizendo e que estava gerando tristeza no coração deles não era motivo para ficarem desanimados, ao contrário, em todas as suas aflições deveriam ter o bom ânimo da fé de que o fruto que é gerado por elas e através delas é um fruto precioso gerado pelo próprio Deus.
Estes que nascem de novo, estes muitos filhos espirituais de Deus já não morrem, e viverão eternamente com o Senhor deles, onde não haverá mais luto, tristeza e dor.
Daí Jesus ter concluído este capitulo com as palavras do verso 33:
“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (v. 33).
Eles seriam dispersos por um tempo, quando Jesus estivesse padecendo diante dos sacerdotes no sinédrio, e de Pôncio Pilatos, e do escárnio e do açoite dos seus soldados, na humilhação do carregar da cruz, e por fim na crucificação, mas deviam entender que aquilo não significava uma derrota, mas uma vitória sobre este mundo de aflições, de maneira que tivessem bom ânimo e se mantivessem em paz nEle, em comunhão com os Seus sofrimentos.
Sofrimentos estes que completariam também nas suas próprias aflições por amor ao evangelho, mas como o Seu Senhor deveriam ter paz e bom ânimo em tudo o que teriam que passar neste mundo por causa do evangelho.
O fato de que não veriam mais o Senhor por um pouco de tempo, porque Ele seria arrebatado da companhia deles por aqueles que o prenderiam, açoitariam e crucificariam, não significava que não o veriam mais, porque o veriam de novo, porque ressuscitaria, e mesmo depois que subisse aos céus poderiam vê-Lo, não mais segundo a carne, mas em espírito, através da presença do Espírito Santo.
O Senhor incentivou os discípulos a começarem a se exercitar em orações dirigidas ao Pai, fazendo petições em Seu nome, porque eles se alegrariam ao verem suas orações sendo respondidas por Deus.
Até pouco antes de sair para o Getsemâni, Jesus vinha falando muitas coisas aos discípulos por meio de parábolas, especialmente quanto à Sua procedência do céu, e do seu retorno para lá, uma vez que geralmente dizia simplesmente que não sabiam para onde Ele iria, e que eles não poderiam segui-lo naquela hora, mas agora Ele lhes fala claramente acerca do céu e do Pai (v. 27, 28).
Ele queria lhes mostrar que daquele momento em diante o Espírito Santo lhes ensinaria de maneira direta tudo o que se referisse às coisas celestiais, espirituais e divinas, porque Ele teria a honra de remover inteiramente o véu que permanecia sobre o mistério de Deus, que era o próprio Cristo, véu este que vinha sendo mantido durante todo o período de vigência da Antiga Aliança.
Então importava que muitas coisas fossem ensinadas por Jesus por meio de parábolas, porque o véu seria inteiramente removido somente a partir da inauguração da Nova Aliança, a qual entraria em vigência somente depois da Sua morte na cruz.
Por isso Ele havia chamado o cálice de vinho nesta última ceia de Páscoa que celebrara com os discípulos de cálice da Nova Aliança feita no Seu sangue.
Ela seria selada com o sangue que Ele derramaria na cruz, assim como a Antiga Aliança foi selada com o sangue de animais, por Moisés.
Foi pelo mesmo motivo que o véu do templo, que separava o Lugar Santo, do Santo dos Santos, foi também rasgado de cima abaixo, para indicar que o véu da Antiga Aliança, que impedia o conhecimento completo e direto da verdade seria removido em Cristo, e este trabalho seria feito pelo Espírito que seria derramado em todas as nações da terra.
Os apóstolos se alegraram de Jesus ter falado com eles daquela maneira direta e clara, e por lhes ter dito que aquele seria o modo que Ele trataria com eles dali por diante através do Espírito Santo.
Ele lhes encorajou a começarem a orar pedindo ao Pai em Seu nome, de maneira que Eles poderiam falar diretamente com o Pai, e não necessitavam mais pedir a Ele que rogasse, Ele mesmo, por eles ao Pai, porque o caminho para a presença do Pai seria aberto por Ele na cruz, de maneira que poderiam ser admitidos em espírito no Santo dos Santos celestial, pelo novo e vivo caminho que seria aberto.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/11/2012