Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Jesus o Bom Pastor


 
“1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
2 Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
4 E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.
5 Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6 Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
13 Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.
14 Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
15 Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.
18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.”
  
As ovelhas de Jesus devem viver reunidas no aprisco de Deus.
Não são poucos os salteadores que atacam este aprisco, mas eles nunca entram, por motivos óbvios, pela porta estreita do curral que é o Senhor Jesus, porque não estão a Seu serviço, e nem sustentam a Sua Palavra. 
Jesus cuida das ovelhas e as alimenta com a verdade para que tenham vida, a vida abundante, vitoriosa, daqueles que estão bem alimentados com as palavras da vida eterna.
Mas, os ladrões que atacam o aprisco têm apenas o propósito de roubar, matar e destruir as ovelhas, especialmente a vida espiritual delas, porque estão a serviço de Satanás.   
Jesus não é apenas a porta do aprisco de Deus, porque ninguém pode entrar neste aprisco que não é terreno, mas celestial, senão somente aqueles que passam pela porta estreita que é o Senhor Jesus Cristo.
Afinal, ninguém pode ir ao Pai a não ser por Ele.
Além de ser a porta do aprisco das ovelhas Jesus é também o Pastor delas, aquele que cuida das ovelhas e que as conduz verdadeiramente.
Elas conhecem somente a voz dEle como sendo a voz do Seu Pastor, em cujas mãos estão as suas almas.
Os pastores auxiliares do Supremo Pastor não são os proprietários do rebanho, e se não falarem com a voz do Pastor dos pastores, as ovelhas não lhes seguirão, porque reconhecem e atendem somente a voz de Cristo.
Os fariseus, os escribas, os falsos profetas que ministravam em Israel não conseguiram atrair as ovelhas de Cristo porque eram ladrões e salteadores, que não foram ouvidos pelas ovelhas do rebanho de Deus, as quais se encontravam perdidas debaixo do ministério corrompido deles.
No entanto, assim que Jesus se manifestou, Ele passou a reunir as suas ovelhas que se achavam dispersas, a começar pelos apóstolos, e desde então, todas elas têm reconhecido a Sua voz como sendo a do Seu Pastor, e entrado pela Porta estreita da salvação que é o próprio Jesus e a Sua Palavra.  
Jesus é o bom Pastor porque deu a Sua vida pelas ovelhas.
Este foi o preço que Ele pagou para poder resgatá-las do poder do inferno e da morte e para trazê-las em segurança para o céu.
Nenhum mercenário, como os escribas e fariseus, e os falsos pastores, mestres e profetas que exploram o rebanho do Senhor pode ter esta mesma disposição de Jesus, de dar a vida pelas ovelhas.
Somente naqueles que estiverem realmente a serviço de Jesus para apascentarem o Seu rebanho, poderá ser achado este mesmo sentimento que houve também no Senhor.     
Como o interesse do pastor mercenário não é pelo bem espiritual das ovelhas, senão explorá-las para atender aos próprios interesses egoístas deles de enriquecerem, e terem fama, e honra pessoal, então não é de se admirar que deixem o rebanho desamparado quando o Inimigo as ataca com o propósito de arrebatá-las e dispersá-las. 
Os pastores que são mercenários não terão nenhum cuidado do rebanho nos dias difíceis, e se aproveitarão do rebanho nos dias fáceis.  
O mercenário não conhece as ovelhas e nem o que é necessário para cuidar delas.
Mas Jesus não somente conhece as Suas ovelhas, como também é por elas conhecido.
O Senhor Jesus não tinha ovelhas somente no aprisco de Israel, apesar de estar ministrando em Seu ministério terreno somente a elas, mas depois que o Espírito fosse derramado no Pentecoste, Ele começaria a agregar num só rebanho as  ovelhas do aprisco das demais nações da terra. 
Ele daria a Sua vida pelas ovelhas, mas tinha o poder tanto para dá-la, como também o poder de tornar a tomá-la; porque o Pai havia lhe dado este mandamento de morrer e ressuscitar para que as ovelhas pudessem também ser batizadas na Sua morte e ressurreição, para poderem viver para sempre na presença de Deus. 
A base do conhecimento que as ovelhas têm de Cristo é da mesma natureza do conhecimento que há entre Ele e o Pai, isto é, espiritual e de amor. 
 
 
Jesus e a Cegueira dos Fariseus
 
“19 Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus por causa destas palavras.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?
21 Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos?
22 E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.
23 E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.
24 Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim.
26 Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
30 Eu e o Pai somos um.
31 Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
32 Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?
33 Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
34 Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
35 Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),
36 Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
37 Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.
38 Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele.
39 Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas ele lhes escapou das mãos.
40 E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali ficou.
41 Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto disse deste homem era verdadeiro.
42 E muitos ali creram nele.”
 
Como os fariseus haviam protestado contra Jesus por lhes ter dito que continuavam condenados em seus pecados, por não reconhecerem que eram cegos espiritualmente, e que estavam cheios de um orgulho religioso que lhes impedia de enxergarem a verdade de Deus, o Senhor prosseguiu Seu discurso para esclarecer o motivo porque eles não Lhe davam ouvidos, obediência e adoração, como o cego que Ele havia curado, que apesar de ser cego e viver na mendicância havia reconhecido que Ele era o Messias, enquanto os fariseus, como todo o conhecimento que tinham da letra das Escrituras não conseguiam enxergar que Jesus veio a este mundo da parte de Deus, para dar cumprimento ás Escrituras que eles tanto examinavam, e apesar disto nunca podiam encontrar a Deus.   
Por que eles não podiam encontrar a Deus, apesar de todo o exame que eles faziam da Sua Palavra escrita revelada?
Jesus explicou a razão ao falar da metáfora do aprisco e das ovelhas no início deste capítulo décimo.
A razão de não poderem ter um verdadeiro conhecimento de Deus era devida ao fato de não serem do rol dos Seus eleitos.
Eles não faziam parte do rebanho do Senhor, e assim por mais que eles estudassem as Escrituras jamais poderiam chegar ao conhecimento da verdade conforme ela está em Deus, por um conhecimento experiencial e real em espírito, pela revelação do Espírito Santo a eles.     
Não somente eles estavam impossibilitados de terem conhecimento da verdade, e deste modo jamais viriam a conhecer a Cristo, como também se tornariam falsos pastores e mestres que jamais poderiam ser ouvidos pelo verdadeiro rebanho do Senhor.
Assim, como era de se esperar, estas palavras de Jesus precipitaram uma nova divisão entre os judeus (v. 19).  
Muitos disseram que Jesus estava possuído de demônios e fora de si, e que não era digno de ser ouvido.      
Outros mais sensatos diziam que aquelas palavras não podiam ser a de um endemoninhado, porque um demônio jamais poderia abrir os olhos aos cegos, conforme Jesus havia feito com aquele cego de nascença. 
No entanto, como vimos antes, e conforme o Senhor havia afirmado, nada adianta ter um parecer a respeito de Jesus, porque o que importa é o parecer que Jesus tem acerca de nós, convencendo-nos dos nossos pecados, para que possamos ser salvos e santificados por Ele e pela Sua Palavra.
Não devemos julgar a Palavra de Deus, conforme os fariseus faziam, mas sermos julgados por ela.
Jesus proferiu estas palavras durante o período da festa da dedicação, a qual durava oito dias, e era celebrada anualmente, começando no dia 25 do mês de chisleu (dezembro) para comemorar a purificação do templo, o qual havia sido profanado por Antíoco Epifânio, no período dos macabeus.
Quando o Senhor passeava no templo, foi rodeado pelos Judeus no alpendre de Salomão, e estes queriam que Ele fizesse uma afirmação clara e direta se era de fato o Messias (Cristo).  
  Como eles queriam ouvir uma afirmação clara e direta, o Senhor lhes mostrou que não era por uma afirmação ou um sinal que poderiam chegar a ter tal conhecimento, porque isto é possível somente para aqueles que fazem parte do Seu rebanho.
Como Ele havia dito, somente as Suas ovelhas podem ouvir a Sua voz. Sem conversão é impossível ouvi-la. Como Ele havia dito a Nicodemos, que se o homem não nascer de novo do Espírito não pode ver o Reino de Deus.
Assim, se eles não estavam conseguindo crer nEle, apesar de lhes ter dito várias vezes que era o Messias, e tê-lo comprovado através dos sinais que fazia, confirmando as profecias do Velho Testamento acerca da Sua Pessoa e das coisas que Ele faria (como por exemplo Is 61.1-3); era porque não eram Suas ovelhas. Se tivessem sido convertidos a Deus, poderiam ouvi-lo, mas não era este o caso.
Jesus lhes disse claramente que as Suas ovelhas, como Ele já lhes havia dito, ouvem a Sua voz e porque Ele as conhece, elas O seguem (v. 27). 
Os fariseus não suportaram ouvir esta verdade porque o endurecimento deles comprovava que não eram do rebanho de Cristo, e haveriam de perecer eternamente. Então pegaram em pedras para tentar matá-lO.
Como eles se diziam filhos de Deus, Jesus perguntou-lhes por qual das boas obras que Ele havia feito da parte de Deus Pai eles o apedrejariam.
Eles tentaram se justificar dizendo que não era por nenhuma obra boa, mas porque havia blasfemado dizendo que era Deus. 
A atitude deles estava confirmando tudo o que Jesus havia dito sobre eles.
Para se defender da acusação de blasfêmia que Lhe dirigiram, Jesus usou o argumento da própria Escritura, e citou o Salmo 82.6:
 “Eu disse: Vós sois deuses, e filhos do Altíssimo, todos vós.”
O verso posterior a este, do Salmo, é o seguinte:
“Todavia, como homens, haveis de morrer e, como qualquer dos príncipes, haveis de cair.”  (v. 7.
Para entendermos o teor destas palavras nós temos que recorrer a Êx 22.8.  
“Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao governador do teu povo.” (Êx 22.28).
No original hebraico a  palavra para juízes é “Elohim”, isto é, deuses, porque os magistrados eram considerados no Velho Testamento como representantes de Deus nos Seus juízos sobre o povo de Israel, de maneira que eram designados na Lei pela palavra Elohim, que é a mesma usada para descrever a divindade, e que significa pluralidade de majestades ou magistrados.
Assim, aqueles juízes (Elohim) corruptos de Israel citados no Salmo 82.6, haveriam de ser julgados por Deus como homens, e eles cairiam como qualquer outro governante e líder de Israel.    
Mas Jesus é Elohim justo e perfeito, e se aos magistrados de Israel foi usada tal palavra nas Escrituras para descrevê-los, pela honra que deveriam dar ao seu cargo, quanto mais Jesus não era digno de usar tal título, porque não somente tem o pleno direito ao título, como efetivamente é Deus. 
Não havia como eles negarem a divindade de Jesus, porque Ele fazia as mesmas obras de Deus Pai.
Então ainda que aqueles judeus não fossem capazes de conhecê-lo da maneira pela qual convém ser conhecido, que é em espírito e em verdade, pelo menos eles deveriam crer nas obras que Jesus fazia, de maneira que pudessem saber e crer que de fato o Pai está nEle, e Ele no Pai.
No entanto, não lhe eram ouvidos e tentaram prendê-lO, mas Jesus escapou mais uma vez das suas mãos.       
Como a perseguição havia se tornado muito intensa Ele deixou Jerusalém e retornou para o outro lado do Jordão onde havia começado o Seu ministério, quando foi batizado por João, tendo permanecido por algum tempo naquele lugar.     
Mas muitos dos que haviam ouvido Suas palavras foram ter com Ele e diziam que o testemunho de João acerca de Jesus era verdadeiro, ainda que João mesmo não tivesse feito nenhum sinal.
O evangelista encerra este capítulo simplesmente dizendo que muitos ali creram nele.
Eles não haviam crido enquanto estavam em Jerusalém, mas haviam crido no deserto.
Enquanto na companhia dos endurecidos fariseus, e no meio da oposição e perseguição que eles fizeram a Jesus eles não puderam expressar a fé deles nEle.
Mas ali no silêncio do deserto eles puderam entender o caráter da Sua missão e creram nEle.
Ainda hoje, não é possível achar Jesus no meio daqueles que se opõem abertamente a Ele.
É preciso sair do meio deles e buscá-lO com aqueles que adoram a Deus com um coração sincero e puro.
Não acharemos Jesus na taberna, mas onde Ele seja honrado e adorado.   
 
 
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/11/2012
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