O Auxílio Mútuo
“1 Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, restaurai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
2 Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
3 Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4 Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro.
5 Porque cada qual levará a sua própria carga.
6 E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.
7 Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
8 Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.
9 E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
10 Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.” (Gál 6.1-10).
A palavra grega paraptoma, usada por Paulo e traduzida por “ofensa” no verso 1, é a mesma palavra usada em várias passagens do Novo Testamento para se referir a pecados ou faltas, sendo a mesma palavra usada por Jesus no Pai Nosso, onde se diz “perdoa as nossas ofensas”.
Então, não significa apenas injúrias, mas todo tipo de falta que possa ser praticada contra o próximo. Tiago faz o mesmo uso desta palavra, quando diz que devemos confessar nossas ofensas uns aos outros.
Paulo não estava, portanto se referindo aqui a erros doutrinais, mas a pecados que operam na carne e sujam o coração do cristão. Ele expõe a maneira como isto deve ser tratado na Igreja: os que são fortes devem levantar o caído com espírito de mansidão.
Esta norma deveria ser seguida particularmente, pelos ministros da Palavra.
Os pastores devem reprovar o caído, mas quando vêem que o caído sente e se entristece pela sua condição, devem confortá-lo e cobrirem a sua falta com o amor que cobre multidão de pecados, tanto quanto possam.
Assim como o Espírito Santo é inflexível quanto ao assunto de manter a doutrina da fé, Ele é também muito misericordioso para com os pecados dos homens, contanto que os pecadores se arrependam. Porque Ele não consola aquele que vive deliberadamente no pecado, apesar de ser um Consolador amoroso e fiel.
A palavra no original grego para o verbo restaurar do verso 1 é katartizo, que significa restaurar como quem liga de novo um osso que foi quebrado.
Deste modo, o dever do cristão espiritual, não é o de condenar o cristão fraco, mas de restaurá-lo com a paciência e o cuidado com que um ortopedista cuida de uma fratura.
O espírito de mansidão é o modo correto determinado pelo apóstolo de fazê-lo. Não com ira e paixão, como aqueles que triunfam sobre a queda de um irmão, mas como aqueles que choram por eles.
Muitas reprovações necessárias perdem a sua eficácia quando são determinadas em ira.
Ainda mais um cuidado é colocado pelo apóstolo, para aqueles que estiverem empenhados no trabalho de restaurar os que estão caídos. Eles devem olhar por si mesmos, de maneira que não venham também a cair como eles.
Nós também podemos ser tentados e vencidos pela tentação, e isto nos ajudará a ter em mente, enquanto ajudamos outros, que não somos melhores do que eles, porque como disse Agostinho;
“não há nenhum pecado que uma pessoa cometa, que outra pessoa também não possa cometer”.
Nós andamos em lugares escorregadios neste mundo, e como diz Tiago; “tropeçamos em muitas coisas.”
Daí a advertência de I Cor 10.12:
“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.”
Em razão da nossa fraqueza e debilidade comum, somos orientados a carregar os fardos uns dos outros (verso 2), porque é nisto que consiste principalmente a Lei de Cristo, relativa ao novo mandamento que Ele deu ao povo de Deus, a saber, que nos amemos uns aos outros assim como Ele nos amou.
Jesus não esmagou a cana quebrada, e nos é imposto o dever de fazer o mesmo, porque foi por amor ao pecador e por ser paciente com a sua fragilidade que Ele procedeu de tal maneira.
Aqueles que se gloriam no seu conhecimento das coisas de Deus, e que não vivem de acordo com esta regra, como era o caso dos falsos apóstolos, na verdade nada são, e estão enganando a si mesmos (v. 3).
Eles se consideram mestres, e não o são; eles se consideram superiores aos demais pecadores e não o são.
Cada qual deve examinar as suas próprias obras segundo esta regra que foi exposta, e então terá motivo de se gloriar em si mesmo, e não em outrem.
Afinal, cada um dará contas de si mesmo a Deus, e não será considerado de modo algum no Juízo, como atenuante ou agravante, o quanto fomos ajudados ou atrapalhados por outros.
Particularmente, o trabalho do ministério deve ser autoexaminado por esta regra, de modo que permaneçamos em dependência e humildade diante de Deus.
Não será pela quantidade de louvores que recebemos dos outros que seremos aprovados por Deus; ao contrário, há um grande perigo nisto, e por isso fomos devidamente alertados pelo Senhor.
A carga que cada um levará respectivamente, referida no verso 5, é uma referência ao julgamento das nossas obras no Tribunal de Cristo; onde cada um dará contas de si mesmo a Deus.
E, se há tal tempo terrível a ser esperado, quando Deus julgará a cada um conforme as suas obras, isto serve de uma boa razão para julgarmos a nós mesmos e qual tem sido afinal o nosso trabalho na presença de Deus.
Quanto ao que Paulo diz no verso 6 :
“E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.”
A determinação deste versículo se faz necessária, porque quando Satanás não pode suprimir a pregação do verdadeiro Evangelho por força, ele tenta atingir seu propósito golpeando os ministros do Evangelho com pobreza extrema.
Deste modo a advertência de Paulo, de que os cristãos compartilhem todas as coisas boas com seus pastores e seus mestres, que tenham sido chamados por Deus a servir o evangelho em tempo integral, é certamente correta.
Do verso 7 até o 10 nós encontramos tanto um encorajamento, quanto uma séria advertência quanto a isto que Paulo havia falado nos versos anteriores. Os cristãos devem ser diligentes e se aplicarem seriamente a todas estas ordenanças, porque elas estão de acordo com o mandamento do Senhor para a Igreja, de modo que estão sujeitos à lei espiritual da colheita, segundo a semeadura, pois tudo o que semeassem seria o que colheriam.
Se bem, colheriam bem; se mal colheriam mal, segundo a justa retribuição de Deus.
Na semeadura há também um princípio relativo à intensidade, porque o que semeia pouco colhe pouco, e o que semeia muito colhe muito, e ele aponta para o dia do julgamento das obras dos cristãos mostrando que tudo está sendo considerado por Deus para aquele dia de acerto de contas, para imputação de dano, ou distribuição de recompensa.
Ele lembra que é tanto possível semear na carne, quanto no Espírito.
O cristão deve optar não por semear na carne, mas senão no Espírito porque é somente assim que poderá obter o galardão de Deus. Por isso, ele conclui no verso 10 com as seguintes palavras:
“Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.”