OS DEZ MANDAMENTOS – Parte 3
A Lei ensina que a justiça e a retidão são uma alegria para Deus, e a injustiça uma abominação, com a qual ele nunca se alegrará.
Então somos convencidos pela lei que toda a nossa vida deve ser gasta no cultivo da retidão.
Porque se nós exibimos apenas uma reverência exterior que não é acompanhada pela retidão interior, nós não poderemos fazer nenhuma obra legítima que deve ser em justiça, pureza e santidade.
Se buscarmos aquilo que é justo e aprovado por Deus, Ele nos fortalecerá e capacitará para isto, porque nos tem chamado para viver em retidão.
A Lei não nos foi dada para ser considerada de um ponto de vista legalista, isto é, como se houvesse em nós mesmos a habilidade e condição de cumprir perfeitamente todos os seus preceitos em todo o tempo.
Como que se tivéssemos motivos para achar em nós mesmos a razão para nos gloriarmos nos preceitos santos, bons e justos da Lei divina.
Ao contrário, quando a consideramos do modo correto, não legalista, nós compreendemos que a Lei nos humilha quanto à condição da nossa natureza terrena, corrompida pelo pecado.
Primeiro, contrastando a nossa conduta com a retidão da Lei, que nos faz ver quão longe estamos de um viver que seja conforme a vontade de Deus, e em segundo lugar nos fazendo entender que não somos merecedores de sermos chamados seus filhos, ainda que justificados por Cristo, porque apesar de o Senhor ter conquistado para nós este direito, continuamos não merecedores dele, porque todo o mérito é dele e não nosso, porque somos pecadores que tropeçam em muitas coisas relativas à Lei de Deus (Tg 3.2).
Quando comparamos também o nosso poder com aquele que é exigido pela Lei, nos vemos completamente incapacitados para atender com perfeição àquilo que se exige de nós.
A consequência útil e necessária pois, do exame cuidadoso da Lei, é o de produzir em nós, desconfiança em nossa própria capacidade, ao mesmo tempo que devem ser movidas a nossa mente e consciência a sentirem o fardo da nossa culpa diante do julgamento de Deus, que tem associado ameaças e castigos à transgressão da Sua vontade.
Convencidos deste modo pela lei, não há nenhum ponto de segurança senão nos voltarmos para a bondade, longanimidade e misericórdia de Deus, e confiar inteiramente que Ele tem perdoado nossos pecados e esquecido a nossa culpa por meio da confissão, que temos depositado no sacrifício de Cristo e na Sua intercessão em nosso favor como nosso Sumo Sacerdote.
E justificados pela fé, e sendo santificados pelo Espírito Santo, nos aplicarmos à prática das coisas que nos são ordenadas com um coração purificado de toda má consciência.
Assim, a nossa confiança deve estar inteiramente em Cristo, e em nada mais, nem na própria Lei, que neste sentido nada poderá fazer por nós, senão confirmar a nossa culpa em razão dos nossos pecados.
Devemos portanto buscar ajuda somente em Cristo.
É por isso que os dez mandamentos começam com o dever de se buscar somente a Deus, e de não se confiar em nenhum outro deus adorado pelos homens, ou criado pela nossa imaginação, em formato de esculturas; começam também com o dever de se santificar o nome do Senhor, dando-Lhe a devida atenção, honra, reverência, apreço, e guardando o culto de adoração que Lhe é devido de forma regular, ao menos uma vez por semana, pela cessação de todo outro tipo de atividade ou interesse pessoal, que não seja o de glorificar o Seu santo nome.
Os quatro primeiros mandamentos, que descrevem tais deveres para com Deus, tinham na verdade, por alvo, capacitar os israelitas a prestarem não somente um verdadeiro culto de adoração ao Senhor, como também a habilitá-los a viverem em santidade e a cumprirem os seus deveres para com o seu próximo, descritos nos seis últimos mandamentos.
E para incentivar a uma verdadeira prática da Lei e consideração para com ela, o Senhor associou castigos aos segundo e terceiro mandamentos, e uma recompensa, ao quarto mandamento, respectivamente, como por exemplo, que a transgressão da lei traria juízos e castigos, e a obediência, bênçãos e recompensas.
Assim, a lei não foi dada apenas para nos convencer de quem é Deus, e de quem nós somos, mas também e sobretudo para ser efetivamente praticada.
Por isso a Lei enumera uma longa lista de bênçãos e de maldições (Lev 26; Deut 28) atestando a pureza imaculada de Deus, que não pode suportar a iniquidade, e o Seu amor infinito à retidão, pelo qual Ele não pode deixar de recompensar os que praticam a justiça.
Quando afirmou que não veio revogar a Lei e os profetas Jesus confirmou este princípio de Deus em castigar a injustiça e em recompensar a prática da justiça.
Ainda que não o faça de forma legalista e precipitada, pois ao julgar, nunca deixa de lado a sua graça, longanimidade, bondade e misericórdia.
Então alguém que queira cumprir os mandamentos como um mero religioso que teme o castigo ou que simplesmente ama a recompensa, jamais poderá atingir o objetivo fixado por Deus, porque é impossível guardar a lei com o espírito correto se não se amar a Deus acima de todas as coisas.
É por se amar ao Senhor, pelo desejo sincero de se viver para Ele, de honrá-lo esquecido da própria honra pessoal, que se recebe graça da parte do Senhor para se viver de acordo com aquilo que é exigido pela lei.
Por isso a Bíblia resume toda a lei no amor a Deus e ao próximo, e resume ainda mais dizendo que o cumprimento da lei é o amor, isto é, somente amando a Deus e a Sua vontade é possível guardar e cumprir os seus mandamentos, e este cumprimento será a prova de que amamos de fato ao Senhor, porque como vimos, isto será uma tarefa impossível, se não o amarmos.
Assim, quando Jesus diz que se O amarmos guardaremos os seus mandamentos, e que aquele que tem os seus mandamentos e os guarda, esse é o que O ama, parece que Ele está se referindo muito mais à consequência do que à causa, isto é, cumprir a lei será consequência de O amarmos de fato, e não propriamente a causa disto, pois como vimos, é impossível guardar a lei sem que amemos antes a Deus.
Por isso os quatro primeiros dos Dez mandamentos descrevem os deveres do homem para com Deus.
A Lei moral de Deus é absoluta e eterna. Ela não muda como é imutável o próprio Deus.
Jesus não modificou portanto a lei moral, Ele apenas revelou o seu sentido mais interior.