Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Como Desfrutar a Vida

 
O pensamento de que é possível desfrutar tudo o que se deseje, ainda que sejam coisas lícitas, com o alvo de ser feliz, é exatamente o maior fator gerador de sentimentos de frustração.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirma a necessidade da renúncia, de modo que a vida não seja orientada pelos desejos desordenados do ego.
Sublimar os desejos não funciona e não evita frustrações, porque ainda que haja um controle racional sobre a expressão da vontade, o desejo pode permanecer intacto no coração produzindo frustrações.
Suprimir os desejos através de uma rigorosa disciplina religiosa também não é um bom caminho para se evitar frustrações, porque coloca a pessoa numa posição que podemos chamar de frustração permanente da alma assumida como forma e norma de vida.
Não ter desejos e não procurar satisfazê-los equivale a um estado de inexistência, ou de simples existência vegetativa, sem vida, tal como sucede a todos os seres inanimados. 
Como resolver então este dilema da criatura humana?
Deus não criou o homem para que este tivesse desejos pecaminosos e muito menos para que os concretizasse.
Nem sequer o criou para ter desejos descontrolados e egoístas, ainda que não pecaminosos.
Em resumo, o homem tem desejos, mas deve ter seus desejos orientados e controlados pela graça divina.
E o modo de se fazer isto é pela crucificação das paixões que operam na nossa carne pecaminosa.
E há somente um que pode realizar tal trabalho em nós, a saber, o Espírito Santo de Deus.
Nossas vidas, sem este polimento do Espírito Santo, em todas as suas áreas, são como pedras brutas cujas asperezas causam feridas e sofrimentos em nós mesmos e em qualquer um que nos tocar de algum modo que contrarie o nosso ego.
Mas o corte de lapidação do Espírito Santo, nos deixará lisos e reluzentes, e nesta condição nossas vidas já não mais ferirão, antes, serão agradáveis a nós mesmos e aos que se relacionam conosco.
Estamos usando esta comparação para facilitar a compreensão da necessidade de sermos trabalhados cirurgicamente pelo Espírito Santo, se pretendemos ter verdadeira alegria e paz.       
Em sendo assim tratados continuamente pelo Espírito Santo, debaixo da Sua permanente instrução e do Seu poder transformador, poderemos ter desejos apropriados em relação a coisas que não sejam comuns e rotineiras, sem o risco de frustrações, caso não sejam concretizadas, ou que em sendo, não correspondam exatamente às nossas expectativas.
Então, a solução não é renunciar aos desejos lícitos, mas às expectativas relativas a tais desejos, quanto à forma da sua realização.
Isto pode ser aplicado até mesmo ao desejo de sermos curados de certas enfermidades físicas incuráveis ou prolongadas.
Não devemos renunciar ao desejo de sermos curados, mas à expectativa de que somente poderemos estar em paz e felizes caso sejamos curados. 
Pode ser aplicado também às projeções ou aos preparativos que fazemos psicológica ou materialmente para encontros com outras pessoas, até mesmo íntimo com o nosso cônjuge, que por força de qualquer circunstância imprevista, não puderam ser concretizados.
Somente o suporte do Espírito Santo poderá nos manter calmos e felizes, quando tais desejos são frustrados.  
E a vida nos encherá destas frustrações que poderão arrasar com o nosso bom humor e saúde mental e física, tornando-nos deprimidos e irritáveis, caso não tenhamos aprendido a lição de andar continuamente no Espírito, estando bem instruídos quanto ao fato de que a vida nos brindará neste mundo com toda forma de aflição, dentre as quais se incluem os desejos frustrados.
Todavia, é muito fácil esquecer tal lição, e a grande maioria da humanidade ignora esta verdade.
O modo comum de pensar e agir, mesmo de pessoas otimistas, está orientado para a satisfação pessoal a qualquer preço, pela concretização de desejos.
Não admira portanto, que haja tanta murmuração e descontentamento no mundo.
As pessoas podem e devem desfrutar todas as coisas lícitas, caso isto lhes seja possível, e mesmo em sendo possível, devem estar preparadas para renunciarem com serenidade e paz, caso por qualquer circunstância, estas lhes venham a ser negadas.    
Podemos então ter este desejo lícito de desfrutar das coisas boas, até mesmo porque foram criadas por Deus para nós, para tal propósito.
Todavia, devemos sempre lembrar que a felicidade não pode estar relacionada à concretização de nossos desejos de desfrutar o que a vida pode oferecer, porque muitas vezes, em vez do cálice do vinho de alegria, nos será dado a sorver o cálice amargo da tristeza e da aflição.
E o modo de se sorver tal cálice não é com o fingimento de que tudo está bem afinal, que tudo é bom, e que devemos buscar qualquer forma de substitutivo para o desejo que foi frustrado.
Esta é a razão de muitos buscarem uma compensação para as suas frustrações, em bebidas alcoólicas, em drogas, ou em qualquer forma de atividade desenfreada e descontrolada que sirva de cortina de fumaça para encobrir tais frustrações.
Não venceremos portanto a tristeza e a frustração com o sentimento do tipo “vou me divertir independentemente de tudo aquilo que possa estar me entristecendo e afligindo.”
Não adianta tentar tapar o brilho do sol com tal peneira.
A realidade não pode ser desconsiderada, caso queiramos ser de fato felizes.
O Espírito Santo nos consolará e alegrará em meio às aflições e frustrações que nos sobrevierem, caso recorramos ao Seu auxílio divino.
Exortações no sentido de desfrutarmos somente o que há de melhor na vida, é algo muito perigoso porque tal atitude constitui em si mesma, mais uma nova fonte de frustrações, porque a realidade não dará a mínima para o nosso falso refúgio psicológico, que sempre nos manterá debaixo de uma terrível armadilha, pronta para desabar sobre nós.
É tolice afirmar que tudo está bem quando o mal está prevalecendo.
A realidade deve ser aceita e encarada, e o melhor a fazer é clamar pelo socorro divino enquanto choramos em nossas horas de luto, sabendo que chegará o dia em que o luto cessará.
A atitude de buscar uma solução imediata para se estar em paz, ou então de quem diz: “vou sair por aí e fazer algo para me alegrar de novo”, jamais poderá produzir verdadeira alegria nestas horas em que somos chamados a nos refugiar nos braços de Deus, para acharmos paz e descanso para as nossas almas.   
Então, se a hora é de alegria, desfrute a alegria que a ocasião lhe oferece, mas não tente produzir uma alegria artificial nas horas de tribulação e tentação, em que a nossa fé no Senhor está sendo colocada à prova, e não a nossa capacidade pessoal de arranjarmos um jeito para mantermos a nossa alegria dos momentos venturosos.
Se assim não fora, Jesus não teria sofrido no Getsêmani, com tal agonia, a ponto de ter suado sangue.
Ele estaria sorrindo enquanto sofria o martírio nas mãos dos pecadores e enquanto morria na cruz.
Na verdade, este mundo amaldiçoado por Deus, por causa do pecado, não pode nos oferecer a verdadeira alegria, porque esta é sempre decorrente de um viver abençoado.
E tal viver abençoado não pode ser obtido de uma terra que foi amaldiçoada, mas somente pela bênção que há em Jesus.
Somente Ele pode transformar em bênção o que está debaixo de maldição.
É muito importante saber isto e lembrar sempre disto, porque podemos ser achados debaixo do governo de um pensamento ilusório, por uma falsa compreensão do que seja a nossa vida enquanto aqui peregrinamos.
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/11/2012
Alterado em 22/11/2012
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