Cristo o Noivo e Cabeça da Igreja
No capítulo 60 de Isaías nós vemos a descrição da glória e da honra que são dadas por Deus àqueles que são chamados por Ele para fazerem parte da Sua Igreja.
E no 61º capítulo, que estaremos agora comentando, é descrito quem são estes que são redimidos pelo Senhor, o que eles devem fazer para Ele; e qual é a missão do Messias em relação ao mundo. Na condição de Senhor de tudo e de todos Ele anunciará tanto salvação quanto juízo eternos.
Aos mansos e contritos de coração Ele salvará, curando-os e libertando-os da prisão, mas aos que resistem ao evangelho Ele anunciará o dia do Juízo de Deus no qual Ele visitará a iniquidade de todos os Seus inimigos, ou seja, o que se opõem ao amor, à justiça e à verdade.
Ao ler este texto das Escrituras na Sinagoga de Nazaré Jesus afirmou que elas estavam tendo o cumprimento nEle, isto é, elas passaram a ser cumpridas quando Ele se manifestou dando início ao Seu mistério, o qual teria prosseguimento através da Igreja.
Como este ministério de Cristo e da Igreja é ministério do espírito (II Cor 3) então importava que fosse ungido pelo Espírito Santo para o exercício do Seu ministério, tanto quanto os cristãos devem sê-lo para a realização dos ministérios deles, que é a extensão do próprio ministério de Cristo.
No entanto, o Espírito havia ungido a Jesus sem medida porque Ele é a cabeça da Igreja e o Seu Senhor.
Ele tem também batizado a Sua Igreja no Espírito, mas a honra da realização do ministério dos seus servos pertence a Ele, porque é Ele quem batiza no Espírito e distribui os dons ao Seu corpo como Lhe apraz.
Além disso é Ele próprio que faz todo o trabalho através da Igreja.
Os dons e capacitações que operam nos cristãos não são propriamente deles, mas de Cristo.
Eles são chamados de luz do mundo não que a luz seja propriamente deles, mas de Cristo, que neles está.
Assim, tudo o que os cristãos possuem é oriundo da união deles com Cristo, a quem pertencem de fato todas as graças e que é a fonte de todos os poderes espirituais e sobrenaturais que operam na Igreja. Se eles não permanecerem em Cristo, não poderão portanto fazer coisa alguma porque tudo o que têm não procede deles próprios, mas do Senhor.
Isto é assim porque aprouve ao Pai que residisse no Filho toda a plenitude, de maneira que Ele receba toda a glória pelo trabalho que realiza na Igreja e através dela.
O Pai ungiu o Filho com o Espírito, não por medida, e lhe preparou um corpo (a Igreja) para ser formada por aqueles que são mansos e que choram neste mundo de pecado.
Estes mansos são aqueles que são submissos à vontade de Deus e que se entristecem e lamentam pelos seus pecados.
É particularmente apropriada a menção ao fato de que estes que são salvos são submissos (mansos), isto é, eles se submetem de fato à vontade de Deus.
Dizemos que é particularmente apropriada tal afirmação das Escrituras porque muitos pretextam que estão buscando uma vida de poder do Espírito Santo, de uma obra que realce o poder do Espírito, porque na verdade eles não pretendem se submeter a ninguém, e muito menos aos mandamentos do Senhor em Sua Palavra.
Assim, é falsa a noção que têm do que seja uma vida segundo o poder do Espírito, porque o Ungido, o Messias, é manso e humilde de coração. E é deste modo que importa que sejam todos os ungidos de Deus.
É preciso ter unção e poder do Espírito, mas isto não deve ser entendido como muitos pensam erroneamente, que isto significa independência, rebelião e não se submeter a ninguém.
Na obediência há segurança, mas na rebelião há muito mais do que insegurança, como também a certeza de que seremos submetidos à correção e disciplina de Deus, se formos de fato Seus filhos.
Por isso, é aos mansos e humildes que o Messias proclama liberdade da servidão ao pecado, e a abertura da prisão a eles, porque estavam presos à vontade do diabo (v.1).
É a estes que o Messias prega que há um ano aceitável do Senhor, isto é, a dispensação da graça na qual Ele está sendo misericordioso para com os que são mansos e que choram, lhes trazendo a salvação, de maneira que os consolará de suas tristezas (v. 2), e estando na Igreja devem se alegrar sempre no Senhor porque Ele é o Noivo que sempre estará com eles, e assim, em vez de pranto, terão motivo de alegria, por causa da unção do Espírito, que é o óleo de alegria que está neles, e como seus espíritos foram vivificados por Cristo, eles louvarão a Deus em vez de terem espírito angustiado, e Deus os plantará como árvores de justiça para que Ele seja glorificado neles (v. 3).
E como o Senhor derramará o Seu Espírito na Sua Igreja de tal maneira que Ele venha a ser glorificado, será através dela e dos avivamentos do Espírito que Ele edificará o testemunho que tenha sido arruinado em alguma época da história da Igreja.
A Igreja será capacitada pelo Espírito Santo a levantar as desolações do passado, as regiões assoladas e as desolações de muitas gerações porque o testemunho da Igreja sempre será revigorado pelo Senhor segundo o cumprimento desta promessa, conforme tem de fato ocorrido ao longo da sua história (v. 4).
“Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo de Davi, que está caído, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e as reedificarei como nos dias antigos;” (Am 9.11).
Tiago reconheceu no Concílio de Jerusalém que estas palavras de Amós se referiam ao trabalho de evangelização do mundo, conforme se vê em At 15.16,17.
Aquele primeiro grande avivamento do Pentecoste em Jerusalém havia convertido muitos gentios, e houve outro derramar do Espírito na casa de Cornélio quando Pedro lá esteve, o qual deu ensejo a esta citação de Tiago no Concílio de Jerusalém.
E Deus ainda está reedificando o tabernáculo (habitação, casa) de Davi que estava caído, levantando-o de suas ruínas, pela conversão de pessoas com a pregação do evangelho em todo o mundo.
Deus prometeu fazer uma aliança eterna com a casa de Davi, e o cumprimento desta aliança se refere à formação da Igreja.
É importante lembrar que no texto de Is 58.12 Deus fez a promessa de que aqueles que se convertessem a Ele seriam conhecidos como “reparador de brechas, e restaurador de veredas para morar” e também que deles procederiam aqueles que edificariam os lugares que foram assolados na Antiguidade, e que por eles os fundamentos seriam levantados de geração em geração.
Está fora de qualquer dúvida que esta promessa se cumpre na Igreja, que nasceu daqueles primeiros israelitas que buscaram ao Senhor e se converteram com a pregação do evangelho por nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os cristãos, podemos dizer, são descendentes daquele primeiro grupo fiel do qual faziam parte os apóstolos.
Cristo foi ungido para pregar boas novas, isto é, o evangelho, porque o significado da palavra evangelho é exatamente boas novas.
De igual forma os cristãos devem ser ungidos para também pregarem o evangelho, porque a profecia afirma que eles serão conhecidos como sacerdotes do Senhor e ministros do nosso Deus (v. 6).
E especialmente estes que forem chamados para serem ministros do evangelho viverão do evangelho, porque lhes será trazida as riquezas das nações, e em vez de vergonha, terão dupla honra, porque em vez de opróbrio se alegrarão na porção que o Senhor lhes dará, por terem duplos honorários, e eles terão perpétua alegria (v. 7).
A chamada para o ministério da Palavra é uma elevada honra, maior do que a dos sacerdotes do Antigo Testamento, que deviam viver das ofertas trazidas ao tabernáculo e ao templo.
Deus mesmo garante por promessa a provisão dos Seus ministros e Ele o fará fielmente porque tem prometido lhes dar a recompensa pelo trabalho deles de anunciar as boas novas, e a garantia desta fidelidade está no fato de que Deus ama o juízo, aborrece o roubo e toda injustiça (v. 8).
E agora não somente aos ministros, mas a todos os cristãos que são sacerdotes para o Senhor lhes é dirigida a promessa de que a posteridade deles será conhecida entre as nações e os seus descendentes no meio dos povos, e todos quantos os virem os reconhecerão como descendência bendita do Senhor (v. 9).
Isto tem sido cumprido cabalmente porque os que têm se destacado no evangelho pela sua fidelidade em servir ao Senhor têm tido os seus nomes registrados nos anais da Igreja cristã, e suas vidas têm sido inspiração para a fidelidade de muitos que têm se levantado depois deles.
A alegria de Cristo se confunde com a alegria da Igreja por causa da obra da salvação e do plano estabelecido por Deus desde antes da fundação do mundo de formar um povo santo para que o Seu filho fosse a cabeça deste povo.
Quando Cristo se manifestasse ao mundo Deus faria brotar a justiça e o louvor perante todas as nações.
O cântico de alegria da Igreja é por ter sido vestida com as vestes de salvação e o manto de justiça de Cristo.
O noivo (Cristo) está alegre e também a Sua noiva (a Igreja) (v. 10, 11).
Baseado em Isaías 61