Um Só Mediador entre Deus e os Homens
“1 Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens,
2 pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade.
3 Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,
4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
5 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,
6 o qual se deu a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo;
7 para o que (digo a verdade, não minto) eu fui constituído pregador e apóstolo, mestre dos gentios na fé e na verdade.
8 Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.” (I Tim 2.1-8)
Os cristãos de Éfeso, que haviam naufragado na fé, estavam como é costume ocorrer, pregando e ensinando coisas pervertidas na Igreja, de forma que isto configurava um ato de se postarem junto à porta estreita da salvação, com a deliberada intenção de impedir a entrada daqueles que tencionavam fazê-lo.
Tendo nomeado a dois destes apóstatas (Himeneu e Alexandre) Paulo lembrou a Timóteo que ele tinha o dever de proclamar alto e bom som a todos na Igreja, que a passagem deveria ser desimpedida, pela pregação da genuína mensagem do evangelho, e que isto deveria ser antecedido por um pesado e contínuo trabalho de oração intercessória em favor de todos os homens, inclusive das autoridades constituídas.
O apóstolo destacou o motivo principal destas orações em favor de toda a humanidade: Cristo morreu por todos os pecadores de maneira que aqueles que vierem a crer nEle, serão beneficiados pela Sua morte e mediação.
Ele se ofereceu a si mesmo em sua morte na cruz para resgate por todos.
Ninguém é impedido por Deus de vir a Ele, porque o desejo de Deus em relação ao homem, que criou, é o de que todos se salvem por chegar ao conhecimento da verdade.
De modo que se alguém não vem a Cristo, isto ocorrerá por um impedimento existente no próprio pecador, mas não em algo colocado pelo próprio Deus nEle.
No seu trabalho de mediação, Cristo se coloca entre o ofendido (Deus) e o ofensor (o pecador) e age como árbitro e advogado no trabalho de reconciliar a parte ofendida com a ofensora.
Quem, além dele poderia realizar tal trabalho?
Daí Paulo afirmar que há somente um Mediador entre Deus e os homens.
Mas sempre haverá resistência dos poderes das trevas e da carne para que o pecador se renda a Cristo.
Daí a necessidade crucial de muita oração por parte da Igreja para quebrar tais resistências.
Com estas palavras, Paulo estava lembrando Timóteo para restaurar os efésios quanto à visão de que o amor de Deus não é inclusivista, mas expansionista, isto é, os cristãos não devem limitar o amor deles apenas àqueles que já estão na Igreja, mas também a todos os homens.
Apesar do grande zelo que se deve ter pela verdade, não se preserva o amor de Deus fazendo da Igreja uma sociedade fechada, senão aberta, para que possam entrar todos quantos estão destinados à vida eterna.
O cuidado que se deve ter com falsos profetas, mestres, e até mesmo falsos irmãos, conforme prescrito pelo próprio Cristo, com vistas à manutenção da verdade, tem a ver especialmente com os critérios para a ordenação de líderes e admissão de membros na Igreja, mas não propriamente com a recepção de pessoas não cristãs nas reuniões públicas da Igreja, porque estas devem ser abertas a todos, havendo oração, pregação e ensino da verdade, na expectativa de que alguns deles se arrependam e cheguem ao conhecimento da verdade, para o bem das suas próprias almas.
Vemos na Bíblia o próprio Deus declarando que não tem prazer na morte do ímpio, antes que ele se converta e viva (Ez 18.23; 33.11).
O apóstolo Paulo afirmou o seguinte: “Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (I Tim 2.3,4).
Isto demonstra claramente que até mesmo os cristãos eram ímpios diante dele, antes da sua conversão.
A manifestação deste desejo expresso de Deus de salvar ímpios está revelado no Novo Testamento:
“porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;” (Rm 4.5).
“Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6).
“Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.” (Ef 2.1-3).
Todavia, uma vez convertido, o cristão não é mais designado na Bíblia como ímpio, mas como justo, como eleito de Deus, e a palavra ímpio continua designando aqueles que não foram alcançados pela salvação que há em Cristo Jesus.
É chamado ímpio (im = não; pio = piedoso) porque não possui a vida cujas realidades se referem à piedade, e piedade em seu sentido bíblico significa vida santa e consagrada a Deus.
Então concluímos que se houvesse em todos os seres morais a condição de serem salvos pelo Senhor, eles seriam efetivamente salvos, porque Deus afirma que tem o desejo de que todos se salvem.
Entretanto não devemos confundir este desejo com o fato de Deus não conhecer pela Sua presciência, aqueles que resistirão à Sua vontade e não se converterão de modo algum.
Este desejo não significa portanto, que Deus tenha esperança que todos se converterão a Ele, pois na Sua presciência sabe que muitos não atenderão ao convite do evangelho.
Então, o que o apóstolo quer dizer com a expressão que Deus deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, senão que Ele não criou o homem para que Ele permanecesse endurecido nas trevas da ignorância do pecado, que lhe impede de conhecer a verdade e assim ser libertado do pecado.
Este não é de fato o desejo de Deus em relação ao homem que Ele criou, porque poderia até mesmo se dizer que Ele tem prazer no pecado, caso tivesse o desejo que o homem pecasse e permanecesse em trevas espirituais.
Como Deus poderia desejar uma tal coisa e permanecer sendo o Deus perfeitamente santo, justo e bondoso que Ele é?
Seguramente é sincero o desejo de Deus de que todos se salvassem e isto foi visto claramente na tristeza e até mesmo na ira santa de Jesus diante da falta de arrependimento dos pecadores no Seu ministério terreno.
Ele chegou até mesmo a chorar diante da impenitência de Jerusalém, quando estava próximo o momento da Sua morte.
Nisto Ele revelou claramente que Deus não odeia os pecadores, que Ele é longânimo para com todos eles, mas julgará a falta de arrependimento pelos seus pecados.
Deus abomina o pecado mas é também longânimo e misericordioso.
Para revelar a sua bondade, amor, longanimidade e misericórdia, encerrou a todas na desobediência, para demonstrar a Sua misericórdia a todos.
Portanto, não será pelo impedimento de estarem rodeados de fraquezas, de serem imperfeitos e falhos que deixará de lhes conceder a Sua graça para que sejam transformados e aperfeiçoados, porque serão objeto do Seu amor, e da Sua bondade e misericórdia.
Contudo, apesar de todos saberem pela lei natural que Deus imprimiu em suas mentes o que é certo e o que é errado, muitos não procurarão abandonar o mal e se voltarem para Deus para que sejam curados.
Ainda que não possam fazer isto de si mesmos, contudo receberiam a ajuda e a capacitação necessária, da parte do Senhor, para que pudessem fazê-lo, caso se empenhassem em investigar a causa da verdade.
Por conseguinte o homem é justamente responsabilizado nem tanto pelo fato de ser pecador, pois todos são pecadores, mas pelo fato de não se voltar para Deus.