Exercício da Disciplina na Igreja
“17 Os anciãos que governam bem sejam tidos por dignos de duplicados honorários, especialmente os que labutam na pregação e no ensino.
18 Porque diz a Escritura: Não atarás a boca ao boi quando debulha. E: Digno é o trabalhador do seu salário.
19 Não aceites acusação contra um ancião, senão com duas ou três testemunhas.
20 Aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.
21 Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo com parcialidade.
22 A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro.
23 Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.
24 Os pecados de alguns homens são manifestos antes de entrarem em juízo, enquanto os de outros descobrem-se depois.
25 Da mesma forma também as boas obras são manifestas antecipadamente; e as que não o são não podem ficar ocultas.” (I Tim 5.17-24)
Tendo falado do cuidado devido às viúvas desamparadas, Paulo fala agora do provimento dos pastores chamados por Deus para servi-lo em tempo integral, porque eles vivem do ministério, e para exercê-lo bem e efetivamente, em muitas situações deveriam estar desvinculados de atividades seculares para poderem se dedicar como convém aos seus muitos afazeres, especialmente o de cuidar pessoalmente do rebanho e do aprofundamento e preparo nas Escrituras, e dedicação à oração para apascentar as suas ovelhas.
Sendo que no caso dos pastores, os que presidissem bem, especialmente os que labutam na pregação e ensino da Palavra, deveriam ser considerados dignos de dobrados honorários, porque o Senhor determinou que estes que fossem assim chamados por Ele para apascentar a Igreja, fossem providos por ela (Mt 10.10; I Cor 9.14; Gál 6.6).
Tal é a honra devida ao ministro fiel do evangelho, que ele não deve ser assistido apenas quanto à sua provisão, mas as pessoas devem se guardar de injuriá-lo e infamá-lo, de modo a não pecarem diante de Deus, que os chamou.
Se alguém se coloca contra um ministro que serve fielmente a Deus, na verdade não está rejeitando ao ministro, mas a Deus que o chamou, e não está resistindo propriamente à pessoa, mas ao trabalho de Deus através da sua vida.
Quem resiste pois, ao ministro fiel, resiste não ao homem mas ao próprio Deus que é o autor desta fidelidade.
Portanto, nenhuma acusação leviana contra as pessoas dos ministros deveria ser aceita, e toda acusação para ser consignada deveria ser mediante duas ou três testemunhas, de maneira que não se desse ocasião ao Inimigo de desautorizar e desqualificá-lo.
Esta é a razão de o Inimigo atacar tão ferozmente com injúrias e infâmias aqueles que estão servindo fielmente a Deus, porque o seu principal intuito é o de gerar dúvida nos corações das pessoas que estavam debaixo de tal ministração, por darem crédito às falsas acusações engendradas pelo diabo, através dos seus instrumentos, quer dentro da Igreja, ou fora dela.
Mas se havia fundamento na acusação, seria de se estranhar que o testemunho destes ministros fosse um testemunho fiel, de maneira que nenhum dano seria trazido à obra de Deus, caso eles fossem repreendidos, motivo porque deveriam ser repreendidos na presença de todos os demais ministros, para que estes temessem em seguir o mau exemplo deles.
Neste caso, a santidade e honra do Senhor seriam vindicados e ficaria patente que Ele nada tinha a ver com o mau procedimento deles, antes, por terem-no abandonado, é que agiram daquela maneira reprovável.
Tão importantes são estas prescrições que Paulo havia passado para Timóteo que ele o conjurou diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos para que fizesse todas estas coisas sem prevenção e parcialidade (v.21).
Isto significa que Timóteo deveria sempre agir considerando que estava sendo observado pelo Pai, pelo Filho e pelos anjos, de maneira que todas as suas palavras e ações deveriam ser devidamente medidas e ponderadas, com o devido temor.
Assim procedendo não agiria pelo temor de homens ou para agradá-los, senão unicamente a Deus.
Ao mesmo tempo, isto impediria que fosse precipitado ou que ele agisse por motivações pessoais e parciais, que não raro nos conduzem a tomar decisões erradas e injustas.
Principalmente na ordenação de oficiais para a Igreja de Éfeso, todas os critérios e recomendações para a sua eleição, deveriam ser cuidadosamente realizados, de modo que não houvesse nenhuma precipitação na sua ordenação, que poderia trazer sérios danos ao rebanho, com a eleição de pessoas não preparadas e não chamadas por Deus para o ministério (v. 22).
Um bom critério para não errar nestas coisas seria Timóteo não participar dos pecados de outras pessoas, conservando a si mesmo puro diante do Senhor (v. 22).
Quanto à afirmação dos versos 24 e 25, cabe destacar que os ministros têm necessidade de muita sabedoria, para poderem avaliar a variedade de ofensas e ofensores com os quais terão que tratar.
Os pecados de alguns homens são muito claros e óbvios, e não há nenhuma dificuldade quanto a trazê-los à disciplina da Igreja, de modo que antes mesmo de serem julgados pelo conselho de anciãos ou pela Igreja, a falta deles é de conhecimento geral porque foi praticada abertamente.
Contudo, há outros pecados que somente serão descobertos depois que houver uma apreciação no julgamento da acusação, que foi proferida contra o ofensor.
Não se pode esquecer que a norma bíblica de que toda confrontação deve ser feita com toda longanimidade e doutrina, deve sempre ser seguida, mesmo nos casos de disciplina.
E de igual modo quanto às evidências de arrependimento, as boas obras de alguns são manifestas antecipadamente, enquanto o arrependimento de outros somente poderá ser observado com o decorrer do tempo.
O ministro precisa saber disto para não se precipitar em seus julgamentos, e depender de Deus para que todas as coisas sejam reveladas, porque ele traz à luz as obras ocultas das trevas e torna manifesto os propósitos dos corações.
Finalmente quanto à recomendação de Paulo a Timóteo no verso 23: “Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.”, cabe destacar que era prática comum na antiguidade, juntar-se uma parte de vinho a cada dez partes de água, como medida profilática, para extermínio de germes da água, que não tendo o tratamento sanitário de nossos dias, era a causa de muitas enfermidades.
Então não estava em foco o hábito de tomar bebidas alcoólicas, mas usar de um expediente germicida para a garantia de uma boa saúde.