Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Submissão à Verdade
 
“1 Todos os servos que estão debaixo do jugo considerem seus senhores dignos de toda honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.
2 E os que têm senhores cristãos não os desprezem, porque são irmãos; antes os sirvam melhor, porque eles, que se utilizam do seu bom serviço, são cristãos e amados. Ensina estas coisas.
3 Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade,
4 é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas,
5 disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade é fonte de lucro;”
 
Paulo havia falado anteriormente sobre o relacionamento do cristão na Igreja, e também em sua família, e agora ele passa a falar deste relacionamento no local de trabalho, e destaca o dever de fazer tudo com submissão, zelo e amor, para confirmar a doutrina de Cristo, que ensina que todos os atos do cristão devem ser feitos por amor, não como que servindo a homens, mas ao próprio Deus, que é merecedor do melhor dos nossos esforços em tudo o que fazemos neste mundo, de forma que ao elogiarem o nosso bom procedimento, o nome de Deus, que levamos sobre nós, possa ser honrado e glorificado.
O fato de o cristão estar a serviço de outros cristãos implica em servi-los ainda melhor, porque são cristãos e amados, de maneira que não se deve valer da condição de serem da mesma família de Deus, para se pretextar igualdade, de modo a não se colocar em posição de submissão e serviço.
Deus mesmo ordenou as coisas desta forma para que todos sejam exercitados em obediência prática, que em última instância é obediência a Ele próprio.
E na submissão há uma chamada à renúncia ao eu, tão necessária para quebrar o orgulho que herdamos em razão do pecado original.
A aprendizagem da sã doutrina requer esta renúncia do eu, este negar-se a si mesmo, de maneira que se possa aprender conforme convém, em humildade, porque a graça do Senhor é concedida somente a quem se humilha, e esta humildade há de se ver de forma prática em quem é pobre de espírito, e daí Jesus ter afirmado que estes que são pobres de espírito são os que são bem-aventurados, porque poderão aprender de Deus e viver para Ele.
A afirmação do ego é o maior empecilho para o aprendizado e prática da sã doutrina. E não é de se admirar que os falsos mestres, que resistem à sã doutrina, ensinando doutrinas diversas, façam isto por motivo de endurecimento no seu próprio orgulho.
Eles querem afirmar a sua própria opinião, e não o evangelho revelado nas Escrituras, ainda que argumentando que têm aprendido diretamente de Deus pelo Espírito.
Assim resistirão aos verdadeiros mestres ou a qualquer outro mestre, porque não se trata tanto de resistência a quem ensina, mas de afirmarem as suas próprias convicções, tal como Alexandre, o latoeiro, que havia resistido muito às palavras do apóstolo Paulo, no ensino da sã doutrina, e que era da própria Igreja de Éfeso:
“14 Alexandre, o latoeiro, me fez muito mal; o Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras.
15 Tu também guarda-te dele; porque resistiu muito às nossas palavras.” (II Tim 4.14,15).
Não raro, estas pessoas inchadas em si mesmas, e que não se submetem à verdade de Deus, e nem mesmo querem estar debaixo do Seu governo, fazem estas coisas simplesmente para produzirem contendas, divisões, desconfortos, para se sentirem vitoriosos em debates, mas nunca para investigar de fato sobre a verdade para aplicá-la à própria vida.
Por isso o apóstolo disse destes o que nós lemos nos versos 3 a 5:
“3 Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade,
4 é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas,
5 disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade é fonte de lucro;”.
Assim, há uma conexão do que havia dito antes da submissão dos servos aos seus senhores, por amor ao Senhor, com o que disse adiante quanto à necessidade de submissão em relação ao aprendizado e ensino da doutrina, porque isto deve ser feito também em submissão a Deus e por amor a Ele. 
Quando se perde isto de vista, ainda que conscientemente ou não, a pessoa estará andando no caminho amplo que conduz à perdição, em vez do caminho estreito estabelecido por Deus para a salvação.
Na verdade é necessário muita paciência e diligência para se aprender a sã doutrina, pela sua prática na vida, conforme se encontra revelada nas Escrituras.
Se fosse coisa tão fácil de se conseguir, a Bíblia não teria sido produzida com tantos livros e com tantos ensinos, e num longo espaço de tempo.
É evidente que é muito leviana a atitude de afirmar que se tem um bom conhecimento da vontade de Deus antes mesmo de se abrir a Bíblia para meditar nela com um espírito submisso a Deus.
A pessoa que se deixar vencer pela soberba jamais aprenderá de Deus porque Ele resiste ao soberbo, e somente concede a Sua graça aos humildes, conforme Ele afirma em várias passagens das Escrituras.
Ninguém se surpreenda, portanto, que num mundo como o nosso dominado pelo humanismo, que coloca o homem no centro de tudo, e não a Deus, que se deseje efetivamente ouvir a sã doutrina, a qual não é da invenção do homem, mas uma revelação que nos veio diretamente do céu.
É de fato nos nossos dias que se tem cumprido, como nunca antes, o que o apóstolo afirmou em II Tim 4.3,4:   
“3 Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos,
4 e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas.” (II Tim 4.3,4).
Mas mesmo diante deste quadro, é ordenado aos fiéis ministros de Cristo que continuem fazendo o que Paulo ordenou a Timóteo:
“prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino.”  (II Tim 4.2).
Ao mesmo tempo, quanto aos falsos mestres é ordenado que os ministros fiéis fujam deles e da sua influência e do seu falso ensino (v. 10). 
De modo nenhum devem se permitir estar na sua companhia, e fazerem deles seus companheiros de ministério, porque não pode haver comunhão entre luz e trevas.
No verso 3 Paulo destaca que a sã doutrina é aquela que se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, reveladas nos Evangelhos, e que esta sã doutrina produz um bom efeito, a saber, ela gera santificação nos que a praticam e lhes conduz a viverem piedosamente.
Esta é uma das formas de se identificar portanto, qual é o reto ensino.
Importa, portanto, a todo custo, manter a sã doutrina na Igreja, porque o ensino de homens orgulhosos, que não se conforma à sã doutrina, produzirá rupturas na mesma, e não se poderá ver nela aquele unidade pela qual Jesus intercedeu que houvesse entre os cristãos, mutuamente, e com o próprio Deus. 
Que unidade espiritual em paz e em amor poderá existir entre corações soberbos?
Isto não é somente para corações verdadeiramente humildes, que consentem aprenderem e serem guiados por Deus?
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 26/11/2012
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