O Modo Correto da Obra de Caridade
“1 Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus.
2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.
3 Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita;
4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6.1-4)
Tendo se referido anteriormente no Sermão do Monte àe descrição do cristão que vive na presença de Deus, em submissão ativa a Deus, e em dependência total dEle, nas bem-aventuranças, e de ter corrigido algumas distorsões que os escribas e fariseus faziam da Lei dada a Moisés, nosso Senhor passou a dar continuidade ao citado sermão, enfocando aspectos da vida prática, incluindo aí, a piedade e toda nossa conduta religiosa.
O primeiro versículo (“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus.”) é a introdução da mensagem dos versículos 2 a 18, nos quais o Senhor apresenta três exemplos (esmola, oração e jejum) para explicar o princípio geral do primeiro versículo.
Porque era muito comum que os escribas e fariseus fizessem esmolas, orações públicas e jejuns para receberem a admiração e o aplauso das pessoas, que assistiam com esmolas, ou para as quais alegavam que interecediam com orações e jejuns.
Apesar de os fariseus e escribas agirem de tal modo movidos por puro interesse egoísta, é possível que sejam imitados por pessoas religiosas, que pensam estar agradando a Deus quando fazem obras sociais, orações e jejuns, que têm em vista a si mesmas, e não ao próximo, e muito menos Deus.
Nosso Senhor, usou então o mau exemplo do comportamento dos fariseus e escribas, para nos dissuadir quanto à ineficácia espiritual de ações religiosas que têm em vista a nossa própria honra e glória, e não exclusivamente a de Deus.
O Senhor não está obrigado a recompensar qualquer obra que vise à nossa própria conveniência.
Afinal, o que foi feito, não foi por obediência a alguma ordem específica da Sua parte, e nem por sermos movidos pelo Espírito Santo.
E há ainda a possibilidade de uma agravante maior, quando atuamos sem estarmos santificados, vivendo na carne e no pecado.
Neste caso, nossas ações religiosas serão uma verdadeira abominação para o Senhor, em vez de serem o meio de nos trazerem algum benefício ou recompensa.
O desejo da recompensa é legítimo e o Novo Testamento inclusive o incentiva.
O Novo Testamento nos ensina que haverá um juízo de recompensa.
Haverá quem receberá muitos açoites, e quem receba poucos. Todas as ações dos homens serão julgadas, porque é necessário que todos compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito enquanto no corpo, seja o bem ou seja o mal.
Todavia, Deus pesa as nossas motivações e a condição do estado do nosso espírito, quando a seu serviço.
Com Deus, os meios jamais justificarão os fins.
Os meios devem ser santos, para fins santos.
A experiência do povo de Israel nos dias do profeta Ageu, bem ilustra este ponto.
O modo justo de ajudar o próximo é fazê-lo secretamente, e é a isso que o Senhor quer se referir ao dizer que não saiba a nossa mão esquerda o que faz a direita. Este é um modo de dizer que se possível deveria ser um segredo até para nós mesmos, algo para não ficarmos nos lembrando para o nosso próprio louvor e glória.
Fazê-lo assim também não expõe o ajudado a nenhum tipo de humilhação ou constrangimento, quer da nossa própria parte, quer da parte de outros.
De modo que seria uma boa norma, manter o anonimato quando prestamos auxílio, especialmente material ou financeiro, a alguém.
Nosso Senhor nos ordena a fazer todas essas coisas movidos por Deus, e guiados pelo Espírito Santo, e logo esqueceremos de qualquer mérito próprio em fazê-las.
Quando tudo fazemos por amor a Deus, esquecidos de nós mesmos, receberemos recompensa de Deus. Nada do que tivermos feito para o bem do nosso próximo, cairá no esquecimento.
Deus tudo tem registrado em seus livros contábeis. Nada esquecerá de lançar na nossa conta para nos recompensar. Ainda que não nos recompense abertamente neste mundo, certamente nos recompensará abertamente no grande dia quando os segredos de todos os homens serão manifestos, ao se abrir o grande Livro, quando se anunciará diante de todos a sentença final.