TODO MÉRITO É DA GRAÇA
Temos de fato um viver abençoado quando obedecemos a Deus, dedicando-nos à prática das boas obras.
Mas, é preciso não confundir que a graça, que se manifesta num viver obediente, nunca é decorrente dos nossos méritos pessoais, mas sempre dos méritos de Jesus.
De fato, se não há disposição para obedecer à verdade, já não há qualquer graça para operar.
Quem busca acha. Ao que bate se lhe abre a porta. Ao que pede se lhe é dado.
A nós cabe agradecer e dar não apenas o nosso esforço, mas a nossa própria vida para o serviço de Deus, para que Ele a use como for do Seu inteiro agrado.
A consagração pessoal é necessária para que o Espírito Santo possa realizar a sua obra em nossas vidas, afinal Ele mesmo é uma das preciosas e grandes promessas da Nova Aliança, para todo o que crê (Gál 3.24).
Não podemos esquecer que a própria lei prescrevia a fé, o amor, a justiça e a misericórdia.
A lei não é contrária à graça e à fé. Mas, a lei de si mesma, nada pode fazer além de afirmar o amor, pois não pode gerá-lo; de afirmar a vida eterna com Deus, mas não pode também gerá-la; de apontar a necessidade da salvação para o pecador, mas, não pode produzi-la. Somente a graça pode operar tudo isto, pela fé, e tudo o mais que se relacione à vontade de Deus.
Apesar de ser santa, justa, boa e espiritual, a lei não pode, no entanto, nos salvar (Rom 7.12,14).
A graça não é, portanto, contrária à lei e nem a descumpre, antes é o potencial necessário para o cumprimento da lei.
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei.” (Rom 3.31)
“16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.” (Rom 4.16)
Ora, se o cumprimento da lei só é possível pela graça, quão improcedente é portanto a quase aversão que muitos sentem só de ouvir falar a palavra graça.
O problema é que esta não é uma forma correta de se abordar a questão.
A vida cristã não consiste nem em se defender a graça, nem em se defender os mandamentos, mas sim em viver a vida de Jesus pela graça, para que se possa cumprir seus mandamentos, os quais confirmam muito doa que existem na própria Lei.
“23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito.
25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Rom 2.23-29)
Este gloriar dos judeus na Lei, referido por Paulo, não significa de modo algum a rejeição do apóstolo da Lei, mas a confiança deles de serem salvos pela Lei à custa da rejeição da graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Os dez mandamentos revelados por Deus ao povo de Israel nos dias de Moisés, confirmam a sua proveniência divina, e nos falam da perfeição em santidade do Senhor, uma vez que não se resumem a ordenanças morais, tal como se vê na lei dos homens.
Antes de citar os deveres morais na segunda parte dos mandamentos, com o dever de se honrar os pais, e a proibição de mentir, furtar, matar, adulterar e cobiçar, Deus fixou antes, na primeira parte, a necessidade de se lhe prestar honra, reverência e culto, pois sem isto, não é possível que o homem cumpra perfeitamente as suas obrigações morais para com Deus e para com o seu próximo.
Daí ser ordenado antes de tudo que se adore tão somente a Deus; que o Seu nome seja santificado e honrado e que se separe obrigatoriamente um dia semanal para a dedicação exclusiva à adoração e ao serviço do Senhor.
Temos assim, uma pista, já na perfeição da Lei dada a Moisés, quanto ao modo correto da santificação:
Primeiro amar a Deus, separar-se para Ele, cultuar-lhe em devoção sincera, e assim sendo feito bom o coração pela Sua graça divina, a vida moral reta será uma mera conseqüência de tal adoração em espírito e em verdade.
E é exatamente tal ordem que encontramos no Novo Testamento, quanto ao modo da santificação, e do serviço a Deus e ao próximo.
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor.” (Gál 5.6)
“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (Gál 6.15)
Em outras palavras: nem o judeu, nem o gentio, nem o legalista, nem o adepto da graça, têm no que se gloriar, caso não sejam novas criaturas em Cristo, e não vivam no amor que é pela fé.
Quem amará com o mesmo amor de Deus, conforme a lei exige, caso não seja capacitado pela graça para tal?
E tudo o mais que a lei exige, a qual é espiritual e santa, dada e revelada pelo próprio Deus, por acaso, não só poderá ser cumprido se formos capacitados antes pela graça de Jesus?
Quem é suficiente para isto?
Por isso Paulo dizia que a sua suficiência vinha de Deus, e que tudo o que fazia segundo a Sua vontade era conforme capacitação da Sua graça, e que tudo podia, somente porque a graça de Jesus o fortalecia.