Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Fé que Justifica não Está Só
 
Esta seção de Tiago 2.21-26 começou com o verso 14  e o seu ponto central é que a fé que salva produz boas obras na vida.
Tiago fez antes a observação que se tudo que você tem for uma fé que é apenas uma declaração doutrinal e nada além disso, você tem o mesmo tipo de fé que os demônios têm.  
Isto torna claro que este tipo de fé morta, é inútil , isto é, não pode salvar, e isto se comprova pelo fato de que não produz obras em Deus, como as que foram realizadas por  Abraão e Raabe, por exemplo, enfim, que são realizadas por todos os cristãos genuínos que têm a mesma fé de Abraão e Raabe, que é a fé verdadeira, que salva (v 20).  
Tiago destaca a fé de Abraão e de Raabe, e destaca que era uma fé verdadeira, que justifica, porque tinha as obras que acompanham uma tal fé viva. 
2:21 -  Abraão nosso pai – Especialmente os leitores judeus da epístola apreciariam esta identificação. Porém, o Novo Testamento identifica Abraão como "o pai dos que crêem" (Rom. 4:11).  
Justificação por obras – Tiago destaca que Abraão se dispôs a oferecer o próprio filho Isaque sobre o altar, em obediência a Deus. Ora, esta obediência à ordem de Deus era a prova patente da sua fé verdadeira em Deus. E no verso 22 Tiago diz literalmente: “Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou.”. Em outras palavras, a fé de Abraão estava acompanhada pelas obras que sempre acompanham uma fé viva. Uma fé que justifica faz com que aquele que é justificado produza obras de justiça, tal como Abraão.
E isto é o que se confirma no verso 24: “verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.”. Tiago destaca que  a fé sincera é sempre acompanhada de obras segundo a vontade de Deus. Tanto que o argumento de Jesus contra a fé morta, falsa dos judeus que alegavam serem filhos de Deus por serem descendentes de Abraão, não foi assentado na fé de Abraão, pois ficaria no mesmo lugar comum dos judeus que o confrontavam, mas o argumento das obras de Abraão, dizendo, se são de fato filhos de Abraão façam as obras de Abraão, como que a dizer, provem que têm a fé verdadeira pelas obras que praticam, tal como Abraão que era obediente a Deus porque tinha a fé verdadeira que salva, e que se comprovava pelas suas obras. 
O ponto aqui destacado por Tiago não é portanto: 1) nem que somente as obras podem salvar tanto quanto a fé; nem ainda que 2) não é somente a fé que salva, mas o somatório de fé mais obras.
O primeiro ponto é totalmente descabível porque  a Palavra ensina claramente, desde o Velho Testamento que o justo viverá pela fé, isto é, quem justifica é a fé e não as obras.
Paulo afirma expressamente em Rom 3.28: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.”. E em Efésios 2.8,9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”. E as afirmações de Paulo estão baseadas nas Palavras do próprio Jesus, especialmente as de Jo 3.16-18, onde se destaca: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna...Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”. E a essência mesma da boa nova da salvação, do evangelho, é justamente esta verdade que o pior dos pecadores pode ser justificado somente por sua fé em Cristo, independentemente de ter que fazer algo de bom para Deus para poder pagar o preço por todos os seus pecados. Ele recebe este perdão gratuitamente, em razão da obra que Jesus fez em seu favor.  
E quanto ao segundo ponto, de que não é somente a fé que salva, mas o somatório de fé mais obras,  temos para destacar os exemplos daqueles que aceitam a Cristo no leito de enfermidade e que morrem logo em seguida não tendo tempo para fazer qualquer obra. E o ladrão que se converteu na cruz também ilustra bem esta verdade que não é o somatório de fé mais obras que salva, mas somente a fé. E quando dizemos somente a fé, não contradizemos Tiago, porque ele não quer afirmar que as obras podem salvar independentemente da fé, ou mesmo que tem-se que praticar obras juntamente com a fé para que haja salvação. Não é a isto que Tiago quer se referir, mas sim que uma verdadeira fé, naqueles que afirmam pertencer a Cristo, sempre revelará evidências em obras desta união do cristão com Cristo, que ela será acompanhada das obras de Deus naqueles que de fato passaram a pertencer a Cristo pela fé nEle. 
Uma afirmação de que se tem fé em Cristo, sem a evidência destas obras, é de fato a fé de alguém que não conhece a Cristo. Uma fé morta. Porque a fé de um filho de Deus sempre produzirá alguma evidência de que tal pessoa pertence a Cristo, porque a fé verdadeira que Ele dá ao cristão é viva, indestrutível, operante de boas obras.     
Este verso 24 é realmente uma resposta à pergunta do verso 14: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salva-lo?”. Veja que Tiago está se referindo a quem não foi salvo por Cristo por ter uma tal fé que não tem obras. Não está em foco portanto, na condição alinhada neste trecho da carta de Tiago, autênticos cristãos, quando ele fala de fé morta que não tem obras, porque uma tal fé, como já dissemos antes, não pode de fato salvar, porque não é a fé verdadeira que Cristo dá àqueles que nEle crêem.
Certamente aproveita a ilustração e o fato para exortar os cristãos à prática das boas obras posto que podem e devem fazê-las, porque  o poder e a vida de Cristo opera neles por graça. Eles não devem de modo nenhum ficar na inércia e viverem de modo negligente sem abundarem em boas obras, como que se estivessem imitando aqueles que não conhecem a Cristo e que mesmo alegando fé em seu nome têm uma fé morta; porque afinal a fé dos cristãos não é uma fé morta, mas uma fé viva e eficaz, que salva o pecador.   
O assunto desta porção de Tiago não é colocado portanto de uma maneira técnica, teológica, com vista a discutir o assunto justificação pela fé e justificação pelas obras. Não era de modo nenhum a intenção de Tiago debater sobre o assunto para fazer uma reflexão teológica da possibilidade de alguém poder ser justificado por boas sem a fé, ou de ser justificado pela fé sem as obras, mas o que ele quer enfatizar é que a verdadeira fé que justifica nunca está sozinha, pois sempre é acompanhada por obras.
Ele quer enfatizar as evidências, os resultados de uma fé verdadeira, que não podem ser encontrados numa fé morta.
Já o apóstolo Paulo quando afirma que o pecador é salvo pela graça, mediante a fé, e não pelas obras, ele não quer de modo algum dizer que o cristão não deve praticar boas obras, tanto que recomenda isto abundantemente em suas epístolas. Mas a sua ênfase recai aqui exatamente sobre  a reflexão teológica da salvação pela fé e não pelas obras que alguém pratique para tal fim, sem que tenha a fé salvadora. Obras sem a fé que salva não pode realmente justificar a quem quer que seja, por melhores e maiores que sejam estas boas obras.
Não é de modo algum o que de bom um cristão autêntico faça que lhe faz auferir a justificação, mas a obra de Cristo em seu favor, e cujo benefício se recebe de fato somente pela fé. Mas, este cristão que assim foi justificado terá para si mesmo a prova de que foi justificado com esta fé que salva, em razão de verificar que  esta fé o capacita e o conduz à prática das boas obras designadas por Deus, para que sejam praticadas por aqueles que são assim justificados, e tornados seus filhos por meio desta justificação.   
No versículo 25 é destacada ação de Raabe provando que de fato se convertera a Deus e que possuía portanto uma fé sincera, genuína, a fé que salva. 
Realmente Tiago tem razão no que afirma porque o evangelho produz mudança de vida. Novo nascimento pelo Espírito Santo. De nada serve portanto alguém afirmar que crê que Jesus é o Salvador, o Senhor, e não tiver uma vida transformada que comprove que a sua fé é verdadeira. Uma tal fé que não transformou a vida, é uma fé morta, que não poderá produzir as obras de Deus.
Assim, se não houver nenhuma obra, então a fé alegada é  um consentimento meramente intelectual. Isto até mesmo os demônios fazem.  
 
"Somente a fé justifica, mas a fé que justifica não está só" (Calvino).  
  
 
  
   
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/11/2012
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