O Propósito das Provações – Parte 2
Todas as bênçãos que Deus tem designado para nós, e toda mudança de nosso caráter segundo à semelhança ao de Cristo, Ele tem dado à fé.
Não à nossa própria inteligência pessoal, não às nossas habilidades, mas simplesmente à nossa fé nEle.
Uma grande fé é o que está sendo trabalhado pelas tribulações, e somente uma grande fé pode fazer uma pessoa permanecer fiel à verdade de Deus em meio a todo tipo de pressão que possa ter que suportar.
Assim, aquele que duvida e não crê, nada obterá do Senhor quando lhe pede em oração por sabedoria.
Podemos pedir com a nossa boca, mas não com o coração. É no coração que se crê para a salvação.
A fé não é de meras palavras, mas daquilo que se crê no coração.
É, portanto vã a expectativa de se receber alguma coisa de Deus quando lhe pedimos algo em oração, mas sem crer de fato, que o receberemos.
Jesus ensinou isto claramente em seu ministério terreno. E disse que nada é impossível ao que crê.
Tiago repreende o cristão de ânimo dobre, isto é, o homem vacilante. No grego, dipsikos, que significa irresoluto, de espírito vacilante.
A fé requer não somente confiança em Deus, mas ousadia para se colocar em prática o que Ele tem ordenado.
Um homem irresoluto é um homem que não se posiciona e não age para resolver as coisas que são necessárias à obra de Deus. Mas temos que reconhecer francamente, que isto não é uma coisa fácil para quem não tem intimidade com o Senhor.
Daí ser fundamental obedecê-lO e cultivar nossa comunhão espiritual com Ele diariamente, para que conheçamos o Deus ao qual temos nos dirigido em oração.
Tiago aponta que a maneira de vermos atendidas as nossas necessidades é lançando-nos sobre Deus com a firme disposição de tudo vencer por meio da Sua graça.
Contudo, Tiago não resume a questão da fé ao simples ato de abrir a boca e fazer petições a Deus.
Ele vai detalhar em outras partes desta epístola, que uma fé autêntica demanda muitas atitudes cristãs, especialmente em obediência e prática efetiva da Palavra do Senhor.
Tiago também nos diz que pedir para atender os próprios interesses é pedir mal, para não ser atendido por Deus, como veremos mais adiante.
Há uma tendência moderna de se buscar a Deus para atendimento de prazeres, e não a pessoa do próprio Deus; porque afinal a Bíblia afirma que nos últimos dias os homens seriam mais amantes dos prazeres do que de Deus; isto é, seu prazer não se encontra somente no Senhor, mas nas coisas que são terrenas e mundanas.
Tiago aponta a necessidade de uma vida verdadeiramente piedosa, na demonstração de amor e cuidado, especialmente pelos irmãos necessitados.
Uma vida santificada que resista resolutamente às corrupções do mundo, e que refreia a sua língua do mal.
Enfim, são as pessoas que vivem desta maneira que podem contar com a amizade de Deus, com a Sua assistência, Seu socorro, e capacitação para fazerem Sua obra e viverem de modo agradável a Ele.
As oposições, tribulações e aflições, somente cooperam para aumentar os laços de amor em Cristo, e o poder eficaz de nossas orações, no poder do Espírito.
A fé que não inclui estas coisas referidas nada mais é do que a fé dos demônios.
É uma fé morta que não pode ser acompanhada pelas obras de Deus, porque somente uma fé viva e genuína pode ter a eficácia de um Deus justo e santo.
Então, não é aos cristãos de coração dobre, que são inconstantes em todos os seus caminhos, que Tiago está se referindo como aqueles que têm sido aperfeiçoados pelas provações.
Um cristão inconstante, que não se aplica a agradar inteiramente a Deus, em todo o tempo e em todas as coisas que lhe são apontadas pela Palavra quanto ao seu comportamento, não pode contar em receber a sabedoria que vem do alto, para iluminar seu entendimento, dar-lhe poder pela graça e assistência do Espírito Santo, para prevalecer em sua caminhada neste mundo, ainda que em meio de muitas provações.
Mas, as provações não podem deter o cristão que é constante na fé em sua caminhada, porque ele triunfa pelo poder e sabedoria do Senhor sobre elas, e verifica que sua fé está ficando cada vez mais amadurecida e forte, como também sua confiança no Seu Deus tem aumentado, de maneira que ele pode ter por motivo de toda a alegria o passar por várias provações, conforme se diz em Tg 1.2.
Ele vive isto, porque em cada provação suportada com fé, tem aprendido a perseverar e a fazer a vontade de Deus em toda e qualquer circunstância, sabendo que é exatamente isto que é do agrado do Senhor: o testemunho de uma fé que tudo suporta com grande alegria.
Ser bem-aventurado, portanto, segundo Deus não significa ausência de tentações, mas perseverar fielmente em fazer Sua vontade, ainda que debaixo de fortes tentações.
Perseverar, não significa que o cristão nunca possa falhar ou tropeçar, mas que ele se manterá firme, sem vacilar e sem se render no seu propósito de fazer a vontade de Deus.
Quando a fé for refinada e nós formos aprovados, o processo estará completo, então, nós seremos apresentados na glória na presença do Senhor; santos, inculpáveis e irrepreensíveis. Aí nos será dada a coroa da vida na presença de nosso Deus.
Devemos ser longânimos para com as faltas dos outros, assim como Deus é longânimo para conosco.
Por isso Tiago diz no verso 21 o seguinte:
“Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossa almas.”
Este verso faz a conclusão do que ele há pouco havia dito.
É preciso fazer algumas mudanças, de forma que possamos dar boas-vindas à Palavra em nossas vidas e podermos ver cumpridos os propósitos de Deus.
“Despojando-vos”, isto é, “apartando-vos” de toda imundície e impureza - devem ser removidas certas coisas e estar disposto a isto.
O quadro aqui é o de se lançar fora certas roupas, de forma que possamos vestir roupas apropriadas; isto é, tirar a roupa suja e colocar a limpa; tirar a roupa suja da própria justiça e vestir-se com as vestes gloriosas da justiça do próprio Cristo.
Note que toda a imundície deve ser removida.
Nós devemos levar muito a sério a ordenança bíblica de deixarmos toda forma de impureza, porque somente corações puros podem ver a Deus.
Por mais que doa deixar certos hábitos impuros, que se transformaram até mesmo em entretenimentos, se faz necessário abandoná-los a ponto de não se ter mais saudade deles, senão nojo.
É quando fazemos esta faxina na casa do nosso coração, que Jesus se disporá a nos visitar com frequência e a sentir-Se bem e alegre em nossa companhia.
Corações podem estar quebrados, mas desde que estejam limpos são muito agradáveis a Deus; porém, corações ainda que inteiros, mas sujos e endurecidos, são uma abominação para Ele.
Tiago diz que todo “acúmulo de maldade” deve ser lançado fora, isto é, não se deve como é comum acontecer, ficarmos juntando impureza a impureza, maldade a maldade. Tudo deve ser cortado pela raiz.
A fonte de onde procede o pecado deve ser crucificada, isto é, nossa natureza carnal.
O velho homem deve ser levado diariamente à cruz, e nosso ego deve ser negado em seus desejos e paixões que nos impeçam de estar em comunhão com Deus.
Em vez de ocuparmos nossas mentes com as coisas que nos contaminam, devemos ocupá-las com a oração e a Palavra de Deus, que nos purificam.
Tudo tem que ser removido, porque somos agora, novas criaturas em Cristo conforme se afirma em 2 Cor 5:17; Ef 4:22-25,31; Cl 3:8-10.
É por isso que Tiago diz que a Palavra deve ser acolhida com mansidão, a saber, com submissão e humildade, dando-lhe boa receptividade.
Tiago fala da “palavra implantada em vós” - Esta é a Palavra como foi implantada no coração. A Palavra foi implantada nos corações dos cristãos na hora do novo nascimento. Mas isso era o começo de um processo, não o fim.
A questão básica é se voltar do pecado e se submeter à Palavra que Deus colocou dentro de nós. O propósito de Deus é que essa Palavra possa crescer, enquanto produzindo o Seu caráter divino dentro de nós.
É esta Palavra, que segundo Tiago, “é poderosa para salvar as vossas almas.” - é a Palavra de Deus que ativa a salvação, porque produz o novo nascimento.
Também é a Palavra que efetua nosso crescimento espiritual, ao que Paulo chama de desenvolver a salvação em 1 Cor 1:18 e 2 Cor 3:18, porque é por meio dela que os cristãos são santificados, como se vê em Jo 17.17.
Os cristãos devem continuar praticando a Palavra e não serem praticantes ocasionais como pessoas que obedecem determinados mandamentos nos momentos que julgam que devem fazer isto. Mas, praticantes permanentes, em todo o tempo, e de todas as coisas ordenadas. É isto que Deus espera dos Seus filhos.
A expressão “Não somente ouvintes”, usada por Tiago, indica que o mandamento para ser praticante, não diminui a importância do mandamento de ouvir a Palavra. O perigo é que nós paramos no ouvir.
O ouvir, o ler a Palavra é importante para o conhecimento dela, de forma que possamos praticá-la. Como faremos o que não conhecemos?
Algumas pessoas agem como se estivessem examinando o estudo da Palavra.
Eles assistem, escutam, e frequentemente acumulam muito conhecimento, mas não assumem nenhuma responsabilidade em colocá-la em prática.
Eles assumem a posição de juízes e julgam a Palavra, em vez de se colocarem na posição de quem deve ser julgado por ela, porque é afinal a boca de Deus nos falando através dela.
Quem age desta forma está se iludindo, e por isso Tiago diz “enganando-vos”, isto é, que se ilude a si mesmo.
A palavra aqui significa enganar ou enganar através de falso raciocínio.
Por um processo de raciocínio defeituoso, eles se enganam; pensam que ouvindo a Palavra, talvez até mesmo com grande atenção, é tudo o que é necessário.
Devemos a todo o custo evitar o que Tiago nos diz:
“Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla num espelho o seu rosto natural.”
Tiago primeiro retrata a pessoa que ouve a Palavra, mas não a pratica.
Esta pessoa olha o seu aspecto natural num espelho. O verbo olhar pode indicar que esta é a atividade habitual ou característica deste indivíduo.
Esta pessoa pode ser alguém que gasta algum tempo escutando a Palavra e tentando entender o que está sendo ensinado, mas no final “a si mesmo se contempla e se retira, e logo se esquece de como era a sua aparência.”
Note os três passos aqui: olhar... ir embora... esquecer-se. Longe da vista, fora da mente.
Esta pessoa esqueceu o que viu e as mudanças que precisavam ser feitas.
Ela não ouviu com a disposição de ser transformada, de ser visitada por Deus, de mudar hábitos formados trocando-os por hábitos de santidade.
Ela viu a sua condição de pecado, das coisas que a Palavra mostrou que necessitavam ser mudadas em sua vida, mas fez isto como quem olha para um espelho, porque uma vez que virou suas costas ficou completamente esquecida de tudo o que viu a respeito de Deus e de si mesma.
Não houve um trabalho do Espírito em seu coração, em convencimento de pecado, em renovação espiritual, em lavagem e purificação de pecados e hábitos, e de enchimento na nova vida do céu.
Quão triste é ter um coração como este, que é como solo estéril e seco onde a Palavra da vida eterna não encontra boas condições para poder germinar e gerar vida.
Mas quão felizes são aqueles que se encaixam na condição citada por Tiago no verso 25:
“Mas aquele que considera atentamente na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.”
“Na lei perfeita” - A referência à lei aqui, corresponde à "palavra da verdade", como se vê no verso 18; "a palavra implantada" do verso 21; e "a palavra" citada no verso 22. Tiago a chama de lei, porque é a mensagem autorizada de Deus que requer nossa obediência.
É a verdade relativa a Cristo como contida no Novo Testamento. Isto se ajusta com a ênfase de Tiago em praticar a Palavra.
A palavra perfeita usada aqui por Tiago vem do grego teleios, que significa total, completo. Esta revelação de Deus está completa, conforme os propósitos de Deus. Toda a revelação anterior apontava para este fim. Isto tinha sido profetizado no Velho Testamento em Jer 31:33 e cumpre todo o Velho Testamento, como se afirma em Mt 5:17.
“Lei da liberdade” - Esta é a lei que provê liberdade àqueles que a obedecem, como vemos em Jo 8:31 a 36 e Rm 8:2. Dentro dos limites da lei de Deus o homem é livre do pecado, da morte, do diabo, do mundo.
Tiago nos diz ainda:
“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a sua língua, antes enganando o próprio coração, a sua religião é vã.”
Tiago tem em mente uma pessoa que pensa que é religiosa. Esta pessoa não é uma hipócrita que está tentando enganar as pessoas de propósito. A indicação é que ele pensa que é verdadeiramente uma pessoa religiosa.
Esta pessoa é diligente em atividades como oração, jejum, e frequência aos cultos de adoração.
No entanto, ela “não refreia a sua língua” - A palavra aqui (chalinagogeo) significa “guiar" e “conter com uma rédea."
A língua desta pessoa está como um cavalo selvagem que está descontrolado. (Esta analogia será reenfocada e desenvolvida em Tg 3:2-12).
Isto indica claramente, que a língua pode e deveria ser controlada. Nós devemos ter controle sobre tudo o que dizemos.
Então, esta pessoa religiosa “engana seu próprio coração” - Esta é a terceira vez que Tiago advertiu seus leitores sobre se enganar.
Mas, a “sua religião é vã”, isto é, inútil (mataios) - Esta palavra traz a idéia de não alcançar seu resultado, seu alvo, sua meta. Uma religião que não efetua mudanças decisivas em áreas chaves de conduta, não pode fazer com que uma pessoa agrade a Deus.
Então Tiago diz que:
“A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deu e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.”
Tiago indica que há dois ingredientes necessários na verdadeira religião:
Serviço amoroso ao próximo; que é o comportamento previsto pela Palavra, que devemos ter em relação às demais pessoas.
Aquele que estiver de fato unido em espírito ao Senhor e andando com Ele, será movido pelo próprio Espírito Santo a amar o seu próximo.
Além disso, uma verdadeira religião despertará e fará com que se desenvolva em nós uma grande aplicação para nos santificarmos em todas as áreas de nossa vida (espírito, alma e corpo, como se vê em I Tes 5.23).
Isto consistirá principalmente, no cultivo de um coração puro e sem mácula.
Um coração livre de malícia; de qualquer domínio do pecado, em todas as suas formas que são resultantes da carne e que Paulo chama de obras da carne em Gál 5.
Deus tem fixado o padrão da verdadeira religiosidade na Sua Palavra, e qualquer atividade religiosa que não satisfaça o padrão de Deus é realmente inútil.
Algumas pessoas têm a idéia errada de que Deus é obrigado a aceitar tudo o que se faça no reino religioso.
E estas pessoas geralmente ficam muito contrariadas quando lhes é dito que sua atividade religiosa não tem nenhum valor diante de Deus; porque Deus nos revelou o que é aceitável diante dEle.
Tiago destaca alguns exemplos de uma verdadeira religião como, por exemplo, “visitar” os órfãos e as viúvas.
A referência aqui não é a de um mero encontro social, nem visitar um necessitado ou enfermo como se lhe estivesse fazendo um grande favor, ou então para marcar um ponto com Deus, mas fazê-lo por amor, movido pelo amor do próprio Cristo, e para efetivamente, que através dEle venha a suprir as necessidades deles.
Esta é uma lembrança forte para nós, para que estejamos procurando o necessitado entre nós, para que possamos auxiliá-lo e satisfazer suas necessidades.
Note que a ênfase está em fazer isto a outros. Muito frequentemente nós lemos isto com uma intenção egoísta. Quem satisfaz minhas necessidades? Minha preocupação é estar satisfazendo as necessidades de outros.
Muitos deixam a Igreja alegando que não foram amados, assistidos, visitados.
No entanto a ordenança bíblica não é a de que esperem isto, mas que façam isto a outros.
Pessoas que pensam deste modo têm ainda um coração endurecido, não tratado por Deus para que sinta amor ao próximo.
Uma das principais características de um verdadeiro religioso é citada por Tiago como sendo a atitude de "a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”, isto é, “manter a si mesmo puro do mundo” - eu tenho uma responsabilidade diante de Deus para manter o meu coração puro.
Tiago diz: “Manter a si mesmo”, porque no final das contas somente Deus é o guardião do Seu povo, mas eu sou responsável em exercitar minha vontade submetendo-me a Ele e permitir que o Espírito Santo me mantenha puro diante dEle.