As Evidências de Uma Fé Viva
Tiago estava zelando pela manutenção da manifestação do poder e do amor de Deus na comunhão de todos os cristãos reunidos na congregação para a adoração pública.
Ele advertiu para o grande perigo que há em se fazer acepção de pessoas, especialmente em razão da condição social delas.
Em Cristo caíram todas as barreiras ditadas por preconceitos raciais, sociais ou de qualquer outra natureza, de maneira que um escravo com seu senhor numa mesma congregação deveriam receber o mesmo tratamento em Cristo, e não permitirem que a comunhão deles na Igreja fosse prejudicada pela distância imposta pela condição social de ambos.
Como não é próprio da natureza terrena lembrar-se dos pobres e dar atenção a eles, senão aos ricos e poderosos, Tiago advertiu a Igreja para evitar o grande pecado de se dar preeminência aos ricos em detrimento dos pobres.
É por isso que se ordena aos que são ricos segundo o mundo, que se amoldem às coisas humildes e dêem a devida atenção aos seus irmãos que vivem em baixas circunstâncias neste mundo, porque eles são agora ricos em Cristo, e não é raro, que o Senhor distribua a estes até maiores dons e graças espirituais para poderem servir com eles a todos, inclusive os próprios ricos.
Igrejas verdadeiramente cheias do Espírito, cujos cristãos vivam de fato de maneira piedosa, dificilmente necessitarão atender à exortação de Tiago, porque amarão indistintamente tanto o rico quanto o pobre, e os ricos demonstrarão até mesmo um cuidado maior com os pobres, por saberem que são colocados neste mundo, especialmente para colocar à prova sua generosidade.
A riqueza de bens terrenos não é necessariamente um sinal do favor de Deus, assim como a pobreza não é um sinal do Seu desagrado.
Então, os cristãos não devem julgar segundo a aparência externa, mas segundo a reta justiça.
Não é pelo simples fato de alguém ser rico que deve ser digno de receber uma atenção especial e diferenciada da parte da Igreja; porque é até muito comum que pelo fato de serem ricos não tenham temor de Deus e sejam opressivos em relação aos pobres, tal como o Senhor Jesus havia padecido nas mãos dos abastados sacerdotes e fariseus de Jerusalém.
Além disso, por um mistério que somente Deus conhece, não são de fato muitos os que são de nobre nascimento e que são ricos segundo o mundo, que são os eleitos de Deus, porque aprouve a Ele fazer os Seus eleitos, pobres em sua grande maioria, neste mundo, não somente para que ninguém se glorie na Sua presença, como também para abater a todo espírito exaltado.
Não devemos desprezar a nenhum rico, antes, temos o dever de amá-los como a qualquer outro, mas não devemos nos intimidar com a aparência deles, porque são afinal pecadores necessitados de salvação, e de serem aperfeiçoados em santificação.
Que praga devastadora é para qualquer congregação um irmão que tenha muitos bens deste mundo e viva para se gloriar disto diante dos demais.
Isto não é apenas um insulto na face destes, como na do próprio Deus, que a alguns provê com mais bens e talentos naturais para prova de generosidade e para assistirem àqueles aos quais forem dirigidos pelo Espírito, ao invés de viverem com um comportamento perverso, impiedoso, orgulhoso e arrogante, em razão dos muitos bens terrenos que possuem.
Todos os homens, sejam ricos ou pobres, são mendigos da graça de Deus, porque tudo Lhe pertence e é dEle que todas coisas provêm. Como pode então, o homem gloriar-se em si mesmo?
E, se algum cristão mostra uma deferência exagerada a um rico, ele está consequentemente diminuindo e tendo em pouca conta a única glória verdadeira e permanente, que é a de nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso, portanto vigiar constantemente contra este pecado odioso de dar honra ao rico, e menosprezar o pobre.
Devemos lembrar que nos dias do ministério terreno de Jesus, Deus não pôs em honra apostólica a nenhum rico sacerdote ou escriba, mas a homens iletrados, pescadores e publicanos.
Não devemos nos deixar levar pela aparência exterior do traje, formação intelectual ou de qualquer outra coisa que o mundo considere elevada, senão avaliar o justo valor espiritual que cada pessoa tem diante de Deus.
As riquezas terrenas passarão, e ao sairmos deste mundo nada poderemos levar conosco, de maneira que os ricos fariam bem em atender à ordenança que o apóstolo Paulo dirigiu a eles em I Tim 6.9,10, 17 a 19:
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
“10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”.
“17 manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas gozarmos;
18 que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos,
“19 entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.”
As autoridades de Israel, nos dias em que Tiago escreveu sua epístola, continuavam ainda perseguindo os cristãos e arrastando-os para os tribunais.
Aqueles que confessavam a Jesus eram expulsos das sinagogas, e as autoridades blasfemavam o nome do Senhor.
Como poderiam, portanto ser dignos de honra, em detrimento dos cristãos pobres, quando alguns deles se dirigiam à reunião pública de adoração promovida pela Igreja?
Quem não honra ao Filho de Deus não honra ao próprio Deus. E como podemos dar honra a quem não honra a Cristo?
Como podemos dizer que Deus está satisfeito e aprovando o comportamento daqueles que O desonram abertamente?
Como o ministério da Palavra deve não somente advertir, repreender, admoestar contra o pecado, mas também ensinar e instruir na verdade, Tiago passou a dar instruções específicas quanto às coisas que devem ser cultivadas e vistas na vida de cada cristão.
Ele começa então, com a principal graça que deve existir na Igreja, que é o amor de Cristo.
Ele chama o amor de lei real e lei da liberdade, porque sem esta lei espiritual governando nossos corações pelo Espírito, não podemos nem sequer imaginar de longe a que ele está se referindo.
Tiago parte do ponto de partida da necessidade de uma estrita aplicação em se viver em verdadeira obediência à vontade de Deus, na disposição de se cumprir de fato todos os Seus mandamentos. Dizemos disposição porque enquanto estivermos vivendo deste outro lado do céu, nunca atingiremos este alvo, nem de perto, em perfeição.
Mas se impõe, que nos esforcemos com toda a diligência para sermos misericordiosos e perfeitos, assim como Deus é perfeito e misericordioso.
Como cristãos, seremos julgados segundo a lei do amor e da misericórdia que deveríamos ter demonstrado para com o nosso próximo, em demonstração real, prática e espiritual do nosso amor e misericórdia para com eles.
A graça e a misericórdia que estão disponibilizadas pelo Senhor na presente dispensação livram efetivamente do juízo vindouro; os cristãos devem ter plena convicção da grande importância do valor eterno do trabalho que fazem para Deus, empenhando-se em prol da salvação de almas por suas orações, pregação e testemunho do evangelho.
Isto deve ser feito em demonstração de uma fé autêntica, que se comprove pelos seus resultados nas vidas.
Tudo será vão, caso não seja movido por uma fé viva.
Uma fé morta pode ser representada no ato de declararmos a quem tem fome e frio, que deve ter confiança, que será aquecido e alimentado.
Se dissermos que fizemos uma oração por ele, quando se achava em nosso poder as condições materiais necessárias para matar a fome e cobrir a nudez daquela pessoa necessitada, na verdade cometemos grave pecado, porque nosso coração estava endurecido, vazio do amor de Deus, falto da verdadeira fé, porque se estivéssemos sendo movidos por Deus, nós discerniríamos e cumpriríamos nosso dever de atendê-lo de maneira prática, em obediência à vontade do Senhor.
Tiago mostra de modo muito claro que uma fé que não é acompanhada pelas boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas, é na verdade uma fé morta.
Tiago nos ajuda a entender que a verdadeira fé que salva, a verdadeira e única fé genuína que nos é dada como um dom de Deus, não é uma simples questão de afirmar: Eu creio! Eu creio! Mas que ela se demonstra no modo de vida santa e obediente a Deus que produz em nós.
E, não é voltada apenas para nós mesmos, mas se move em amor pelo próximo.
Sabemos que temos uma fé justificadora, tal como a de Abraão, quando fazemos as obras de Abraão.
Sabemos que temos sido justificados pela fé, quando vivemos cheios das obras de justiça do evangelho; quando sustentamos nosso testemunho de confiança total em Deus, tal como fizera Raabe nos dias de Josué.
Quando Tiago diz que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé, no verso 24, ele não quer dizer que Deus estabeleceu dois caminhos diferentes pelos quais podemos ser justificados, mas que a verdadeira fé nunca estará sozinha, porque se comprovará em evidência pelas boas obras da fé: em demonstração que de fato possuímos uma fé que é genuína e não morta, ou então como a fé dos demônios que crêem em Deus, e tremem.
Contudo, qual boa obra os demônios podem fazer? No entanto eles crêem em Deus.
Mas não possuem a verdadeira fé, e não possuem uma natureza justificada, regenerada e santificada, que possuem somente aqueles que amam a Deus e guardam Seus mandamentos, por causa da fé que lhes foi dada como um dom pelo próprio Senhor, não para que somente creiam nEle como também possam viver do modo pelo qual importa viver perante Ele, porque devemos viver não por vista, mas por fé, na prática das boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas.
“1 Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
2 Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje,
3 E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado,
4 Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?
5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?
7 Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?
8 Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.
9 Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redargüidos pela lei como transgressores.
10 Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.
11 Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.
12 Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.
13 Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.
14 Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?
15 E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
16 E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
17 Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
18 Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19 Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
20 Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
21 Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
22 Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24 Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.
25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”