A Integridade no Viver
Tiago sabia como a natureza terrena aprecia se gabar de grandes feitos, como ama desenvolver teorias com o fim de se mostrar esclarecida e sábia.
Então, ele começa este capítulo pondo logo um antídoto contra este mal e uma séria advertência quanto ao perigo que há em especular com a verdade revelada por Deus, para se obter a reputação de mestre.
Ele diz que Deus julgará com maior rigor aqueles que se entregarem a especular sobre a verdade e que no final nada alcançaram em termos de uma vida piedosa, senão uma língua eloquente e falta de verdadeiro entendimento espiritual e verdadeira santificação.
Afinal, a verdade não foi dada para ser especulada, mas para ser obedecida e vivida.
Coisas espirituais se discernem espiritualmente, e com a mente de Cristo; e não propriamente com nossa mente natural, corrompida pelo pecado.
A assertiva de Tiago que o simples conhecimento intelectual das coisas de Deus sem um viver piedoso e dirigido pelo Espírito, está exposto a muitos juízos; se comprova em que não há nenhum valor em falar da verdadeira doutrina, de se bendizer a Deus, de orar a Ele, e ao mesmo tempo amaldiçoarmos os homens criados à Sua semelhança.
Uma obra misturada com bênção e maldição; com acertos e com erros, não pode contar com a aprovação do Senhor.
Tal vida não pode ser útil ao Seu serviço e não dará um bom testemunho da nossa condição de sermos filhos de Deus.
A nossa fonte deve jorrar permanente e somente águas vivas através de nós.
Esta água é cristalina, limpa, doce, potável, apropriada para gerar e manter a vida eterna.
Logo, o que deve fluir de nós são águas limpas e somente águas limpas, que procedem do trono de Deus.
A nossa árvore deve dar apenas bons frutos.
A verdadeira sabedoria e conhecimento da vontade de Deus são demonstrados quando se vive em submissão (mansidão) à Sua vontade.
Sem consagração ao Senhor não pode haver um trabalho de disciplina do Espírito para a crucificação das paixões e desejos da nossa carne, de maneira que as obras da carne sejam destruídas, e o lugar delas seja ocupado pelo fruto correspondente do Espírito, como por exemplo, o orgulho substituído pela humildade; o rancor pelo amor; a falsidade pela verdade; a hipocrisia pela sinceridade; a falta de zelo pelo fervor; a dissensão e a ira pela paz e tudo o mais que importa que sejamos despojados do velho homem, para sermos revestidos pelo que é da nova criatura em Cristo Jesus.
Cristãos não podem abrigar, nem se deixarem governar por sentimentos facciosos em seus corações, especialmente contra a própria obra do Senhor e daqueles que têm andado no Espírito.
Não devem viver em inveja amarga por não estarem contentes com aquilo que são, nem com as coisas que têm recebido do Senhor.
Tiago nos adverte em última instância, neste capítulo, que devemos estar muito vigilantes quanto ao uso que fazemos da nossa língua, estando conscientes de que ela poderá ser usada de modo muito contrário à vontade de Deus, tanto por falta de sabedoria, quanto por um uso impróprio pecaminoso, uma vez que temos uma natureza terrena que foi corrompida pelo pecado e que deve ser crucificada e renovada pelo Espírito.
Ele não nos alerta para apenas sabermos que temos tal natureza, mas para nos lembrar do dever que temos de fazer um uso santo e edificante em todo o nosso falar.
Se nossa conversação não é santa e edificante, a nossa religião é vã e temos nos enganado a nós mesmos.
Porque aquele que estiver sendo de fato santificado pelo Espírito, e por estar enriquecido com a Palavra de Cristo, haverá de demonstrar isto na sua maneira de conversar e falar.
A língua deve ser uma boa serva do nosso espírito e não como um cavalo desgovernado.
O fogo, quando é servo é de grande utilidade, mas quando se torna senhor pode fazer uma grande devastação. Enquanto sob domínio será útil, mas sem domínio é destruidor.
De igual maneira quando um cavalo é dócil, ele é muito útil, mas caso se desgoverne e entre em disparada saindo de debaixo do controle daquele que o dirigia, ele poderá produzir sérios danos e acidentes.
Assim, importa que o cristão traga sua língua debaixo do domínio do Espírito Santo, e que exerça efetivamente um governo sobre ela, de maneira que profira palavras que sejam boas somente para a edificação dos ouvintes.
Nenhum homem pode domesticar a língua sem a ajuda e graça sobrenatural do Espírito.
Não é uma coisa fácil conseguir tal governo sobre a língua, porque importa antes deixar que Deus transforme nosso coração, de onde de fato procedem todos os males, inclusive o da maledicência.
“1 Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.
3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
4 Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.
5 Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
6 A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.
7 Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
8 Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
9 Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
10 De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
11 Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
12 Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.
13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
17 Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
“18 Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.”