Purificando o Coração
A epístola de Tiago é bastante oportuna para nossa época, em que tantos cristãos se têm feito merecedores das repreensões que ele proferiu pelo Espírito.
A condição de dissensões entre os cristãos, das disputas carnais que existiam entre eles são porventura incomuns em nossos dias?
O apóstolo nos dá o diagnóstico divino deste mal, e o único remédio que pode curá-lo.
A falsa convicção religiosa, o orgulho espiritual cega o cristão de tal maneira que ele fica impossibilitado de aceitar e entender que a prática da iniquidade impede que nossas orações sejam ouvidas por Deus, que nossos jejuns e todo o serviço que fazemos em Seu nome não sejam aceitáveis por Ele, conforme o próprio Deus afirma em Is 58.4:
“Eis que para contendas e rixas jejuais, e para ferirdes com punho iníquo! Jejuando vós assim como hoje, a vossa voz não se fará ouvir no alto.”
Parece que Tiago retirou desta passagem suas palavras nos versos 1 a 3, do quarto capítulo da sua epístola, onde revela que a causa de não terem alguns cristãos suas orações respondidas por Deus é devido ao fato de viverem em falta de unidade espiritual, em disputas que são originadas de suas cobiças carnais, e não se permitem viver reconciliados pela paz de Cristo, senão em constantes disputas causadas por ódio, inveja e contendas.
Assim, não podem conhecer qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus; e quando oram, nada fazem além de pedir ao Senhor aquilo que vise ao próprio deleite e interesse pessoal.
Nem sequer lhes passa de longe pelas suas mentes a necessidade de se importarem com o reino de Deus e a Sua justiça.
Pensam somente em si mesmos, e quando muito, em seus familiares segundo a carne, mas não da forma como convém; de se importarem antes de tudo, com o estado esterno de seus espíritos.
Não conseguem ver os interesses de Cristo relativos à Sua Igreja, pelos quais deveriam não somente orar, mas também se empenhar para vê-los cumpridos para a glória de Deus.
Eles se deixam dominar pelas atrações do mundo e se tornam mundanos e conformados ao mundo, esquecidos de que, quem se faz amigo do mundo se torna inimigo de Deus, e que não podem ter Seu amor divino sendo derramado em suas vidas.
No entanto, o cristão não pertence mais ao mundo, apesar de estar no mundo.
Ele não é do mundo assim como o Senhor não é do mundo.
O cristão foi comprado por um alto preço, a saber, pelo sangue de Jesus, para não viver mais para si mesmo, mas para Aquele que o resgatou do pecado e da morte.
Como pode, portanto pretender permanecer ligado com seus afetos ao Egito quando foi libertado por Cristo para rumar para a Canaã celestial?
O cristão deve viver como peregrino e forasteiro no mundo, sabendo que sua pátria eterna está no céu, onde Cristo está assentado à direita do Pai.
Este viver mundano é segundo a carne, e por isso o Espírito Santo que habita no cristão sempre lutará contra a carne, e esta contra o Espírito.
A carne procurando trazer o cristão de volta à sua antiga vida, e o Espírito procurando transformar o cristão para viver segundo a nova vida que recebeu do céu.
Se o cristão se endurecer e resistir ao Espírito Santo, ele acabará apagando o Seu fogo purificador e renovador, e ficará desprovido da graça de Jesus que lhe seria concedida para fortalecê-lo caso fosse humilde, submetendo-se ao trabalho do Espírito Santo, através do arrependimento e volta à prática da verdade.
Quando o cristão se sujeita a Deus em humildade, e se levanta com o escudo da fé e a espada do Espírito Santo, que é a Palavra de Deus, para resistir às tentações de Satanás, o resultado será que o diabo baterá em retirada.
Uma vez restaurada a comunhão com o Senhor, e reconciliado de novo a Ele pela obediência à verdade, por uma verdadeira busca de consagração de sua vida a Deus, o cristão deve ter ousadia para se aproximar dEle, confiado no poder purificador do sangue de Jesus, e da eficácia da expiação que fez da nossa culpa e pecado.
Devemos lembrar que apesar de o Seu sangue ser sempre a base da nossa aproximação dEle, no entanto, estabeleceu condições para que Sua graça se manifeste realmente de modo eficaz.
E, uma destas principais condições é o nosso arrependimento, que inclui a tristeza pelos nossos pecados e pelo modo desordenado como vínhamos caminhando diante dEle.
Também devemos deixar de lado toda forma de presunção orgulhosa que nos leve a julgar erroneamente, que podemos como cristãos deliberar sobre todas as decisões de nossas vidas, sem procurarmos saber qual seja a vontade de Deus para nós.
Isto soa como um escravo que faz todas as coisas sem se importar em saber e cumprir a vontade do seu senhor.
Tiago diz que tal tipo de presunção é maligna, a saber, ela não procede do Senhor, mas do inferno.
Afinal, Jesus é Senhor e importa ser obedecido e reconhecido em todas as áreas da nossa vida, como o Senhor de nosso tempo, vontade, ações e tudo o mais.
Ele nos ensinará a viver fazendo o bem que é segundo a Sua vontade, e se não o fizermos, estamos cometendo pecado.
Não admira, que alguém que está vivendo em pecado não possa contar com a amizade do Senhor, porque Ele disse claramente que somos Seus amigos quando fazemos o que Ele nos tem ordenado, e quando guardamos Seus mandamentos.
“1 De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
2 Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis.
3 Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
4 Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?
6 Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
7 Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.
9 Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza.
10 Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.
12 Há só um legislador que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?
13 Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;
14 Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.
15 Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
16 Mas agora vos gloriais em vossas presunções; toda a glória tal como esta é maligna.
17 Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.”. (Tiago 4.1-17)