As Batalhas do Amor
Se não tivermos diante de nossos olhos o propósito principal para o qual Deus criou o homem, que é o de adorá-lo, de estar em comunhão com Ele, em amor, e em plena alegria, e santidade, jamais poderemos entender o teor das palavras de repreensão dirigidas ao povo de Judá, no segundo capitulo de Jeremias, que mais parecem um lamento do que uma repreensão.
Não poderemos também entender esta mensagem se nos falta a devida santidade de vida, e espiritualidade, porque as coisas aqui tratadas são espirituais e não carnais, sobrenaturais e não naturais.
A expressão da alegria espiritual que se vê na face de Deus quando está em comunhão com o Seu povo, quando este anda em Seus caminhos, não pode ser vista a não ser por uma experiência real e pessoal disto, senão veremos ao Senhor como um Deus carracundo e impaciente com nossas fraquezas, quando isto não é verdade e não corresponde ao Seu caráter.
Deus é bom, puro, alegre, amável, gentil, amoroso, mas não pode, por causa da Sua perfeita justiça, ser conivente com o erro deliberado, com o espírito de rebeldia que endurece o coração do homem e que o leva a viver por escolha, debaixo da escravidão do pecado.
Deus quer manifestar Sua alegria, Seu amor, Sua misericórdia e bondade, mas como poderá fazê-lo para com aqueles que lutam contra Ele e contra Sua vontade, como inimigos ferrenhos?
Podemos dizer que Deus criou o homem para se alegrarem mutuamente. Mas que alegria pode ter um pai com um filho rebelde? Este é o ponto, para que possamos entender não apenas as repreensões do segundo capítulo de Jeremias, bem como as que permeiam toda a Bíblia.
Então é basicamente a tristeza de Deus por causa dos pecados do Seu povo, que impediam a comunhão com eles, o que encontramos em Jeremias 2.
Por isso somos exortados na Igreja de Cristo a também não entristecermos o Espírito Santo com os nossos pecados, porque é o pecado que quebra a nossa comunhão com Deus, e por conseguinte, a possibilidade de nos alegrarmos nEle, e Ele em nós.
“mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça.” (Is 59.2)
Quanto os judeus haviam desprezado ao Senhor com as suas idolatrias e injustiças!
Quanto haviam desprezado a aliança que havia feito com eles!
Ele lhes havia dado esta grande honra, e no entanto, eles a haviam desprezado totalmente.
Deus tem proposto uma aliança com os homens de todas as nações, por meio do sangue de Cristo, mas a grande maioria da humanidade tem desprezado este sangue precioso, e tão maravilhosa aliança, que livra da morte eterna para a vida eterna; das trevas para a luz; da escravidão para a liberdade.
Deveríamos aprender então, desta primeira mensagem que foi dada por Deus para ser proclamada aos judeus, para não incorrermos nos mesmos erros deles, e consequentemente, cairmos no desagrado de Deus, em vez de agradá-lO.
Primeiro, devemos evitar a ingratidão por todo o amor que o Senhor tem por nós, e por todos os livramentos que nos tem dado, tal como fizera com Israel no passado, e os judeus dos dias de Jeremias haviam esquecido de trazer isto em lembrança (v.Jer 2.2; 3).
Em segundo lugar, o Senhor jamais fará qualquer injustiça, especialmente no tocante ao Seu povo. Então porque deixamos Aquele que é perfeitamente justo, para seguirmos nossos caminhos e pensamentos de vaidade? (v. 5)
Além disso, por que não buscamos o Senhor todos os dias de nossas vidas, lembrando os Seus poderosos feitos relativos à Sua Igreja, tal como havia feito com Israel no passado? (v. 6)
Como podemos esquecer que ainda que tenhamos que trabalhar, semeando, juntando em celeiros, comendo o pão com o suor do rosto, no entanto, não é o Senhor que faz brotar o pão da terra?
Como podemos dar as costas para um Deus provedor que garante a nossa subsistência?
Usaremos a terra que ele nos tem dado por herança, para praticarmos nela abominações, contaminando-a com os nossos pecados? (v. 7)
Nos dias de Jeremias, até mesmo os sacerdotes haviam deixado de buscar ao Senhor, e apesar de terem o encargo de ensinarem a Sua Palavra, não O conheciam, de modo que os governantes não eram justos e prevaricavam contra o Senhor, e falsos profetas profetizaram por Baal, e falando de coisas que não são de qualquer proveito (v. 8).
Portanto, o Senhor tinha uma contenda com eles, e até mesmo com as gerações que se levantariam depois deles, porque Ele, o Senhor, não muda (v. 9).
Nenhuma nação pagã da terra havia renegado os seus falsos deuses e continuavam adorando fielmente as obras das suas próprias mãos, contudo, Israel havia abandonado o único Deus verdadeiro, que havia entrado em aliança somente com eles, e não com qualquer outra nação da terra (v. 10,11).
Como eles não poderiam ficar espantados com o horror desta realidade, por causa do endurecimento no pecado, então o Senhor apelou para os céus, onde há somente verdade, e seres santos, para que ficassem horrorizados e desolados com tal impiedade dos judeus, porque não somente haviam abandonado o Senhor, o manancial da vida eterna, como estavam tentando fazer valer a sua própria forma de adoração de Deus, baseada nas idolatrias e abominações que eles praticavam, e que haviam adotado no lugar da Palavra do Senhor (v. 12,13).
Israel fora libertado do Egito para não mais ser servo, no entanto, haviam escolhido permanecer debaixo de escravidão, tal como os crentes gálatas nos dias de Paulo (Gál 5.1).
Então os de Judá, deveriam aprender com os juízos que vieram sobre Israel (Reino do Norte), cujas terras se encontravam desoladas nos dias de Jeremias, por que haviam sido levados para o cativeiro pelos assírios desde 722 a. C., ou seja, cerca de 100 anos antes de Jeremias ter começado o seu ministério (v. 14-16).
Como Judá havia abandonado ao Senhor, tanto como havia feito Israel, então seriam também alvo do mesmo tipo de juízo que eles haviam sofrido, porque seriam castigados por causa da sua malícia, e repreendidos por causa das suas apostasias, de modo que pudessem entender quão duro e amargo é o povo de Deus lhe voltar as costas, porque Ele não deixará de castigá-lo, assim como um pai faz com o seu filho.
Eles veriam quão amargo é não ter o temor de Deus diante de si, porque quando se perde o temor do Senhor, automaticamente se deixa de andar nos Seus caminhos, porque Ele passa a ser tido por nada, por aqueles que se deixam enredar pelo pecado.
Judá, de há muito, havia quebrado o jugo da obediência devida ao Senhor, e tudo o que o ligava a Ele, decidindo voluntariamente não servi-lO mais, para poder se entregar às suas práticas idolátricas (v. 20).
Como puderam fazer uma tal coisa, uma vez que haviam sido plantados pelo próprio Senhor, de uma semente inteiramente fiel, ou seja, dos seus patriarcas, que eram homens de fé, e em vez de permanecerem na sua vocação, acabaram se tornando numa planta degenerada (v. 21).
Judá não poderia purificar a si mesma, e ainda que o tentasse, a mancha da iniquidade deles permaneceria diante de Deus (v. 22).
Somente a justiça do Senhor, quando nos é concedida por graça e misericórdia, pode nos purificar de nossas impurezas (v. 22).
Se tal era a grandeza do pecado de Judá, como podiam continuar afirmando que não estavam contaminados, e mentindo que não haviam andado após Baal?
No entanto, nada escapa aos olhos do Senhor, e ele conhecia todos os lugares escondidos do vales onde fizeram suas ofertas aos demônios, pensando que não sendo vistos pelos homens, não estavam sendo vistos pelo Deus onisciente, que tudo sabe e vê (v. 23).
Judá não vivia pelo espírito, mas pelos instintos naturais, de modo que sempre estaria pronta para o pecado, e para toda adoração de natureza carnal (v. 24). Qualquer tentação que lhes viesse não poderia ser, portanto, vencida por eles.
Judá estava correndo para os seus amantes espirituais (ídolos e falsos deuses) mas é lembrada que deveria evitar a que viesse a andar descalço e com sede, porque quando fosse levado para o cativeiro por causa dos seus pecados, já não correria mais com os pés calçados para os seus ídolos, e saciada em sua sede, porque seriam conduzidos para uma terra estranha com os pés descalços e teriam sede na longa caminhada que teriam que fazer a pé, para a terra do cativeiro (v. 25).
Eles seriam surpreendidos, como alguém que tem a sua casa arrombada inesperadamente por um ladrão. Assim ficariam os reis, os príncipes, os sacerdotes e os profetas de Judá que estavam idolatrando e chamando ao pau e à pedra de seu pai.
Quando o juízo lhes sobreviesse e se encontrando em angústia se voltariam para o Senhor lhe pedindo que os livrasse, mas teriam como resposta da parte dEle que fossem buscar tal auxílio nos deuses que vinham adorando (v. 26-28).
Ninguém poderia livrar Judá dos juízos pronunciados pelo Senhor, nem mesmo as nações com as quais tentariam entrar em aliança para serem livrados de Babilônia, como por exemplo a Assíria e o Egito.
Eles haviam desprezado as correções do Senhor, e Lhe haviam abandonado por inumeráveis dias, de modo que nada poderia lhes livrar da sentença do cativeiro, nem mesmo as reformas que o rei Josias estava empreendendo no país.
Deus conhece o coração, e sabia que eles estavam somente se sujeitando externamente às ordenanças do citado rei.
Eles estavam se arrependendo superficialmente, mas não de coração, conforme podemos ver em todo o livro do profeta Jeremias, que ultrapassou em muitos anos o período de reinado de Josias.
Judá se proclamava um povo livre, e portanto não queria se submeter aos mandamentos de Deus. Isto nos faz lembrar muito aqueles na Igreja que a pretexto de estarem debaixo da graça, são, no entanto, livres para continuarem pecando.
Até mesmo as vestes de muitos em Judá estavam manchadas pelo sangue de crianças inocentes, que haviam sido oferecidas como sacrifício à divindade moabita, chamada Moloque, e apesar disso ainda se diziam inocentes, e que não haveria nenhuma ira de qualquer juízo de Deus sobre eles.
Todavia o Senhor entraria em juízo com eles, exatamente porque estavam afirmando que não haviam pecado (v. 34, 35). Quando o homem se endurece e considera que não necessita de arrependimento, como poderá ser perdoado por Deus?
Baseado em Jeremias 2
UMA BREVE REFLEXÃO PARA ENTENDER AS CONTENDAS DE DEUS COM O HOMEM PECADOR
Não se trata de uma batalha física. Não é uma guerra ao molde humano, com canhões e mísseis.
Se fosse algo de ordem de mera conquista de territórios, ou de se submeter uma nação ao jugo da servidão, Deus poderia fazê-lo com um simples sopro de Sua boca.
Se quisesse destruir toda a humanidade de sobre a face da terra, poderia fazê-lo num único instante.
Mas nunca foi este o seu objetivo na contenda que tem com a humanidade pecaminosa.
Sua guerra é de cunho moral e de santidade.
Sua vitória está em conduzir o homem decaído no pecado, à Sua própria santidade.
As batalhas desta guerra são empreendidas para submeter o mal e estabelecer o bem, não no exterior, mas no coração de cada pessoa.
As armas são espirituais: oração, louvor, pregação da verdade.
O campo de batalha é o coração humano.
O motivo da guerra é o amor de Deus pela humanidade criada por Ele, para viver no amor, na justiça e na verdade.
“1 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Lembro-me, a favor de ti, da devoção da tua mocidade, do teu amor quando noiva, de como me seguiste no deserto, numa terra não semeada.
3 Então Israel era santo para o Senhor, primícias da sua novidade; todos os que o devoravam eram tidos por culpados; o mal vinha sobre eles, diz o Senhor.
4 Ouvi a palavra do Senhor, ó casa de Jacó, e todas as famílias da casa de Israel;
5 assim diz o Senhor: Que injustiça acharam em mim vossos pais, para se afastarem de mim, indo após a vaidade, e tornando-se levianos?
6 Eles não perguntaram: Onde está o Senhor, que nos fez subir da terra do Egito? que nos enviou através do deserto, por uma terra de ermos e de covas, por uma terra de sequidão e densas trevas, por uma terra em que ninguém transitava, nem morava?
7 E eu vos introduzi numa terra fértil, para comerdes o seu fruto e o seu bem; mas quando nela entrastes, contaminastes a minha terra, e da minha herança fizestes uma abominação.
8 Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, e os governadores prevaricaram contra mim, e os profetas profetizaram por Baal, e andaram após o que é de nenhum proveito.
9 Portanto ainda contenderei convosco, diz o Senhor; e até com os filhos de vossos filhos contenderei.
10 Pois passai às ilhas de Quitim, e vede; enviai a Quedar, e atentai bem; vede se jamais sucedeu coisa semelhante.
11 Acaso trocou alguma nação os seus deuses, que contudo não são deuses? Mas o meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito.
12 Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor.
13 Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.
14 Acaso é Israel um servo? É ele um escravo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa?
15 Os leões novos rugiram sobre ele, e levantaram a sua voz; e fizeram da terra dele uma desolação; as suas cidades se queimaram, e ninguém habita nelas.
16 Até os filhos de Mênfis e de Tapanes te quebraram o alto da cabeça.
17 Porventura não trouxeste isso sobre ti mesmo, deixando o Senhor teu Deus no tempo em que ele te guiava pelo caminho?
18 Agora, pois, que te importa a ti o caminho do Egito, para beberes as águas do Nilo? e que te importa a ti o caminho da Assíria, para beberes as águas do Eufrates?
19 A tua malícia te castigará, e as tuas apostasias te repreenderão; sabe, pois, e vê, que má e amarga coisa é o teres deixado o Senhor teu Deus, e o não haver em ti o temor de mim, diz o Senhor Deus dos exércitos.
20 Já há muito quebraste o teu jugo, e rompeste as tuas ataduras, e disseste: Não servirei: Pois em todo outeiro alto e debaixo de toda árvore frondosa te deitaste, fazendo-te prostituta.
21 Todavia eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada, de vida estranha?
22 Pelo que, ainda que te laves com salitre, e uses muito sabão, a mancha da tua iniqüidade está diante de mim, diz o Senhor Deus.
23 Como dizes logo: Não estou contaminada nem andei após Baal? Vê o teu caminho no vale, conhece o que fizeste; dromedária ligeira és, que anda torcendo os seus caminhos;
24 asna selvagem acostumada ao deserto e que no ardor do cio sorve o vento; quem lhe pode impedir o desejo? Dos que a buscarem, nenhum precisa cansar-se; pois no mês dela, achá-la-ão.
25 Evita que o teu pé ande descalço, e que a tua garganta tenha sede. Mas tu dizes: Não há esperança; porque tenho amado os estranhos, e após eles andarei.
26 Como fica confundido o ladrão quando o apanham, assim se confundem os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes, e os seus sacerdotes, e os seus profetas,
27 que dizem ao pau: Tu és meu pai; e à pedra: Tu me geraste. Porque me viraram as costas, e não o rosto; mas no tempo da sua angústia dir-me-ão: Levanta-te, e livra-nos.
28 Mas onde estão os teus deuses que fizeste para ti? Que se levantem eles, se te podem livrar no tempo da tua tribulação; porque os teus deuses, ó Judá, são tão numerosos como as tuas cidades.
29 Por que disputais comigo? Todos vós transgredistes contra mim diz o Senhor.
30 Em vão castiguei os vossos filhos; eles não aceitaram a correção; a vossa espada devorou os vossos profetas como um leão destruidor.
31 Óh! Que geração! Considerai vós a palavra do Senhor: Porventura tenho eu sido para Israel um deserto? ou uma terra de espessa escuridão? Por que pois diz o meu povo: somos livres; jamais tornaremos a ti?
32 Porventura esquece-se a virgem dos seus enfeites, ou a esposa do seu cinto? todavia o meu povo se esqueceu de mim por inumeráveis dias.
33 Como ornamentas o teu caminho, para buscares o amor! de sorte que até às malignas ensinaste os teus caminhos.
34 Até nas orlas dos teus vestidos se achou o sangue dos pobres inocentes; e não foi no lugar do arrombamento que os achaste; mas apesar de todas estas coisas,
35 ainda dizes: Eu sou inocente; certamente a sua ira se desviou de mim. Eis que entrarei em juízo contigo, porquanto dizes: Não pequei.
36 Por que te desvias tanto, mudando o teu caminho? Também pelo Egito serás envergonhada, como já foste envergonhada pela Assíria.
37 Também daquele sairás com as mãos sobre a tua cabeça; porque o Senhor rejeitou aqueles em quem confiaste, e não prosperarás com eles.”.