Não Ajuntou na Verdade se Espalhou na Mentira
O nono capítulo de Jeremias descreve a que nível havia chegado a iniquidade dos judeus nos dias de Jeremias.
Deus havia formado Israel para ser um povo pelo qual pudesse ser conhecido por todas as nações da terra, pelo que vissem neles.
Esta é a mesma missão da Igreja no mundo: tornar Deus conhecido pelo testemunho de vida dos cristãos.
Como haviam perdido totalmente a finalidade para a qual haviam sido formados, então o Senhor passaria a peneira no meio deles e pouparia somente aqueles poucos que eram grãos e não palha. Até estes seriam provados pelo fogo, para serem purificados, para que pudessem vir a dar um real testemunho de santidade.
Quando Deus é abandonado pelo Seu povo, tal como se deu com os judeus, o resultado disto será o que lemos nos primeiros versículos de Jeremias 9, onde o Senhor ordena que ninguém confiasse no próprio irmão, porque o que prevalecia era o perjurar, o mentir, o caluniar, a falsidade.
Armavam armadilhas contra o seu próximo, e com a mesma língua que lisonjeavam produziam feridas terríveis na reputação destas mesmas pessoas que haviam elogiado (v. 8).
Para quem não anda no Espírito, isto pode parecer exagerado, mas é a mais pura realidade, para aqueles que têm discernimento espiritual para perceberem tal estado de corrupção, quando até mesmo cristãos deixam de andar no temor de Deus.
Tal era o estado repulsivo da nação de Judá por causa de tais pecados, que o profeta gostaria que a sua cabeça se tornasse em águas, para que seus olhos derramassem lágrimas continuamente como uma fonte, por causa do pecado de seus irmãos israelitas, e por causa das muitas mortes que o Senhor produziria no meio deles, quando consumasse os Seus juízos através dos babilônios (Jer 9.1).
Todavia, a par de tais sentimentos da mais profunda tristeza, o profeta deseja se afastar de Israel, não por causa dos juízos que lhes sobreviriam, mas em razão do modo como eles viviam, apesar de serem o povo do Senhor. Eram um bando de adúlteros e de aleivosos (Jer 9.2).
Eles não tinham um conhecimento pessoal do Senhor, porque viviam para fortalecer as suas línguas, não para a verdade, mas para a mentira (v. 3).
Por amarem o engano se recusavam a conhecer ao Senhor.
Quem ama o erro não pode desejar conhecer ao Senhor porque Ele é a verdade.
Então o Senhor os fundiria como se faz ao ouro, para remover do Seu povo a grande quantidade de escória que eram muitos deles, e reservaria para si somente aqueles que fossem achados fiéis (v. 7).
Deus disse que não poderia deixar sem castigo um tal estado de coisas, e se vingaria da nação de Israel, porque havia sido traído por eles (v. 9).
Quem fosse sábio entre eles, veria a ruína de Judá como já executada, porque dali a poucos anos lhes sobreviria tudo o que o Senhor havia pronunciado contra eles pelos seus profetas, e não apenas através de Jeremias.
Por que Deus levanta mestres na Igreja? São meros professores de teologia? Não. Eles têm o encargo de torná-lO conhecido, bem como a Sua vontade, conforme revelada na Sua Palavra.
Tal era o ministério dos sacerdotes e dos levitas, mas como se corromperam na sua função, e amaram a avareza, as suas cobiças carnais, Deus levantou os profetas para falar diretamente ao povo através deles, quanto aos Seus juízos.
Se o povo andasse nos caminhos do Senhor, não haveria necessidade de profetas para repreendê-los e exortá-los.
Os judeus em vez de servirem ao Senhor, voltaram-se para os baalins, porque não conheciam os juízos terríveis da Sua Palavra contra aqueles que praticam a idolatria (v. 13,14), ou então, os conhecendo, consideravam que eram ameaças mortas de uma letra morta.
A propósito, muitos pensam que não haverá juízo final, e gracejam acerca da volta do Senhor Jesus como Juiz (II Pedro 3.3-10).
Todavia, o Senhor revelaria aos judeus que a Sua Palavra é viva, trazendo sobre eles todas as ameaças previstas na Lei, especialmente a do cativeiro, e a morte pela espada das nações inimigas.
Então conheceriam o temor que lhe é devido e à Sua Palavra, pelo preço altíssimo que teriam que pagar como nação, de modo que tal temor fosse achado nas gerações seguintes, quando retornassem do cativeiro em Babilônia, passados os setenta anos determinados, que pela vontade de Deus, deveriam lá permanecer.
Tantos seriam os mortos da parte do Senhor, até mesmo jovens e velhos, que ficariam insepultos, porque não haveria nem tempo, nem condições para sepultá-los, e isto seria para eles um sinal que até mesmo na morte foram desonrados por Deus.
E as nações saberiam que Deus é santo, e nada tinha a ver com as iniquidades praticadas pelo Seu povo, tanto que Ele próprio os vendera por nada, e os entregara à destruição.
Por isso ninguém deveria se gloriar em Judá na sua própria sabedoria, ou na sua força, ou nas suas riquezas, porque nada disto lhes poderia livrar dos juízos de Deus, e nada disto pode levar uma pessoa a agradar ao Senhor (v. 23).
O único motivo que temos para nos gloriar é o próprio Deus, e o conhecimento que temos dEle e da Sua vontade, especialmente quanto a sabermos que Ele faz benevolência, juízo e justiça na terra, coisas estas que são todo o Seu agrado, e que, pelo conhecimento e prática das mesmas, somos livrados dos seus juízos .
Então quem quiser agradar a Deus deve imitá-lo na prática da misericórdia, do juízo e da justiça.
É por tal critério de misericórdia, justiça e juízo, que Deus julga toda a carne, e não por se ser circuncidado ou não no prepúcio.
Judá pensava que era diferente das demais nações por causa da circuncisão.
Mas o Senhor está dizendo que diante dEle não há nenhum justo, a não ser aqueles que são circuncidados de coração, ou seja aqueles que são justificados pela graça, mediante a fé, e que andam na prática da justiça, que é segundo a santificação (v. 25, 26).
“1 Quem dera a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos numa fonte de lágrimas, para que eu chorasse de dia e de noite os mortos da filha do meu povo!
2 Quem dera que eu tivesse no deserto uma estalagem de viandantes, para poder deixar o meu povo, e me apartar dele! porque todos eles são adúlteros, um bando de aleivosos.
3 E encurvam a língua, como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade; porque avançam de malícia em malícia, e a mim me não conhecem, diz o Senhor.
4 Guardai-vos cada um do seu próximo, e de irmão nenhum vos fieis; porque todo irmão não faz mais do que enganar, e todo próximo anda caluniando.
5 E engana cada um a seu próximo, e nunca fala a verdade; ensinaram a sua língua a falar a mentira; andam se cansando em praticar a iniquidade.
6 A tua habitação está no meio do engano; pelo engano recusam-se a conhecer-me, diz o Senhor.
7 Portanto assim diz o Senhor dos exércitos: Eis que eu os fundirei e os provarei; pois, de que outra maneira poderia proceder com a filha do meu povo?
8 uma flecha mortífera é a língua deles; fala engano; com a sua boca fala cada um de paz com o seu próximo, mas no coração arma-lhe ciladas.
9 Não hei de castigá-los por estas coisas? diz o Senhor; ou não me vingarei de uma nação tal como esta?
10 Pelos montes levantai choro e pranto, e pelas pastagens do deserto lamentação; porque já estão queimadas, de modo que ninguém passa por elas; nem se ouve mugido de gado; desde as aves dos céus até os animais, fugiram e se foram.
11 E farei de Jerusalém montões de pedras, morada de chacais, e das cidades de Judá farei uma desolação, de sorte que fiquem sem habitantes.
12 Quem é o homem sábio, que entenda isto? e a quem falou a boca do Senhor, para que o possa anunciar? Por que razão pereceu a terra, e se queimou como um deserto, de sorte que ninguém passa por ela?
13 E diz o Senhor: porque deixaram a minha lei, que lhes pus diante, e não deram ouvidos à minha voz, nem andaram nela,
14 antes andaram obstinadamente segundo o seu próprio coração, e após baalins, como lhes ensinaram os seus pais.
15 Portanto assim diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel: Eis que darei de comer losna a este povo, e lhe darei a beber água de fel.
16 Também os espalharei por entre nações que nem eles nem seus pais conheceram; e mandarei a espada após eles, até que venha a consumi-los.
17 Assim diz o Senhor dos exércitos: Considerai, e chamai as carpideiras, para que venham; e mandai procurar mulheres hábeis, para que venham também;
18 e se apressem, e levantem o seu lamento sobre nós, para que se desfaçam em lágrimas os nossos olhos, e as nossas pálpebras destilem águas.
19 Porque uma voz de pranto se ouviu de Sião: Como estamos arruinados! Estamos mui envergonhados, por termos deixado a terra, e por terem eles transtornado as nossas moradas.
20 Contudo ouvi, vós, mulheres, a palavra do Senhor, e recebam os vossos ouvidos a palavra da sua boca; e ensinai a vossas filhas o pranto, e cada uma à sua vizinha a lamentação.
21 Pois a morte subiu pelas nossas janelas, e entrou em nossos palácios, para exterminar das ruas as crianças, e das praças os mancebos.
22 Fala: Assim diz o Senhor: Até os cadáveres dos homens cairão como esterco sobre a face do campo, e como gavela atrás do segador, e não há quem a recolha.
23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas;
24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.
25 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que castigarei a todo circuncidado juntamente com os incircuncisos:
26 ao Egito, a Judá e a Edom, aos filhos de Amom e a Moabe, e a todos os que cortam os cantos da sua cabeleira e habitam no deserto; pois todas as nações são incircuncisas, e toda a casa de Israel é incircuncisa de coração.”.