SALMO 119 – versos 1 a 60
Estamos apresentando este Salmo com a numeração dos seus versículos, porque cada oito versículos foram iniciados, respectivamente, com uma das letras do alfabeto hebraico. Por exemplo, as primeiras palavras dos versos 1 a 8 são iniciados com alef (a), que é a primeira consoante das 22 do alfabeto hebraico; e dos versos 9 a 16, cada versículo é iniciado com bet, que é a segunda consoante, e assim sucessivamente. Daí este salmo conter 176 versículos (22 x 8= 176), assim distribuídos:
1 a 8 – alef a
9 a 16 – bet ou vêt b
17 a 24 – gimel g
25 a 32 – dalet d
33 a 40 – he h
41 a 48 – vav w
49 a 56 – zain z
57 a 64 – hêt x
65 a 72 – têt j
73 a 80 – yod y
81 a 88 – káf k
89 a 96 – lâmed l
97 a 104 – mem m
105 a 112 – num n
113 a 120 – samech s
121 a 128 – ain [ 129 a 136 – pê ou fê p
137 a 144 – tzade c
145 a 152 – kof q
153 a 160 – resh r
161 a 168 – shin v
169 a 176 – tav t
Tendo em vista a grande extensão deste salmo, estaremos comentando o mesmo, por versículo ou grupos de versículos:
“1 Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR.
2 Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração;
3 não praticam iniquidade e andam nos seus caminhos.”
As pessoas que se encaixam nas bem-aventuranças citadas por Jesus no início do Sermão do Monte, no quinto capítulo de Mateus, são aquelas que são irrepreensíveis no seu caminho, porque este consiste na lei do Senhor. Elas andam por ele guardando as prescrições do Senhor e Lhe buscando de todo o coração, e parte disto consiste em não praticar a iniquidade.
“4 Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca.
5 Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos.
6 Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos.”
Os mandamentos do Senhor não são para serem meramente elogiados ou apreciados, mas cumpridos de fato. Eles devem receber da nossa parte a devida seriedade como as ordens expedidas por um Grande Rei, que prestará contas conosco quanto à nossa obediência às Suas ordenanças. Não se pode guardar tais mandamentos sem que se ande de maneira ordenada e firme na presença do Senhor, e somente assim fazendo não teremos do que nos envergonhar diante dEle.
“7 Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos.
8 Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais.”
Não é possível render graças ao Senhor com integridade coração, caso não se conheça os seus retos juízos e mandamentos para que sejam cumpridos. Nisto consiste um viver que não desaponta a Deus e que lhe é inteiramente agradável. Não basta termos sido justificados pela graça, mediante a fé para tal viver vitorioso. É necessário buscar continuamente a santificação pelo cumprimento dos mandamentos de Deus, no poder do Espírito, porque é a Sua Palavra aplicada em nossas vidas, pelo Espírito Santo, o que nos santifica. A palavra “juízos” do verso 7, vem do hebraico “mishpat” e significa sentença, julgamento, justiça, juízo. Nós encontramos esta mesma palavra neste salmo, também nos versos 23, 20, 30, 39, 43, 52, 62, 75, 84, 91, 102, 106, 108, 120, 121, 132, 137, 149, 156, 160, 164, 175.
“9 De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.”
Não há outro modo de alguém guardar o seu caminho em pureza, mesmo no caso de jovens, a não ser por se cumprir a Palavra de Deus. É por ela que podemos distinguir os que é e o que não é a verdade, e também as virtudes espirituais.
“10 De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.”
Os mandamentos de Deus só podem ser cumpridos quando nós O buscamos de todo o nosso coração.
“11 Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.”
O modo de se manter o coração purificado do pecado, é por tê-lo cheio da Palavra de Deus.
“12 Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos.”
É necessário ter a iluminação do Espírito Santo para que possamos aprender de fato os mandamentos de Deus.
“13 Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca.”
Não somente devemos temer e nos sujeitar aos juízos do Senhor, como também proclamá-los a outros, para que também eles temam a Deus.
“14 Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas.
15 Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito.
16 Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra.”
Quando se tem a riqueza do testemunho do Senhor habitando em nós, as riquezas deste mundo se nos tornam desprezíveis em face da riqueza da Sua graça. De modo que meditar na Palavra do Senhor e na Sua vontade passa ser todo o nosso prazer.
“17 Sê generoso para com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra.”
O desejo do salmista era o de viver para cumprir a Palavra de Deus. E este é o mesmo desejo de todos os que amam verdadeiramente ao Senhor.
“18 Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.”
O salmista sabia que não é possível ter prazer na lei do Senhor, e conhecer quão maravilhosa ela é, sem que os nossos olhos espirituais sejam abertos pelo Espírito Santo. Só podemos conhecer o valor da nossa redenção, quando estivermos redimidos.
“19 Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos.”
O salmista sabia que estamos apenas em peregrinação neste mundo como forasteiros, de modo que o que há de melhor e mais importante para se fazer aqui é aprender de Deus os Seus mandamentos e vontade.
“20 Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos.”
Todo aquele que desejar incessantemente conhecer e se submeter aos juízos de Deus, para que possa andar no caminho bom e direito, consumirá toda a sua alma nisto, porque se esforçará para ser achado sempre no caminho estreito da salvação.
“21 Increpaste os soberbos, os malditos, que se desviam dos teus mandamentos.”
Os que se desviam de cumprir os mandamentos do Senhor, por se manterem numa atitude de rebeldia contra Ele, são tidos por soberbos e malditos, porque permanecem debaixo da maldição da lei, e isto faz com que permaneçam debaixo da repreensão do Senhor, sem poderem contar com o Seu favor e os benefícios da salvação que há em Cristo Jesus, que são para aqueles que têm fé NEle.
“22 Tira de sobre mim o opróbrio e o desprezo, pois tenho guardado os teus testemunhos.”
Somente podem contar em serem ouvidos em seu clamor a Deus para tirar de sobre si o opróbrio e o desprezo, aqueles que têm se esforçado com sinceridade para guardarem os Seus testemunhos. Enfim, Deus não livrará a ninguém que não esteja de fato se voltando para Ele.
“23 Assentaram-se príncipes e falaram contra mim, mas o teu servo considerou nos teus decretos.”
Aqueles que têm guardado os mandamentos do Senhor, não precisam temer as perseguições injustas dos grandes da terra, porque o Senhor será a fortaleza deles.
“24 Com efeito, os teus testemunhos são o meu prazer, são os meus conselheiros.”
O homem sábio se aconselha com a Palavra de Deus e é por ela que dirige os seus passos, de maneira que ela é todo o seu prazer.
“25 A minha alma está apegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra.”
Somente Deus pode nos vivificar segundo os critérios da Sua Palavra, quando nossa alma se encontra abatida.
“26 Eu te expus os meus caminhos, e tu me valeste; ensina-me os teus decretos.”
Aquele que andar em sinceridade diante de Deus, não lhe escondendo os seus caminhos, achará graça da parte do Senhor, que lhe fará conhecer a Sua vontade.
“27 Faze-me atinar com o caminho dos teus preceitos, e meditarei nas tuas maravilhas.”
Somente o Senhor pode conduzir o nosso coração a ter prazer nas coisas espirituais, celestiais e divinas, porque a nossa natureza carnal se opõe e resiste à Sua vontade.
“28 A minha alma, de tristeza, verte lágrimas; fortalece-me segundo a tua palavra.
29 Afasta de mim o caminho da falsidade e favorece-me com a tua lei.”
A alma consumida pela tristeza só pode achar verdadeira fortaleza permanecendo na verdade e na fé, e sendo fortalecida pela Palavra do Senhor.
“30 Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos teus juízos.”
É necessário tomar posição, tal como o salmista, para uma vida consagrada e santificada. E isto consiste em escolher o caminho da fidelidade e dos juízos de Deus.
“31 Aos teus testemunhos me apego; não permitas, SENHOR, seja eu envergonhado.”
Aquele que se apegar a uma vida de verdadeiro testemunho segundo a Palavra e a vontade de Deus, jamais será envergonhado, porque terá a aprovação do Senhor.
“32 Percorrerei o caminho dos teus mandamentos, quando me alegrares o coração.”
Enquanto o coração não é fortalecido com a graça, ele não tem o poder necessário para dar testemunho da Palavra de Deus, que é fogo e poder.
“33 Ensina-me, SENHOR, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até ao fim.
34 Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei.”
É necessário perseverança e diligência para cumprir os mandamentos de Deus, mas isto demanda que se tenha um verdadeiro entendimento da Sua vontade, e isto somente o próprio Senhor pode nos conceder por iluminação do Espírito Santo.
“35 Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo.
36 Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça.”
O salmista tinha experiência de que não se pode viver a vida que é do céu com os recursos da terra. É necessário que o próprio Deus nos guie pela vereda da justiça. Como Paulo temos prazer com a mente na lei de Deus. Mas a lei do pecado que opera nos nossos membros resiste a tal vontade, e por isso é necessário a mortificação contínua do pecado, para que se possa viver e andar no Espírito. Porque é Ele quem inclina o nosso coração aos testemunhos de Deus, e que nos livra da cobiça, que é a mãe de todos os pecados, ao lado da incredulidade.
“37 Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.”
É o poder de Deus que guarda o nosso coração puro e que nos impede de cair em tentações. Somente o Seu poder pode nos livrar do poder do mal que há no pecado, no mundo e em Satanás. Por isso se nos ensina na oração do Pai nosso que devemos pedir-Lhe para que não nos deixe cair em tentação e que nos livre do mal, porque é dEle o poder para tal, e não propriamente nosso.
“38 Confirma ao teu servo a tua promessa feita aos que te temem.”
Somente os que temem ao Senhor podem reivindicar perante Ele o cumprimento de Suas promessas.
“39 Afasta de mim o opróbrio, que temo, porque os teus juízos são bons.”
O salmista considera que os juízos do Senhor são bons e justos, mas Lhe pede que afaste dele o opróbrio que temia, baseando-se na Sua misericórdia. Não podemos achar misericórdia da parte do Senhor considerando que os Seus juízos que visam à nossa correção e arrependimento, não sejam justos e perfeitos.
“40 Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça.
41 Venham também sobre mim as tuas misericórdias, SENHOR, e a tua salvação, segundo a tua promessa.”
Como o salmista amava os preceitos do Senhor e se empenhava sinceramente em guardá-los, ele Lhe pede então, com confiança, que o vivificasse não segundo a sua justiça humana falha, mas segundo a justiça divina que é perfeita. De maneira que desfrutasse das misericórdias e da salvação do Senhor, segundo a promessa que tem feito a todos os que O buscarem com um coração sincero.
“42 E saberei responder aos que me insultam, pois confio na tua palavra.”
Sendo objeto da misericórdia e da salvação do Senhor, porque confiava na Sua Palavra, o salmista teria sabedoria para responder aos que lhe injuriavam.
“43 Não tires jamais de minha boca a palavra da verdade, pois tenho esperado nos teus juízos.
44 Assim, observarei de contínuo a tua lei, para todo o sempre.”
O salmista orava para que o Senhor nunca tirasse da sua boca a palavra da verdade, porque esperava nos Seus juízos, e sabia que somente assim poderia continuar observando para sempre a lei do Senhor. Muitos se desviam dos caminhos de Deus porque não têm o mesmo posicionamento do salmista quanto a nada acrescentar ou retirar da Palavra de Deus, e por não se estribar no próprio entendimento e capacidade para permanecer na verdade. Deus mesmo preserva o Seu testemunho fiel em nós.
“45 E andarei com largueza, pois me empenho pelos teus preceitos.
46 Também falarei dos teus testemunhos na presença dos reis e não me envergonharei.
47 Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo.
48 Para os teus mandamentos, que amo, levantarei as mãos e meditarei nos teus decretos.”
O salmista não se envergonhava de dar testemunho do Senhor e da Sua palavra, mesmo na presença de reis, porque sabia quão excelentes são os mandamentos de Deus, e devem ser proclamados a todos, não por timidez ou vergonha, mas com determinação e grande honra.
“49 Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar.”
Deus não se esquece de nenhuma de Suas promessas, mas é nosso dever lembrarmos delas e pedir ao Senhor pelo Seu cumprimento enquanto nos esforçamos com diligência para permanecermos fiéis, e firmes na fé em tudo quanto tenha nos prometido.
“50 O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica.”
Esta é a experiência de todo cristão fiel que sofre. Quando tem um espinho na carne. Quando se encontra angustiado em sua alma. Não perde a fé e não se desespera, porque sabe que será vivificado pela Palavra do Senhor, mediante o Seu poder operante em nós, porque não se esquece de consolar a nenhum de Seus filhos, que buscam fazer a Sua vontade.
“51 Os soberbos zombam continuamente de mim; todavia, não me afasto da tua lei.”
Somente os justos podem exultar no sofrimento das perseguições e das injúrias que sofrem da parte dos ímpios, e dos ataques que sofrem diretamente dos principados e potestades das trevas, e não permitem que sejam afastados da lei do Senhor por causa destas tribulações. Ao contrário a fé deles é aumentada e aprendem paciência, experiência e esperança cada vez maiores no Deus em que têm colocado toda a sua confiança.
“52 Lembro-me dos teus juízos de outrora e me conforto, ó SENHOR.”
Devemos trazer à recordação os grandes juízos do passado realizados pelo Senhor, como por exemplo como agiu contra a impiedade dos homens nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, no Egito nos dias de Moisés, e contra o Seu próprio povo quando andou contrariamente à Sua vontade no deserto. Isto nos ajuda a achar conforto para nossas almas atribuladas, porque sabemos que sofremos não por sermos malfeitores, mas exatamente por causa do nosso amor ao Senhor e ao Seu evangelho.
“53 De mim se apoderou a indignação, por causa dos pecadores que abandonaram a tua lei.”
Aqueles que amam a Deus odeiam o pecado tanto em si mesmos, quanto nos outros. Jamais justificarão os que andam no pecado, ainda que sejam eles próprios.
“54 Os teus decretos são motivo dos meus cânticos, na casa da minha peregrinação.”
A casa da nossa peregrinação é este mundo de trevas, mas por causa da Palavra do Senhor podemos achar motivo de cânticos de alegria num mundo corrompido como o nosso, por causa do pecado. Cantamos porque sabemos que estamos em viagem para a nossa verdadeira pátria celestial, e que não somos do mundo, apesar de estarmos nele.
“55 Lembro-me, SENHOR, do teu nome, durante a noite, e observo a tua lei.
56 Tem-se dado assim comigo, porque guardo os teus preceitos.”
Aquele que guardar sinceramente os preceitos de Deus, nunca se esquecerá do Senhor, e terá o seu pensamento e coração continuamente voltados para Ele, mesmo durante a noite.
“57 O SENHOR é a minha porção; eu disse que guardaria as tuas palavras.”
Quando nos posicionamos para guardar a Palavra do Senhor, Ele passa a ser a nossa porção, ou seja, a nossa única herança e riqueza, tanto nesta vida, quanto na do por vir.
“58 Imploro de todo o coração a tua graça; compadece-te de mim, segundo a tua palavra.”
O salmista sempre recorreu à misericórdia do Senhor em clamores e orações, porque Ele sempre lhe respondeu e o livrou de todos os seus temores e tribulações, porque não confiava em si mesmo, na sua própria justiça, senão somente na graça e na Palavra do Senhor.
“59 Considero os meus caminhos e volto os meus passos para os teus testemunhos.
60 Apresso-me, não me detenho em guardar os teus mandamentos.”
O salmista sempre pedia ao Senhor que sondasse o seu coração. Ele se examinava continuamente segundo os testemunhos do Senhor, para andar consoante a Sua vontade. E não era lento em fazer isto. Ele se apressava e nada podia detê-lo, porque estava determinado a guardar os mandamentos do Senhor.