Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Paciência Vitoriosa no Sofrimento
1ª Pedro 2

 
Tendo feito a exposição relativa à condição dos cristãos, por estarem em Jesus Cristo, no primeiro capítulo, falando sobre o dever de se santificarem, permanecendo na Palavra que lhes foi evangelizada, Pedro prossegue detalhando neste segundo capitulo, qual é o dever deles para com Deus, em razão da filiação que alcançaram, por meio da sua união com Jesus.
Eles devem deixar definitivamente toda forma de pecado, que o apóstolo resumiu citando as obras da carne que são mais comuns de serem encontradas: malícia, engano, fingimento, inveja e maledicência.
Quando a Bíblia diz que se deve deixar estas coisas, toda forma de impureza, de desejos carnais, orgulho espiritual e todas as demais manifestações do pecado, ela está apresentando uma ordem e um dever, e não algo para ser colocado debaixo da nossa apreciação e opção.
Se alguém pretende ter uma vida de verdadeira e real comunhão com Deus, terá obrigatoriamente que dar este primeiro e grande passo de despojamento do velho homem.
Esta é  a primeira parte do trabalho, mas há ainda uma segunda não menos importante, que diz respeito ao revestimento de Cristo, ou da nova criatura.
Isto se faz, conforme dizer do apóstolo, se desejando o genuíno leite racional, porque é disto que depende o desenvolvimento da nossa salvação, isto é, o nosso amadurecimento espiritual, pelo crescimento na graça, e no conhecimento de Jesus Cristo.
É principalmente pelo conhecimento espiritual progressivo de Jesus Cristo, em que consiste o nosso crescimento e amadurecimento na fé, no amor e na esperança.
Essa palavra “racional” usada por Pedro é muito importante, porque define o modo da vida cristã como sendo algo que pode ser entendido e vivido de modo racional (compreendido pela mente racional), e não sendo meramente um conjunto de experiências místicas sobrenaturais de poder espiritual, muito comuns no exercício dos dons extraordinários do Espírito Santo, e em todas as demais manifestações do Seu poder em milagres, sinais, maravilhas e prodígios.
Há então este amadurecimento espiritual que é melhor definido pelo revestimento das virtudes cristãs, ou fruto permanente (e não dom extraordinário e passageiro) do Espírito Santo, como por exemplo: amor, bondade, longanimidade, misericórdia, paz, alegria, domínio próprio, fé, paciência, benignidade, e todas as demais virtudes que fazem parte da natureza de Deus. 
É na obtenção, crescimento e amadurecimento das virtudes citadas,  que consiste a imagem e semelhança com Cristo, pelo conhecimento íntimo e real da Sua pessoa divina, vivendo em nós.
É por isso que a palavra "racional"´(lógikos, no original grego), usada por Pedro no verso 2, é a mesma que Paulo usou em Rom 12.1, quando disse que o nosso culto racional consiste na renovação da nossa mente, por apresentarmos os nossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, a saber, a consagração da nossa vida a Ele, com a  busca de se fazer a Sua vontade para a Sua exclusiva glória e honra, no cumprimento dos deveres que nos são ordenados na Sua Palavra.
Este leite genuíno racional é portanto este revestimento espiritual de Cristo em nosso viver, por uma inteira consagração a Ele, e é por isso que Pedro disse logo adiante que o crescimento para a salvação, que é mediante a nossa alimentação com este leite espiritual, é confirmado pela nossa experiência de provar a bondade do Senhor e da nossa comunhão com Ele (v. 3,4), em nossa própria vida.
Assim, não é apenas conhecer mentalmente a Palavra, mas praticar e experimentar a Palavra, por um viver e andar no Espírito.
O homem natural não pode aceitar este leite racional porque não tendo a habitação do Espírito Santo, não pode receber a implantação do Seu fruto espiritual, porque este exige uma nova natureza, porque como disse nosso Senhor, no reino de Deus não se coloca vinho novo em odre velho (velha natureza).
Não há como se edificar a vida espiritual que procede de Deus, estando desligado de Cristo, porque é somente pela fé nEle que se recebe a habitação do Espírito Santo, porque Ele, e somente Ele é a pedra de esquina eleita e preciosa para Deus (v.4).
É preciso se purificar das obras da carne para que se tenha o poder de Deus.
Não é possível ter o revestimento da vida de Cristo operando eficazmente em nós, enquanto damos acolhida, a qualquer forma de pecado.
Se nos dispusermos a abandonar o pecado, o Senhor nos ajudará e nos revestirá por causa do nosso desejo sincero de fazer a Sua vontade, nos consagrando ao Seu serviço.
Mas, sem isto, apesar de sermos pedras vivas do edifício espiritual de Deus, não poderemos ocupar a nossa posição nesta construção porque ela é santa, e por isso o apóstolo nos exorta insistentemente quanto à nossa necessidade de santificação, para que possamos ser achados na posição em que devemos nos encontrar diante de Deus (v. 5).
Jesus foi colocado por Deus como a pedra angular deste edifício espiritual que está construindo, o qual é a igreja invisível (convertidos e remidos), ao longo da história.
Jesus é uma pedra eleita e preciosa; e apesar de ser rocha de escândalo para os que tropeçam na Palavra, por serem desobedientes, e terem sido conhecidos também nesta condição por Deus em Sua presciência (v. 8b), no entanto esta pedra é uma preciosidade para os que crêem porque é nela que são edificados espiritualmente (v. 7a).
Por isso se diz dos cristãos serem geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo adquirido por Deus para anunciar as virtudes de Cristo, que os transportou das trevas para a sua maravilhosa luz (v. 9), e que fez com que se tornassem família, povo de Deus, quando, antes da sua conversão estavam debaixo da ira de Deus tanto quanto os demais pecadores (v. 10).
Mas os cristãos são agora de Deus porque alcançaram misericórdia para serem salvos dos seus pecados e da condenação eterna.
Assim, se há um edifício a ser construído em santidade. Se há uma pedra angular onde este edifício de pedras vivas está sendo edificado e que é eleita e preciosa; então é esperado consequentemente dos cristãos que eles vivam de modo digno da sua vocação, conforme fora planejada por Deus.
Isto inclui que devem se considerar como peregrinos e forasteiros neste mundo a caminho da sua pátria celestial.
Eles devem saber que estão no mundo mas que não são do mundo, e portanto, não devem se conformar às suas práticas; abstendo-se de todos os desejos da carne que guerreiam contra a alma, procurando trazê-la em sujeição, porque estes desejos a incitam a isto, para praticar o que Deus abomina ou então para se ocupar apenas com aquilo que é terreno (v. 11).
Especialmente em relação àqueles que não pertencem à Igreja e que não conhecem a Deus é necessário ter um procedimento exemplar, de maneira que venham a glorificar a Deus no dia em que forem visitados por Ele, por causa do testemunho das boas obras dos cristãos (v. 12).
Eles glorificarão a Deus porque serão convencidos que as obras que fizeram não foram propriamente pelo seu poder, mas pelo poder da graça do Senhor.
Para o mesmo propósito de se calar os argumentos dos maldizentes que falam contra o evangelho, e para que se faça a vontade de Deus, o cristão deve ser submisso às autoridades (v. 13 a 18).
E ainda que o cristão venha a padecer injustamente, mesmo se mostrando submisso e obediente àqueles que estão constituídos sobre ele, em posição de autoridade, ele deve se gloriar em Deus nestas provações, sabendo que Ele se agrada em ver que apesar de estar sofrendo injustamente, o faz com paciência,por amor a Cristo, e não abandona a prática do bem, seguindo o exemplo que lhe foi deixado pelo Seu Senhor (v. 18 a 25).
O apóstolo diz que foi para isto mesmo que os cristãos foram chamados, a saber, para suportarem com paciência, alegria e gratidão em seus corações, todas as aflições e injustiças que possam sofrer neste mundo, porque isto será uma prova patente da sua confiança total em Deus, para ser o Juiz de todas as suas causas; sabendo que a sua fé estará sendo aperfeiçoada por meio destas aflições.
E não somente isto, porque foi chamado a participar não somente da glória do Senhor Jesus, mas também dos seus sofrimentos, conformando-se com Ele, na Sua morte.
Quando todas estas coisas citadas pelo apóstolo neste capitulo, especialmente as relativas à condição da Igreja, a qual é um edifício espiritual de pedras vivas, são esquecidas, e se procura atuar como igreja  apenas edificando instituições seculares, ou com a forma das organizações que há no mundo, e se deixa estas realidades espirituais de lado, não deveríamos nos enganar chamando de Igreja os nossos edifícios de pedra material com pessoas que se reúnem não com o fim de se edificarem mutuamente na fé.
A Igreja é uma instituição espiritual divina que não pertence a este mundo, e assim, não se pode medir a sua constituição e glória pelos mesmos critérios terrenos, pelos quais são avaliadas as instituições e organizações terrenas.
Isto talvez explique o motivo pelo qual Jesus não manifestou e nem sinalizou qualquer tipo de preocupação relativa à construção de edifícios e elaboração de estatutos para regularem o funcionamento desta maravilhosa agência espiritual do Seu reino, que tem funcionado há cerca de dois mil anos na terra.
Os judeus tiveram o tabernáculo e depois o templo e normas com prescrições terrenas para regular o culto que eles deviam a Deus, mas Jesus mesmo é o templo da Nova Aliança, o templo vivo, no qual é a pedra de esquina, e os cristãos, as pedras vivas que são edificadas sobre o fundamento deste templo que é Cristo.
Nenhuma congregação de cristãos deveria portanto se afligir por não possuir um belo templo de pedra ou de qualquer outro material terreno, para nele se reunir. Vale lembrar que os cristãos na Igreja Primitiva se reuniam em suas próprias residências para cultuarem ao Senhor, e isto durou cerca de três séculos.
Nem mesmo devemos nos iludir com o fato de que estamos vivendo do modo correto, segundo a vontade de Deus, por usarmos um rótulo certo, de bíblico, reformado, evangélico etc.
É preciso verificar mais que o rótulo, se o conteúdo corresponde ao rótulo, uma vez que é possível estar vivendo fora da vontade de Deus, embora se esteja debaixo de títulos que correspondam ao que é verdadeiro.
Mas não fomos chamados a viver em razão dos rótulos e títulos, sob os quais estejamos, mas do senhorio do próprio Cristo, porque é nEle que se cumpre o propósito da nossa eleição, porque Ele veio buscar e salvar as Suas ovelhas, que se haviam perdido por causa do pecado, e é então somente por meio dEle que podemos nos converter, isto é, voltarmos para o Pastor e Bispo das nossas almas, porque foi nosso Senhor Jesus Cristo  quem, juntamente com Deus Pai e o Espírito Santo, planejou, criou, formou e trouxe à existência os nossos espíritos, almas e corpos.  
 
 
"1 Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a maledicência,
2 desejai como meninos recém-nascidos, o genuíno leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação,
3 se é que já provastes que o Senhor é bom;
4 e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa,
5 vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo.
6 Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.
7 E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descristãos, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina,
8 e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
9 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
10 vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.
11 Amados, exorto-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da carne, as quais combatem contra a alma;
12 tendo o vosso procedimento correto entre os gentios, para que naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, observando as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.
13 Sujeitai-vos a toda autoridade humana por amor do Senhor, quer ao rei, como soberano,
14 quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.
15 Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, façais emudecer a ignorância dos homens insensatos,
16 como livres, e não tendo a liberdade como capa da malícia, mas como servos de Deus.
17 Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei.
18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus.
19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.
20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.
21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.
22 Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano;
23 sendo injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente;
24 levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.
25 Porque éreis desgarrados, como ovelhas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas." (I Pedro 2.1-25)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/12/2012
Alterado em 05/12/2012
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