Ira Equilibrada com Longanimidade
No quarto capítulo de Deuteronômio encontramos uma séria exortação à obediência, com uma grande variedade de argumentos.
Depois de ter falado as coisas dos capítulos precedentes e contemplando aquelas que ainda viria a falar, Moisés, pelo Espírito Santo, começa este discurso com as seguintes palavras:
“Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os preceitos que eu vos ensino, para os observardes” (v. 1a),
E, tendo definido que o propósito dos estatutos e preceitos de Deus era para que fossem cumpridos, ele define a finalidade desta obediência:
“a fim de que vivais, e entreis e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá.”
A Bíblia ensina que houve uma dispensação da lei, mas não uma dispensação da lei sem a graça.
Assim como ensina que há uma dispensação da graça, mas não sem a lei.
Quando Abraão foi justificado pela fé, o que foi isto senão a operação da graça?
A conversão da prostituta Raabe deveu-se a quê, senão também à graça?
Multiplicam-se os exemplos daqueles que foram salvos pela graça, mediante a fé nos dias do Velho Testamento.
Os exemplos dos que se converteram foram registrados para deixar marcado que desde que o homem pecou, no ato mesmo de Deus ter procurado Adão entre as árvores do Éden, e tê-lo vestido, bem como à sua mulher, com vestes de peles de animais, isto indica que Ele é o Deus de graça, tanto quanto é o Deus da ira.
É o Deus da misericórdia, perdoador, tanto quanto é o Deus que não inocenta o culpado e que visita a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração.
Deste modo, sempre houve para todos os israelitas, na chamada dispensação da lei, em que havia, como já nos referimos antes, a disponibilidade da graça salvadora, uma porta aberta para a salvação eterna por se estar unido a Deus pela fé nEle, e isto se comprovaria pelo cumprimento dos Seus mandamentos, como evidência desta fé, não mecanicamente, mas numa sincera obediência de coração, conforme a que é ordenada pelo Espírito através de Moisés, ao longo de todo o livro de Deuteronômio.
Ele lembra aos israelitas, que Deus é um fogo consumidor e que havia manifestado o atributo da Sua ira quando Eles a provocaram (Deut 4.25) com suas práticas idolátricas, e destacou a morte daqueles 24.000 israelitas por terem idolatrado por influência das mulheres midianitas em Baal-Peor (Deut 4.3).
Seguir o Senhor cumprindo os Seus mandamentos significava vida e posse da terra de Canaã, mas para um verdadeiro israelita, que estivesse ligado pela fé ao Senhor, certamente isto seria vida eterna, e livramento eterno da condenação futura, porque os que nEle crêem são livrados da Sua ira, e por conseguinte da condenação eterna no inferno de fogo.
A Bíblia está repleta de exemplos desta manifestação da ira de Deus contra o pecado e contra o pecador, que permanece na prática do pecado.
Esta é uma época de misericórdia, como dissemos, desde Adão, e a manifestação desta misericórdia, se intensificou em todas as nações, desde a morte de nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, isto não excluiu o atributo divino da ira, que está ligado à Sua própria natureza.
Especialmente aqueles que partem deste mundo, sem ter a Jesus como Seu Salvador pessoal, são imediatamente colocados debaixo da ação da ira de Deus contra o pecado, numa condenação eterna, conforme vários textos bíblicos o confirmam.
Um verdadeiro israelita, que fosse da fé, conhecido de Deus, e que conhecesse a Deus, nos dias de Moisés, que pecasse, e fosse alvo da correção do Senhor, não era, no entanto sujeitado ao juízo da condenação eterna no inferno de fogo, por causa desta fé que livra da ira futura.
No entanto, todos aqueles que não conheciam a Deus e que, por conseguinte evidenciavam isto não amando e não guardando Seus mandamentos, já estavam condenados; e a execução da sentença ao sofrimento eterno aguardava somente pela saída deles deste mundo, pela morte.
A ira de Deus é uma perfeição divina tanto quanto é a sua fidelidade, a Sua misericórdia, o Seu amor, e todos os Seus demais atributos.
Se não fosse assim poderia ser dito que há falha no caráter de Deus, mas isto é impossível, pois não há nenhuma imperfeição nEle.
Se não houvesse o atributo da ira divina Ele seria indiferente para com o pecado e isto configuraria uma nódoa moral, porque aquele que não odeia o pecado é um enfermo moral.
Como poderia o Senhor, que é a soma de todas as virtudes olhar com igual satisfação para as virtudes e para os vícios?
Como poderia Aquele que é infinitamente santo ficar indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua ira em relação aos que vivem na prática deliberada do pecado (Rm.11:22)?
Desta forma, a natureza de Deus faz do inferno uma necessidade tão real e imperativa tanto quanto o céu.
Era isto que o Espírito estava mantendo em perspectiva através das palavras de Moisés que lemos neste quarto capítulo de Deuteronômio.
A Palavra de Deus é a verdade. Ela é o meio da nossa santificação. Ela aponta tanto para a misericórdia quanto para a ira de Deus. Precisamos lembrar de ambas as coisas.
É por isso que o Espírito Santo passa em revista na Palavra tanto a bondade de Deus para com a nossa obediência, quanto a manifestação da Sua ira para com os nossos pecados voluntários, pelo desprezo da graça que Ele nos oferece para um viver santo.
A meditação sobre a ira não é menos necessária do que a meditação sobre a misericórdia, porque é pela meditação na ira e não na misericórdia, que os nossos corações ficam devidamente impressionados com o ódio que Deus tem ao pecado.
Isto é necessário porque a inclinação da nossa natureza terrena está disposta para a carne e não para o Espírito, e a carne nunca fará a devida avaliação do que seja o pecado, e sempre procurará lhe fazer concessões por não lhe dar a devida atenção.
É pelo conhecimento da ira de Deus, revelada em toda a sua extensão nas Escrituras, que se chega ao verdadeiro temor a Deus (Hb 12.28,29).
Também faz com que demos o devido valor à obra de salvação de Jesus Cristo em nosso favor, levando-nos a sermos gratos e a louvá-lo sempre, pelo livramento de tão grande ira do Deus Todo-Poderoso, que há de cair sobre todos aqueles que não creem no Seu santo nome (I Tes 1.10).
O motivo da nossa santificação era o amor do Senhor por nós, mas será uma santificação em piedade, temor e tremor, por conhecermos o quanto Ele detesta o pecado.
Por isso não há nada Bíblia que mande os cristãos desconsiderarem a ira divina, por terem sido livrados da condenação eterna pela fé em Cristo, porque a ira é contra o pecado, em quem quer que se encontre, ainda que sejam autênticos cristãos que não sofrerão mais a manifestação da ira em condenação eterna, porque Cristo a sofreu no lugar deles.
Vale considerar que o fogo do inferno não foi criado pelo diabo, pois jamais criaria aquele fogo para atormentar a ele próprio.
A manifestação deste fogo contra o pecado foi exibida inúmeras vezes entre os próprios israelitas.
Eles viram por diversas vezes a glória de Deus trazendo este fogo consumidor, quer na vida de Nadabe e Abiú, quer em Taberá; onde as extremidades do arraial foram consumidas pelo fogo; quer em Corá, Datã e Abirão, que desceram vivos ao Seol, em fogo quando a terra abriu a boca e os engoliu; quer os 250 príncipes que foram queimados quando se apresentaram com seus incensários diante do tabernáculo; e cabe destacar que para demonstrar a manifestação da Sua ira como um fogo consumidor, as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas nos dias de Abraão com o fogo que desceu do céu sobre elas.
Por isso é dito no versículo 12 que quando o Senhor proferiu audivelmente os dez mandamentos a Israel, Ele o fez do meio do fogo, para que Israel soubesse que Ele é um fogo consumidor (v. 24).
Quando lhes falou do meio do fogo não viram nenhuma aparência, para que não tentassem representá-lo sob qualquer forma de criatura, para que em O abandonando, para adorá-las, viessem a estar sujeitos àquele fogo da ira divina, que ainda que não fosse manifestado imediatamente contra o seu pecado, certamente o seria para sempre quando chegassem ao inferno, que é o lugar reservado para todos aqueles que provocam a ira de Deus, servindo a outros deuses.
Vivemos em dias em que usa de longanimidade para com todos na expectativa de que venham a alcançar a salvação.
Mas está sob a exclusiva autoridade e soberania de Deus, quando, onde e sobre quem executar tais juízos, nos que vivem sobre a terra.
O modo de se provocar a Sua ira é transgredindo os Seus mandamentos, e o modo de obter o Seu favor e louvor é se arrependendo e guardando os Seus mandamentos, em tudo quanto tem revelado em Sua Palavra quanto à Sua vontade, e por isso afirma através de Moisés:
“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” (v. 2).
Moisés enfatizou que a Palavra não era propriamente sua, mas é a Palavra de Deus, conforme lhe foi ordenado que a ensinasse aos israelitas:
“Eis que vos ensinei estatutos e preceitos, como o Senhor meu Deus me ordenou, para que os observeis no meio da terra na qual estais entrando para a possuirdes.” (v. 5)
Uma grande prova de que aquela Palavra não era realmente procedente do homem, mas do céu, era o fato de que nenhuma das nações da terra tinha qualquer lei, que pudesse ser comparada à que foi dada aos israelitas, e que não constava de mandamentos criados pela conveniência dos homens, mas que era a essência mesma da justiça de Deus, da Sua própria pessoa, que se manifestava a eles quando O invocavam, por guardarem os seus estatutos e preceitos (v. 6-8).
Por isso, o israelita que quisesse guardar a si mesmo e à sua alma, não deveria esquecer que Deus lhes havia falado no Horebe e havia feito um pacto com eles através dos Seus mandamentos, e deveriam se esforçar para que isto nunca se apagasse de seus corações, e um excelente meio para que isto não ocorresse seria o dever de contar todas as coisas que o Senhor fez a eles tanto a seus filhos quanto aos seus netos (v. 6-9), conforme o próprio mandado do Senhor de que aprendessem Seus mandamentos, para que O temessem todos os dias que vivessem na terra, e que os ensinassem a seus filhos (v. 10).
Veja que o temor que é devido ao Senhor é durante todos os dias das nossas vidas.
Este temor é mediante a prática da Sua Palavra e o dever de ensiná-la a outros.
Jesus nos deu o grande mandamento do nosso dever de pregar o evangelho a toda criatura, e não somente aos nossos familiares, e com o cumprimento deste e de todos os demais mandamentos que Ele nos deu, inclusive pela confirmação de toda a lei moral do Antigo Testamento, é que se cumprem as Suas promessas de se manifestar a nós, de atender os nossos pedidos, que sejam segundo a Sua vontade, e que enfim, se alcança uma vida verdadeiramente abençoada.
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14.15).
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (Jo 14.21).
“Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.” (Jo 14.24).
“Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.” (Jo 15.7).
O pacto que o Senhor fez com os israelitas nos dias de Moisés estava firmado na obediência deles aos dez mandamentos e aos demais estatutos e preceitos que Ele deu a Moisés para que eles cumprissem (v. 11-14).
De igual modo o pacto que tem feito conosco através de Jesus é para que obedeçamos a Sua Palavra. A fidelidade à aliança requer a nossa obediência à Sua vontade, e esta está revelada na Bíblia.
Guardar os mandamentos de Deus requer que se guarde bem a própria alma, e isto deve ser feito com diligência conforme afirmado nos versos 9 e 15. Cuidar de si mesmo é um dever imposto pela Palavra do Senhor, e no caso de ministros do evangelho, estes devem cuidar também do rebanho de Deus (At 20.28).
Desta forma, o Espírito não estava ordenando através de Moisés o mero cumprimento legal dos mandamentos, mas a necessidade de se esforçar para alcançar a graça do Senhor para cuidarem, zelarem, e serem diligentes em relação a ter a alma preservada, em santidade (v. 9, 15, 23).
Ser diligente para guardar a sua alma em santidade diante do Senhor é o dever de todo verdadeiro cristão.
Os cristãos devem ser cautelosos em sua caminhada neste mundo, considerando a quantas tentações estamos expostos, e quantas inclinações pecaminosas carregamos em nosso próprio seio.
Deste modo, temos grande necessidade de cuidar de nós mesmos e manter nossos corações puros com toda a diligência.
Não podem caminhar corretamente no caminho do Senhor aqueles que são negligentes em sua caminhada.
Moisés alertou os israelitas especialmente quanto ao pecado de idolatria, porque seria por ele que seriam mais tentados, por causa da sua predominância em todas as demais nações com as quais teriam que lutar e conviver.
Particularmente no caso dos cananeus, cuja idolatria combateriam, havia o perigo de contaminação.
Cautela, diligência, cuidado de si mesmo com toda a atenção são necessários para não se deixar vencer pelo mal.
“Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?” (Tg 4.5)
A palavra ciúme vem de zelo (v. 24). Zelo em guardar o que Lhe pertence. Ele nos criou para ter todo o nosso afeto e não permitirá que não O amemos em santa amizade e comunhão, e pior ainda, por motivo de dedicarmos esta devoção a falsos deuses.
Alguém poderia argumentar: “mas este preceito da idolatria se referia a Israel no Velho Testamento.” Todavia, devemos lembrar que Jesus validou tudo que o que há na Lei moral, quando disse que não veio revogá-la, mas cumprir.
O zelo de Deus sobre nós é uma boa razão para o nosso zelo em nossa consagração e cumprimento dos Seus mandamentos.
A graça que nos salvou não nos salvou para uma vida descuidada, senão para produzir em nós uma viva verdadeiramente santa.
A operação desta graça está condicionada à nossa diligência, ao nosso zelo nas coisas que nos são ordenadas pelo Senhor em Sua Palavra.
Ainda que o fogo da ira de Deus não destruirá mais, eternamente, àqueles que estão unidos pela fé a Cristo, ele arderá eternamente sobre todos aqueles que não conhecem o Senhor, se eles saírem deste mundo sem este conhecimento salvífico (Jo 17.3).
É isto que dói no coração dos cristãos. E é isto que os leva a se empenharem tanto na salvação de pessoas em todas as ocasiões e lugares, porque conhecem as consequências terríveis da ignorância da pessoa e vontade de Deus, que é produzida pela incredulidade.
Jesus diz que Ele conhece as suas ovelhas e que elas O conhecem.
Isto é o que salva da ira futura. Os que conhecem a Deus não serão destruídos pela Sua ira.
Israel tinha o privilégio de poder ter comunhão com Deus (v. 7), mas isto é feito sempre mediante a Palavra e a oração, em quem habite uma fé genuína.
A nossa comunhão com Deus é a mais elevada honra e felicidade que podemos desfrutar neste mundo. Deus está sempre pronto a se deixar encontrar por aqueles que o adoram em espírito e em verdade.
Era um dever de Israel honrar este nome, que o próprio Senhor lhe dera e que significa príncipe de Deus.
Qual outra nação era designada por este nome? A Igreja é designada como Israel de Deus (Gl 6.16; Rm 9.6-8; Fp 3.3).
Assim como Deus distinguiu o Seu povo dentre as nações, é dever deste povo viver de modo distinto, conforme designado pelo Senhor, para que o Seu nome seja glorificado entre aqueles que não O conhecem (gentios, estranhos). Foi para este propósito que livrou os israelitas do Egito. (v. 20)
Os argumentos para convencer Israel, que deveria viver de modo distinto para Deus, diferentemente dos costumes das demais nações se estendem até o versículo 40.
Aqui são descritas as consequências fatais da apostasia (v. 25-31), como por exemplo, o serem espalhados entre as nações, reduzidos em número e serem destruídos:
Seriam constrangidos, pelo próprio pecado de idolatria deles a adorarem os deuses das nações para onde fossem espalhados, e não os deuses que haviam escolhido adorar em Israel, porque seriam a isto obrigado pelos governantes das nações que os dominassem (v. 28).
Mas, como o Senhor é também misericordioso, além de justo, e que se ira contra o pecado, dar-lhes-ia uma oportunidade para o arrependimento, se da terra do cativeiro O buscassem de todo o seu coração e alma (Dt 4.29-31).
Daí se retira uma preciosa lição para os verdadeiros cristãos, quando estes se encontram em profundezas, em razão de pecados que tenham praticado: eles devem clamar a Deus, confiados em Sua misericórdia, pois este é um tempo de graça e misericórdia, pois enquanto houver mundo, e antes que Jesus venha, há uma disponibilidade de graça e misericórdia para os pecadores, sejam eles cristãos ou não cristãos.
É o próprio Deus que lhes ordena a clamarem por Ele e a buscarem-no com todo o coração e alma.
A promessa para aqueles que se voltarem para o Senhor é a de que ouvirão a Sua voz, porquanto é Deus misericordioso, e não desampara os que são seus por causa da aliança que fez com eles por meio de Cristo, do mesmo modo que havia se aliançado com os israelitas por causa da promessa feita aos patriarcas de fazer um pacto com eles.
Quando os cristãos são corrigidos pelo Senhor por causa dos seus pecados, devem clamar pela Sua misericórdia, pois a promessa que lhes faz é a de que serão ouvidos.
Na parte final deste quarto capítulo de Deuteronômio, são designadas três cidades de refúgio na Transjordânia, nos territórios que seriam ocupados pela tribos de Ruben, Gade e Manassés (v. 41-43); e se afirma que esta lei, testemunhos, estatutos e preceitos que Moisés deu aos israelitas foram proferidos no vale fronteiriço a Bete-Peor, nos territórios conquistados a Siom, rei dos amorreus (v.44-46).
Os três versos finais (47-49) citam os territórios conquistados pelos israelitas na Transjordânia, além das terras que haviam sido conquistadas de Siom, rei dos amorreus.
Não existe algo como uma obediência implícita, daí a necessidade da Palavra de Deus.
Foi com este propósito que Ele deu não somente aos israelitas, como também a nós, os mandamentos morais que lhes ensinou através de Moisés, e que ordenou que fossem registrados por escrito para o conhecimento de todas as gerações.
Isto é estritamente necessário porque como podemos cumprir o nosso dever se não o conhecermos? Para praticar a Palavra é preciso conhecer a Palavra.
É para este objetivo que estamos trabalhando neste nosso comentário da Bíblia.
“1 Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os preceitos que eu vos ensino, para os observardes, a fim de que vivais, e entreis e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá.
2 Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.
3 Os vossos olhos viram o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo homem que seguiu a Baal-Peor, o Senhor vosso Deus o consumiu do meio de vós.
4 Mas vós, que vos apegastes ao Senhor vosso Deus, todos estais hoje vivos.
5 Eis que vos ensinei estatutos e preceitos, como o Senhor meu Deus me ordenou, para que os observeis no meio da terra na qual estais entrando para a possuirdes.
6 Guardai-os e observai-os, porque isso é a vossa sabedoria e o vosso entendimento à vista dos povos, que ouvirão todos estes, estatutos, e dirão: Esta grande nação é deveras povo sábio e entendido.
7 Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o é a nós o Senhor nosso Deus todas as vezes que o invocamos?
8 E que grande nação há que tenha estatutos e preceitos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?
9 Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, para que não te esqueças das coisas que os teus olhos viram, e que elas não se apaguem do teu coração todos os dias da tua vida; porém as contarás a teus filhos, e aos filhos de teus filhos;
10 o dia em que estiveste perante o Senhor teu Deus em Horebe, quando o Senhor me disse: Ajunta-me este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, e aprendê-las-ão, para me temerem todos os dias que na terra viverem, e as ensinarão a seus filhos.
11 Então vós vos chegastes, e vos pusestes ao pé do monte; e o monte ardia em fogo até o meio do céu, e havia trevas, e nuvens e escuridão.
12 E o Senhor vos falou do meio do fogo; ouvistes o som de palavras, mas não vistes forma alguma; tão-somente ouvistes uma voz.
13 Então ele vos anunciou o seu pacto, o qual vos ordenou que observásseis, isto é, os dez mandamentos; e os escreveu em duas tábuas de pedra.
14 Também o Senhor me ordenou ao mesmo tempo que vos ensinasse estatutos e preceitos, para que os cumprísseis na terra a que estais passando para a possuirdes.
15 Guardai, pois, com diligência as vossas almas, porque não vistes forma alguma no dia em que o Senhor vosso Deus, em Horebe, falou convosco do meio do fogo;
16 para que não vos corrompais, fazendo para vós alguma imagem esculpida, na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou de mulher;
17 ou semelhança de qualquer animal que há na terra, ou de qualquer ave que voa pelo céu;
18 ou semelhança de qualquer animal que se arrasta sobre a terra, ou de qualquer peixe que há nas águas debaixo da terra;
19 e para que não suceda que, levantando os olhos para o céu, e vendo o sol, a lua e as estrelas, todo esse exército do céu, sejais levados a vos inclinardes perante eles, prestando culto a essas coisas que o Senhor vosso Deus repartiu a todos os povos debaixo de todo o céu.
20 Mas o Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, a fim de lhe serdes um povo hereditário, como hoje o sois.
21 O Senhor se indignou contra mim por vossa causa, e jurou que eu não passaria o Jordão, e que não entraria na boa terra que o Senhor vosso Deus vos dá por herança;
22 mas eu tenho de morrer nesta terra; não poderei passar o Jordão; porém vós o passareis, e possuireis essa boa terra.
23 Guardai-vos de que vos esqueçais do pacto do Senhor vosso Deus, que ele fez convosco, e não façais para vós nenhuma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa que o Senhor vosso Deus vos proibiu.
24 Porque o Senhor vosso Deus é um fogo consumidor, um Deus zeloso.
25 Quando, pois, tiverdes filhos, e filhos de filhos, e envelhecerdes na terra, e vos corromperdes, fazendo alguma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa, e praticando o que é mau aos olhos do Senhor vosso Deus, para o provocar a ira,-
26 hoje tomo por testemunhas contra vós o céu e a terra, bem cedo perecereis da terra que, passado o Jordão, ides possuir. Não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo destruídos.
27 E o Senhor vos espalhará entre os povos, e ficareis poucos em número entre as nações para as quais o Senhor vos conduzirá.
28 Lá servireis a deuses que são obra de mãos de homens, madeira e pedra, que não vêem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram.
29 Mas de lá buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma.
30 Quando estiveres em angústia, e todas estas coisas te alcançarem, então nos últimos dias voltarás para o Senhor teu Deus, e ouvirás a sua voz;
31 porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esquecerá do pacto que jurou a teus pais.
32 Agora, pois, pergunta aos tempos passados que te precederam desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma extremidade do céu até a outra, se aconteceu jamais coisa tão grande como esta, ou se jamais se ouviu coisa semelhante?
33 Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falar do meio do fogo, como tu a ouviste, e ainda ficou vivo?
34 Ou se Deus intentou ir tomar para si uma nação do meio de outra nação, por meio de provas, de sinais, de maravilhas, de peleja, de mão poderosa, de braço estendido, bem como de grandes espantos, segundo tudo quanto fez a teu favor o Senhor teu Deus, no Egito, diante dos teus olhos?
35 A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.
36 Do céu te fez ouvir a sua voz, para te instruir, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, do meio do qual ouviste as suas palavras.
37 E, porquanto amou a teus pais, não somente escolheu a sua descendência depois deles, mas também te tirou do Egito com a sua presença e com a sua grande força;
38 para desapossar de diante de ti nações maiores e mais poderosas do que tu, para te introduzir na sua terra e te dar por herança, como neste dia se vê.
39 Pelo que hoje deves saber e considerar no teu coração que só o Senhor é Deus, em cima no céu e embaixo na terra; não há nenhum outro.
40 E guardarás os seus estatutos e os seus mandamentos, que eu te ordeno hoje, para que te vá bem a ti, e a teus filhos depois de ti, e para que prolongues os dias na terra que o Senhor teu Deus te dá, para todo o sempre.
41 Então Moisés separou três cidades além do Jordão, para o nascente,
42 para que se refugiasse ali o homicida que involuntariamente tivesse matado o seu próximo a quem dantes não tivesse ódio algum; para que, refugiando-se numa destas cidades, vivesse:
43 a Bezer, no deserto, no planalto, para os rubenitas; a Ramote, em Gileade, para os paditas; e a Golã, em Basã, para os manassitas.
44 Esta é a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel;
45 estes são os testemunhos, os estatutos e os preceitos que Moisés falou aos filhos de Israel, depois que saíram do Egito,
46 além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, a quem Moisés e os filhos de Israel derrotaram, depois que saíram do Egito;
47 pois tomaram a terra deles em possessão, como também a terra de Ogue, rei de Basã, sendo esses os dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão, para o nascente;
48 desde Aroer, que está à borda do ribeiro de Arnom, até o monte de Siom, que é Hermom,
49 e toda a Arabá, além do Jordão, para o oriente, até o mar da Arabá, pelas faldas de Pisga.“ (Dt 4.1- 49).