Andar Como Filhos da Luz
O terceiro capítulo de I João é um desdobramento e aprofundamento das coisas ensinadas nos capítulos anteriores.
João começa afirmando a união vital e filial que há entre o cristão e Deus.
O caráter desta união vital e filiação é em amor espiritual.
Aqueles que amam o mundo não podem permanecer neste amor, conforme o próprio Cristo ensinou aos seus apóstolos.
A plenitude desta paternidade divina e desta filiação dos cristãos a Deus será vista em plenitude quando Cristo se manifestar na Sua volta.
Mas ainda que venhamos a trazer a plenitude da imagem e semelhança com Cristo somente na Sua volta, nós já somos filhos de Deus presentemente e esta imagem e semelhança está sendo implantada em nós pelo trabalho da graça, mediante o poder do Espírito.
De forma que todos os que são de fato de Cristo e que aguardam por esta perfeição absoluta na glória, comprovam que a sua filiação a Deus é verdadeira pelo fato de se purificarem, pela santificação do Espírito, pela Palavra, porque o seu Senhor é inteiramente puro (I João 3.3).
Todos aqueles que se rebelam contra este ensino relativo à verdade da necessidade da nossa santificação progressiva, e que permanecem na prática habitual do pecado estão em estado de rebeldia contra Deus, porque Ele classifica o pecado como rebelião à Sua santa vontade (I JO 3.4).
Os cristãos que não se purificam viverão na Igreja, em seus lares ou onde quer que seja como se fossem pessoas do mundo, porque aqueles que resistem à obra de santificação pelo Espírito, serão achados vivendo seguindo a inclinação da carne e não a do Espírito, e sabemos que a carne é inimizade contra Deus, e não está sujeita à Lei de Deus e nem mesmo pode estar, conforme dizer do apóstolo Paulo.
Os que estão na carne não podem ter prazer nas coisas de Deus.
Definitivamente os cristãos devem abandonar toda forma de impureza para que possam agradar verdadeiramente ao Senhor.
Enquanto permanecerem rebeldes contra este mandamento, não receberão graça da Sua parte tanto para viverem em vitória, sobre estas impurezas das quais devem se despojar por um andar no Espírito, quanto para praticarem o que é exigido deles em relação às boas obras de justiça, como fruto de uma fé viva e operante.
Aqueles que vivem pela esperança de que serão um dia completamente santos, devem viver de modo digno desta esperança, a saber, purificando a si mesmos no temor de Deus.
Nós vivemos em dias difíceis porque a teologia liberal conseguiu triunfar obscurecendo a verdade bíblica da diligência e perseverança para a santificação pelo Espírito.
O apóstolo diz que Jesus se manifestou exatamente para tirar os nossos pecados, e isto porque nEle não há nenhum pecado (v. 5).
De modo que todo aquele que permanece de fato nEle não viverá pecando; não terá o hábito de pecar, mas o de se santificar (v. 6a).
Mas todos os que vivem na prática deliberada do pecado não têm visto nem conhecido ao Senhor, porque se o tivessem de fato visto e conhecido se santificariam, porque seriam convencidos disto e impelidos a isto, pelo Espírito, não apenas em suas mentes, mas pelo mover e revelação do Espírito em seus espíritos lhes incentivando a se santificarem (v. 6).
O mover do Espírito no interior do cristão o conduzirá a se interessar pela causa da justiça evangélica e a praticar a justiça, porque o Senhor é justo.
Pelo Espírito, o cristão que se santifica aborrecerá o mal e amará o bem (v. 7).
Se o pai do pecado é o diabo, como podem aqueles que afirmam serem filhos de Deus permanecerem na prática deliberada do pecado?
Jesus se manifestou exatamente para destruir as obras do diabo, então nenhum cristão pode justificar o ato de permanecer na prática deliberada do pecado (v. 8).
Se forem genuínos eleitos, serão disciplinados e corrigidos por Deus, porque conforme o dizer do autor de Hebreus, não são bastardos mas filhos.
Aqueles que são do diabo fazem as obras do diabo, assim como aqueles que são de Deus fazem as obras de Deus.
Os filhos de Deus devem ser imitadores das obras do seu Pai, não simplesmente por uma questão de dever moral, mas pelo fato de ter sido implantada neles uma nova natureza na regeneração do Espírito, que é a semente de vida eterna semeada neles.
Esta semente é santa e incorruptível.
Ela não pode ser destruída.
De forma que onde há esta semente haverá uma chamada para um crescimento em santidade, e não para a permanência na prática do pecado (v. 9).
Então, esta divina semente que é uma nova natureza no cristão há de manifestar neles a sua filiação com Deus, e praticarão a justiça e amarão os seus irmãos (v. 10).
Por isso é absolutamente necessário que sejam instruídos na sã doutrina, que lhes ensinará estas verdades, para que nunca se desviem da maneira pela qual importa viverem.
Um falso ensino poderá fazer com que esta semente de vida eterna fique abafada e não germine produzindo os devidos frutos.
Como dissemos antes, o caráter da união dos cristãos com Cristo é vital.
É uma relação de Vida gerando vida.
De Vida espiritual e eterna que se manifesta na nossa vida.
Não é apenas mero relacionamento social.
O relacionamento dos cristãos com Cristo e uns com os outros é um relacionamento de manifestação de vida, que gera comunhão e comunicação espiritual de uns com os outros, porque formam no Senhor, um só espírito com Ele (I Cor 6.17).
De modo que onde houver um verdadeiro mover do Espírito há de se sentir esta unidade espiritual entre os cristãos e Deus, e deles entre si.
Os que são como Caim estarão para sempre a serviço do diabo e não podem amar com o amor de Cristo.
Mas, se ordena aos cristãos que se amem uns aos outros (v. 11), porque não são do Maligno como Caim, mas de Deus.
Os que permanecem se identificando com as obras das trevas, que não vêm para a luz de Jesus, são chamados por Jesus, e pelo apóstolo, de filhos do diabo, porque gostam de fazer as mesmas obras que ele faz.
Mas os que são de Deus são como Abel, que foi morto por seu irmão Caim, porque suas obras eram justas e as do seu irmão eram más (v. 12).
Os cristãos, especialmente depois de serem usados por Deus trazendo danos ao reino de Satanás, poderão provar as investidas que Satanás procurará fazer contra eles através destes seus instrumentos humanos, para tentar intimidá-los a não prosseguirem adiante na sua consagração à vontade do Senhor (v. 13).
No entanto, por maiores que sejam as investidas de Satanás contra os cristãos, diretamente ou através daqueles que estão debaixo da sua influência, eles sabem que já passaram da morte para a vida exatamente por causa deste amor e comunhão espiritual que privam com seus irmãos, que é uma das provas que têm a habitação do Espírito Santo em seus corações (v. 14).
Tendo falado do ódio do mundo pelos cristãos, João se apressou em esclarecer qual deve ser a atitude dos cristãos, em sentido contrário, em relação ao mundo.
Eles são odiados pelo mundo, mas devem amar a todos os que estão no mundo, sejam cristãos ou não, amigos ou inimigos.
Eles devem imitar o exemplo deixado pelo próprio Cristo que fez o bem a todos os homens, sem distinção, em Seu ministério terreno.
Deus é amor em Sua natureza, e foi por isso que João disse que todo aquele que odeia a seu irmão é homicida, e nenhum homicida pode ter a vida eterna permanecendo nele (v. 15).
Um verdadeiro cristão não odiará a seu irmão, porque o Espírito que nele habita lhe conduzirá a amar a todos os que são nascidos de Deus tal como ele.
Se Cristo deu a Sua vida pelos que são Seus, então é um dever de todo cristão amar como Cristo nos amou e dar a vida pelos seus irmãos, assim como Ele deu a sua vida por nós (v. 16).
Este amor cristão se manifestará de modo prático no atendimento de necessidades, inclusive materiais (v. 17, 18).
Então, se amarmos, não somente saberemos que somos da verdade, isto é, que somos de fato filhos de Deus, como também teremos uma boa consciência perante o Senhor, de modo que o nosso coração não nos condenará, mas ainda que a nossa consciência não seja uma boa consciência, não pelo motivo de não estarmos cumprindo o nosso dever, mas por ser uma consciência fraca e sensível, que nos condene injustamente, maior é o testemunho de Deus, de que nos tem dado a capacidade de amar e de fazer o que Lhe é agradável (v 19, 20).
Entretanto, é importante cultivar uma boa consciência de forma que o nosso coração não nos condene, por estarmos cumprindo aquilo que nos tem sido ordenado por Deus em relação a amarmos os nossos irmãos, de modo que teremos confiança para com Ele em tudo o que lhe pedirmos, sabendo que Ele ouvirá as nossas orações porque temos guardado os seus mandamentos e feito o que é agradável diante dos Seus olhos, especialmente no que se refere a mantermos a unidade do corpo de Cristo, que é a Igreja (v. 21, 22).
Afinal, tudo o que temos foi recebido pela graça.
“1 Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque não conheceu a ele.
2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos.
3 E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.
4 Todo aquele que vive habitualmente no pecado também vive na rebeldia, pois o pecado é rebeldia.
5 E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os pecados; e nele não há pecado.
6 Todo o que permanece nele não vive pecando; todo o que vive pecando não o viu nem o conhece.
7 Filhinhos, ninguém vos engane; quem pratica a justiça é justo, assim como ele é justo;
8 quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo.
9 Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode continuar no pecado, porque é nascido de Deus.
10 Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não ama a seu irmão.
11 Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio, que nos amemos uns aos outros,
12 não sendo como Caim, que era do Maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas.
13 Meus irmãos, não vos admireis se o mundo vos odeia.
14 Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.
15 Todo o que odeia a seu irmão é homicida; e vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.
16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos.
17 Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, e fechar-lhe o seu coração, como permanece nele o amor de Deus?
18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade.
19 Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração;
20 porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.
21 Amados, se o coração não nos condena, temos confiança para com Deus;
22 e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista.
23 Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou.
24 Quem guarda os seus mandamentos, permanece em Deus e Deus nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós: pelo Espírito que nos tem dado.”