Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Amor é O Vínculo da Perfeição Espiritual


 
 
Não podemos esquecer que João começou sua primeira epístola falando sobre a encarnação do Verbo (Jesus Cristo) para dar vida eterna aos homens que se convertem do mundo a Ele. 
É isto que João tinha em perspectiva ao escrever tudo o que há nesta epístola. 
Ele pretendia deixar registrado de modo muito claro que toda negação da pessoa de Cristo e da Sua obra, significa rejeitar a própria salvação, a vida eterna, o amor sobrenatural de Deus, a habitação do Espírito Santo, e tudo o mais que se refira aos dons que Deus tem doado pela graça, aos que creem em Cristo, porque é somente nEle que é possível ter acesso a todas estas realidades espirituais.
Se negamos a Cristo, negamos a possibilidade de ter vida eterna, porque isto é possível somente por um conhecimento íntimo e pessoal do Senhor, pela participação da Sua própria vida.
Como toda a vida que temos recebido pela fé é espiritual e revelada pelo Espírito Santo, porque a carne para nada aproveita, senão para gerar o que é terreno e carnal, devemos ter muito cuidado em provar os espíritos, para saber sua a procedência, se são espíritos enganosos, ou se são espíritos que procedem de Deus.
Os espíritos dos falsos profetas que já se encontravam em operação nos dias apostólicos não provinham de Deus, porque não eram movidos pelo Espírito Santo, e não davam testemunho da verdade. E sobre eles que João vai discorrer no quarto capítulo de sua primeira epístola.  
Os gnósticos estavam atacando a Igreja nos dias de João, afirmando que Jesus não havia encarnado, e então o apóstolo os classificou como espíritos que não eram de Deus, porque todo espírito que é movido pelo Espírito de Deus confessa que Jesus veio a este mundo e encarnou para morrer pelos pecadores (I João 4.2,3).
Estes gnósticos que negavam a encarnação de Jesus, foram também chamados por João de espíritos do anticristo, porque todos estes espíritos que se opõem ao evangelho de Cristo e ao próprio Cristo estão operando no mundo para dar sustentação às blasfêmias do Anticristo, quando ele se manifestar (v. 3).  
O espírito da falsidade e do engano que opera no mundo e que se levanta contra a verdade de Deus revelada em Cristo está agindo, mas não fora do controle do Espírito Santo, que opera na Igreja e que é infinitamente mais poderoso do que todos estes espíritos enganadores, que operam no mundo, seja de demônios seja de homens; de modo que não poderão prevalecer contra a Igreja, porque os cristãos são assistidos pelo Espírito Santo, que lhes conduz em vitória sobre estes espíritos do engano, de forma a não permitirem ser engandos por eles (I João 4.4).    
Como estes espíritos são do mundo, e não são inspirados pelo Espírito Santo, que nos foi dado do alto, falam somente das coisas que são deste mundo porque não podem discernir e conhecer as coisas que são espirituais, celestiais e divinas.
Eles são ouvidos por aqueles que são do mundo, porque eles próprios são também do mundo. Eles não são de Deus (v. 5). 
Os que são do mundo não ouvem aqueles que são de Deus, porque estes falam a verdade, movidos pelo Espírito Santo, e o mundo não ama a verdade divina, porque dá testemunho de suas más obras, por isso os que são do mundo dão ouvidos aos espíritos do erro (v. 6).
Mas os que são pela verdade ouvirão aqueles que pregam pelo Espírito Santo.
Os que conhecem a Deus ouvem aqueles que são de Deus, mas quem não é de Deus não pode ouvi-los, porque as coisas de Deus se entendem somente pelo Espírito Santo, de forma que aqueles que Lhe resistem não podem conhecer a Deus e ouvir e entender as coisas que são de Deus (v. 6).
O cristão ama seus irmãos em Cristo.
É fácil identificar quem é de Deus, porque os que conhecem a Deus amam os seus irmãos na fé.
Quem não ama os cristãos não conhece a Deus, porque aquele que é nascido de Deus amará a todos os que forem também nascidos dEle (v. 7 a 9).
Jesus veio para nos desarraigar deste mundo tenebroso.
Assim, todo espírito que estiver a serviço de Deus pregará e ensinará isto.
Mas todo espírito do mundo ama o mundo e prega e ensina o amor ao mundo.
Eles pensam somente no que é mundano e o seu coração cogita somente sobre as coisas que são do mundo.
O seu coração está viciado em tudo o que é deste mundo.
Eles falam daquilo que é do mundo, porque a boca fala daquilo que o coração está cheio.
O reino de Jesus não é deste mundo e os cristãos apesar de estarem no mundo não são do mundo tanto quanto não é o Senhor deles.
Os cristãos buscarão em primeiro lugar o reino de Deus e os interesses do Seu reino.
O mundo não pode viver no amor de Deus, porque este amor é conhecido por uma experiência pessoal com o Espírito Santo, que é quem derrama este amor sobrenatural nos corações.
Por isso João continuou dissertando sobre o amor de Deus nos versos restantes deste capítulo.
Ele tinha convivido pessoalmente com Cristo em Seu ministério terreno e havia testemunhado que Ele não tinha somente amor, mas que era o próprio amor, de modo que afirma que Deus é amor (v. 8, 16).
O amor verdadeiro espiritual, que é comunicado aos cristãos procede de Deus, que é a fonte deste amor.
O Espírito Santo é Espírito de amor.
A nova natureza nos cristãos é resultante deste amor do Espírito.
O fruto do Espírito é amor (Gál 5.22).
Este amor referido procede do céu.
Então, João disse que aquele que não ama com este amor que procede do céu não conhece a Deus, porque Deus é amor (v. 8).      
O grande argumento que comprova o amor de Deus para conosco é que Ele enviou Jesus ao mundo para que pudéssemos viver por meio dEle (v. 9), isto é, Ele não veio e nos deu vida e se foi, mas nos mantém vivos e não mortos, porque nos sustenta no Seu próprio ser, assim como uma gestante carrega o seu filho no ventre.
Nós temos vida espiritual em Cristo estando ligados vitalmente a Ele, e isto é feito por uma ligação real e consciente do Senhor em relação a nós, num trabalho amoroso e paciente, que está operando a nossa transformação em Seu próprio ser divino.
Logo, é um amor de compromisso, responsabilidade, trabalho permanente em serviço dedicado que Ele tem por nós.
Acrescente-se que, para que tudo isto fosse possível foi necessário ainda, que Ele carregasse sobre Si, os nossos pecados e culpa, morrendo no nosso lugar na cruz.
Deus tomou a iniciativa e veio ao nosso encontro se revelando a nós, embora estivéssemos desviados e perdidos em nossos pecados.
Nunca poderíamos achá-Lo, caso não nos tivesse amado e se revelado a nós pela operação do Espírito Santo (v. 10, 19).
Mas o Espírito não poderia fazer este trabalho, caso Cristo não tivesse se oferecido como propiciação pelos nossos pecados.
Se o amor de Deus por nós se revelou desta forma, então é óbvio que os cristãos devem se amar mutuamente (v. 11), e para isto  são  impulsionados pelo  mover do Espírito Santo, que neles habita.   
Nós somos amados e amamos um Deus invisível, mas temos a firme convicção de que o temos conhecido porque o Espírito tem aperfeiçoado o amor de Deus em nós, nos dando crescimento espiritual, de modo que podemos testificar junto com o Espírito que Jesus foi enviado de fato ao mundo para morrer por nós e nos enviar o Espírito, para nos purificar dos nossos pecados, e nos capacitar a viver de modo agradável a Deus (v. 12 a 14).
De maneira que se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e temos verdadeira comunhão com Ele (v. 12, 16); além disso sabemos que todo aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanecerá nele, pela habitação do Seu Espírito, e tal pessoa permanecerá em Deus (v. 15).
A Bíblia fala da necessidade de os cristãos serem santos e irrepreensíveis, e João nos ajuda na mesma Bíblia, a compreender que esta santidade e irrepreensibilidade, é, sobretudo em amor, porque é deste modo que devemos viver, de forma que no dia do juízo tenhamos confiança que não seremos condenados juntamente com o mundo, porque poderemos estar de pé diante do Senhor, sendo achados por Ele com nossas vidas transformadas pelo Seu amor (v. 17, 18).
O amor espiritual que temos pelos irmãos é a maior e melhor prova de que não estamos vivendo na carne, mas na  santificação do Espírito.
Assim, se os cristãos estiverem de fato andando no Espírito, amarão primeiramente a Deus, e por este amor que devotam ao Senhor serão capacitados pelo mesmo Espírito a amarem também os seus irmãos, de modo que João afirma que aquele que amar a Deus também amará o seu irmão, porque se não amar a seu irmão a quem vê como poderá estar amando de fato a Deus a quem ele não vê?
Evidentemente o amor referido pelo apóstolo é o amor ágape, não o amor “filéo” de amizade, e muito menos “Eros” de caráter sensual.
Como já nos referimos anteriormente, este amor não é natural, mas sobrenatural, de modo que ninguém se incentive a sair praticando obras na carne a pretexto de alegar o dever de amar seus irmãos, porque não é a tal tipo de amor que Cristo se refere, porque este amor na carne está cheio de justiça própria e de orgulho, e não busca a glória exclusiva de Deus, senão obter o aplauso dos homens, mérito pessoal ou qualquer outro fim interesseiro egoísta.
Que Deus nos livre deste tipo de amor na Igreja, porque é um amor falso que não edifica.
Ao contrário, provoca divisões e constrangimentos no corpo de Cristo.
 
 
 
1 Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.
2 Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;
3 e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo.
4 Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo.
5 Eles são do mundo, por isso falam como quem é do mundo, e o mundo os ouve.
6 Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.
7 Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
8 Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.
9 Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dele vivamos.
10 Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.
11 Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos nos amar uns aos outros.
12 Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é em nós aperfeiçoado.
13 Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito.
14 E nós temos visto, e testificamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo.
15 Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
16 E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele.
17 Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos também nós neste mundo.
18 No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.
19 Nós amamos, porque ele nos amou primeiro.
20 Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu.
21 E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão.”. (I João 4.1-21)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/12/2012
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