Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Ratificação e Renovação da Aliança 
 
O pacto que havia sido feito há quarenta anos atrás, no Monte Sinai é ratificado, contudo era uma nova promulgação que estava sendo feita com os israelitas, e daí se dizer que Deus estava fazendo um pacto com eles em Moabe, além do pacto que havia feito no Horebe.
Era, portanto uma renovação do pacto feito no Horebe, e não uma revogação do anterior, para se estabelecer o que estava sendo feito nas campinas de Moabe.
Todos aqueles anos que haviam passado enquanto caminhavam no deserto, poderiam ter levado muitos ao esquecimento de que Deus havia feito uma aliança com Israel, e isto, por si só, explicaria a necessidade da renovação da aliança, que havia sido celebrada com base no compromisso dos israelitas em guardarem todos os mandamentos que o Senhor lhes havia dado através da mediação de Moisés.     
O deserto, depois da incredulidade de Cades, foi uma grande escola de humilhação do orgulho carnal dos israelitas, e para o conhecimento do desagrado de Deus em relação ao pecado, especialmente ao maior pecado de todos que é a incredulidade.
Se alguma outra nação podia seguir o seu próprio rumo, conforme a sua própria vontade, este não era no entanto o caso de Israel, que havia sido formado por Deus para ser de Sua exclusiva propriedade, povo que Ele resgatou do Egito com braço forte, e cuja prosperidade dependeria portanto da Sua obediência à vontade do Senhor.
Eles são lembrados da sua vocação, ainda que isto estivesse encoberto aos olhos deles pela dureza dos seus corações, pois, sem fé, sem um coração verdadeiramente convertido, não podiam entender os sinais visíveis do cuidado de Deus em relação a eles.
A forma miraculosa como os preservou desde o Egito, cuidando até mesmo de detalhes pessoais, como a roupa e o calçado deles, que não envelheceram naqueles quarenta anos.
Mas eles não tiveram em sua grande maioria um coração grato e sábio para entenderem estas coisas, como se diz no verso 4:
“Mas até hoje o Senhor não vos tem dado um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir.”
 Isto nos faz lembrar das palavras de Jesus relativas aos israelitas dos seus dias:
“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis. Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardiamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure.” (Mt 13.13-15).
Quando se diz que Deus não lhes deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, não significa que Deus mesmo estava produzindo neles esta condição, senão o próprio endurecimento deles.
O fato de não terem recebido graça de Deus para que pudessem entender, ver, e ouvir as realidades espirituais das quais estavam sendo alvo pela misericórdia do Senhor confirmava que Ele não poderia fazê-lo conforme era da Sua vontade, porque não havia na maioria deles um coração que O buscasse de modo a ser transformado e movido pelo Seu Espírito.
É desperdício dar comida a quem não tem fome. Dar água a quem não tem sede. Deus não desperdiça os seus dons. A graça é rica, santa e preciosa, e Deus não desperdiça o Seu dom, dando-o àqueles que não o desejam. Este é o significado de se dar coisas santas a cães e lançar pérolas a porcos, proferido por Jesus Cristo, pois não sabem fazer a justa avaliação do que lhes está sendo dado, e não teriam com isso qualquer proveito em recebê-lo.
Deste modo, os israelitas teriam recebido a graça de Deus em vão caso esta lhes fosse dada por Ele.
Desta forma, quando são poucas as nossas graças a culpa terá sido sempre nossa, e nunca de Deus, em não recebermos mais graça, pois isto é da Sua vontade, mas, como vimos, Ele nunca desperdiça os Seus dons.
Se não batermos à porta, ela nunca se abrirá.
Se não pedirmos pela oração, nunca receberemos.
Se não buscarmos as graças e os dons de Deus nós nunca os receberemos.       
Apesar de todo este endurecimento deles, o Senhor lhes havia dado vitória sobre Ogue e Siom, reis dos amorreus, que eles haviam vencido recentemente, e estava fazendo isto não pelo merecimento deles, mas por causa da aliança que fizera com eles, e da promessa que fizera aos patriarcas de ser o Deus de Israel.
De igual modo, a Igreja de Cristo teria desaparecido de há muito da terra, se dependesse da fidelidade dos homens, que sempre é falha, mas como está fundada não no homem, mas na Rocha que é Cristo, e na Sua fidelidade que dura para sempre, ela jamais poderá ser destruída, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela, porque Deus a fará triunfar por causa da Sua própria promessa e por amor de Seu Filho, e não pela nossa própria justiça e méritos.
Grandes foram as misericórdias que Deus manifestou à nação de Israel, e estas misericórdias não são menores em relação à Igreja de Cristo na Nova Aliança, que Ele tem feito com o Seu povo através do Seu sangue.
“A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim;” (Jer 3.22).
Mas Israel foi solenemente advertido a guardar o pacto que fizera com o Senhor, cumprindo todos os Seus mandamentos, uma vez que a violação da aliança, especialmente pela adoração de falsos deuses, conforme o costume das demais nações faria com que a terra de Israel fosse transformada pelo Senhor numa grande desolação, de modo a servir de testemunho a todas as nações de que Ele exige que o Seu povo viva em santidade, guardando a aliança que tem com Ele, por fazer a Sua vontade revelada em Seus mandamentos.
Daí se dizer no verso 29 que:
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.“
O que é dito aqui não é propriamente que Deus não fala com o Seu povo além do que já revelou na Bíblia, pois ainda que não mude a verdade revelada de uma vez para sempre, ainda que não fale contra esta verdade já revelada, Deus é vivo e soberano para falar conosco o que bem deseje.
Não é este o sentido do versículo, senão que aquilo que está encoberto, como por exemplo o modo da eleição pela graça, como Deus o planejou, o que Ele nunca revelou a ninguém, não é pretexto para que não O sirvamos em relação a tudo aquilo que Ele tem revelado clara e diretamente na Bíblia, como sendo a Sua vontade para ser feita não somente por todas as gerações de Israel, como especialmente por todos aqueles que creem no Seu santo nome.
Ele as revelou para o propósito de serem cridas, aprendidas, ensinadas e cumpridas.
Este é o nosso dever para com Ele e não fazer cogitações sobre as coisas que Ele encobriu, não as revelando a nós.          
Deste modo, os israelitas são lembrados que Deus havia destruído Sodoma e Gomorra no furor da Sua ira por causa das suas práticas abomináveis, e os israelitas não seriam poupados da mesma ira caso violassem a aliança para se entregarem às mesmas práticas deles, e para isto estavam alertados quanto às maldições prescritas na Lei, para a desobediência ao Senhor e aos Seus mandamentos.
 
 
 
 
“1 Estas são as palavras do pacto que o Senhor ordenou a Moisés que fizesse com os filhos de Israel na terra de Moabe, além do pacto que fizera com eles em Horebe.
2 Chamou, pois, Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Vistes tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, a todos os seus servos e a toda a sua terra;
3 as grandes provas que os teus olhos viram, os sinais e aquelas grandes maravilhas.
4 Mas até hoje o Senhor não vos tem dado um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir.
5 Quarenta anos vos fiz andar pelo deserto; não se envelheceu sobre vós a vossa roupa, nem o sapato no vosso pé.
6 Pão não comestes, vinho e bebida forte não bebestes; para que soubésseis que eu sou o Senhor vosso Deus.
7 Quando, pois, viemos a este lugar, Siom, rei de Hesbom, e Ogue, rei de Basã, nos saíram ao encontro, à peleja, e nós os ferimos;
8 e lhes tomamos a terra, e a demos por herança aos rubenitas, aos gaditas e à meia tribo dos manassitas.
9 Guardai, pois, as palavras deste pacto e cumpri-as, para que prospereis em tudo quanto fizerdes.
10 Vós todos estais hoje perante o Senhor vosso Deus: os vossos cabeças, as vossas tribos, os vossos anciãos e os vossos oficiais, a saber, todos os homens de Israel,
11 os vossos pequeninos, as vossas mulheres, e o estrangeiro que está no meio do vosso arraial, tanto o rachador da vossa lenha como o tirador da vossa água;
12 para entrardes no pacto do Senhor vosso Deus, e no seu juramento que o Senhor vosso Deus hoje faz convosco;
13 para que hoje vos estabeleça por seu povo, e ele vos seja por Deus, como vos disse e como prometeu com juramento a vossos pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó.
14 Ora, não é somente convosco que faço este pacto e este juramento,
15 mas é com aquele que hoje está aqui conosco perante o Senhor nosso Deus, e também com aquele que hoje não está aqui conosco
16 (porque vós sabeis como habitamos na terra do Egito, e como passamos pelo meio das nações, pelas quais passastes;
17 e vistes as suas abominações, os seus ídolos de pau e de pedra, de prata e de ouro, que havia entre elas);
18 para que entre vós não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo, cujo coração hoje se desvie do Senhor nosso Deus, e vá servir aos deuses dessas nações; para que entre vós não haja raiz que produza veneno e fel,
19 e aconteça que alguém, ouvindo as palavras deste juramento, se abençoe no seu coração, dizendo: Terei paz, ainda que ande na teimosia do meu coração para acrescentar à sede a bebedeira.
20 O Senhor não lhe quererá perdoar, pelo contrário fumegará contra esse homem a ira do Senhor, e o seu zelo, e toda maldição escrita neste livro pousará sobre ele, e o Senhor lhe apagará o nome de debaixo do céu.
21 Assim o Senhor o separará para mal, dentre todas as tribos de Israel, conforme todas as maldições do pacto escrito no livro desta lei.
22 Pelo que a geração vindoura-os vossos filhos que se levantarem depois de vós-e o estrangeiro que vier de terras remotas dirão, ao verem as pragas desta terra, e as suas doenças, com que o Senhor a terá afligido,
23 e que toda a sua terra é enxofre e sal e abrasamento, de sorte que não será semeada, e nada produzirá, nem nela crescerá erva alguma, assim como foi a destruição de Sodoma e de Gomorra, de Admá e de Zeboim, que o Senhor destruiu na sua ira e no seu furor;
24 sim, todas as nações dirão: Por que fez o Senhor assim com esta terra? Que significa o furor de tamanha ira?
25 Então se dirá: Porquanto deixaram o pacto do Senhor, o Deus de seus pais, que tinha feito com eles, quando os tirou da terra do Egito;
26 e se foram e serviram a outros deuses, e os adoraram; deuses que eles não tinham conhecido, e que lhes não foram dados;
27 por isso é que a ira do Senhor se acendeu contra esta terra, para trazer sobre ela toda maldição que está escrita neste livro;
28 e o Senhor os arrancou da sua terra com ira, com furor e com grande indignação, e os lançou em outra terra, como neste dia se vê.
29 As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.“ (Dt 29.1-29).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/12/2012
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