Elias: Profeta do Fogo e do Trovão
A perversidade, a violência, a idolatria, a injustiça que passou a imperar em Israel, desde os dias de Jeroboão, deveriam ser confrontados por alguém que tivesse um espírito justo, mas firme e forte.
Por alguém que achasse conforto na aspereza e tivesse uma tenacidade e coragem que o levasse a protestar contra o pecado de Israel, ainda que tivesse de fazê-lo como quem enfrenta as duras condições de sobrevivência de um deserto.
E a Bíblia marcou dois homens como sendo dotados deste espírito, o primeiro foi Elias e o segundo João Batista.
Por isso se diz que João Batista seria como Elias, porque ele viria ao mundo, dotado por Deus com o mesmo tipo de espírito e poder do profeta Elias (Lc 1.17).
Como afirmamos no final do comentário do capítulo precedente, havia um juízo determinado por Deus em Sua Palavra, contra a idolatria do Seu povo (Lev 26.14-43).
E, a partir deste 17º capítulo de I Reis, Ele começaria a julgar os israelitas que haviam se entregado à adoração de Baal, como o próprio rei Acabe, sua esposa Jezabel, e toda a sua casa, não através da espada das nações inimigas, nem pela peste, mas pela espada afiada da Sua boca, a saber, pela Sua Palavra, através do ministério do profeta Elias, e o prosseguiria fazendo através dos profetas que viram depois dele, até que o povo de Israel fosse expulso da terra pelos assírios.
Deus não havia esquecido da maldição que havia proferido nos dias de Josué contra aquele que ousasse reedificar Jericó, como vimos no comentário do capitulo anterior, e agora Ele estava revelando que não havia também esquecido de que havia advertido o Seu povo contra a apostasia, em Sua Lei, que lhes havia dado através de Moisés, de que traria fome e escassez à terra pela falta de chuvas, caso viessem a transgredir os Seus mandamentos, descumprindo a aliança que haviam feito com Ele.
Nós podemos vislumbrar o terno e bondoso Deus, por detrás de todos estes juízos, porque ao amor precede a justiça e a honra.
O amor não folga com a injustiça, senão com a verdade.
E a boa, perfeita e agradável vontade de Deus não pode ser apreciada em sua plenitude a não ser por quem ande em conformidade com ela, por quem ame e pratique a justiça.
Não admira portanto que Ele visitasse com juízos a iniquidade do Seu próprio povo, não porque isto Lhe seja agradável, senão absolutamente necessário, para ensinar justiça e juízo aos homens.
Os israelitas estavam obrigados aos termos do Senhor, que haviam aceito voluntariamente para cumprir, e teriam portanto que prestar contas a Ele de todo o seu procedimento.
Assim, Deus foi buscar um homem talhado para ser o Seu instrumento de juízo contra Acabe, sua casa e todo Israel, na terra de Gileade, do outro lado do Jordão, onde Elias residia.
E este veio ter com Acabe em Samaria dizendo-lhe que não haveria mais orvalho nem chuva em Israel por anos, e que somente voltariam a cair até que isto fosse ordenado pela sua própria boca (I Reis 17.1).
Então o retorno da chuva dependeria de que Elias orasse para que isto ocorresse, no tempo determinado por Deus. Tiago se referiu a isto em sua epístola (Tg 5.17,18).
Deus havia determinado reter as chuvas sobre todo o território de Israel, e para além deste até os termos de Sidom, através da oração de um só homem, e fez com que chovesse de novo também através da oração. Isto ensina quão grande eficácia há na oração de um justo.
Através daquela falta de chuvas Deus estaria revelando que Ele não é como os falsos deuses, mas é o Deus vivo e Todo Poderoso, que dá o pago aos homens conforme as suas obras.
Logo após Elias ter falado a Acabe e orado para que não mais chovesse, o Senhor lhe ordenou que se retirasse para o ribeiro de Querite, que ficava a leste do rio Jordão, e havia nisto pelo menos dois propósitos, o primeiro para proteger o profeta da fúria de Acabe, quando este percebesse que de fato a chuva havia cessado conforme a palavra dita por Elias, e o segundo, manter este distante deles, de maneira que ficassem privados da esperança de serem abençoados com a volta das chuvas, por insistirem com ele para que orasse em favor de Israel.
Certamente, os profetas de Baal devem ter clamado insistentemente a ele para que fizesse chover, afinal, Baal era tido como deus da fertilidade, e sem chuvas não haveria fertilidade do solo.
Então aquele era também um juízo sobre o imaginário Baal e seus adoradores.
E este juízo se faria sentir inclusive na terra de Sidom, porque foi de lá que veio Jezabel e o culto de Baal, que ela introduziu em Israel.
Por isso foi prometido à viúva de Sarepta, de Sidom, que sustentou e hospedou Elias, que ela teria farinha na vasilha e azeite na botija até que voltasse a chover sobre a terra (I Reis 17.14).
Isto indica então que a seca havia atingido os sidônios como um juízo de Deus sobre a idolatria daquela terra, que havia sido exportada para Israel.
Enquanto esteve junto ao ribeiro Querite, Deus alimentou Elias, diariamente, por um longo período, usando corvos, que lhe traziam pão e carne.
Com isto, até que a água do ribeiro secasse, pela falta de chuvas, ele poderia permanecer ali, sem se expor publicamente, em razão da necessidade de buscar alimento.
Quando o ribeiro secou, Deus ordenou a Elias que se dirigisse a Sarepta, de Sidom, porque havia em sua providência, preparado uma viúva para sustentá-lo.
Quando ele chegou ao portão da cidade, a mesma Providência fez com que encontrasse a pessoa sobre a qual o Senhor lhe falara, numa viúva que estava apanhando lenha, e lhe pedindo água ela se dispôs prontamente a buscá-la para ele, e a isto Elias acrescentou que lhe trouxesse também um bocado de pão (v. 10, 11).
Ao que ela respondeu que não tinha pão em casa, senão apenas um punhado de farinha e um pouco de azeite, e que estava catando lenha exatamente para preparar sua última porção de comida para si e para o seu filho, e não tinha qualquer esperança de sobreviver depois disto.
Nós vemos então que mais do que cuidar do profeta, Deus estava honrando a fé daquela viúva de Sidom, e teve misericórdia dela e de seu filho, porque é o Deus dos órfãos e das viúvas, e visava prover a casa dela de alimento, de forma que ela e o seu filho pudessem sobreviver àquela grande seca, pois o Deus que tudo vê e sabe, se antecipou lhe enviando Elias, exatamente no dia em que ela teria a sua última porção de alimento.
Mas o próprio Elias estava sob a palavra que o Senhor lhe havia dado que ele seria sustentado por aquela viúva, e se Ele lhe havia enviado a ela, então a questão da provisão não era um problema para ser resolvido pelo profeta e nem por ela, mas pelo Senhor.
Então lhe veio a palavra de Deus à sua boca e ele disse à viúva que fizesse o que ela havia dito que faria, e desse também a ele de comer daquele punhado de farinha e azeite do qual ela faria um bolo (I Reis 17.13), porque fazendo isto, enquanto a seca durasse, não faltaria nem farinha na vasilha, nem azeite na botija, conforme o Senhor estava falando (v. 14).
E ela revelou que era de fato uma mulher de fé, porque obedeceu à palavra que lhe fora prometida pelo profeta, e não tendo havido de fato falta de farinha e nem de azeite em sua casa, Elias permaneceu muitos dias vivendo daquela provisão miraculosa, tanto quanto ela e o seu filho.
A viúva temia muito perder o seu filho, que ao que tudo indica, era o seu arrimo e único filho que possuía para ampará-la em sua velhice, e ela havia temido perdê-lo por causa da fome, conforme havia dito a Elias, quando se encontrou com ele pela primeira vez junto ao portão da cidade.
Então o Senhor revelaria a ela que o poder sobre a vida e a morte está em Suas mãos, de maneira que sua fé nEle poderia ser aperfeiçoada e aumentada, e entender que assim como Ele havia provido alimento para ela através do profeta, Ele continuaria cuidando da sua vida, em sua velhice, de modo que não precisava viver sob nenhum tipo de temor.
E qual foi o meio que o Senhor usou para ensinar isto à viúva?
Ele tirou a vida do seu filho, através de uma enfermidade que foi se agravando mais e mais.
Ao mesmo tempo Ele tinha em vista aumentar e fundamentar a fé do próprio Elias, preparando-o para o retorno à presença de Acabe, e para enfrentar os profetas de Baal no monte Carmelo.
Além de tudo isto, depois que Ele ressuscitasse o filho da viúva através do profeta, ela seria convencida finalmente que tudo o que lhe havia falado sobre o Deus de Israel, especialmente sobre a Sua Palavra e mandamentos, era verdade (v. 24), ganhando assim um sólido fundamento para a vida eterna.
Elias deve lhe ter falado nos muitos dias em que ficara hospedado em sua casa, acerca da razão daquela falta de chuvas, e dos muitos pecados de Israel, que estavam sendo visitados pela justiça de Deus, e falando-lhe sobre os juízos do Senhor sobre o pecado, ela temeu que a morte do seu filho foi então causada por algum pecado que ela houvesse cometido, e que tendo sido lembrado pelas palavras do profeta, deu ocasião à morte do seu filho.
Ela estava aprendendo sobre o temor de Deus, mas também logo aprenderia sobre a Sua misericórdia, porque atendendo à oração de Elias, Deus ressuscitou o seu filho, revelando-lhe que onde abundou o pecado superabundou a Sua graça, para aqueles que se arrependem dos seus pecados, e que O temem, assim como ela.
A fé da viúva era uma fé genuína e foi elogiada por Jesus em seu ministério terreno, quando se referiu a ela.
“1 Então Elias, o tisbita, que habitava em Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor, Deus de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não haverá orvalho nem chuva, senão segundo a minha palavra.
2 Depois veio a Elias a palavra do Senhor, dizendo:
3 Retira-te daqui, vai para a banda de oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está ao oriente do Jordão.
4 Beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem.
5 Partiu, pois, e fez conforme a palavra do Senhor; foi habitar junto ao ribeiro de Querite, que está ao oriente do Jordão.
6 E os corvos lhe traziam pão e carne pela manhã, como também pão e carne à tarde; e ele bebia do ribeiro.
7 Mas, decorridos alguns dias, o ribeiro secou, porque não tinha havido chuva na terra.
8 Veio-lhe então a palavra do Senhor, dizendo:
9 Levanta-te, vai para Sarepta, que pertence a Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei a uma mulher viúva ali que te sustente.
10 Levantou-se, pois, e foi para Sarepta. Chegando ele à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, num vaso um pouco d'água, para eu beber.
11 Quando ela ia buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão contigo.
12 Ela, porém, respondeu: Vive o Senhor teu Deus, que não tenho nem um bolo, senão somente um punhado de farinha na vasilha, e um pouco de azeite na botija; e eis que estou apanhando uns dois gravetos, para ir prepará-lo para mim e para meu filho, a fim de que o comamos, e morramos.
13 Ao que lhe disse Elias: Não temas; vai, faze como disseste; porém, faze disso primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo aqui; depois o farás para ti e para teu filho.
14 Pois assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da vasilha não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até o dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra.
15 Ela foi e fez conforme a palavra de Elias; e assim comeram, ele, e ela e a sua casa, durante muitos dias.
16 Da vasilha a farinha não se acabou, e da botija o azeite não faltou, conforme a palavra do Senhor, que ele falara por intermédio de Elias.
17 Depois destas coisas aconteceu adoecer o filho desta mulher, dona da casa; e a sua doença se agravou tanto, que nele não ficou mais fôlego.
18 Então disse ela a Elias: Que tenho eu contigo, ó homem de Deus? Vieste tu a mim para trazeres à memória a minha iniquidade, e matares meu filho?
19 Respondeu-lhe ele: Dá-me o teu filho. E ele o tomou do seu regaço, e o levou para cima, ao quarto onde ele mesmo habitava, e o deitou em sua cama.
20 E, clamando ao Senhor, disse: Ó Senhor meu Deus, até sobre esta viúva, que me hospeda, trouxeste o mal, matando-lhe o filho?
21 Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, dizendo: Ó Senhor meu Deus, faze que a vida deste menino torne a entrar nele.
22 O Senhor ouviu a voz de Elias, e a vida do menino tornou a entrar nele, e ele reviveu.
23 E Elias tomou o menino, trouxe-o do quarto à casa, e o entregou a sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive:
24 Então a mulher disse a Elias: Agora sei que tu és homem de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade.” (I Rs 17.1-24).