Testemunho no Poder do Espírito – Atos 3
Realmente é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça e do juízo, e que é o único que pode de fato salvar, regenerando (novo nascimento) os homens, mudando seus corações de pedra em corações de carne.
Não foram os apóstolos que fizeram este trabalho, mas o Espírito Santo mediante a pregação do evangelho por eles.
Quando Jesus esteve pregando o evangelho com os apóstolos o número de convertidos que se encontravam reunidos no dia de Pentecostes, alcançados pelo ministério deles eram apenas cento e vinte pessoas.
E agora, depois do derramar do Espírito no Pentecostes, cerca de três mil haviam se convertido naquele dia, e, com a pregação de Pedro depois da cura do paralítico o número de convertidos foi a cinco mil pessoas, conforme se vê em At 4.4.
Em tão pouco tempo as conversões estavam ocorrendo aos milhares.
Portanto, este fato comprova que tudo o que se relata no livro de Atos, e na história da Igreja quanto à conversão de almas, é o resultado do testemunho e do trabalho do Espírito Santo em toda a terra, e não propriamente por causa do próprio poder pessoal daqueles que pregam o evangelho.
Eles devem dar testemunho mas quem faz o trabalho é o Espírito Santo, conforme se vê no testemunho da Bíblia, porque mesmo durante o ministério terreno de Jesus as conversões não aconteceram em tão grande número porque o Espírito não havia ainda sido derramado, e conforme Jesus disse a Nicodemos, seria o Espírito que faria este trabalho de atrair as pessoas a Ele, para serem convertidas, somente depois que Ele fosse levantado na cruz.
E a razão disto é que primeiro o preço exigido para o perdão dos nossos pecados teria que ser pago por nosso Senhor com a Sua morte, e somente depois disto poderíamos ser justificados pela fé nEle, para sermos regenerados e santificados pelo Espírito.
Não podemos então tentar fazer o trabalho do Senhor sem o poder do Espírito.
Devemos ser apenas instrumentos em Suas mãos, para que Ele faça a obra, enquanto damos testemunho da verdade, tal como Ele fizera na casa do centurião Cornélio, enquanto Pedro lhes pregava o evangelho.
Jesus havia curado a muitas pessoas de toda sorte de enfermidades e expulsado os demônios de muitos.
Havia feito milagres portentosos como o da multiplicação dos pães e peixes, e no entanto, poucos se dispuseram a segui-lO, submetendo-se à Sua Palavra, porque o Espírito não havia sido ainda derramado.
Nisto comprovou portanto definitivamente que não é por verem sinais e maravilhas e até mesmo por ouvirem a pregação do evangelho que as pessoas se converterão, mas por haver uma operação do Espírito Santo nos seus corações, e uma rendição delas à Sua ação poderosa.
Em vez de levantar somente perseguições dos sacerdotes e fariseus como aconteceu com o Senhor Jesus nos dias do Seu ministério terreno, a cura de um coxo foi a oportunidade para atrair a atenção de muitos e para que Pedro lhes pregasse o evangelho, de maneira que vieram a se converter cinco mil pessoas.
Houve resistência dos sacerdotes e fariseus aos apóstolos, mas eles não podiam fazer nada contra o trabalho do Espírito Santo nos corações daqueles que estavam se convertendo.
Se formos enviados a pregar pelo Senhor e se o Espírito Santo não somente nos capacitar a pregar o evangelho, como também operar nos corações daqueles que nos ouvem, fazendo com que se convertam a Deus, podemos estar seguros de que teremos sucesso no nosso trabalho.
Todavia, caso nos falte esta comissão do Senhor nos enviando a pregar onde seja do Seu desejo, e se não temos este trabalho do Espírito nos conduzindo em tudo o que fizermos, e sobretudo o trabalho que ele faz naqueles que nos ouvem, podemos estar certos de que fracassaremos na nossa pregação e em tudo o mais que pretendermos fazer para Deus.
Até mesmo o dia e as condições para a conversão destes cinco mil foram preparadas pelo Espírito.
Nós vimos no verso 43 do segundo capítulo de Atos que muitos sinais e prodígios foram feitos através dos apóstolos, e eles não foram escritos neste livro, e isto estava confirmando que de fato Deus havia derramado o Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus, e que era verdade tudo o que Ele havia falado acerca das coisas que Seus discípulos fariam depois da Sua morte e ressurreição, até mesmo obras maiores do que as que Ele havia feito, em razão deste derramar do Espírito em todas as nações.
As conversões eram reais e os sinais e maravilhas eram também reais.
E muitos estavam certamente refletindo acerca de todas estas coisas e se predispuseram a ouvir o sermão de Pedro depois que o paralítico fora curado pelo poder de Deus em nome do Senhor Jesus.
A cura do paralítico ocorreu à hora nona, quando as pessoas iam orar no templo, isto é, cerca de três horas da tarde.
Todos que iam ao templo sabiam que aquele homem era paralítico de nascença, e que sempre se achava no templo para pedir esmolas.
A cura de sua enfermidade produziu algo bom não somente ao próprio paralítico, como também trouxe vida eterna àquelas cinco mil almas.
Deus faz com que tudo coopere para o bem daqueles que O amam.
Até o próprio mal de uma enfermidade pode ser usado para amolecer corações, que teriam permanecido endurecidos para sempre caso o Senhor não permitisse que tais fraquezas e debilidades decorrentes das enfermidades nos revelem a nossa real condição de vasos de barro, e que assim produz em nós, melhores sentimentos decorrentes de um coração manso e quebrantado.
Quantas vezes se repete, na natureza, que a vida vegetal brote somente na terra que foi quebrada pelo arado.
Há nisto um ensinamento para o próprio coração humano que somente poderá produzir o fruto do amor divino se for quebrado pelas tribulações.
Bem-aventurado é portanto, todo aquele que passou pelo vale das aflições com um coração quebrantado, porque além dele achará o monte do amor de Jesus Cristo.
A cura de uma enfermidade física trouxe cura para milhares de almas.
E isto tem ocorrido sucessivas vezes na história da Igreja.
Muitos chegam a conhecer o amor de Deus somente pelo caminho da dor, mas bendito seja o Seu santo nome por isso, porque somente assim eles podem chegar ao conhecimento da verdadeira felicidade, e da real condição do Deus que servimos, que é puro amor e misericórdia.
O homem não pode ser verdadeiramente feliz, com aquela bem-aventurança que Deus planejou para ele, enquanto não conhecer e também viver e experimentar em si mesmo este amor divino.
A mansidão, a doçura, a poesia que há neste amor, que constitui a natureza mesma de Deus.
Enquanto não for quebrado será arrogante.
A sua força natural é a sua própria fraqueza porque o mantém afastado da concepção de que necessita vitalmente conhecer este amor divino.
Mas se for quebrado, poderá chegar a conhecer que a força verdadeira está na nossa fraqueza.
Quando somos tornados fracos então nos tornamos verdadeiramente fortes, porque descobrimos que Deus é amor e que dependemos de viver neste amor.
Pode parecer um paradoxo, mas é a mais pura realidade, porque o caminho e o pensamento de Deus são diferentes dos nossos.
A Sua natureza é diferente da nossa natureza corrompida pelo pecado.
Então é necessário perder esta vida embrutecida de um viver carnal para que se possa achar a vida pura do amor divino.
É somente assim que verdadeiros sentimentos de compaixão, ternura e cuidado pelo nosso próximo brotarão em nossos corações.
Eles virão a nós do céu, por inspiração divina, somente quando nossos corações são quebrados pelas dores e aflições, que ajudam a transformar a nossa natureza endurecida pelo pecado.
Saber, portanto, que há um Deus misericordioso, pronto a nos ajudar nas nossas fraquezas, assim como Ele fez com aquele coxo de nascença, e com tantos outros que Jesus e os apóstolos vinham curando de suas enfermidades, como instrumentos do amor de Deus, moveu os corações de muitos, e ainda hoje, move os nossos corações a se converterem a um Deus de amor como o nosso.
Na verdade não há outros deuses, e ninguém que possa despertar tais virtudes nos corações endurecidos dos homens.
Somente o Senhor pode quebrá-los para que sejam curados e transformados em corações de carne, habilitados a amarem com o Seu amor divino.
Quando se descobre e se vive isto, é somente então que se descobre o verdadeiro sentido da vida.
E esta vida está em Jesus Cristo que é Aquele que transforma os nossos corações ainda hoje, tal como transformou os corações daqueles cinco mil que se converteram com a pregação de Pedro.
Por isso Pedro não poderia falar em seu próprio nome, nem no de João, que se encontrava com ele, quando o coxo foi curado, e nem quando falaram a toda aquela multidão que se aproximou deles estupefata pelo grande milagre que havia sido realizado.
Depois de ter sido curado o que era coxo entrou no templo saltando e louvando a Deus, e se apegou a Pedro e a João (At 3.11), e eles consentiram nisto.
É absolutamente essencial que se destaque o fato de que Pedro disse que não foi pelo seu próprio poder e piedade de apóstolo, que aquele homem havia sido curado.
Ele usou palavra grega dinamis, para poder, e eusebia, para piedade.
Alguém perguntará o que há de essencial em se saber isto?
Nós dizemos junto com Pedro, que não é por causa de algum poder propriamente nosso, ou por causa de uma santidade perfeita que tenhamos de nós mesmos, que Deus nos usará como Seus instrumentos para a operação de sinais e maravilhas.
Muitos afirmam que é pelo poder que possuem, e também por causa de sua própria piedade, que estão habilitados a curarem enfermos e a realizarem toda sorte de bênçãos, ainda que aleguem que o fazem em nome de Jesus.
Mas Pedro não somente atribuiu toda a glória da cura do coxo a Cristo, como reconheceu e sabia que não era por nenhuma capacidade própria, ou algum poder especial que tivesse de si mesmo, e nem mesmo ainda, por ser inteiramente piedoso, que o Senhor o usara para ser o instrumento daquela cura.
Também por amor às almas daqueles cinco mil, que haviam ficado admirados, Pedro começou a lhes pregar que eles haviam errado de fato quando entregaram Jesus para ser morto, como também haviam negado Àquele a quem Deus havia glorificado, e preferiram poupar a vida de Barrabás, um homicida.
Assim, eles haviam matado o próprio Autor da vida, mas como não poderia ser retido pela morte, Deus o ressuscitou, do que foram testemunhas todos aqueles que O amavam e eram seus amigos.
A prova de que Ele havia ressuscitado e se encontrava glorificado à direita do Pai, podia ser vista no fato de que através deles (Pedro e João), que eram Seus apóstolos, fez com que por meio da fé no seu Nome, aquele coxo fosse fortalecido dando-lhe perfeita saúde.
Havia portanto também esperança de cura para eles, de suas almas, pelo perdão dos seus pecados, e da grave transgressão que haviam cometido matando a Jesus, porque o haviam feito por ignorância, tanto eles quanto as autoridades deles, porque pensavam que Jesus fosse um blasfemo e falso profeta, que segundo a Lei, deveria ser morto.
Estava determinado nos conselhos de Deus, conforme havia testificado pela boca de todos os profetas, que o Cristo deveria padecer, para que pudéssemos nos arrepender dos nossos pecados, e nos converter a Deus, para que os nossos pecados sejam apagados, de maneira que possamos nos tornar aceitáveis a Deus e passar a viver em refrigério e não em tormenta de espírito perante Ele, por meio do recebimento de Jesus, o Messias, o qual estará no céu até ao tempo da restauração de todas as coisas, que Ele mesmo inaugurará com a Sua segunda vinda, a partir do período do milênio que será o ponto de partida para a criação de um novo céu e de uma nova terra.
Pedro lhes ordenou com estas palavras que se arrependessem e se convertessem ao Senhor, porque Moisés mesmo havia afirmado na Lei que Deus levantaria um profeta semelhante a ele, que deveria ser ouvido em tudo que lhes dissesse, e que toda alma que não ouvisse o tal profeta seria exterminada dentre o povo (Dt 18.18).
Não somente Moisés, como todos os profetas, desde Samuel, haviam anunciado aqueles dias em que Deus enviaria o Messias e faria uma Nova Aliança com o Seu povo, pela qual seriam cancelados todos os pecados daqueles que se unissem ao Profeta prometido (Cristo), e que ouvissem Suas palavras para obedecê-las e as colocarem em prática.
Eles fariam bem em dar atenção a tudo o que estavam ouvindo, e a tudo que estava escrito nos profetas acerca do Messias, porque por serem o povo da aliança que Deus havia feito com os seus patriarcas, conforme a promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra através da sua descendência, estava sendo dada a eles portanto, a honra e privilégio de pregarem o evangelho ao mundo, fato comprovado de que Jesus lhes foi enviado primeiramente, para que cada um deles fossem desviados dos seus pecados.
E certamente por tudo que viram na unidade de amor entre os discípulos do Senhor, aqueles novos convertidos foram convencidos de que não seriam salvos apenas para serem purificados dos seus pecados, mas que por meio disto, pudessem de fato ter um coração amoroso em amizade fraterna com todos os seus demais irmãos na fé.
Afinal foram salvos por amor para viverem no amor.
Um amor de fato e de verdade, que procede do fundo da alma, e por isso se diz ser um amor de entranhas, porque é assim que é o amor de Deus, e importa que tal como o Dele deve ser o nosso, porque o Senhor disse que devemos nos amar uns aos outros, por sermos partes integrantes do Seu corpo, membros uns dos outros.
Os apóstolos estavam plenamente convencidos de que Cristo havia vindo ao mundo para que se cumprisse a promessa de Deus feita a Abraão de abençoar através do seu descendente, que é Cristo, todas as nações da terra.
A descendência de Abraão foi levantada para este propósito, para que Cristo pudesse ser dado pelo Pai ao mundo, para ser o abençoador de todas as nações.
Assim, todos os que estão engajados no ministério de pregar o evangelho de Jesus, estão encarregados deste dever de abençoarem e não de amaldiçoarem.
E eles serão estes instrumentos da bênção de Deus, através do amor de Cristo que tiverem em seus corações, pela habitação do Espírito Santo.
Todas as duras ameaças que Deus havia feito contra o Seu povo através dos profetas, em razão dos pecados deles, eram devidas especialmente a esta impossibilidade que o pecado traz de se poder viver no amor de Deus tanto em comunhão com Ele quanto com o nosso próximo. Mas, com a vinda de Cristo, e a conversão de muitos que se deixariam transformar pelo Espírito Santo, o propósito original de Deus na criação do homem para que este pudesse viver em amor seria plenamente resgatado naqueles que viessem a se converter a Ele, desviando-se dos seus pecados.
Por isso o apóstolo Pedro se referiu a esta nova condição diante de Deus como um tempo de refrigério, porque é por este viver em amor que o fogo da ira de Deus não somente é abrandado, como inteiramente removido em relação àqueles que andam no Espírito, por causa da fé deles em Cristo.
Em vez de inimizade há agora amizade.
Em vez de rejeição há agora aceitação e adoção.
Em vez de condenação, absolvição.
Em vez de afastamento, reconciliação.
Tudo isto é possível somente por se estar em Cristo e permanecer nEle, andando em novidade de vida.
“1 Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona.
2 E, era carregado um homem, coxo de nascença, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam.
3 Ora, vendo ele a Pedro e João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
5 E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa.
6 Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda.
7 Nisso, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram
8 e, dando ele um salto, pôs-se em pé. Começou a andar e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus.
9 Todo o povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus,
10 reconhecia-o como o mesmo que estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera.
11 Apegando-se o homem a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao pórtico chamado de Salomão.
12 Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?
13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo.
14 Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida;
15 e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.
16 E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
17 Agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades.
18 Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer.
19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor,
20 e envie ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus,
21 ao qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio.
22 Pois Moisés disse: Suscitar-vos-á o Senhor vosso Deus, dentre vossos irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.
23 E acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta, será exterminada dentre o povo.
24 E todos os profetas, desde Samuel e os que sucederam, quantos falaram, também anunciaram estes dias.
25 Vós sois os filhos dos profetas e do pacto que Deus fez com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.
26 Deus suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades.” (Atos 3.1-26)