Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Vitória do Evangelho da Graça 
 
O diabo não conseguiu paralisar a obra de evangelização através das perseguições e martírios que estava realizando contra a Igreja, especialmente através dos judeus, pela tentativa de demonstrar que o Cristianismo era uma heresia, sob o falso argumento dissimulado que se não o fosse de fato, não estaria sendo perseguido pelo próprio povo ao qual Deus havia se revelado e dado  as Escrituras do Velho Testamento.
E não somente conseguiu paralisar a Igreja, como os seus esforços satânicos na perseguição, estavam contribuindo somente para espalhar ainda mais o fogo do Espírito Santo em todas as partes do mundo.
Então ele mudou de estratégia, e passou a usar os próprios judeus que haviam se convertido ao cristianismo, mas que não tinham abandonado as suas convicções arraigadas no cerimonialismo da lei de Moisés, para tentar destruir a Igreja por dentro, com a adulteração da mensagem verdadeira do evangelho, de maneira que se pregasse que a salvação não era pela graça, mediante a fé, mas pelas boas obras, e particularmente por se guardar todos os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés.
Satanás sabia que nem os próprios judeus guardavam perfeitamente estes mandamentos, mas como eram fiéis na circuncisão do prepúcio, o que os gentios de um modo geral, especialmente os gregos, consideravam uma coisa abominável, por ser, segundo eles uma mutilação do corpo, tentaria desencorajar a conversão de muitos gentios e até mesmo desviar a muitos da fé, pelo ensino de que para serem salvos, seria necessário não apenas se circuncidarem, como também guardarem toda a Lei de Moisés, tornando-se prosélitos do judaísmo, vivendo como se fossem judeus.         
Então, é com esta tentativa de destruir a igreja pela adulteração da doutrina, que nós nos deparamos neste 15º capítulo de Atos, e o próprio Deus levantou Paulo para que subisse a Jerusalém, conforme o apóstolo testemunha em  Gál 2.2 para a defesa da verdade do evangelho, de maneira que não vingasse o propósito do diabo de adulterar a sã doutrina.
Não havia nenhum problema que alguém aceitasse a Cristo como Salvador e circuncidasse o prepúcio, o problema estava em pensar que era por se fazer isto que se obtinha a salvação; até mesmo porque a circuncisão não foi prescrita à descendência de Abraão para tal propósito, senão apenas para distinguir os seus descendentes como um povo que havia sido separado por Deus dos costumes das demais nações, para se revelar através deles.
Assim a questão proposta pelos fariseus que haviam se convertido de que todos os cristãos gentios deveriam ser circuncidados e observarem toda a lei civil e cerimonial de Moisés (v. 1, 5), para que pudessem ser salvos, era muito mais profunda do que uma simples incorporação de hábitos judaicos à fé, mas uma tentativa de destruição da própria fé, que não vem por se circuncidar ou por se guardar a Lei de Moisés, mas pela graça de Jesus Cristo, que é concedida aos que se arrependem de seus pecados e creem nEle. 
Foi isto que Paulo foi defender em Jerusalém juntamente com Barnabé.
O fato de muitos cristãos da Igreja da Judeia estarem vivendo ainda debaixo dos costumes da Lei de Moisés era algo muito natural para eles, porque haviam sido criados debaixo daquele costume e tradição, mas dificilmente um gentio se deixaria persuadir a viver como se fosse um judeu; e nem mesmo isto estava sendo imposto a eles por Deus, e daí ter inaugurado uma Nova Aliança no lugar da Antiga, especialmente para que as pessoas de todas as nações pudessem abraçar o evangelho, sem qualquer impedimento.
Nós vemos assim que a defesa de pontos doutrinários essenciais à manutenção da verdade central do evangelho, da remissão dos pecados, exclusivamente pela graça, mediante a fé, sem o concurso das obras para a justificação e regeneração do Espírito Santo, não pode ser deixada de lado a pretexto de renunciarmos à verdade, em favor de doutrinas criadas pela imaginação ou tradição dos homens.
Se permitirmos que isto aconteça, Deus não permitirá, porque sempre levantará seus servos fiéis, conforme fizera com Paulo e Barnabé, para que seja defendida e mantida a verdade na Igreja (não falo de Igreja como instituição, mas como a reunião dos que tiveram um encontro espiritual pessoal com Cristo).
 O problema que deveria ser resolvido portanto pelos apóstolos, presbíteros e toda a Igreja de Jerusalém juntamente com Paulo e Barnabé, não era de natureza simples, e não consistia em se conciliar partes, mas a definição e defesa da verdade conforme esta se encontra em Jesus e foi ensinada e revelada por Ele, e pelo Espírito Santo.
Se o argumento dos fariseus fosse aceito como verdadeiro, então todos os gentios que haviam se convertido ainda se encontravam perdidos em seus pecados, o que não era verdade.
Pedro mesmo foi testemunha do modo como Deus derramou o Espírito sobre todos os da casa de Cornélio, sem que fosse necessário que se circuncidassem ou guardassem o cerimonial da Lei, ao qual o próprio Pedro se referiu na oportunidade da realização do concílio em Jerusalém, como sendo um jugo pesado, que nem eles e nem os antepassados de Israel suportavam, e do qual tiveram alívio pela Nova Aliança, que lhes foi dada pelo evangelho.
E como seria lícito então tentarem impor este jugo aos gentios, quando nem os próprios judeus o suportavam? (v. 10).
Vejam que os que ensinavam estas coisas não o faziam com o consentimento ou autorização dos apóstolos da circuncisão, porque estavam bem inteirados que o coração, quer de judeus, quer de gentios é purificado somente pela fé (v. 9), e que ambos são salvos exclusivamente pela graça do Senhor Jesus (v. 11).
Se Pedro fosse legalista, não teria dado este testemunho na presença de todos.
De igual modo, Tiago, que é também acusado falsamente por muitos de ter sido legalista, jamais teria expedido a decisão final do concílio com as palavras que lemos nos versos 13 a 21, em que se destaca a confirmação da salvação dos gentios conforme estava revelado nos profetas, e que isto seria feito com a reedificação do tabernáculo de Davi que estava caído e que é reedificado em Cristo; de maneira que os cristãos gentios não deveriam ser perturbados, senão somente escrever-lhes que se abstivessem da idolatria, da prostituição, do que é sufocado e do sangue; uma vez que não seria o fato de algum gentio se converter a Cristo que impediria os judeus de continuarem se reunindo a cada sábado nas sinagogas. 
A única prescrição cerimonial que os gentios deveriam acatar dizia respeito a não comerem carne de animais sufocados e sangue porque isto era uma abominação terrível para os judeus, e por amor, e em nome da unidade da Igreja, fariam bem em acatar tal decisão naqueles dias para que houvesse paz na Igreja.
Dariam também com isto uma demonstração da sua submissão aos apóstolos, apesar de saberem que em Cristo toda a Lei cerimonial havia sido revogada.  
O teor das palavras que redigiram para os cristãos gentios se encontra registrado nos versos 23 a 29, na qual confirmaram tudo o que acabamos de comentar, e foram feitas cópias para serem entregues nas Igrejas por Paulo e Barnabé, juntamente com Judas e Silas, que eram homens de boa reputação da Igreja de Jerusalém, que serviriam de testemunhas, que de fato aquela decisão havia sido tomada pelos apóstolos reunidos com todos os presbíteros e a Igreja de Jerusalém, quanto às prescrições que os cristãos gentios deveriam guardar, para não ofenderem a seus irmãos cristãos judeus. 
Os apóstolos jamais ensinariam ou determinariam algo com o propósito de confundir ou perturbar as almas dos cristãos, e deste modo a ninguém haviam mandado que ensinassem tais coisas pervertidas aos gentios, que eram completamente nocivas e contrárias à fé (v. 24).
De igual modo, todos os pastores deveriam seguir o exemplo que nos foi dado pelos apóstolos.
Não fomos chamados para atar fardos pesados às costas das pessoas, conforme os fariseus costumavam fazer, mas chamá-las a lançarem todos os seus fardos sobre Cristo, para que tenham paz e alegria em suas almas.  
De posse da carta expedida pela Igreja de Jerusalém, Paulo, Barnabé, Judas, Silas, e toda a comitiva de cristãos gentios que haviam subido a Jerusalém, retornaram a Antioquia da Síria, onde entregaram a carta à Igreja reunida em assembleia (v. 30).
Assim, aqueles que estivessem ainda com alguma dúvida, que lhes foi lançada em seus corações pelo diabo, puderam se alegrar com todos os demais por aquelas palavras consoladoras e que lhes acalmou as consciências, porque todo cristão verdadeiro não quer desapontar a Deus em nada que seja relativo à Sua vontade, e sabendo disto, Satanás trabalha muito semeando falsas doutrinas nas Igrejas, com o propósito de confundir e acusar as consciências dos cristãos.
Judas e Silas eram profetas e foram usados pelo Senhor em Antioquia para exortar os irmãos e fortalecê-los com muitas palavras (v. 32).
Muitos poderiam se perguntar por que haveria tal necessidade numa Igreja que tinha muitos profetas e mestres, como o próprio Paulo e Barnabé?
Mas esta passagem nos ensina que Deus usa os Seus instrumentos onde quer e como quer, e faremos bem em estar abertos à Sua Palavra na boca daqueles que nos tem enviado e que não sejam membros de nossas Igrejas. 
Depois de algum tempo Judas retornou a Jerusalém, mas Silas decidiu permanecer em Antioquia, e como veremos adiante, ele saiu juntamente com Paulo em sua segunda viagem missionária.
Este Silas era também conhecido por Silvano, e viria a se juntar posteriormente ao apóstolo Pedro, tendo sido ele o amanuense (quem escreveu) as suas duas epístolas (I e II Pedro).      
Quando Paulo decidiu revisitar as igrejas que  haviam fundado para ver como os irmãos se encontravam na fé, Barnabé decidiu que levassem consigo a João Marcos, mas Paulo não desejou que ele os acompanhasse no trabalho porque lhes havia abandonado em Perge, na Pafília, antes mesmo de começarem o trabalho missionário.  
Eles não chegaram a um acordo, e por isso Barnabé resolveu navegar para Chipre com João Marcos; e Paulo juntamente com Silas partiu em direção oposta, indo por terra através da Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.  
Não podemos fundar um trabalho pelo qual o Senhor nos fez responsáveis e deixar os cristãos que se converteram sob este trabalho à sua própria sorte, apesar de sabermos que o Espírito Santo é quem cuidará deles.
Há necessidade de apoio espiritual, de comunhão, de ensino, de exemplo como se portar nas tribulações, orar juntos, e deixar bem claro que a vida cristã é uma guerra de muitas batalhas espirituais, que só terminará quando sairmos deste mundo, porque é necessário combater o bom combate da fé, e perseverar até o fim a par de toda e qualquer circunstância, porque todo aquele que recebeu a Jesus como Senhor, alistou-se no Seu exército, do qual Ele é o general, e lutará por nós na nossa guerra contínua contra os principados e potestades espirituais do mal.
 
 
 
 
“1 Então alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.
2 Tendo Paulo e Barnabé contenda e não pequena discussão com eles, os irmãos resolveram que Paulo e Barnabé e mais alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, por causa desta questão.
3 Eles, pois, sendo acompanhados pela igreja por um trecho do caminho, passavam pela Fenícia e por Samária, contando a conversão dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmãos.
4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles.
5 Mas alguns da seita dos fariseus, que tinham crido, levantaram-se dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes observar a lei de Moisés.
6 Congregaram-se pois os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande discussão, levantou-se Pedro e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem.
8 E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós;
9 e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé.
10 Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também.
12 Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios.
13 Depois que se calaram, Tiago, tomando a palavra, disse: Irmãos, ouvi-me:
14 Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios para tomar dentre eles um povo para o seu Nome.
15 E com isto concordam as palavras dos profetas; como está escrito:
16 Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído; reedificarei as suas ruínas, e tornarei a levantá-lo;
17 para que o resto dos homens busque ao Senhor, sim, todos os gentios, sobre os quais é invocado o meu nome,
18 diz o Senhor que faz estas coisas, que são conhecidas desde a antiguidade.
19 Por isso, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus,
20 mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.
21 Porque Moisés, desde tempos antigos, tem em cada cidade homens que o preguem, e cada sábado é lido nas sinagogas.
22 Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a igreja escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens influentes entre os irmãos.
23 E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos e os anciãos, irmãos, aos irmãos dentre os gentios em Antioquia, na Síria e na Cicília, saúde.
24 Portanto ouvimos que alguns dentre nós, aos quais nada mandamos, vos têm perturbado com palavras, confundindo as vossas almas,
25 pareceu-nos bem, tendo chegado a um acordo, escolher alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo,
26 homens que têm exposto as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27 Enviamos portanto Judas e Silas, os quais também por palavra vos anunciarão as mesmas coisas.
28 Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias:
29 Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar. Bem vos vá.
30 Então eles, tendo-se despedido, desceram a Antioquia e, havendo reunido a assembleia, entregaram a carta.
31 E, quando a leram, alegraram-se pela consolação.
32 Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram os irmãos com muitas palavras e os fortaleceram.
33 E, tendo-se demorado ali por algum tempo, foram pelos irmãos despedidos em paz, de volta aos que os haviam mandado.
34 [Mas pareceu bem a Silas ficar ali.]
35 Mas Paulo e Barnabé demoraram-se em Antioquia, ensinando e pregando com muitos outros a palavra do Senhor.
36 Decorridos alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que temos anunciado a palavra do Senhor, para ver como vão.
37 Ora, Barnabé queria que levassem também a João, chamado Marcos.
38 Mas a Paulo não parecia razoável que tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os tinha acompanhado no trabalho.
39 E houve entre eles tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.
40 Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.
41 E passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.” (Atos 15.1-41)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 16/12/2012
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