O Evangelho Anunciado na Ásia (Éfeso) – Atos 19
Pelo que vimos da experiência das pessoas que haviam se convertido sob a pregação de Filipe, e que receberam o Espírito Santo somente depois da imposição de mãos de Pedro de João; da experiência de Apolo, e agora destes cerca de doze discípulos de João que haviam crido em Cristo, mas que não haviam também recebido o Espírito Santo, somente depois que Paulo impôs as mãos sobre eles, podemos aprender que a grande e melhor comprovação de se saber que aqueles que se professam cristãos, pertencem ou não realmente a Cristo, é observar se receberam de fato o Espírito Santo, porque sem esta habitação do Espírito ninguém pode pertencer a Ele (Rom 8.9b).
Foi por isso que vemos no 19º capítulo de Atos, que quando Paulo chegou na cidade de Éfeso e encontrou alguns discípulos, ele lhes perguntou se tinham recebido o Espírito Santo quando creram, e a resposta foi que nem mesmo ouviram falar da existência do Espírito Santo, e quando Paulo lhes perguntou em que então haviam sido batizados, responderam que no batismo de João.
Quando Pedro anunciou o evangelho na casa de Cornélio, o Espírito caiu também sobre todos os que ouviam a palavra, e falavam em línguas e engrandeciam a Deus (At 10.44-46).
Não padece dúvida de que tiveram a mesma experiência que os discípulos de João, que Paulo havia encontrado em Éfeso.
O ato de profetizar acompanhando o momento da conversão era o cumprimento da profecia de Joel, relativa ao derramamento do Espírito sobre toda a carne, fato que tanto os apóstolos, quanto Lucas fizeram questão de registrar (At 2.18).
E o dom de línguas, sendo concedido simultaneamente com a conversão, era também um sinal, uma evidência do cumprimento da afirmação de Jesus do que ocorreria com os que cressem, como sendo uma evidência da conversão daqueles que abraçassem o evangelho, debaixo da pregação dos apóstolos (Mc 16.17).
Basicamente, Paulo evangelizou Éfeso como área pioneira em sua 3a viagem, pois visitara nesta viagem, as mesmas cidades que havia evangelizado em sua 2a viagem.
Como era seu costume, Paulo frequentava a sinagoga pregando o evangelho, primeiro aos judeus, e isto durante 3 meses, mas como alguns se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do evangelho diante da multidão, Paulo separou os discípulos que haviam crido, e passou a discorrer na escola de Tirano por dois anos, tendo ouvido a Palavra, tanto judeus, quanto gregos, de toda a Ásia.
Provavelmente, em face da importância de Éfeso como centro para a irradiação do evangelho, e por haver na cidade o culto pagão da deusa Diana ou Artêmis, que era muito concorrido, Deus fez nesta cidade, pelas mãos de Paulo, milagres extraordinários, a ponto de até curar enfermidades, e expulsar espíritos malígnos, daqueles aos quais os lenços e aventais de uso pessoal de Paulo eram levados (At 19. 8-11).
Para o propósito de envergonhar através do evangelho as potestades do reino das trevas, que dominavam a cidade de Éfeso, Lucas, inspirado pelo Espírito, registrou logo após a citação dos prodígios, que eram operados por meio de Paulo, a experiência desafortunada dos sete filhos de Ceva, que eram judeus exorcistas ambulantes, que tentaram expelir demônios pelo nome do Jesus que Paulo pregava.
Mas os endemoninhados deram sobre eles desnudando-os e ferindo-os (v. 13 a 16).
Este fato trouxe terror aos habitantes de Éfeso e fez com que o nome de Jesus fosse engrandecido (v. 17).
E muitos dos que creram confessaram publicamente as suas obras, e os que praticavam artes mágicas queimaram os seus livros.
Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia em Éfeso (v. 18 a 20).
Ora, o que aprendemos disto é que não é a simples afirmação verbal do nome do Jesus que os verdadeiros cristãos servem, como fizeram os sete filhos de Ceva, que conduz às operações de Deus no mundo espiritual, mas o fato de estar realmente unido a Cristo por meio da fé, e estar lhe servindo de fato, como era o caso de Paulo.
O verdadeiro servo do Senhor prevalece sobre os demônios, assim como Paulo, cujos aventais e lenços expeliam espíritos malígnos.
Não propriamente tais materiais, mas o que representavam, o poder de Deus na vida do apóstolo.
O incidente havido com os filhos de Ceva serviu para comprovar que Paulo estava de fato a serviço do Deus Altíssimo, e que a Palavra que pregava era portanto a verdade, e Jesus a quem Paulo servia era mais poderoso do que os espíritos malígnos, sendo digno de ser crido e servido, motivo porque renunciaram às práticas que estavam associadas a demônios.
Foi nesta ocasião que Paulo deliberou ir a Jerusalém, mas queria antes revisitar as igrejas, que havia fundado na Macedônia e na Grécia durante a 2a viagem, e depois de estar em Jerusalém pretendia ir a Roma (v. 21,22).
A derrubada das potestades espirituais que operavam em Éfeso, por meio do evangelho pregado por Paulo trouxe prejuízo aos negócios dos exploradores do culto idolátrico da deusa Diana, porque Paulo persuadia a muitos dizendo que não eram deuses os que são feitos por mãos humanas, e foi tentado um levante contra ele por parte de um dos ourives, chamado Demétrio, que fabricava nichos de prata de Diana (v. 23 a 40).
Foi de Éfeso que Paulo escreveu a primeira epístola aos Coríntios, como se infere de I Cor 16.8,9.
“1 E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo atravessado as regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos,
2 perguntou-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? Responderam-lhe eles: Não, nem sequer ouvimos que haja Espírito Santo.
3 Tornou-lhes ele: Em que fostes batizados então? E eles disseram: No batismo de João.
4 Mas Paulo respondeu: João administrou o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que após ele havia de vir, isto é, em Jesus.
5 Quando ouviram isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus.
6 Havendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam em línguas e profetizavam.
7 E eram ao todo uns doze homens.
8 Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.
9 Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho diante da multidão, apartou-se deles e separou os discípulos, discutindo diariamente na escola de Tirano.
10 Durou isto por dois anos; de maneira que todos os que habitavam na Ásia, tanto judeus como gregos, ouviram a palavra do Senhor.
11 E Deus pelas mãos de Paulo fazia milagres extraordinários,
12 de sorte que lenços e aventais eram levados do seu corpo aos enfermos, e as doenças os deixavam e saíam deles os espíritos malignos.
13 Ora, também alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome de Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega.
14 E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, um dos principais sacerdotes.
15 Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?
16 Então o homem, no qual estava o espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois e prevaleceu contra eles, de modo que, nus e feridos, fugiram daquela casa.
17 E isto tornou-se conhecido de todos os que moravam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e veio temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
18 E muitos dos que haviam crido vinham, confessando e revelando os seus feitos.
19 Muitos também dos que tinham praticado artes mágicas ajuntaram os seus livros e os queimaram na presença de todos; e, calculando o valor deles, acharam que montava a cinquenta mil moedas de prata.
20 Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
21 Cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em seu espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, porque dizia: Depois de haver estado ali, é-me necessário ver também Roma.
22 E, enviando à Macedônia dois dos que o auxiliavam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia.
23 Por esse tempo houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho.
24 Porque certo ourives, por nome Demétrio, que fazia da prata miniaturas do templo de Diana, proporcionava não pequeno negócio aos artífices,
25 os quais ele ajuntou, bem como os oficiais de obras semelhantes, e disse: Senhores, vós bem sabeis que desta indústria nos vem a prosperidade,
26 e estais vendo e ouvindo que não é só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desviado muita gente, dizendo não serem deuses os que são feitos por mãos humanas.
27 E não somente há perigo de que esta nossa profissão caia em descrédito, mas também que o templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo mesmo a ser destituída da sua majestade aquela a quem toda a Ásia e o mundo adoram.
28 Ao ouvirem isso, encheram-se de ira, e clamavam, dizendo: Grande é a Diana dos efésios!
29 A cidade encheu-se de confusão, e todos à uma correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem.
30 Querendo Paulo apresentar-se ao povo, os discípulos não lho permitiram.
31 Também alguns dos asiarcas, sendo amigos dele, mandaram rogar-lhe que não se arriscasse a ir ao teatro.
32 Uns, pois, gritavam de um modo, outros de outro; porque a assembleia estava em confusão, e a maior parte deles nem sabia por que causa se tinham ajuntado.
33 Então tiraram dentre a turba a Alexandre, a quem os judeus impeliram para a frente; e Alexandre, acenando com a mão, queria apresentar uma defesa ao povo.
34 Mas quando perceberam que ele era judeu, todos a uma voz gritaram por quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios!
35 Havendo o escrivão conseguido apaziguar a turba, disse: Varões efésios, que homem há que não saiba que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que caiu de Júpiter?
36 Ora, visto que estas coisas não podem ser contestadas, convém que vos aquieteis e nada façais precipitadamente.
37 Porque estes homens que aqui trouxestes, nem são sacrílegos nem blasfemadores da nossa deusa.
38 Todavia, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma queixa contra alguém, os tribunais estão abertos e há procônsules: que se acusem uns aos outros.
39 E se demandais alguma outra coisa, averiguar-se-á em legítima assembleia.
40 Pois até corremos perigo de sermos acusados de sedição pelos acontecimentos de hoje, não havendo motivo algum com que possamos justificar este ajuntamento.
41 E, tendo dito isto, despediu a assembleia.” (Atos 1.1-41)