Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
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Últimas Passos de Paulo Antes de Ser Preso – Atos 20
 
Cessado o tumulto causado por Demétrio em Éfeso por causa da deusa Diana, que foi apaziguado pelo escrivão da cidade, Paulo partiu de Éfeso para a Macedônia e fortaleceu os discípulos com muitas exortações, e é também afirmado em Atos 20.2 que “andou por aquelas regiões”, isto é, pelas Igrejas das cidades da Macedônia (Bereia, Tessalônica e Filipos).
Tal permanência na Macedônia não foi portanto curta, e deve ter durado cerca de um ano.
Foi portanto quando esteve na Macedônia, cerca de um ano após ter escrito I Coríntios em Éfeso, que Paulo escreveu a segunda epístola aos Coríntios.
Isto se depreende do fato de ter-se referido a uma grande coleta que deveria ser levantada em favor dos cristãos pobres de Jerusalém, na primeira epístola aos coríntios, conforme instruções que lhes deu sobre a forma de efetuarem a referida coleta, em I Cor 16.1-4.
Agora, vemos o apóstolo citar em II Cor 9.1-5, a referida coleta que havia sido feita, dizendo que estava se gloriando junto aos macedônios quanto ao fato de que os coríntios estavam preparados desde o ano anterior (v 2).
Ora, isto significa que a oferta já havia sido levantada pelo espaço de cerca de um ano desde que havia se referido à forma de como deveria ser levantada, quando lhes escreveu I Coríntios.
Depois desta estada na Macedônia, Paulo retornou à Grécia e permaneceu na cidade de Corinto por 3 meses, conforme se vê nos versos 1 a 3 deste vigésimo capítulo de Atos. 
Foi durante esta sua permanência de três meses em Corinto que escreveu a epístola aos Romanos, também em 55 d.C, depois de ter escrito II Coríntios na mesma data, na Macedônia.
Em Romanos 15.25-28, Paulo afirma que já se encontrava de posse da oferta em favor dos cristãos pobres de Jerusalém, e que estava levando a mesma consigo para entregá-la em Jerusalém.
Que escreveu aos Romanos quando estava em Corinto, se depreende do fato de que Gaio, que o hospedava por ocasião da escrita de Romanos, residia em Corinto (Rom 16.23; I Cor 1.14).
Paulo pretendia embarcar para a Síria navegando pelo Mediterrâneo, na direção de Jerusalém, mas sabendo que os judeus haviam montado uma conspiração contra ele, decidiu retornar pela Macedônia, para dali, se dirigir a Jerusalém.
Ele se fazia acompanhar naquela ocasião de Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico e Trófimo.
Lucas tornou a acompanhar a Paulo quando eles chegaram em Filipos, porque a seção “nós” do livro de Atos é retomada a partir do verso 6.
Os demais embarcaram antes de Paulo e Lucas, para Trôade, porque é possível que Paulo tenha se detido para confirmar a fé dos discípulos de Filipos, celebrar a festa da Páscoa com eles (Atos 20.6), e definir a entrega do trabalho daquela Igreja, que vinha sendo supervisionada por Lucas, a um pastor local permanente.  
Assim, depois de cinco dias, Paulo e Lucas se reuniram ao grupo que havia partido antes deles para Trôade, cidade portuária do extremo oeste da Ásia, onde permaneceram sete dias (v. 6). 
Foi no último destes sete dias em Trôade, que era um domingo no qual a Igreja se reuniu para celebrar a santa ceia,  que Paulo fez o seu famoso discurso que durou toda uma noite e madrugada, durante o qual um jovem chamado Êutico caiu da janela do terceiro andar do edifício em que se encontravam.
Ele havia dormido durante a longa pregação de Paulo e por isso caiu; e tendo morrido, foi ressuscitado pelo apóstolo, antes que houvessem ceado; subindo com ele Paulo retornou à pregação, e depois de cearem, continuou pregando até ao romper do dia.
Ao partirem de Trôade, Paulo ordenou ao seu grupo de cooperadores que fossem de navio para Assôs, outra cidade portuária, ao sul e próxima de Trôade, porque pretendia ir para lá indo por terra (v. 13).
Tendo se reunido a eles em Assôs, navegaram no mesmo navio em direção a Mileto, cidade portuária ao sul e próxima de Éfeso, tendo passado antes de chegarem a Mileto, defronte à ilha de Quios, e de Samos e Trogílio, onde permaneceram ancorados por algum tempo, tendo chegado no dia seguinte a Mileto. 
Nós vemos assim que Paulo nunca estava sozinho na realização da obra missionária.
Paulo convocou uma reunião com os presbíteros da Igreja de Éfeso quando aportou em Mileto, porque não queria se demorar em Éfeso, porque se apressava para chegar em Jerusalém no dia de Pentecostes (v. 16,17).
Dos versos 18 a 38 nós temos o registro das palavras proferidas aos presbíteros de Éfeso no encontro que teve com eles em Mileto.
Foram sobretudo palavras de exortação para vigiarem e seguirem o exemplo que lhes havia dado na forma como se deve fazer a obra de Deus, especialmente no que diz respeito ao cuidado de si mesmos como ministros, e do rebanho sobre o qual haviam sido constituídos bispos (supervisores, lideres espirituais) pelo Espírito, para apascentarem a Igreja de Deus, que foi adquirida com o preço do sangue de Jesus (v. 28).  
O primeiro dever dos ministros do evangelho é o de cuidarem de seus próprios corações, vigiando contra tudo que possa quebrar a comunhão deles com Deus, por brechas abertas pelo pecado, pelo diabo e pelo mundo na sua santificação. 
Assim, depois de terem o cuidado de se acharem permanentemente preparados para servirem no altar do Senhor, têm a obrigação de apascentarem o Seu rebanho, alimentando-o com a Palavra e sustentando-o com as suas intercessões e cuidados. 
Esta vigilância e cuidado permanentes se fazem necessários especialmente porque sempre há lobos vorazes e cruéis, que geralmente vêm vestidos em peles de ovelhas, para enganarem o rebanho, e assim  ensinam e fazem coisas pervertidas contra o evangelho de Cristo, sem a menor preocupação com o bem estar espiritual das ovelhas (v. 28, 29).
Deus lhes havia dado este alerta porque lhe fora revelado pelo Senhor que dentre os próprios cristãos que faziam parte da Igreja de Éfeso, se levantariam alguns falsos líderes, falando coisas pervertidas para atraírem os discípulos após si, e desviando-os da fidelidade a Cristo (v. 30).
Eles deveriam portanto vigiar para afastar o lobo do meio deles.
Entretanto, apesar de toda a vigilância que possam ter tido depois da partida de Paulo, o fato é que a profecia se cumpriu, e nós vemos anos depois Paulo ordenando a Timóteo, que fosse ordenar presbíteros fiéis na Igreja de Éfeso, porque muitos haviam se desviado da sã doutrina, e não estavam atendendo às qualificações que são necessárias para o exercício do ministério, conforme podemos ver na primeira epístola de Paulo a Timóteo.
Paulo lhes disse que deveriam vigiar lembrando-se de seguir o seu exemplo, porque por três anos inteiros não havia cessado de admoestar com lágrimas a cada um deles, noite e dia.   
Portanto, poderia deixá-los agora ao completo cuidado de Deus e da palavra da Sua graça, lembrando-lhes que Ele era poderoso para edificá-los e garantir o recebimento da herança juntamente com todos os demais cristãos que são santificados (v. 32).
Veja que a herança é prometida aos que se santificam.     
Paulo lhes lembrou que o ministério não é para a nossa própria exaltação e glória, porque haviam testemunhado no exemplo dele, qual é o modo pelo qual importa que o Senhor seja servido, a saber, com toda a humildade, com lágrimas e suportando com paciência as provações (v.19).
Mesmo em face de todas estas oposições, resistências, perseguições, tribulações, o ministro do evangelho não deve se esquivar de ensinar tudo o que seja útil segundo o evangelho, seja na pregação pública, seja no evangelismo pessoal, tal como Paulo havia feito, testificando tanto a judeus, quanto a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
Ambos devem ser apresentados juntamente, porque são inseparáveis, a saber, o arrependimento e a fé, porque um depende do outro, porque têm sido ligados inseparavelmente pelo Senhor, para aqueles que pretendam realmente se unir a Ele (v. 21).     
Assim, Paulo nunca havia se esquivado de lhes ensinar todo o conselho de Deus, porque não pregava para agradar a homens, senão para ser fiel à pregação de toda a Palavra da verdade, conforme  a encontramos, especialmente nas suas epístolas (v. 27).
É somente quando se prega com tal fidelidade à vontade de Deus, que se pode ter a mesma convicção que Paulo tinha, e que expressou no verso 26: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.”.
Paulo estava rumando para Jerusalém, mas estava constrangido em seu espírito, porque não sabia o que lhe aconteceria ali, apesar do Espírito Santo ter testificado com ele de cidade em cidade, que lhe aguardavam prisões e tribulações, nas quais estaria correndo o risco de perder a sua própria vida.       
No entanto, pela comunhão com o Espírito e pelas experiências de livramentos poderosos, que havia experimentado antes, Paulo havia aprendido a não ter a sua vida como preciosa para si mesmo, desde que ela pudesse ser gasta e oferecida a Deus para cumprir a  carreira e o ministério que havia recebido do Senhor, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (v. 23, 24).   
Os efésios deveriam se lembrar sempre do exemplo que lhes fora deixado por Paulo, para seguirem as suas pegadas, assim como era imitador de Cristo, porque nunca mais veriam o seu rosto depois da sua partida (v. 25).
Além de tudo isto que já lhes havia recordado, deveriam também lembrar que não se faz a obra de Deus por motivos gananciosos, e que nem se deve explorar a ninguém; de maneira que em vez de ficarmos na expectativa de sermos socorridos, como líderes, devemos dar o exemplo de socorrer os necessitados, palavra esta (necessitados) do verso 35, que no original grego é astenia, isto é os fracos, pobres, enfermos e todo aquele que necessita de amparo e consolo no corpo do Senhor.
Depois de ter dado aos presbíteros de Éfeso todas as instruções constantes do capítulo vigésimo de Atos, Paulo se ajoelhou e orou com todos eles, e houve um grande pranto entre todos, que se lançando ao pescoço do apóstolo, o beijavam com ósculo santo; entristecidos principalmente pela palavra que lhes dissera que nunca mais veriam o seu  rosto.   
Todos o acompanharam até o navio no qual embarcou rumo a Jerusalém, onde viria a ser preso, como veremos nos capítulos seguintes, e dali seria levado ainda aprisionado para Cesareia e para Roma, de maneira que estas prisões somariam um período superior a seis anos.
Deus em sua soberania, manteria por algum tempo o apóstolo dos gentios na prisão, cremos que para demonstrar que não era a presença de Paulo propriamente dita, nas Igrejas, que garantia o avanço do Evangelho, mas a presença do Espírito Santo, e também para proteger a sua vida, do grande número de judeus que pretendia matá-lo.    
 
 
 
 
“1 Depois que cessou o alvoroço, Paulo mandou chamar os discípulos e, tendo-os exortado, despediu-se e partiu para a Macedônia.
2 E, havendo andado por aquelas regiões, exortando os discípulos com muitas palavras, veio à Grécia.
3 Depois de passar ali três meses, visto terem os judeus armado uma cilada contra ele quando ia embarcar para a Síria, determinou voltar pela Macedônia.
4 Acompanhou-o Sópater de Bereia, filho de Pirro; bem como dos de Tessalônica, Aristarco e Segundo; Gaio de Derbe e Timóteo; e dos da Ásia, Tíquico e Trófimo.
5 Estes porém, foram adiante e nos esperavam em Trôade.
6 E nós, depois dos dias dos pães ázimos, navegamos de Filipos, e em cinco dias fomos ter com eles em Trôade, onde nos detivemos sete dias.
7 No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite.
8 Ora, havia muitas luzes no cenáculo onde estávamos reunidos.
9 E certo jovem, por nome Êutico, que estava sentado na janela, tomado de um sono profundo enquanto Paulo prolongava ainda mais o seu sermão, vencido pelo sono caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto.
10 Tendo Paulo descido, debruçou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, pois a sua alma está nele.
11 Então subiu, e tendo partido o pão e comido, ainda lhes falou largamente até o romper do dia; e assim partiu.
12 E levaram vivo o jovem e ficaram muito consolados.
13 Nós, porém, tomando a dianteira e embarcando, navegamos para Assôs, onde devíamos receber a Paulo, porque ele, havendo de ir por terra, assim o ordenara.
14 E, logo que nos alcançou em Assôs, recebemo-lo a bordo e fomos a Mitilene;
15 e navegando dali, chegamos no dia imediato defronte de Quios, no outro aportamos a Samos e tendo-nos demorado em Trogílio, chegamos, no dia seguinte a Mileto.
16 Porque Paulo havia determinado passar ao largo de Éfeso, para não se demorar na Ásia; pois se apressava para estar em Jerusalém no dia de Pentecostes, se lhe fosse possível.
17 De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.
18 E, tendo eles chegado, disse-lhes: Vós bem sabeis de que modo me tenho portado entre vós sempre, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia,
19 servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 como não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa,
21 testificando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.
22 Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá,
23 senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,
24 mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
25 E eis agora, sei que nenhum de vós, por entre os quais passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu rosto.
26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
28 Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.
29 Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho,
30 e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas pervertidas para atrair os discípulos após si.
31 Portanto vigiai, lembrando-vos de que por três anos não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
32 Agora pois, vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.
33 De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes.
34 Vós mesmos sabeis que estas mãos proveram as minhas necessidades e as dos que estavam comigo.
35 Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os necessitados, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.
36 Havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles.
37 E levantou-se um grande pranto entre todos, e lançando-se ao pescoço de Paulo, beijavam-no.
38 Entristecendo-se principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E eles o acompanharam até o navio.” (Atos 20.1-38)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/12/2012
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