Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Prisão de Paulo em Jerusalém – Atos 21
 
Após ter-se despedido dos presbíteros de Éfeso em Mileto, Paulo navegou em companhia de Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico, Trófimo e Lucas, em direção a Jerusalém.
Como afirmamos no comentário do capítulo anterior (Atos 20), a prisão de Paulo em Jerusalém, Cesareia e depois em Roma estava prevista nos conselhos do Senhor, de maneira que se abrissem oportunidades para que defendesse o evangelho perante seus acusadores e que demonstrasse que o cristianismo não tinha por propósito destruir a Lei de Moisés, nem anular as Escrituras do Velho Testamento, ou condenar até mesmo a Lei cerimonial e civil de Moisés, ao contrário, pela fé em Cristo se confirmava verdadeiramente o testemunho da Lei, especialmente da Lei moral e de toda a revelação de Deus, feita através dos profetas nos dias do Velho Testamento (vide Atos 23.11).
Paulo estava plenamente esclarecido quanto ao propósito de tudo que deveria enfrentar, para dar testemunho do evangelho, e para que tudo o que seria decorrente de suas tribulações viesse a contribuir ainda mais para o progresso do evangelho.       
No entanto, muitos dos seus amigos de ministério não estavam devidamente instruídos quanto a tais propósitos de Deus nos sofrimentos do apóstolo, e assim tentaram persuadi-lo para que não fosse a Jerusalém, uma vez que havia sido revelado ao apóstolo e até mesmo através dos profetas do Senhor que seria preso na referida cidade, conforme poderemos ver pormenorizadamente adiante.
Muitos ministros do evangelho têm suportado pacientemente enfermidades que os mantêm enfraquecidos para que o poder da graça seja ainda maior através deles, e para que deem o testemunho que o seu amor por Cristo é ainda maior que o amor que têm por suas próprias vidas.
Há casos em que os médicos recomendam que devem parar de pregar e de exercer os seus ministérios para se pouparem, mas  jamais poderão atender a tal recomendação, porque parar o serviço do ministério significa para eles a própria morte.
Isto é o que explica o destemor de Paulo e destes ministros diante das tribulações que já estão previstas na providência divina, e pelas quais terão que passar para testemunho do evangelho.
Ao partir de Mileto, Paulo e sua comitiva fizeram paradas breves em Cós, Rodes e Pátara, e neste último porto trocaram de navio, embarcando num que seguia em viagem para a Fenícia, tendo desembarcado na cidade de Tiro, onde permaneceram sete dias se reunindo aos discípulos daquela cidade.
Estes discípulos de Tiro diziam a Paulo, pelo Espírito que não subisse a Jerusalém (v. 4).    
Esta passagem é de difícil interpretação para alguns porque consideram como poderia Paulo ter desobedecido expressamente o Espírito insistindo em subir a Jerusalém depois de ter sido dito a ele profeticamente que não deveria ir para aquela cidade porque seria preso?
A chave de interpretação está no fato de que não era uma proibição do Espírito, mas a obediência de Paulo que estava sendo colocada à prova, porque já havia dito antes no vigésimo capítulo que o Espírito lhe havia anunciado de cidade em cidade que lhe aguardavam prisões e tribulações.   
Na verdade, aquele alerta que não subisse a Jerusalém para que não fosse preso foi na verdade uma confirmação do Espírito do que lhe ocorreria naquela cidade. 
Ao partirem de Tiro, Paulo e sua comitiva chegaram a Ptolemaida, onde passaram um dia com os cristãos daquela cidade (v. 7).
Ao partirem no dia seguinte para Cesareia, hospedaram-se na casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete primeiros diáconos da Igreja de Jerusalém, o mesmo que havia pregado ao eunuco etíope, e que havia fixado residência em Cesareia e que naquela ocasião tinha quatro filhas solteiras, que tinham o dom de profetizar.
É provável que elas tenham também profetizado a Paulo sobre a sua prisão em Jerusalém. 
Depois de estarem hospedados por muitos dias na casa de Felipe, desceu um profeta da Judeia de nome Ágabo, o qual não somente tinha o dom de profetizar, como também exercia o ofício de profeta (At 11.27,28).
Este, tomando a cinta de Paulo amarrou os seus próprios pés e mãos, e disse que o Espírito Santo estava mostrando que os judeus amarrariam a Paulo em Jerusalém e que o entregariam nas mãos dos gentios, a saber, as autoridades romanas.
Ao ouvirem isto, tanto os da comitiva de Paulo, quanto os da casa de Felipe rogavam ao apóstolo que não subisse a Jerusalém.
Isto nos faz lembrar Pedro, pedindo a Jesus que não fosse para a cruz.
O amor de Paulo por Jesus estava sendo colocado à prova, por aquela profecia, e pela atitude de seus irmãos na fé, mas lhes disse que estavam entristecendo o seu coração, chorando por ele, porque estava pronto não somente a ser preso, mas até mesmo a morrer em Jerusalém por causa do nome de Jesus (v. 13). 
Diante da determinação do apóstolo, e como viam que não se deixava persuadir por eles, calaram-se dizendo: “Faça-se a vontade do Senhor.”.
Isto não significava que Paulo estava desistindo do bom combate da fé. Que estava entregando os pontos. Que se resignaria entregando-se sem procurar defender-se perante seus inimigos.
Ele estava certo que estava caminhando para enfrentar a maior luta e provação de todo o seu ministério, porque ao mesmo tempo que teria que se sujeitar à vontade de Deus, ficando imobilizado numa prisão, guardando em paz a sua mente e coração, teria que se defender perante as autoridades civis e religiosas, e manter firme o testemunho do evangelho, supervisionando a obra através dos seus cooperadores.
Além da comitiva que já lhe acompanhava desde a Macedônia, se juntaram a ele alguns discípulos de Cesareia, que congregavam com Filipe, e subiram a Jerusalém, e quando chegaram em Jerusalém foram recebidos alegremente pelos irmãos daquela Igreja.
No dia seguinte foram ter com Tiago, que era o líder da Igreja de Jerusalém, e todos os seus presbíteros, para ouvirem o relato das coisas que Deus havia feito através do ministério de Paulo entre os gentios.
Não se tratava de  uma prestação de contas da igreja da incircuncisão à da circuncisão, mas a confirmação de que Deus havia chamado de fato os gentios a fazerem parte do mesmo rebanho de Cristo.
Por isso além deles terem glorificado a Deus ao ouvirem o relato de Paulo, disseram o seguinte: “vês, irmãos, quantos milhares há entre os judeus que têm crido, e todos são zelosos da lei.” (v. 20).
Isto contrariava as falsas acusações que os judeus estavam fazendo contra Paulo, de que estava ensinando a todos os judeus que estavam entre os gentios, a não acatarem a Lei de Moisés, e a não circuncidarem seus filhos, bem como a abandonarem todos os costumes da Lei (v. 21). 
Para demonstrarem que estas acusações não tinham qualquer fundamento, porque Paulo nunca exigiu tais coisas dos judeus, senão que pregou aos gentios, conforme cartas da própria Igreja de Jerusalém que os gentios, estes sim, não estavam obrigados a guardar e a manter os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés e os costumes dos judeus, para que fossem aceitos como integrantes do povo do Senhor.      
Então pensaram que talvez os judeus seriam convencidos que Paulo, sendo judeu, ele mesmo guardava a Lei, porque havia quatro irmãos que haviam feito voto de nazireado, e Paulo poderia se juntar a eles assumindo as despesas previstas na Lei para rasparem a cabeça, concluindo o período que haviam estipulado para o seu voto (v. 24).
Assim, Paulo foi ao templo com aqueles quatro homens para a purificação cerimonial prevista na Lei, e teriam que aguardar sete dias nas imediações do templo, antes que fossem liberados.
Entretanto quando estava próximo o fim dos sete dias previstos na Lei, alguns judeus vindos da Ásia, provavelmente da região da Galácia, que haviam perseguido duramente a Paulo, ou mesmo de Éfeso, tendo reconhecido Paulo no templo, alvoroçaram todo o povo e agarraram o apóstolo, gritando para que outros israelitas viessem ajudá-los contra Paulo dizendo-lhes que era ele o homem que ensinava por toda parte contra os judeus, contra a  lei e contra o templo, e além disso acusaram-no de ter introduzido gregos no templo para profaná-lo.
Eles fizeram esta acusação falsa baseando-se simplesmente no fato de terem visto Trófimo em sua companhia em Éfeso, e concluíram precipitadamente que Paulo lhe havia introduzido no templo.     
Eles arrastaram Paulo para fora do templo e começaram a espancá-lo procurando matá-lo, mas Paulo foi salvo pela chegada do centurião e soldados romanos, que prenderam e acorrentaram Paulo com duas cadeias, perguntando-lhe quem era e o que havia feito (v. 30 a 33).
Tal era a violência da multidão contra Paulo que teve que ser resguardado pelos soldados, até ser conduzido à fortaleza romana, porque iam apertando contra ele e gritando “Mata-o!”.
Isto deve servir de alerta a todos os ministros do evangelho, para que não incorram no mesmo erro deles, ao guardarem ressentimentos contra aqueles que se opõem ao evangelho, por maiores hereges que sejam, porque nosso Senhor nos ordena o amor ao próximo, mesmo que sejam nossos inimigos.
Paulo pediu ao comandante da guarda que lhe fosse permitido falar ao povo, e se dirigiu a eles falando em língua hebraica as palavras que veremos no capítulo seguinte.  
 
 
 
 
 
“1 E assim aconteceu que, separando-nos deles, navegamos e, correndo em direitura, chegamos a Cós, e no dia seguinte a Rodes, e dali a Pátara.
2 Achando um navio que seguia para a Fenícia, embarcamos e partimos.
3 E quando avistamos Chipre, deixando-a à esquerda, navegamos para a Síria e chegamos a Tiro, pois o navio havia de ser descarregado ali.
4 Havendo achado os discípulos, demoramo-nos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém.
5 Depois de passarmos ali aqueles dias, saímos e seguimos a nossa viagem, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos, até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos,
6 e despedindo-nos uns dos outros, embarcamos, e eles voltaram para casa.
7 Concluída a nossa viagem de Tiro, chegamos a Ptolemaida; e, havendo saudado os irmãos, passamos um dia com eles.
8 Partindo no dia seguinte, fomos a Cesareia; e entrando em casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele.
9 Tinha este quatro filhas virgens que profetizavam.
10 Demorando-nos ali por muitos dias, desceu da Judeia um profeta, de nome Ágabo;
11 e vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios.
12 Quando ouvimos isto, rogamos-lhe, tanto nós como os daquele lugar, que não subisse a Jerusalém.
13 Então Paulo respondeu: Que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
14 E, como não se deixasse persuadir, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor; e calamo-nos.
15 Depois destes dias, havendo feito os preparativos, fomos subindo a Jerusalém.
16 E foram também conosco alguns discípulos de Cesareia, levando consigo um certo Mnáson, cíprio, discípulo antigo, com quem nos havíamos de hospedar.
17 E chegando nós a Jerusalém, os irmãos nos receberam alegremente.
18 No dia seguinte Paulo foi em nossa companhia ter com Tiago, e compareceram todos os anciãos.
19 E, havendo-os saudado, contou-lhes uma por uma as coisas que por seu ministério Deus fizera entre os gentios.
20 Ouvindo eles isto, glorificaram a Deus, e disseram-lhe: Bem vês, irmãos, quantos milhares há entre os judeus que têm crido, e todos são zelosos da lei.
21 Têm sido informados a teu respeito que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a se apartarem de Moisés, dizendo que não circuncidem seus filhos, nem andem segundo os costumes da lei.
22 Que se há de fazer, pois? Certamente saberão que és chegado.
23 Faze, pois, o que te vamos dizer: Temos quatro homens que fizeram voto;
24 toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles as despesas para que rapem a cabeça; e saberão todos que é falso aquilo de que têm sido informados a teu respeito, mas que também tu mesmo andas corretamente, guardando a lei.
25 Todavia, quanto aos gentios que têm crido já escrevemos, dando o parecer que se abstenham do que é sacrificado aos ídolos, do sangue, do sufocado e da prostituição.
26 Então Paulo, no dia seguinte, tomando consigo aqueles homens, purificou-se com eles e entrou no templo, notificando o cumprimento dos dias da purificação, quando seria feita a favor de cada um deles a respectiva oferta.
27 Mas quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, tendo-o visto no templo, alvoroçaram todo o povo e agarraram-no,
28 clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
29 Antes tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, e pensavam que Paulo o introduzira no templo.
30 Alvoroçou-se toda a cidade, e houve ajuntamento do povo; e agarrando a Paulo, arrastaram-no para fora do templo, e logo as portas se fecharam.
31 E, procurando eles matá-lo, chegou ao comandante da corte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão;
32 o qual, tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles; e quando viram o comandante e os soldados, cessaram de espancar a Paulo.
33 Então aproximando-se o comandante, prendeu-o e mandou que fosse acorrentado com duas cadeias, e perguntou quem era e o que tinha feito.
34 E na multidão uns gritavam de um modo, outros de outro; mas, não podendo por causa do alvoroço saber a verdade, mandou conduzi-lo à fortaleza.
35 E sucedeu que, chegando às escadas, foi ele carregado pelos soldados por causa da violência da turba.
36 Pois a multidão o seguia, clamando: Mata-o!
37 Quando estava para ser introduzido na fortaleza, disse Paulo ao comandante: É-me permitido dizer-te alguma coisa? Respondeu ele: Sabes o grego?
38 Não és porventura o egípcio que há poucos dias fez uma sedição e levou ao deserto os quatro mil sicários?
39 Mas Paulo lhe disse: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; rogo-te que me permitas falar ao povo.
40 E, havendo-lho permitido o comandante, Paulo, em pé na escada, fez sinal ao povo com a mão; e, feito grande silêncio, falou em língua hebraica, dizendo:” (Atos 21.1-40)
 

 
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/12/2012
Alterado em 10/07/2014
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