Paulo perante os Governadores – Atos 24
Como o governador Félix disse a Paulo que o ouviria, quando chegassem de Jerusalém aqueles que lhe estavam acusando, ele teve portanto que aguardar a chegada de um certo Tértulo, que era o campeão do sinédrio para disputas teológicas em defesa da Lei; quando cabia ao próprio sumo sacerdote ser o guardião supremo da Lei.
Além de ser cidadão romano, Paulo tinha a seu favor, que era um líder religioso que pregava a paz e a submissão às autoridades constituídas.
Em todos os lugares, os cristãos eram exemplares em seu comportamento, e muitos que haviam se desviado de vícios e de grosseiras idolatrias, dentre os gentios, em todas as cidades do Império romano evangelizadas por Paulo, era a sua melhor defesa contra as piores acusações que pudessem ser levantadas contra ele, quanto a estar agitando as massas, para uma sedição contra os interesses do império romano.
A sabedoria mundana seria envergonhada mais uma vez, porque o tal Tértulo, que foi contratado pelo sumo sacerdote, por ser um experiente orador e perito em questões de direito religioso, e da própria lei romana, começou a sua acusação contra Paulo adulando antes ao governador Félix, para obter um parecer favorável da sua parte, e começou logo em seguida a infamar Paulo chamando-o de peste e promotor de sedições, entre todos os judeus, em todas as partes do mundo, e chefe da seita dos nazarenos, e que lhe haviam prendido porque havia tentado profanar o templo, e que segundo a Lei deles haviam tentado julgá-lo, mas haviam sido impedidos pelo comandante Cláudio Lísias, que havia usado de grande violência para tirar Paulo das suas mãos, e que havia mandado que os acusadores viessem ter com ele, Felix, que poderia certificar-se de que era verdadeiro tudo aquilo de lhe estavam acusando, caso o examinasse por si mesmo; e que todos os judeus concordavam com aquela acusação que estava lhe apresentando.
Depois desta breve acusação de Tértulo, Felix fez um sinal para que Paulo apresentasse a sua defesa.
Ele começou seu discurso dizendo que confiava num julgamento imparcial da parte de Félix, em razão de já ser por muitos anos governador em Cesareia.
Ele disse que não foi a Jerusalém senão para adorar no templo, porque de fato havia se apressado para chegar em Jerusalém antes da festa do Pentecostes, e portanto não para criar qualquer sedição ou profanação, conforme estavam lhe acusando injustamente.
Que ele não foi achado no templo discutindo com qualquer pessoa, ou promovendo qualquer motim entre o povo, mesmo nas sinagogas, ou na cidade de Jerusalém.
E ninguém poderia provar tal acusação, porque não era apenas um homem que não era dado a debates, como condenava tais debates acerca da Lei, o que de fato pode ser visto em suas epístolas.
Ele simplesmente havia se convertido ao Caminho (cristianismo) o qual estavam chamando de seita, mas que na verdade era o cumprimento de tudo o que está escrito na lei e nos profetas (At 24.14).
Tanto quanto os judeus ele também esperava que há de haver ressurreição tanto de justos quanto de injustos, para efeito de Juízo, e em razão disto sempre procurava ter uma boa consciência, sem ofensas diante de Deus e dos homens.
O governador Félix tinha informações a respeito do Caminho (Cristianismo) e percebeu que as palavras de Paulo eram coerentes com tudo o que lhe havia sido informado, e portanto adiou a audiência até que Cláudio Lísias, viesse ter com ele, procedente de Jerusalém, para fazer uma melhor avaliação daquela causa.
Depois ordenou ao centurião que Paulo ficasse detido, mas que fosse tratado com brandura, e que a nenhum dos seus proibisse servi-lo.
Alguns dias depois, Félix, fazendo-se acompanhar de sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo para que lhes falasse acerca da fé em Cristo.
Paulo discorreu na ocasião sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro, e Félix ficou atemorizado, e pediu que Paulo se retirasse, dizendo que o ouviria quando tivesse ocasião favorável.
Este Félix não era um homem reto, porque mandava chamar Paulo frequentemente para conversar com ele, mas com a esperança que Paulo tentasse lhe subornar, oferecendo-lhe dinheiro.
Mas como o apóstolo jamais faria isso, ficou por dois anos preso em Cesareia, até que Félix foi substituído por Pórcio Festo, e para não desagradar os judeus, antes de tal substituição, Félix manteve Paulo na prisão.
Félix temeu quando Paulo lhe falou acerca do juízo vindouro, porque sabia que a conta de pecados e injustiças praticadas por ele era muito grande diante de Deus, e não somente não estava disposto a abandonar as suas práticas, como também não lhe interessava em se converter a Cristo para viver retamente e em santidade perante Ele.
“1 Cinco dias depois o sumo sacerdote Ananias desceu com alguns anciãos e um certo Tertulo, orador, os quais fizeram, perante o governador, queixa contra Paulo.
2 Sendo este chamado, Tertulo começou a acusá-lo, dizendo:
3 Visto que por ti gozamos de muita paz e por tua providência são continuamente feitas reformas nesta nação, em tudo e em todo lugar reconhecemo-lo com toda a gratidão, ó excelentíssimo Félix.
4 Mas, para que não te detenha muito rogo-te que, conforme a tua equidade, nos ouças por um momento.
5 Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e chefe da seita dos nazarenos;
6 o qual tentou profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar.
7 Mas sobrevindo o comandante Lísias no-lo tirou dentre as mãos com grande violência,
8 mandando aos acusadores que viessem a ti; e dele tu mesmo, examinando-o, poderás certificar-te de tudo aquilo de que o acusamos.
9 Os judeus também concordam na acusação, afirmando que estas coisas eram assim.
10 Paulo, tendo-lhe o governador feito sinal que falasse, respondeu: Porquanto sei que há muitos anos és juiz sobre esta nação, com bom ânimo faço a minha defesa,
11 pois bem podes verificar que não há mais de doze dias subi a Jerusalém para adorar,
12 e que não me acharam no templo discutindo com alguém nem amotinando o povo, quer nas sinagogas quer na cidade.
13 Nem te podem provar as coisas de que agora me acusam.
14 Mas confesso-te isto: que, seguindo o caminho a que eles chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.
15 Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos.
16 Por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensas diante de Deus e dos homens.
17 Vários anos depois vim trazer à minha nação esmolas e ofertas.
18 Ocupado nestas coisas, me acharam já santificado no templo não em ajuntamento, nem com tumulto, alguns judeus da Ásia,
19 os quais deviam comparecer diante de ti e acusar-me se tivessem alguma coisa contra mim;
20 ou estes mesmos digam que iniquidade acharam, quando compareci perante o sinédrio,
21 a não ser acerca desta única palavra que, estando no meio deles, bradei: Por causa da ressurreição dos mortos é que hoje estou sendo julgado por vós.
22 Félix, porém, que era bem informado a respeito do Caminho, adiou a questão, dizendo: Quando o comandante Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento da vossa causa.
23 E ordenou ao centurião que Paulo ficasse detido, mas fosse tratado com brandura e que a nenhum dos seus proibisse servi-lo.
24 Alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo Jesus.
25 E discorrendo ele sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro, Félix ficou atemorizado e respondeu: Por ora vai-te, e quando tiver ocasião favorável, eu te chamarei.
26 Esperava ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, pelo que o mandava chamar mais frequentemente e conversava com ele.
27 Mas passados dois anos, teve Félix por sucessor a Pórcio Festo; e querendo Félix agradar aos judeus, deixou a Paulo preso.” (Atos 24.1-27)