Das Trevas Para a Luz – Atos 26
Conforme comentamos no capítulo anterior (25) de Atos, convinha ao rei Agripa obter de Paulo um relato minucioso da razão pela qual estava sendo tão furiosamente perseguido pelos judeus, para que pudesse dar os argumentos necessários a Festo para que escrevesse a César.
Ele seria então todo ouvido, e não agiria como um Tértulo, ou um dos sacerdotes de Jerusalém.
Isto abriu oportunidade para que Paulo fizesse uma exposição em ordem, não somente do conteúdo central do evangelho que pregava, como também para demonstrar diante da excelência de tão grande revelação de Deus das coisas relativas a Cristo, que constavam nos profetas, da insanidade de perseguir tal causa, conforme ele próprio havia feito no passado, por ignorância, quando era um fariseu zeloso que saiu por toda parte perseguindo e consentindo na morte dos cristãos.
Paulo falou com tal propriedade, como vemos nestes 26º capitulo de Atos, que deixou de modo tão claro que a verdade não estava no procedimento dos judeus, senão no dos cristãos, ao que Festo interrompeu a sua defesa em alta voz dizendo que estava louco, e que estava falando daquela forma porque as muitas letras o faziam delirar.
Mas o apóstolo retrucou com brandura, mostrando que a sua fala não era o modo próprio de quem está de fato louco, e disse-lhe que não estava delirando, mas falando palavras verdadeiras e de perfeito juízo, porque para ele, Festo, seria de fato difícil entender questões relacionadas à Lei e aos profetas de Israel, porque era romano, mas tal não era o caso do rei Agripa, que conhecia os costumes dos judeus e estava inteirado do que afirmavam os profetas nas Escrituras.
Negar o que Paulo lhe dissera, seria negar que cria nos profetas, e ele não o faria para não desagradar os judeus.
Por isso, hábil e diretamente Paulo lhe perguntou se o rei cria nos profetas, e se apressou em responder que sabia que ele cria.
Diante da afirmação de Paulo Agripa lhe disse que por pouco quase o persuadiu a fazer-se cristão.
Paulo sabia que ninguém se faz cristão por se deixar persuadir por quem quer que seja, senão por se arrepender de seus pecados e entregar-se a Cristo, por ser atraído pelo Espírito Santo, mas não deixou de lhe dar a devida resposta, dizendo que lhe agradaria caso fosse do propósito de Deus que não somente, ele o rei, e todos quantos o ouviam, naquele dia, fossem cristãos como ele, exceto quanto ao fato de estar preso.
Qualquer pessoa pode vir a Cristo, por pouco ou por muito que se tenha deixado persuadir, não pelos homens, mas pela verdade do evangelho.
Na verdade não é por se estar perto do reino dos céus que se entra nele, nem por se estar longe, mas por se converter verdadeiramente ao Senhor.
Não é nenhuma posição privilegiada que tenhamos neste mundo, como a de um rei, que poderá garantir que estaremos debaixo do favor eterno de Deus, assim como nenhuma circunstância difícil na qual tenhamos que viver, pode ser a expressão de que estamos desprovidos do Seu favor, tal como estava sendo o caso de Paulo, que era uma plena prova contrária a esta última afirmação.
Por isso disse com ousadia que as suas cadeias não eram nenhuma prova de que a condição em que se encontrava era uma prova de ser um miserável e desfavorecido aos olhos de Deus.
Paulo não estava sofrendo nenhum castigo da parte de Deus naquilo que estava sofrendo, senão continuando a ser obediente à visão celestial, conforme fora desde a sua conversão, porque foi o próprio Cristo que lhe apareceu e lhe ordenou que desse testemunho do evangelho diante dos governadores e reis, tanto em Jerusalém, quanto em Roma.
Ele estava sofrendo por fazer a vontade do Seu Senhor.
A missão de um cristão, principalmente de um ministro do evangelho está bem definida nas palavras de Cristo quando comissionou a Paulo, que encontramos nos versos 15 a 18 deste capitulo.
Então é por ser santificado pela fé em Cristo que uma pessoa é salva, porque é assim que se converte do poder de Satanás a Deus, e que se recebe remissão de pecados e herança juntamente com todos os santos.
Certamente, pelo que disse Agripa, não lhe interessava pagar o preço para ter uma tal coroa eterna, e viveria para manter a sua coroa terrena passageira.
No entanto, Agripa não deixou de reconhecer, bem como todos os que se encontravam na audiência que tivera com Paulo, a inocência do apóstolo, e que de fato nada havia feito digno de morte ou prisão.
“1 Depois Agripa disse a Paulo: É-te permitido fazer a tua defesa. Então Paulo, estendendo a mão, começou a sua defesa:
2 Sinto-me feliz, ó rei Agripa, em poder defender-me hoje perante ti de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus;
3 mormente porque és versado em todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.
4 A minha vida, pois, desde a mocidade, o que tem sido sempre entre o meu povo e em Jerusalém, sabem-na todos os judeus,
5 pois me conhecem desde o princípio e, se quiserem, podem dar testemunho de que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
6 E agora estou aqui para ser julgado por causa da esperança da promessa feita por Deus a nossos pais,
7 a qual as nossas doze tribos, servindo a Deus fervorosamente noite e dia, esperam alcançar; é por causa desta esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus.
8 Por que é que se julga entre vós incrível que Deus ressuscite os mortos?
9 Eu, na verdade, cuidara que devia praticar muitas coisas contra o nome de Jesus, o nazareno;
10 o que, com efeito, fiz em Jerusalém. Pois havendo recebido autoridade dos principais dos sacerdotes, não somente encerrei muitos dos santos em prisões, como também dei o meu voto contra eles quando os matavam.
11 E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, obrigava-os a blasfemar; e enfurecido cada vez mais contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras.
12 Indo com este encargo a Damasco, munido de poder e comissão dos principais sacerdotes,
13 ao meio-dia, ó rei vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, resplandecendo em torno de mim e dos que iam comigo.
14 E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
15 Disse eu: Quem és, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
16 mas levanta-te e põe-te em pé; pois para isto te apareci, para te fazer ministro e testemunha tanto das coisas em que me tens visto como daquelas em que te hei de aparecer;
17 livrando-te deste povo e dos gentios, aos quais te envio,
18 para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim.
19 Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial,
20 antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco, e depois em Jerusalém, e por toda a terra da Judeia e também aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento.
21 Por causa disto os judeus me prenderam no templo e procuravam matar-me.
22 Tendo, pois, alcançado socorro da parte de Deus, ainda até o dia de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada senão o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer;
23 isto é, como o Cristo devia padecer, e como seria ele o primeiro que, pela ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e também aos gentios.
24 Fazendo ele deste modo a sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.
25 Mas Paulo disse: Não deliro, ó excelentíssimo Festo, antes digo palavras de verdade e de perfeito juízo.
26 Porque o rei, diante de quem falo com liberdade, sabe destas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto.
27 Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Sei que crês.
28 Disse Agripa a Paulo: Por pouco me persuades a fazer-me cristão.
29 Respondeu Paulo: Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me ouvem, se tornassem tais qual eu sou, menos estas cadeias.
30 E levantou-se o rei, e o governador, e Berenice, e os que com eles estavam sentados,
31 e retirando-se falavam uns com os outros, dizendo: Este homem não fez nada digno de morte ou prisão.
32 Então Agripa disse a Festo: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César.” (Atos 26.1-31)