Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A SABEDORIA TERRENA E A CELESTIAL 

 
Os cristãos coríntios não tinham motivo de estarem se jactando em exporem sabedoria secular filosófica deste mundo na Igreja, uma vez que haviam sido ganhos para Cristo, por meio da Palavra do evangelho, que lhes fora pregada por Paulo, no poder do Espírito.
O próprio evangelho que ele lhes havia pregado, não consistiu em palavras sublimes ou de qualquer tipo de sabedoria terrena, senão a relativa a Cristo e à cruz, conforme podemos vê-la na exposição que ele fez do evangelho que pregava, na epístola aos Romanos. 
Não foi também baseado em qualquer poder de sua própria natureza terrena que lhes havia pregado, porque estivera entre eles em fraqueza, temor e grande tremor.
Então, o poder que se manifestou através dele não era propriamente seu, mas do Espírito Santo.
Portanto, a fé dos cristãos coríntios não deveria estar apoiada em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
O apóstolo apoiou este seu testemunho no fato de que a sabedoria da qual ele falava entre os cristãos aperfeiçoados (amadurecidos), não era a sabedoria deste mundo, nem a dos poderosos do mundo, porque este tipo de sabedoria será aniquilada, por ocasião da volta de Cristo, quando o mundo não mais será governado pelos princípios da política, que conduz governantes ao poder.
A sabedoria do evangelho estava oculta em mistério, porque não é deste mundo, mas uma revelação do céu; que tem por fim a glorificação dos cristãos, que são as coisas fracas e humildes, que Deus escolheu para confundir e aniquilar as que são fortes e sábias segundo o mundo.
Deste modo, as pessoas que o mundo considera as principais em posição na sociedade, não chegam a conhecer em sua grande maioria a sabedoria de Deus, que é Cristo, e este crucificado, porque não podem entender o mistério da cruz, e da associação dos cristãos com a morte e ressurreição de Jesus.
Caso Pilatos, Herodes, os principais sacerdotes, escribas e fariseus de Israel conhecessem o mistério de Cristo, não teriam crucificado ao Senhor da glória, porque teriam reconhecido o Seu Senhorio e Divindade.
Eles teriam se curvado a Ele, tal como haviam feito os três reis magos, e se converteriam do pecado para Deus, através da fé em Cristo e obediência à Sua Palavra.
Mas, para os que se consideram elevados a seus próprios olhos, os mandamentos de Cristo são uma grande humilhação, à qual jamais pretenderão se submeter, em razão do orgulho que domina os seus corações, e o amor à iniquidade e ao pecado, do que não pretenderão se arrepender.
Caso algum deles venha a se converter, não estarão fazendo nenhum favor a Deus, e nem merecem uma posição de destaque na Igreja por conta da elevada posição que ocupam no mundo, porque em Cristo, são como todos os demais cristãos, simples pecadores que foram remidos pelo Seu sangue derramado na cruz.
Por isso Paulo não quis saber de nenhum outro assunto que invadisse e fosse estranho à mensagem do evangelho, quando pregou aos coríntios; e deveriam manter o padrão das sãs palavras, que haviam recebido, e o modo de pregá-las, a saber, no poder do Espírito.
Além disso, deveriam ordenar o seu caminhar, em conformidade com as coisas que haviam aprendido, especialmente aquelas que se referem ao modo como os cristãos devem se comportar na Igreja, que é a casa de Deus.
A missão dos ministros do evangelho é a de levantarem bem alto, a bandeira da cruz, convidando as pessoas a estarem debaixo de tal estandarte.
Não é função dos ministros de Cristo exporem o evangelho como grandes oradores, ou como filósofos profundos, nem qualquer forma de habilidade ou ciência deste mundo, senão o mistério da cruz, por cuja pregação os homens são salvos e santificados. 
Paulo não era de fato alguém que procurava se ostentar diante dos outros pela exibição de uma grande eloquência, tanto que alguns coríntios rebeldes se referiam a ele como sendo de presença corporal fraca e de fala desprezível (II Cor 10.10).
No entanto, foi este vaso fraco que Deus usou com poder, para a salvação deles.
Não pretendamos portanto ser notáveis, e aplaudidos pelos nossos dons, mas rebaixemo-nos o mais possível em humildade em nossa pregação, de maneira que somente Cristo possa ser visto, e não propriamente nós.
Este é o segredo do verdadeiro poder espiritual.
Quanto mais aparecermos, menos Cristo será visto.
Importa que Ele apareça às pessoas para salvá-las; mas isto não poderá acontecer, caso o que elas vejam seja apenas a nossa presença, e ouçam as nossas próprias palavras, e não a Cristo e a Sua voz, pelo Espírito, enquanto lhes ministramos.
Se Paulo lhes havia dado este grande exemplo de muita modéstia e humildade, como os coríntios poderiam estar se aplicando a um outro modo de viver e pregar o evangelho, se gloriando em si mesmos e na sabedoria que é humana? 
  Foi portanto com fraqueza, temor e grande tremor que estivera pregando o evangelho a eles, porque sabia que estava encarregado, não para apresentar e recomendar a si mesmo aos coríntios, mas o Seu Senhor e Mestre.
Paulo sabia que o Espírito lhe havia capacitado com muitos dons para pregar o evangelho aos gentios, mas estava muito consciente da sua completa insuficiência de fazer por si mesmo, pelo seu próprio poder e sabedoria, a obra do Senhor.
Sabia que tudo o que tinha, havia recebido do Espírito, e era mantido por exercício e diligência, e caso julgasse estar de pé por si mesmo, viria a cair de todos os dons e graças que havia recebido gratuitamente. 
Por isso ele pregou a doutrina tal como o Espírito lha havia entregado, e se regozijava no fato de que o Espírito confirmasse a Palavra pregada, operando sinais e prodígios, especialmente nos corações dos ouvintes.
Afinal, foi para este propósito mencionado que Cristo havia sido crucificado, de modo que a fé deles nunca deveria se basear na sabedoria dos homens, mas unicamente no poder de Deus, que é o único que pode de fato regenerar e santificar as nossas vidas.                                             
Além disso, quem pode dizer quais foram as coisas espirituais e celestiais que Deus preparou para os que O amam, as quais não podem ser conhecidas pelo olho, pelo ouvido ou pelo coração carnal do homem?
No entanto, estas coisas podem ser reveladas pelo Espírito, porque somente Ele pode penetrar todas as coisas, como as próprias profundezas de Deus.
Nenhum homem tem esta capacidade e poder.
O homem pode conhecer apenas, e assim mesmo em parte, as coisas deste mundo e aquelas que constituem a sua natureza terrena.
Mas nada pode saber das coisas espirituais, celestiais e divinas a não ser por uma iluminação direta do Espírito ao seu espírito.
Como os cristãos receberam a habitação do Espírito Santo na conversão, não devem se deixar governar pelo espírito do mundo, mas pelo Espírito de Deus.
Se não tivéssemos o Espírito Santo, nós não poderíamos conhecer as coisas que temos recebido, gratuitamente, da parte de Deus, por meio de Cristo Jesus (v. 12).
Estas coisas que temos recebido gratuitamente devem ser pregadas e ensinadas, com as palavras que o Espírito Santo nos ensina, e não com palavras de sabedoria humana.
Porque o homem natural, não nascido do Espírito, não pode compreender as coisas do Espírito, porque lhe parecem sem sentido, uma vez que podem ser discernidas somente espiritualmente.    
Daí a nossa necessidade de renovar a nossa mente, segundo a mente de Cristo, pelo trabalho gradual e progressivo do Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus às nossas vidas, para que possamos discernir bem todas coisas, sendo transformados em cristãos espirituais, conforme é a da vontade do Senhor.
Somente cristãos  espirituais, maduros em Cristo podem discernir as coisas profundas do Espírito, porque são discernidas espiritualmente, por quem tem maturidade espiritual suficiente para discerni-las (I Cor 2.10-13, 15,16).
Então somente cristãos espirituais podem discernir os propósitos de Deus, especialmente os relativos à execução da Sua obra, e o homem natural e o cristão carnal não podem entendê-los, por mais que o cristão espiritual se esforce para lhes explicar tais propósitos com meras palavras, porque é preciso ter iluminação do Espírito Santo, para poder entendê-los.
Não é com o intelecto natural, que se compreende coisas espirituais.
O intelecto natural pode examinar apenas as coisas da esfera natural, e tentará subjugar e reduzir as coisas elevadas espirituais às coisas naturais aqui debaixo, por uma interpretação carnal e natural e não segundo a verdade espiritual, relativa à mente de Deus. 
 Lembremos que é somente nos cristãos espirituais que as coisas da alma estão separadas do espírito, pela Palavra de Cristo, que neles habita ricamente.
Eles podem entender em que extensão as verdades da Palavra de Deus são espírito e vida.
Eles podem compreender o espírito que há na Palavra, por este discernimento espiritual, que lhes é dado pelo Espírito.
E esta condição alcançaram aprendendo a renunciar às coisas que pertencem à alma, e mortificando o ego carnal, em plena consagração a Cristo, vivendo como sacrifícios vivos que têm negado a si mesmos para poder segui-lO.
E como obedecem assim a Cristo buscando o que é do céu e não o que é da terra, Ele também lhes honra, fazendo com que sejam participantes do tesouro celestial e espiritual que nEle está escondido, e em plenitude infinita, para compartilhá-lo com aqueles que são obedientes à vontade de Deus, e que demonstram o seu amor por Ele guardando os Seus mandamentos. 
Somente o cristão espiritual está habilitado para restaurar um irmão que for achado em qualquer transgressão, porque pode exercitar paciência e sabedoria divina, que são requeridas para lidar com o pecado do ponto de vista de Deus.
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.”  (Gál 6.1).
Quando a Palavra fala da perfeição do cristão neste mundo, está se referindo ao atingimento desta condição de plena maturidade espiritual, e é este o alvo que foi estabelecido por Deus para ser perseguido por todos os cristãos, para que estejam perfeitamente habilitados e capacitados para toda boa obra (II Tim 3.17; Tg 1.4).
 A palavra perfeito tem em I Cor 2.6 o significado de completo, adulto, maduro.
É a este mesmo estado de perfeição a que o apóstolo João se refere em I Jo 4.18 ao falar sobre o cristão que é perfeito em amor. E ele define o cristão imaturo nesta passagem como aquele que ainda teme e que não descansa em plena convicção espiritual no amor de Deus.
Para João o cristão amadurecido, aperfeiçoado é aquele que é maduro no amor.
Então esta maturidade espiritual que caracteriza o cristão espiritual consiste no aperfeiçoamento no amor de Deus conforme descrito por Paulo em I Cor 13.
Isto está em plena concordância na revelação da verdade, porque ao falar do amor em I Cor 13 Paulo diz que aquele que anda neste caminho sobremodo excelente tem lançado fora as coisas de menino, porque é pelo crescimento no amor que alguém se torna verdadeiramente um cristão espiritual, ou seja, amadurecido.     
Então é por se estar cheio do amor de Deus que se mostra o nível da nossa maturidade espiritual.
Deus é espírito e os atributos mais pronunciados na pessoa de Deus no Seu relacionamento com os cristãos são o amor e a santidade, então o cristão que anda segundo Deus é aquele que está cheio do Seu amor e santidade. Esta é portanto a marca do cristão verdadeiramente espiritual.
E a medida desta perfeição não é individual, mas a que é feita no corpo de Cristo, porque o aperfeiçoamento em amor é no aperfeiçoamento na unidade da Igreja, em que os cristãos são chamados por Cristo a serem um  nEle e no Pai.
Assim como a perda da vida carnal da alma é gradual, dando lugar ao influxo da vida do Espírito, pela divisão de alma e espírito pela Palavra, de igual forma o morrer do corpo mortal é contínuo e progressivo, de modo que, a cada dia, o homem exterior se corrompe e se aproxima da morte, para que a plenitude da vida de Jesus se manifeste mais e mais em nossa carne mortal (II Cor 1.8,9; 4.10-12).
No enfraquecimento gradual e progressivo do nosso ego  carnal, pode ser experimentada melhor a manifestação do poder da graça de Jesus, de maneira que ainda que enfraquecidos na carne, somos achados fortalecidos no espírito.
E isto representa a possibilidade da comunicação da vida de Jesus através de nós a outros, gerando neles a vida eterna.  
O homem espiritual do qual é dito em Ef 2.6 que está assentado nas regiões celestiais com Cristo, é descrito posteriormente na mesma epístola em Ef 6.10-18, como sendo aquele que se encontra lutando com as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.
Isto indica que o cristão espiritual, neste conflito, tem que vigiar continuamente, orando em espírito, contra os inimigos que estão buscando arrancá-lo da posição espiritual que ele conquistou em Cristo.
Nesta fase do conflito, a grande batalha do cristão já não é contra as obras da carne descritas em Gál 5, mas contra estes principados e potestades que, a todo custo, tentam trazê-lo à condição de cristão carnal, na qual é mais intensa esta batalha contra as obras da carne.
Então é preciso que o cristão espiritual vigie sempre esta investida dos espíritos malignos contra ele procurando levá-lo novamente, em algum grau, a ser dirigido pela alma, porque nesta condição, impedido de ser espiritual, não sendo dirigido pelo espírito, é impossível estar empenhado de modo seguro numa obra de Deus, que destrua de fato as obras do diabo.  
Além disso, Satanás pode se transfigurar em anjo de luz e produzir uma luz falsificada na mente, fazendo com que seja seguida por falsos raciocínios ou compreensão do que foi lido das Escrituras ou pregado, porque aquele que não caminha no espírito, será dirigido pela alma e caminhando em sua mente natural.    
Se os próprios cristãos espirituais, amadurecidos na fé, estão sujeitos a tentações de retornarem a serem governados pela alma, quanto mais isto não será uma certeza em relação aos cristãos carnais.
Então ninguém pense que por ser espiritual, que terá somente a boa influência do Espírito Santo ao orar, ao pregar etc, porque ao ter a alma separada do espírito, este fica também sujeito às operações dos espíritos malignos em enganos e falsas impressões, de forma que por ser espiritual o seu espírito está aberto a duas forças do reino espiritual, e se pensar que somente o Espírito Santo pode influenciá-lo na esfera espiritual, certamente ele será enganado porque tomará toda influência que vier ao seu espírito como que partindo sempre de Deus e não saberá discernir quando estará recebendo algum tipo de influência da parte dos espíritos malignos, para poder rechaçá-la através da oração humilde diante de Deus para que não lhe deixe cair na tentação do diabo, e que seja livrado do mal de ministrar aquilo que não recebeu na verdade de Deus.
Se o cristão espiritual estivesse somente debaixo da influência do Espírito Santo ele seria infalível, mas como não é este o caso, precisa vigiar, orar, e buscar humilde e continuamente no Espírito Santo iluminação para poder discernir as verdadeiras operações de Deus das falsificações. 
Não é sem motivo que é ordenado ao cristão que esteja vestido com toda a armadura espiritual de Deus para poder lutar contra os principados e potestades espirituais do mal, e ser achado de pé, estando inabalável, depois de ter vencido todas as investidas do inferno para arrancá-lo da sua firmeza espiritual na graça de Cristo.
 
 
 
 
“1 E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
2 Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
3 E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.
4 A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder;
5 Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
6 Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam;
7 Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória;
8 A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.
9 Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam.
10 Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.
11 Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
12 Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
13 As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.
16 Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”. (I Coríntios 2.1-16)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/12/2012
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