Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
PERFEITOS EM CRISTO
Paulo protestou contra os cristãos coríntios pelo fato de ainda estarem vivendo segundo a carne, isto é, carnalmente, segundo o curso do mundo, e não segundo Cristo.
Isto era um fato impeditivo para que ele pudesse compartilhar com eles em Espírito, num só espírito, as coisas espirituais, celestiais e divinas.
Eles não poderiam responder em espírito às operações do Espírito Santo entre eles, e nem sequer entenderem as coisas do Espírito, por causa desta falta de consagração deles a Deus, para serem santificados.
Eles ficavam portanto privados de poderem experimentar e compartilhar com os cristãos espirituais, como Paulo, da plenitude da vida espiritual que há em Cristo, e que procede dEle para nós através do Espírito.
Eles não estavam edificando de maneira correta sobre o fundamento, que é Cristo, no qual deveriam estar fazendo a obra de Deus.
Mesmo porque nenhum outro fundamento foi dado aos cristãos sobre o qual devam construir.
A edificação espiritual dos cristãos coríntios não era segundo a prática da Palavra, e por isso estavam edificando sobre a areia, e com materiais que não poderiam resistir ao fogo da prova do Senhor.
Na verdade não estavam edificando nenhuma obra permanente para a eternidade, porque não edificavam segundo os mandamentos de Cristo.
Suas vidas eram em grande parte, uma negação do evangelho, no qual haviam crido.
Eles estavam vivendo segundo o curso do mundo, segundo a mente do homem natural e do mundo. Não segundo o homem espiritual que é criado por Deus em justiça e em verdade.
No entanto, conforme no dizer de Paulo, é melhor ser considerado louco pelo mundo, por seguir fielmente a Cristo, do que ser sábio segundo o mundo e não andar nas pegadas do Senhor.
Não se poderia esperar portanto, que as coisas estivessem funcionando em boa ordem na Igreja de Corinto, e não era portanto para se estranhar, que estivessem dando motivos para uma grande tristeza, não somente ao coração do apóstolo, mas sobretudo ao coração do próprio Deus.
As suas obras eram de madeira, de feno e de palha, e estavam sendo queimadas pelo fogo do Espírito.
Os próprios corpos de muitos deles estavam sendo destruídos por Deus, com enfermidades e morte, porque eles próprios estavam destruindo o templo do Espírito, com as suas práticas abomináveis aos olhos do Senhor.
Como o templo no qual Deus habita agora é o corpo do próprio cristão, caso este venha a profanar este templo sagrado, no qual habita o Espírito, com práticas pervertidas e abomináveis, Deus destruirá o templo, para que o espírito deste cristão rebelde possa ser salvo, ainda que o fogo do juízo divino tenha sido trazido sobre ele, na destruição do seu corpo, que em vez de ser usado para a prática da justiça, para a glória de Deus, estava sendo usado para a prática deliberada do mal em resistência permanente à vontade de Deus.
O Senhor é longânimo, dá-nos tempo para o arrependimento, mas na falta deliberada deste, podemos estar certos de que ficaremos sujeitos à Sua correção e disciplina, a não ser que não sejamos verdadeiramente Seus filhos, porque Ele nunca deixará de corrigir aos filhos que Ele ama.
É realmente uma grande desonra para o Senhor, quando os Seus filhos vivem de maneira carnal, incapazes de compreender e viver o que tem esperado deles, pela submissão de suas vontades ao Espírito.
Se o trabalho de crucificação, para a humilhação e destruição do ego, não for permitido pelo cristão, ele permanecerá carnal, e assim, não poderá discernir as coisas espirituais, que se discernem somente se formos espirituais e não carnais.
Ser espiritual é um dever que nos está imposto, ainda que isto seja concretizado em amor e segundo o trabalho paciente do Espírito.
Todo cristão não pode perder este alvo soberano da sua vocação, e por isso Paulo escreveu esta epístola aos coríntios, para lhes trazer à lembrança esta verdade.
Não fomos salvos por Cristo para vivermos para nós mesmos, senão para Ele, para fazer a Sua vontade, mas não poderemos fazer isto caso não nos neguemos a nós mesmos pela permissão voluntária do trabalho da cruz sobre as nossas vontades, sentimentos, emoções e tudo o mais que se refira às faculdades da alma.
Se não houver consagração da vida ao Senhor, pouco ou nada adiantará conhecer estas verdades, porque elas são descobertas e vividas somente quando decidimos viver inteiramente para o agrado do Senhor, fazendo a Sua vontade.
O Senhor jamais revelará a beleza da Sua santidade, e as coisas maravilhosas que existem no Seu tesouro espiritual escondido, àqueles que vivam contrariamente às Suas ordenanças.
Alguém que nunca almejou ser santificado, purificado, impulsionado pelo Espírito ao serviço do Senhor, jamais sentirá sequer o cheiro destas coisas celestiais, espirituais e divinas.
O mistério do Senhor é revelado àqueles que andam segundo o Espírito, e não segundo a carne.
Os que andam no Espírito farão proezas em Deus, verão as coisas invisíveis do Seu reino, e alcançarão bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo, e serão capacitados a fazer a Sua obra da maneira correta, ainda que debaixo das maiores fraquezas e aflições.
Onde os valentes deste mundo teriam desistido e parado, o cristão fiel prosseguirá com firmeza e poder até mesmo em face da morte, porque não é na sua própria força e capacidade que fará o que lhe for determinado por Deus, mas na força que o Espírito supre aos que colocaram suas vidas no altar do Senhor.
Então, crescer e amadurecer, espiritualmente, é um imperativo necessário para todos os cristãos que pretendam serem achados vivendo de modo agradável a Deus.
É por este crescimento que se aprende a contrariar até mesmo à nossa própria vontade para que seja feita a vontade do Senhor.
É por este crescimento, ao qual todos são exortados a procurar com grande diligência, que se pode perseverar em toda bondade e fidelidade, ainda que debaixo das maiores provações.
Jó foi dado a nós como exemplo de perseverança, de paciência nas tribulações, para que não desmaiemos e desistamos de seguir ao Senhor e de fazer a Sua vontade, ainda que venhamos a perder tudo o que prezamos como sendo coisas de valor necessárias a nós, como nossos filhos, bens, saúde, amizades, e tudo o mais que se possa referir.
Se Deus permitir que sejamos despojados destas coisas nós devemos tal como Jó, perseverar em amar ao Senhor e a depender e a confiar nEle, ainda que se levante para nos demandar a nossa própria vida.
Então a vida cristã é uma chamada não para vivermos segundo a sabedoria deste mundo, mas uma renúncia de nós mesmos, de nossas vontades, para que Cristo faça a Sua vontade através de nossas vidas.
Daí a necessidade da auto negação que Ele nos impõe, para que possamos segui-lO e ser usados por Ele.
A única e verdadeira vida que há de permanecer para toda a eternidade, em alegria indizível, é conquistada pela perda da vida segundo a carne, segundo a mente do homem natural, segundo nossas próprias deliberações.
Jesus disse que aquele que não renunciar a tudo quanto tem não pode ser Seu discípulo, porque enquanto estiver apegado a qualquer pessoa ou bem deste mundo, não poderá estar disponível para segui-lO e fazer a Sua vontade, porque estas coisas haverão de prendê-lo e impedirão que obedeça àquilo que lhe está sendo pedido pelo Senhor.
Em seus sofrimentos, como justo sofredor, Jó aprendeu ainda mais a viver pela fé.
Ele percebeu que todas as coisas do mundo são passageiras, e que somente em Deus existe a verdadeira eternidade.
Os seus olhos espirituais foram abertos para poderem enxergar esta grande verdade, e a viver, desde então somente para o inteiro agrado do Senhor.
Ele conheceu de modo prático, em sua aflição, o que é a longanimidade, a paciência, o amor, a bondade, a fidelidade, o domínio próprio, conforme se encontram na natureza de Deus, em sua própria experiência pessoal, em tudo o que aprendeu e incorporou ao seu próprio caráter, em tudo o que sofreu.
Um dos prováveis motivos que fizeram com que os coríntios recuassem na fé e no progresso rumo à maturidade espiritual, foram as coisas pervertidas que os falsos mestres, que haviam se introduzido entre eles, falavam contra Paulo.
Segundo eles, como poderia um homem como o apóstolo estar vivendo realmente debaixo do agrado de Deus e pregando a Sua verdade, em face das muitas aflições e tribulações que ele estava frequentemente vivendo, tendo uma multidão de inimigos que lhe obrigavam a fugir de cidade para cidade?
Como poderia um Deus bondoso e gracioso permitir tais coisas a alguém que estivesse de fato sendo abençoado por Ele, e a Seu serviço?
A mentalidade carnal destes líderes afetou profundamente os coríntios, e a sua confiança no evangelho do aperfeiçoamento espiritual pela cruz (o verdadeiro evangelho), que lhes havia sido pregado.
Eram cristãos verdadeiros, ganhos por Paulo para Cristo, que haviam sido regenerados pelo Espírito, mas cujas mentes haviam sido desviadas da simplicidade devida a Cristo, pelo mesmo e antigo argumento da velha Serpente, tal como fizera com Eva no Éden, se apresentando como advogado do primeiro casal contra um Deus “perverso” que permite que suas criaturas sejam provadas com aflições e tentações.
Não é Paulo, nem Apolo, nem Pedro, os donos da lavoura na qual fomos plantados como cristãos, senão o próprio Deus.
Ministros do evangelho são apenas cooperadores de Deus para semear a palavra de vida eterna do evangelho, mas não está no poder deles próprios operar um só milímetro no crescimento espiritual de qualquer pessoa. Este é um trabalho exclusivo do Senhor e do Seu Santo Espírito.
Não devemos portanto nos gloriar nos homens, por mais consagrados que sejam, mas somente em Cristo.
Não devemos desprezar e nem deixar de honrar estes instrumentos fiéis do Senhor, mas nunca devemos esquecer que o poder que há neles não é inerente às suas próprias naturezas, mas é recebido do Altíssimo, a quem tanto eles quanto nós devemos tributar toda a glória, adoração e louvor.
Tudo pertence a Cristo, e tudo que pertence a Cristo pertence aos cristãos, por direito adquirido por Ele para eles como herança.
Então todos os ministros do evangelho foram dados por Deus aos cristãos para o seu aperfeiçoamento.
Logo, não devem se gloriar em nenhum homem, senão somente em Cristo, em quem temos recebido todos os dons e graças necessários ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
“1 E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.
2 Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis,
3 Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?
4 Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?
5 Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?
6 Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.
8 Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.
10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
12 E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
13 A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
14 Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão.
15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.
16 Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?
17 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.
18 Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.
19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.
20 E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.
21 Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso;
22 Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso,
23 E vós de Cristo, e Cristo de Deus.”. (I Coríntios 3.1-23)
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/12/2012