Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
LANÇANDO FORA O FERMENTO 


 
 
Os cristãos coríntios estavam se gloriando na carne, julgando-se muito sábios em Cristo, iludidos de que o fato de o Espírito Santo ainda continuar operando entre eles com os dons espirituais extraordinários, significava que estavam vivendo de modo agradável a Deus.
No entanto, apesar de toda aquela jactância carnal, estavam tolerando no seio da Igreja a prática da fornicação de alguns membros, a ponto de um deles estar abusando da mulher do seu próprio pai, e o fato era de conhecimento de grande parte da Igreja, e era tolerado pela mesma.
Certamente o fato da tolerância comprovava que a grande maioria da igreja não estava andando conforme a sã doutrina, porque é muito comum tolerarmos os erros de outros quando nós mesmos também andamos de maneira errada. 
Como poderia o Espírito de Deus se alegrar com a iniquidade sendo praticada deliberadamente na própria Igreja?
Tal foi a tristeza do Espírito, que apesar de estar ausente no corpo, mas presente em espírito, o apóstolo podia sentir a indignação e a sentença do Espírito contra aquele ato incestuoso, e por isso ordenou em nome de Jesus Cristo, estando os coríntios em acordo e unidade espiritual com o seu espírito, que o tal cristão incestuoso fosse entregue a Satanás, para destruição da carne, isto é, que fosse excluído da comunhão dos santos, e por isso ficaria exposto aos ataques do Inimigo, de forma que tendo passado pela disciplina determinada pelo Senhor de considerar os cristãos faltosos que não se arrependem de seus pecados como gentios e publicanos; pudesse ter o seu espírito salvo no dia do Senhor Jesus.
Isto pode parecer duro e terrível, mas é no entanto, prova da grande misericórdia de Deus para com os cristãos que são rebeldes, porque Ele não os condenará ao inferno de fogo, mas os corrigirá, ainda que seja com um juízo extremo da morte física, debaixo das aflições produzidas por Satanás, sem que possam contar com o seu socorro e livramento divino, enquanto viverem neste mundo, deliberadamente na prática de pecados, dos quais não pretendam se arrepender, de modo que se tornam merecedores de tais juízos da parte do Senhor.     
Os coríntios não tinham motivos para se gloriarem, porque em vez de se sentirem orgulhosos da sua posição, pisoteando aquele que estava caído, em vez de se entristecerem pelo seu pecado, e admoestá-lo para ser conduzido ao arrependimento, contribuíram para que aquele homem julgasse que a sua prática abominável não era nada ofensiva, uma vez que era bem tolerada pela Igreja.
Quando não admoestamos nossos irmãos faltosos, nós estamos dando provas de grande falta de amor e de misericórdia para com suas vidas; porque em vez de ajudá-los a não ficarem debaixo dos juízos corretivos do Senhor, nós contribuímos para que fiquem endurecidos em seus pecados.  
Deus impôs aos pastores conhecerem o verdadeiro estado espiritual de suas ovelhas.
Eles não devem somente apascentá-las com a verdade.
Mas devem se responsabilizar pela maneira como cada uma delas tem andando diante de Deus e na Igreja; de modo que possam manter o corpo de Cristo saudável, incontaminado das corrupções que podem se espalhar como um grande contágio, quando são toleradas, e quando se deixa de se exercer a disciplina determinada por Cristo. 
O pecado consentido na vida de qualquer cristão poderá vir a colocar a perder todo o rebanho, uma vez que é como um pouco de fermento que pode levedar toda uma grande massa. 
Por isso a vida dos cristãos não deve abrigar o fermento do pecado, porque ele se propaga facilmente por toda a congregação.
Este dever de vigiar para não permitir a existência de fermento na Igreja é de todos os cristãos, mas sobretudo dos ministros que estão encarregados do rebanho.
Eles foram chamados por Deus para fazerem também este trabalho desagradável de confrontarem os cristãos que andam de modo desordenado.
Se alguém fez profissão de pertencer a Cristo, ele passa a fazer automaticamente parte do Seu corpo, e ao mesmo tempo está sujeito à Sua disciplina.
O fermento do pecado foi retirado por Deus da igreja, porque Cristo é o nosso cordeiro pascal, e tal qual os israelitas fizeram no Egito para serem livrados da escravidão, e da morte quando o anjo passou por toda a terra do Egito mas não sobre os lares dos israelitas por causa do sangue, que foi passado nas vergas e umbrais das portas de suas casas, de igual modo, os cristãos foram livrados do poder do pecado, e da sua consequência, que é a condenação eterna, porque lhes foi ordenado, tal como fora ordenado aos israelitas nos dias de Moisés, que procurassem diligentemente, no dia em que seriam salvos da morte pelo Senhor, todo o fermento que existisse em suas casas, para que fosse jogado fora.
Cristo se tornou da parte de Deus o nosso Salvador, por causa do sangue que derramou na cruz, e sob cuja cobertura estamos seguros em nossas casas espirituais, mas nos é ordenado que sejamos diligentes em manter o fermento do pecado bem longe de nossas vidas, porque é assim que o sangue que Jesus derramou por nós, se mostra eficaz no nosso viver, capacitando-nos a viver de modo santo e agradável a Deus.  
Então os cristãos apesar de terem sido livrados do fermento do pecado, por causa do sacrifício de Jesus, por cujo sangue foram purificados, de modo que pode se dizer deles que estão agora sem fermento, no entanto devem ter o cuidado diligente de se limparem do velho fermento, para que sejam a massa sem fermento que Deus espera que sejam.
A celebração do culto ao Senhor deve portanto ser realizada sem o velho fermento do pecado, da maldade e da malícia, mas com os ázimos (pães sem fermento) da sinceridade e da verdade.
Não é um favor que os pastores pedem aos cristãos quando lhes exortam a viverem santificados na verdade, mas é um dever que é imposto pelo próprio Deus a todos os Seus filhos.    
Por isso não se deve admitir que haja na assembléia dos santos, na comunhão da Igreja, quem se dizendo cristão, seja devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou ladrão, e nem sequer devemos receber tais cristãos em nossos lares para privarem da nossa intimidade, comendo conosco, conforme se ordena na Bíblia, para que se envergonhem, e venham a achar lugar de arrependimento diante do Senhor.
Caso se arrependam devem ser restaurados à comunhão, pela reconciliação.
Paulo havia escrito uma carta anterior a esta que havia destinado aos coríntios, na qual lhes ordenou que não deveriam se associar com os cristãos que se prostituíssem, porque cristãos são filhos de Deus que estão sujeitos à disciplina da Igreja.
No entanto, esta regra não se aplica às pessoas não cristãs, porque não conhecem ao Senhor, e constituem o campo de missão da Igreja, pela pregação do evangelho, para que se convertam de seus pecados a Cristo.
Os que estão fora da Igreja por não pertencerem a Cristo serão julgados por Deus, mas aos cristãos cabe julgarem os que são de dentro, por pertencerem ao povo do Senhor, e desta maneira deveriam retirar da comunhão aquele cristão iníquo que havia se entregado deliberadamente à prática do incesto, e da qual não queria se arrepender.      
Paulo se referiu a velho fermento, especialmente em relação aos coríntios, porque a prática da prostituição era muito comum entre eles, antes da sua conversão a Cristo, de modo que as prostitutas eram chamadas nas nações do mundo antigo pelo apelido de mulheres de Corinto.
Mas uma vez que alguém se converte a Cristo, toda forma de prostituição, seja carnal ou espiritual, deve ser lançada fora definitivamente de sua vida. 
A vida inteira de um cristão deve ser um banquete de pão sem fermento.
A conversação dele e todo o seu comportamento devem ser santos.
Ele deve se despojar de tudo o que pertencia ao velho homem, de maneira a poder andar irrepreensivelmente, quer na presença de Deus, quer na dos homens. 
 
 
 
 
“1 Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai.
2 Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação.
3 Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou,
4 Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo,
5 Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.
6 Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?
7 Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.
8 Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.
9 Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem;
10 Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo.
11 Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.
12 Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?
13 Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo.”. (I Coríntios 5.1-13)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/12/2012
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