Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Sobre o Matrimônio e o Sexo 

 
De tal modo os vícios da sociedade de Corinto haviam influenciado e penetrado na Igreja, que tinham ainda muitas dúvidas quanto ao propósito do matrimônio, segundo os princípios e leis que Deus  estabeleceu para a citada instituição.
Assim, enviaram mensageiros a Paulo com uma missiva fazendo perguntas relativas ao casamento, e certamente devem ter perguntado ao apóstolo se o ato sexual era pecaminoso; se o fato de alguém, ter se tornado um cristão significava que deveria abster-se de ter relações sexuais, e até mesmo de darem seus  filhos em casamento.
Estas questões podem parecer patéticas, mas devemos lembrar como a prostituição sexual havia se espalhado por toda aquela sociedade, de forma que quando alguém se convertia ao Senhor, era muito natural que se esperasse que pensassem no sexo como uma arma de destruição da vida espiritual.     
Então, o apóstolo escreveu este sétimo capítulo de I Coríntios, para esclarecer estas dúvidas específicas que tinham quanto ao lugar correto do sexo na vida cristã.
Antes de tudo ele lhes disse que o estado de solteiro era na verdade, segundo o seu próprio pensamento, um estado vantajoso sobre o de casado, quanto à consagração da vida para a realização da obra do evangelho, pela liberdade maior de ação que a pessoa teria para se consagrar inteiramente a agradar somente a Deus.
No entanto, reconhecia que isto não era para ser determinado segundo o desejo do próprio homem, mas segundo a vocação de Deus, que dá poder e capacidade para se viver solteiro sem se abrasar, àqueles que chama para viverem tal como vivia o próprio Paulo, a saber, no estado de celibato.
Desta forma, ninguém está autorizado, nem mesmo o apóstolo Paulo a decidir sobre a vida de alguém, se deve viver ou não de maneira celibatária (v. 6).
Paulo não deixou de reconhecer o casamento como uma instituição divina, e nem deixou também de lhe dar a devida importância e honra, mas sabia, por experiência, que os casados têm muitas obrigações para se agradarem mutuamente, e dentre estas há a de não privarem ao cônjuge o direito que é dado pelo laço do matrimônio à regularidade do ato conjugal; o qual, somente poderia ser suspenso temporariamente, por mútuo consentimento, para uma maior consagração ao jejum e à oração; de modo a não dar a Satanás a oportunidade de tentar a um ou a outro por causa da abastinência baseada em outros motivos, porque quando se jejua e ora, se está protegido de tais tentações, por se estar em comunhão em espírito com o Senhor.          
Então, enquanto a pessoa não se casou, está livre dos laços impostos pelo matrimônio; e não há nenhum mandamento que lhe obrigue, a atender a quaisquer das obrigações conjugais, caso seja solteira.
Mas uma vez que tenha se casado, há o primeiro e grande mandamento da parte de Deus, que os cônjuges não devem se separar.
Esta regra se aplica aos cristãos, mesmo que tenham casado com não cristãos.
Tanto no caso da mulher ou do homem que sejam casados com não cristãos, o seu lar e filhos será santificado por Deus, não no sentido de que esteja obrigado a salvar a parte não crente, mas de trazer a proteção da Igreja como extensão àquele lar, por causa da parte cristã (v. 13, 14).
No entanto se o não cristão quiser se apartar, o cristão fica livre do laço matrimonial e não está mais sujeito à servidão imposta pelo casamento, de modo que está livre inclusive para contrair novas núpcias (v. 15).
A expectativa de que a parte não crente seja salva não pode ser considerada como algo que será atendido por Deus, porque ninguém sabe quem se salvará, senão somente o Senhor.
Paulo estendeu os princípios relativos ao casamento a todas as demais áreas da vida, dizendo que o que deve ser buscada não é propriamente a nossa vontade, mas a vocação de Deus, que nos impõe, pela cruz, a morte do nosso eu.
Deste modo há vocação profissional, não propriamente no sentido da liberdade de escolha que temos para a profissão que pretendamos exercer e que seja conforme os nossos sonhos, mas estarmos satisfeitos nas condições em que formos colocados pela vontade de Deus.
Isto se aplica também a questões de nacionalidade, porque não é dado a nós escolhermos a nacionalidade que teremos, e por isso devemos estar contentes com a condição em que nos encontrarmos; de forma que nenhum gentio é chamado a viver como um judeu, ou este como um gentio (v. 18).
Afinal estas questões são de pouca importância se somos cristãos genuínos, porque não é nisto que se encontra a vontade de Deus, senão em que guardemos os Seus mandamentos (v. 19).
Se alguém fosse um escravo, desde que fosse cristão, era na verdade livre, e não deveria se importar com sua condição social julgada inferior pelo mundo, mas caso tivesse a oportunidade de ser livrado da escravidão, não deveria desprezar tal oportunidade.
Este é um princípio que pode ser aplicado a todas as condições presentes dos cristãos neste mundo.
Eles devem estar contentes em toda e qualquer situação, mas se tiverem condições de acessarem a uma melhor condição de vida, que lhes seja menos penosa e humilhante, não devem rejeitá-la.
No entanto, não significa que devem fazer disto o objetivo primordial de suas vidas; porque seja qual for a condição de um cristão, porque seja ele escravo ou livre, é de toda forma servo de Cristo, e nesta condição é verdadeiramente livre.
Afinal nenhum homem está livre fora de Cristo, porque é servo do pecado.
Além disso, na condição de servos de Cristo não são as nossas escolhas que contam, senão as dEle, e é possível que o Senhor nos conduza a condições humilhantes para o nosso aperfeiçoamento para a obra do ministério.       
É a Cristo portanto que devemos agradar agora.
Não propriamente a homens. Se os servimos é por amor de Cristo e como que para Cristo, e não propriamente por nos considerarmos sua propriedade.
Jesus nos comprou por um alto preço, a saber, com o Seu precioso sangue, de modo que não pertencemos a ninguém, a não ser somente a Ele.
Esta regra da liberdade tem a sua limitação exatamente no matrimônio, por causa do laço  estabelecido por Deus, de que não sejam mais a seus olhos como dois indivíduos separados, mas como se fossem uma só carne.
Deste modo o casamento traz tribulações na carne, porque impõe renúncias que devem ser feitas em prol do cônjuge, em face do direito que passou a adquirir sobre o nosso corpo.
Contudo, os casais cristãos devem por comum acordo, e conforme ensina o Espírito de Deus, aprenderem a renunciar a tais direitos onde se sentirem chamados pelo Senhor a fazerem em primeiro lugar a Sua vontade.
Não que viverão no estado de solteiros, mas em parte, como se o fossem, porque todos os laços deste mundo, como o do casamento, como todas as demais coisas do mundo, serão desfeitas quando da volta do Senhor, e o tempo da Sua volta se abrevia cada vez mais.        
Não devemos estar portanto apegados a ninguém, porque o próprio Cristo disse que deveríamos renunciar a tudo por amor a Ele, inclusive a nossos familiares.
Isto significa que a precedência em nossos relacionamentos deve ser sempre dada a Ele e ao Seu serviço.
No entanto, tudo deve ser feito com equilíbrio e discernimento em Deus, porque está ordenado aos casados que devem cuidar de fazer aquilo que agrade aos respectivos cônjuges, porque isto está incluído no seu dever de agradarem ao Senhor, pelo testemunho de harmonia e amor que deve existir em seus lares.
De modo que o laço do matrimônio só pode ser desfeito de modo legítimo, segundo a vontade de Deus, pela morte de um dos cônjuges.
Por isso Paulo não comentou aqui a separação admitida pelo Senhor também em caso de relações ilícitas de uma das partes, porque é uma situação excepcional.
Segundo o apóstolo seria bom que os que enviuvassem não tornassem a contrair novas núpcias, mas estão livres para decidir sobre a conveniência de casarem de novo ou não.                   
 
 
 
 
“1 Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher;
2 Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido.
3 O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e da mesma sorte a mulher ao marido.
4 A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
5 Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência.
6 Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento.
7 Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra.
8 Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.
9 Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.
10 Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido.
11 Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.
12 Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descristão, e ela consente em habitar com ele, não a deixe.
13 E se alguma mulher tem marido descristão, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.
14 Porque o marido descristão é santificado pela mulher; e a mulher descristão é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.
15 Mas, se o descristão se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não fica sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.
16 Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?
17 E assim cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas.
18 É alguém chamado, estando circuncidado? fique circuncidado. É alguém chamado estando incircuncidado? não se circuncide.
19 A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.
20 Cada um fique na vocação em que foi chamado.
21 Foste chamado sendo servo? não te preocupes com isso; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião.
22 Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo.
23 Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens.
24 Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado.
25 Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel.
26 Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim.
27 Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher.
28 Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos.
29 Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem;
30 E os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem;
31 E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa.
32 E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor;
33 Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.
34 Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
35 E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma.
36 Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se.
37 Todavia o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas com poder sobre a sua própria vontade, se resolveu no seu coração guardar a sua virgem, faz bem.
38 De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor.
39 A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.
40 Será, porém, mais bem-aventurada se ficar assim, segundo o meu parecer, e também eu cuido que tenho o Espírito de Deus.”. (I Coríntios 7.1-40)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/12/2012
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras