O CONHECIMENTO INCHA E O AMOR EDIFICA
Os coríntios haviam escrito a Paulo lhe pedindo orientação sobre o matrimônio, como também quanto à atitude que deveriam ter quanto a comerem coisas que haviam sido sacrificadas a ídolos.
Era um costume entre os pagãos fazerem banquetes nos sacrifícios que apresentavam aos seus ídolos, e não somente se comia, como também convidavam seus amigos a participarem com eles nos comensais que ofereciam nos templos, os quais eram dedicados aos seus deuses (I Cor 8.10).
Quando sobrava comida daqueles banquetes era comum que se levasse o que sobrou para ser dado aos amigos, e até mesmo para ser vendido no mercado.
Na questão de se comer das coisas sacrificadas aos ídolos, não deveria ser levado em consideração somente o fato de se saber que o ídolo nada é, e que o suposto deus que ele representa não existe, porque há somente um Deus verdadeiro, que proibiu expressamente o Seu culto, através de ídolos.
Deveria ser levado também em consideração o fato de como se sentiriam as pessoas de consciência mais fraca dentro da Igreja, ao saber que seus irmãos comiam coisas que para elas eram condenáveis (I Cor 8.12). De modo que não considerar esta regra seria pecar contra o amor que edifica.
Então somente o conhecimento de verdades teológicas sem a direção do Espírito, pode inchar com orgulho, e impedir a edificação do corpo de Cristo em amor.
O fato de não se participar do banquete idolátrico no templo dos pagãos, a convite deles, sendo um cristão, ficava portanto totalmente fora de questão, uma vez que não há nenhuma ligação entre Cristo e Belial, entre luz e trevas, e o próprio Senhor Jesus viria a se expressar quanto a esta questão, quando condenou o ato de uma falsa profetisa a quem chamou de Jezabel, estar ensinando e enganando os cristãos da Igreja de Tiatira a comerem dos sacrifícios da idolatria (Apo 2.20).
Jesus considerou todos os alimentos limpos na dispensação da graça, mas nós devemos andar em conformidade com a lei da moderação, discernimento e sobriedade, não ultrapassando os limites da liberdade que temos em Cristo, sabendo que não devemos nos deixar dominar por nenhum costume deste mundo, e nem mesmo abusar das coisas que são lícitas, de forma a não ofender a consciência de nossos irmãos.
O grande princípio geral que Paulo deseja extrair e demonstrar a partir desta questão de ser lícito ou não comer comidas sacrificadas a ídolos, é o de que não podemos de modo algum, por causa da nossa ciência de ser determinada prática lícita, tentar forçar a consciência fraca de nossos irmãos, lhes impondo o nosso conhecimento, de que são livres para praticarem as coisas que fazemos e sabemos que não ofendem à santidade de Deus.
É um grande erro por exemplo dizer a alguém que não há nenhum mal em ir ao teatro, desde que não haja nada ofensivo na peça teatral, quando sabemos que tal cristão tem por pressuposto que ir ao teatro é um pecado, seja em qual circunstância for.
O amor nos convoca a dar um passo mais além do que simplesmente não impor a outros as nossas convicções, mas a nos abstermos das práticas que condenam, para que não firamos as suas consciências.
Por exemplo, os cristãos gentios sabiam pelo ensino de Cristo e de Paulo, que não havia pecado em comer alimentos de qualquer espécie, mesmo carne de animal que morreu sufocado ou com sangue, no entanto, por amor aos cristãos judeus se submeteram à prescrição da Igreja de Jerusalém (Atos 15), por amor aos seus irmãos em Cristo judeus, para os quais o ato de comer carne de animal que havia morrido sufocado ou com sangue era uma terrível abominação.
Isto se aplica a diversas áreas, como por exemplo, ir ao cinema, a estádios de futebol, a assistir TV, ao uso de vestuários e penteados extravagantes, em que devemos fazer tudo de maneira a não ferirmos a consciência de nossos irmãos.
Então não é o conhecimento da liberdade que temos em Cristo que nos recomenda a Ele, porque podemos pecar contra Cristo, quando ferimos a consciência fraca dos nossos irmãos, por causa do nosso conhecimento (v. 12).
Nós podemos escandalizá-los de tal forma, que até mesmo poderão vir a se desviar da comunhão da Igreja por nossa causa (v.11).
A vida cristã exige portanto de nós muito mais do que simples conhecimento, mas sobretudo de sabedoria, amor e discernimento e renúncia, para não sermos motivo de escândalo para os nossos irmãos.
Porque uma coisa é conhecer a verdade, e outra muito diferente conhecê-la como convém ser aplicada.
Nós podemos e devemos melhorar o nosso conhecimento mas não devemos nos iludir pensando que é de conhecimento o tudo quanto necessitamos.
É possível conhecer muitas coisas da Palavra e até mesmo nem pertencer de fato a Cristo.
É possível ter muito conhecimento e nenhuma comunhão espiritual verdadeira com o Senhor.
Por isso, o simples conhecimento nunca nos recomendará a Deus, ao contrário pode até mesmo aumentar a nossa responsabilidade e o juízo que receberemos da Sua parte.
Deus não quer mero conhecimento mas prática e obediência à Sua vontade.
E esta questão de não escandalizar nossos irmãos é uma parte muito importante da vontade de Deus em relação a nós.
Assim, os cristãos coríntios que porventura se jactassem do seu conhecimento de que o ídolo nada é, para justificar a sua frequência em templos pagãos, em banquetes de idolatria, estavam pecando gravemente contra Deus e contra seus irmãos, e não tinham portanto motivo nenhum para estarem inchados em seu orgulho relativo ao seu conhecimento.
“1 Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica.
2 E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber.
3 Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.
4 Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só.
5 Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores),
6 Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele.
7 Mas nem em todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, no seu costume para com o ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca, fica contaminada.
8 Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta.
9 Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos.
10 Porque, se alguém te vir a ti, que tens ciência, sentado à mesa no templo dos ídolos, não será a consciência do que é fraco induzida a comer das coisas sacrificadas aos ídolos?
11 E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
12 Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.
13 Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize.”. (I Coríntios 8.1-13)