Esmurrando o Corpo Para Ser Aprovado
Paulo amarrou o nono capítulo de I aos Coríntios, ao assunto dos limites da liberdade cristã, que havia citado no capítulo anterior.
E ele o ilustra com o seu próprio exemplo e o de Barnabé, que por amor a Cristo e aos eleitos haviam feito muitas renúncias, apesar de serem livres para agirem como todos os demais apóstolos, que não foram tão longe como eles no trabalho e empenho na obra de Cristo.
Mas o apóstolo lhes mostrou em que consistiu este seu empenho e trabalho.
A maneira como ele o fizera e estava fazendo:
“Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.” (v. 19).
“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.” (v. 22).
“25 E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. 26 Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. 27 Antes, subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.”. (v. 25 a 27).
Mesmo assim havia muitos que se opunham ao apóstolo (v. 3) e condenavam a sua maneira de viver pelo evangelho, possivelmente por considerarem exagerada a sua maneira de agir, e que deveria impor a si mesmo uma maior liberdade, como também a todos.
No entanto, Paulo se restringiu inclusive no direito que tinha de ser sustentado pelas Igrejas, trabalhando com suas próprias mãos, para obter o seu sustento, para não colocar nenhuma forma de impedimento ao evangelho, de modo que não pudesse ser acusado de que estava pregando por interesse financeiro.
Era um direito dele, e um dever das Igrejas sustentá-lo com os bens materiais necessários, porque isto foi ordenado pelo Senhor, que aqueles que Ele chamasse para pregarem o evangelho, deveriam viver do próprio evangelho.
Mas, Paulo abriu mão deste direito, e não impôs tal dever às Igrejas.
Então por que era condenado por seus inimigos dentro da Igreja de Corinto?
Certamente porque os tais não pretendiam se submeter à disciplina de Cristo, e aos limites que o evangelho impõe à nossa liberdade.
Paulo demonstrou que ele havia ido muito além do cumprimento da exigência do evangelho de se respeitar os limites da liberdade, porque tudo fez de tal maneira, que não servisse de causa de tropeço para a conversão e edificação de qualquer pessoa, quer na igreja da circuncisão, quer na da incircuncisão, porque entre os judeus vivia como se fosse judeu, porque o era de fato, e entre os gentios, como se fosse gentio, porque o era também, uma vez que não nasceu na Judéia, mas na cidade de Tarso da Cilícia.
Ele havia subjugado inteiramente o seu próprio corpo, e o seu ego, para fazer somente a vontade de Cristo.
Tudo o que ele fizera a respeito de renúncias, não fora por motivo de ascetismo, porque não era um asceta e não recomendava a prática do ascetismo a ninguém, porque sabia que o evangelho inaugurou uma nova dispensação em que o óleo de alegria é o maior tom desta nova vida que temos em Cristo, e não somos chamados mais a viver da forma como viveu João Batista, como nazireu, abstendo-se de muitas coisas por força da Lei cerimonial do Antigo Testamento, salvo se Deus assim o decidir em relação a alguns cristãos, por Sua vontade e soberania, para propósitos específicos.
Foi para a liberdade que Cristo nos chamou, mas cada um de nós não deve abusar desta liberdade, a não ser para que imponhamos a nós mesmos e não a outros, os rigores que julgarmos convenientes à nossa chamada, para que fiquemos ainda mais longe de ultrapassar tais limites, tal como Paulo e Barnabé haviam feito em seus ministérios. ho inaugurou uma nova dispensaçe Cristo. tudo fez de tal maneira que nangue era uma terr
Por exemplo, Paulo não se casou para melhor servir ao evangelho, mas declarou neste capítulo nono, que não havia sido proibido por Deus quanto a isto, mas por uso próprio da restrição da sua liberdade que tinha para casar.
Ele poderia fazer valer a sua autoridade apostólica sobre os coríntios em vários sentidos, no entanto não se valeu disso para não se tornar pesado a eles e também para não colocar qualquer impedimento ao avanço do evangelho.
Todos são remunerados e sustentados pelo trabalho que realizam, e até mesmo o boi que trabalha na lavoura deve ser alimentado e cuidado; então seria de se esperar que os apóstolos fossem recompensados por aqueles para os quais trabalhavam por amor a Cristo.
No entanto, Paulo, como dissemos antes, havia aberto mão deste direito.
Mas isto não deveria se entendido por eles que não devemos nos esforçar, segundo é da vontade de Deus em encorajar e remunerar àqueles que nos servem, porque o Senhor determinou que o trabalhador é digno do seu salário, e Ele mesmo nos tem recompensado e recompensará com os galardões prometidos pelo trabalho que tivermos realizado em favor do evangelho.
Se os sacerdotes na Antiga Dispensação eram sustentados pelos dízimos conforme determinava a Lei de Moisés (Nm 18.21, 24, 26, 28); porque os ministros de Cristo teriam um menor direito do que o deles? (v. 13, 14).
Não propriamente em impor dízimos, mas em serem sustentados.
Mas o grande amor de Paulo pela causa de Cristo fez com que ele não reivindicasse qualquer direito que lhe era dado pelo próprio Senhor, porque havia morrido completamente para o mundo, para si mesmo, e para a aprovação ou reprovação de parentes, amigos, ou de quem quer que fosse.
O grande objetivo da sua vida era Cristo e somente Cristo, e por isso não estava apegado a qualquer direito ou liberdade que lhe era dada pelo evangelho.
Ele não almejava nenhuma coroa ou glória deste mundo, porque tinha o olhar da fé fixado permanentemente na eternidade.
Ele experimentara a morte por várias vezes de perto e aprendera que esta travessia a pessoa deverá fazer sozinha com Deus.
Que tudo neste mundo é aparente e passará.
Então se aplicou inteiramente às coisas relativas à coroa incorruptível, e se empenhava para alcançar o prêmio supremo da nossa soberana chamada em Cristo, para alcançar mais e mais do próprio Cristo, e não de quaisquer coisas que pertençam a este mundo.
Por isso esmurrava o seu próprio corpo fazendo-o servir à causa do evangelho.
Porque sabia que este corpo que temos é desta criação.
Foi feito do pó da terra, e não adentrará na eternidade; porque Deus tem prometido um novo corpo glorificado aos que vencerem a carne, o diabo e o mundo.
Por isso todo cristão verdadeiramente sábio e esclarecido sobre as verdades do reino de Deus se empenhará na corrida espiritual em que está inscrito, sabendo que não é no tesouro das coisas terrenas que deve estar apegado o seu coração, porque este tesouro não adentrará na eternidade, mas no tesouro celestial que é duradouro e incorruptível.
O evangelho nos liberta mas nos convoca a viver debaixo de uma grande disciplina.
Sobretudo do nosso espírito que deve ser exercitado nos exercícios espirituais da oração, da comunhão, da adoração, e tudo mais que se refira ao corpo de Cristo.
Não é com facilidades que se alcança a coroa divina.
Ela está prometida ao que vencer, e se há vitória, é porque houve grande luta contra a carne, o diabo e o fascínio do mundo.
A chamada do evangelho demandará muitas vezes não fazermos coisas que são lícitas, para não deixarmos de remir o tempo, empregando-o em coisas vãs, em vez do serviço a Cristo e à Sua Igreja.
Os próprios apetites e demandas de descanso do corpo deverão ser muitas vezes renunciados por causa da aplicação na obra de Cristo.
Por isso Paulo indaga em outra parte, quem seria suficiente para tais coisas, caso não fosse assistido pela graça de Cristo, operante pelo poder do Espírito?
A vida cristã exige prática verdadeira e não meramente pregação de palavras, porque é possível que se pregue sobre realidades espirituais quando nós mesmos nos encontramos reprovados quanto ao que pregamos, porque não vivemos aquilo que pregamos a outros.
E desta maneira, ainda que nos esforcemos muito em nossas pregações não podemos contar com nenhuma coroa, nenhuma recompensa futura pelo trabalho inútil que fizemos, que consistiu apenas no ato de dar chicotadas no ar, e tal tipo de exortação que é feito no ar, não atinge o coração e a consciência de ninguém, de forma que venha a ser transformado pelo Espírito.
“1 Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso? Não sois vós a minha obra no Senhor?
2 Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.
3 Esta é minha defesa para com os que me condenam.
4 Não temos nós direito de comer e beber?
5 Não temos nós direito de levar conosco uma esposa cristão, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
6 Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
7 Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado?
8 Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo?
9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois?
10 Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante.
11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?
12 Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo.
13 Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar?
14 Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.
15 Mas eu de nenhuma destas coisas usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória.
16 Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!
17 E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada.
18 Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.
19 Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.
20 E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
21 Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
22 Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
23 E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.
24 Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
25 E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível.
26 Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar.
27 Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.”. (I Coríntios 9.1-27)